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A Alma do Mundo - Roger Scruton

  • Foto do escritor: Canal Resumo de Livros
    Canal Resumo de Livros
  • 30 de dez. de 2018
  • 26 min de leitura


A Alma do Mundo - Roger Scruton - Resumo


Capítulo 1


Acreditar em Deus

Diferentemente da metafísica cristã, o islamismo se preocupa mais com sacrifícios e submissão. O erro dos intelectuais ateus é igualar as duas cosias. Isso sem dúvida é um reflexo dos tempos atuais onde o “self” é o único objeto digno de sacrifícios.


Religião de psicologia evolucionista

Tendo em vista que a sociedade se tornou cientificistas, todo comportamento, por mais milenar e internalizado na mente humana, pode ser explicado por genes e fenótipos. Isso ocorreu com a religião, mas as explicações biológicas não são suficientes para compreendê-la.

Podemos confirmar essa afirmação com uma análise mais profunda das teorias que tentam explicar esse tipo de comportamento. Freud, para, por exemplo, explicar o comportamento incestuoso, dizia que este foi se tornando tabu devido à necessidade biológica, independente de o querermos, os sociobiólogos dizem que se tornou um tabu por não querermos. Porém, nenhuma das explicações seria necessária para explicar se o desenvolvimento genético nos tornasse enjoados ao lidar com o tabu da mesma forma que o somos para lidar com vezes ou vomito. Então, Freud precisou criar mais pseudociência, com o nome de inconsciente, para explicar essas ligações com a biologia pouco desenvolvidas até hoje.


Pontos de vista internos e externos

As explicações evolucionistas não conseguem demarcar a ordem interna dos nossos estados mentais. Isso pode ser ilustrado com a matemática, uma linguagem que foi útil a nossa realidade como caçador=coletor, mas que em nenhum momento teria por que ser aprofundada, a não ser pelos nossos desejos naturais de busca pelo bom e pelo belo.

Isso pode aumentar nossa compreensão sobre sentimentos como o altruísmo, que não são totalmente evolutivos. Assim, podemos concluir que a psicologia evolucionista não pode fazer o retrato completo dos nossos estados mentais ou do universo que é representado por eles. Afinal, a teoria da evolução pode oferecer uma visão de fora da ciência, mas é escrita na linguagem dessa mesma ciência.


Naturalismo

O autor tenta mostrar, a partir de exemplos, que buscar uma explicação natural baseada em fatos para a existência de deus é filosoficamente impossível. Um deles é associando a Relatividade de Einstein, que assume a não existência de referenciais preferenciais com a existência de um deus, onde a forma que compreendemos o tempo não seria acessível, devido a sua natureza superior a realidade observada e limitada por Einstein.


A presença verdadeira

O autor afirma que, levando em conta as questões tratadas na seção anterior (naturalismo) são os ateus que tem o ônus da prova a explicar a não existência de deus, argumentando através do conteúdo da fé e não da sua origem

A presença verdadeira são fenômenos normalmente esquecidos por aqueles que criticam as religiões. Este se atem a questões cosmológicas de existência, que normalmente vão de encontro com a ciência. A experiência de contato com deus está descrita em várias passagens de livros religiosos como a Bíblia, o Torá e o Alcorão, e neles está boa parte de toda a sua teologia. No Torá por exemplo mostra como claramente Jeová quer um local para morar com os seus, e essa presença é possível apenas com aqueles que o compreendem. Este é um conceito pouco científico, mas mostra esse caráter da religião, que busca experiências que não podem ser replicadas, como as várias situações onde uma pessoa diz ter entrado em contato com deus, mesmo esta não podendo ser replicada.

Assim, o autor conclui que essa busca é pessoal, e estar em contato com deus é impossível. Do ponto de vista filosófico da mesma forma que é possível entrar em contato “com o número 5”, por exemplo.


Religião e magia

Diferentemente da abordagem científica, que busca atestados e replicações, quem obtêm contato direto com Deus não o está procurando, como Santo Agostinho e outros teólogos afirmavam ser possível. Eles na verdade querem uma relação sujeito-sujeito. Esse tipo de busca é o que caracteriza um fiel e ajuda a comunidade a se livrar de hereges.


Religião e o sagrado

Todas as crenças têm elementos que podem ser chamados de sagrados, que necessitam de uma série de rituais para serem acessados. Não os respeitar é cometer profanação. Essa profanação pode vir em virtude de alguém que não é “sagrado” o suficiente para entrar em contato o tenta fazer.

Este conceito foi bem definido por uma tribo polinésia que o chamava de tabu. Hoje, entendemos tabu como os elementos que nos fizeram deixar de ser simples símios e nos tornamos humanos. Estes elementos continuam mesmo na esfera laica como, por exemplo, o incesto.

Para além das teorias frouxas de Freud o autor vê um elemento interessante nos tabus sexuais: a qualidade proibida das coisas sagradas é uma característica tão estranha, e coloca tamanha exigência psicológica e social sobre aqueles que a recebem, que tudo isso deve ter uma explicação especial.


Reflexões sobre Girard

Girard tenta explicar o porque de tanta violência associada as religiões tradicionais. Ele mostra que, na verdade, essa violência é um padrão humano, e foi com as religiões que elas ganharam tom de piedade e sacrifício. Com ideias que vão desde bode expiatório até a morte de Jesus, ele mostra que o conteúdo da violência em textos religiosos têm sempre o conceito de sacrifício e busca de um ser que nos pacifica.

Entretanto, seus textos mostram falhas ao não explicar o surgimento do que é sagrado para uma religião, e porque o sagrado está ligado ao sacrifício.


A epistemologia do sagrado

Na teologia islâmica muito se discute sobre a temporalidade dos textos. Alguns dizem que, levando em conta que os textos são absolutos no tempo, a ideia de um deus entre as pessoas é um erro teológico. Assim, muitos religiosos se perguntam até que ponto essas questões epistemológicas podem interferir na ligação com o sagrado.


Em confronto com os céticos

Ao tentar explicar as dimensões psicológicas e cosmológicas que são usadas pelos céticos para negligenciar a religião, o autor usa a obra Crítica da Razão de Kant, onde o mesmo diz que existem experiências que só podem ser vividas pelo individuo em primeira pessoa, mas estas estão dentro da nossa realidade. Assim, Kant nega a possibilidade de acessar estados fora do que vivemos, estes seriam os estados onde ocorrem as experiências religiosas.

Diferentemente do que os teóricos que propõe que religião primeiramente surgiu para a necessidade evolutiva, o autor cita que, na verdade, as experiências religiosas são feitas por um “Eu” transcendental, este que tem acesso ao outro Eu religioso que se busca. Não existem intermédios “reais” neste caminho.


Capítulo 2


Em busca das pessoas

Tentando buscar uma explicação para a característica mais popular da religião, a manutenção da vida, o autor cita que a maior crítica dos contemporâneos a religião é que ela impõe um cerceamento moral impossível as pessoas. Levando em conta essa discussão podemos observar que esses limites intrínsecos a religião moldam e humanizam as pessoas.


O conceito da pessoa

Ao definir o que é uma pessoa, autores como Hegel e Kant encontraram perspectivas não religiosas tão interessantes quanto a de religiões não-pessoais como budismo, onde o individuo que se busca é o próprio Eu numa perspectiva atemporal.

Hegel mostra que os indivíduos por serem pessoas devem se tratados como fins e não como meios, e que estes tem uma relação dicotômica de poder e submissão aos outros. O autor buscará traduzir Hegel para uma linguagem moderna.


Compreender e explicar

Definir o eu é importante nesse contexto. Alguns autores como Descartes não compreenderam o Eu de Hegel. Podemos entendê-lo como Husserl esboçou de forma rápida como aquela consciência que nos diz elementos próprios como dor.

A ciência, por mais que tenha uma teoria totalizante da natureza não consegue por meios de equações explicar o que é o Eu, por mais que possamos compreender o outro materialmente no tempo e no espaço.

Husserl continua dizendo que existem duas formas gerais de se compreender o mundo: a forma científica e emocional. Em geral, quando nos relacionamentos com o outro estamos definindo elementos como cor e cheiros que então no âmbito emocional da interpretação.

Assim, para completar a teoria, ele cita que existe uma terceira forma de interpretação, chamada Verstehen, que é quando interpretamos o mundo na visão dos outros, em terceira pessoa. Essa versão se complementa quando entendemos o Lebenswelt, o mundo como vemos, vivemos e sentimentos, que vai contra a sua versão científica, que dificilmente se aplica ao cotidiano.


Dualismo cognitivo

O autor mostra que na perspectiva de Kant, o mundo como conhecemos é uma rede de conexões causais disposta no tempo e espaço e sujeita a leis universais e necessárias, mas certos elementos nele podem ser observados de uma forma menos científica. Exemplifica-se isso ao analisar uma música, que de um ponto de vista científico pode ser decomposta em uma série de vibrações do som em determinadas frequências, mas para quem houve tem um significado muito maior, tanto no aspecto físico, ao descrevê-la com mais detalhes, esboçando o afinco do autor em suas notas complexas, ou mesmo na forma que a melodia afeta suas emoções.

O autor então une essa visão kantiana com a teoria do "nada além" de Mary Midgley, onde diz que existe um hábito disseminado de declarar as realidades emergentes como "nada além" daquilo que nós percebemos. O ser humano é "nada além" de um animal humano, a Mona Lisa é nada além que pigmentos espalhados em uma tela etc. Para o autor é esse hábito que filosofia deve destruir, assim, não corremos o risco de pensar que coisas mais importantes que sinfonias ou quadros são "nada além" do que sua versão científica. E nas palavras do autor: "E então podemos concluir que isso é tão absurdo de se dizer como se o mundo não fosse nada além da ordem da natureza, assim como a física o descreve, e afirmar que a Mona Lisa é nada além do que pigmentos espalhados. Chegar a essa conclusão é o primeiro passo para a busca por Deus.


Qualia

Ainda não temos um parecer exato do que seja consciência. As considerações anteriores ignoram questões como de que a consciência é algo diferente da autoconsciência e que a autoconsciência não é a consciência de um tipo especial de objeto.

Para destrinchar essas duas afirmações levemos em conta o comportamento animal. Não podemos afirmar que um cachorro, por mais que sinta algo parecido com o que entendemos como dor, possa compreender o que realmente ocorre com ele. Ser autoconsciente então, é ter um nível de explicação dos fenômenos que ocorrem consigo, isto é o chamado quale. Podemos propor assim a existência de um Eu inacessível aos outros.

Percebemos que existem determinadas ações que só podem ser descritas de forma externa, por exemplo, não podemos explicar o que é ver a cor vermelha sem apontar um objeto externo que tenha essa cor.


Intencionalidade

Por vezes, atribuímos a intencionalidade de ação a coisas que não os tem. Por exemplo, dizemos que os computadores estão “pensando” em algo. Uma linha que explica a intencionalidade pode ser dada por Searle e Fodor na “teoria representacional da mente” onde a intencionalidade é uma característica das coisas que a possuem. Essa resposta ainda é breve mas o autor irá completá-la. Para tanto ele introduz a discussão sobre a intencionalidade na ação de um cachorro.

Quando analisamos a ação de um cachorro, associamos a com nossas próprias ações: o cachorro ouve a buzina, sente o cheiro do gato etc. Em nenhum momento podemos ter certeza do que há na mente do cachorro em relação aos fenômenos que traduzimos. Seria impossível. termos qualquer noção disso, pois traduziríamos esses fenômenos num mundo físico e técnico criado por nós.


Novamente, o dualismo cognitivo

Buscando a interpretação do eu, grosso modo, o encontramos apenas numa relação eu-você. De tal forma que podemos definir que a intencionalidade é o que define um eu, que está consciente de que o outro eu também é um ser autoconsciente que tem suas experiências em primeira pessoa.

Assim, podemos ampliar o conceito de uma música não são apenas suas ondas mecânicas para o ser humano, que não é apenas a pessoa mas sim algo a mais. Onde está esse algo a mais?


Capítulo 3


O que há no nosso cérebro

A filosofia, antes dedicada a teologia, agora, para a maioria dos estudiosos, se tornou escrava da neurociência. Mesmo assim a neurociência ainda não conseguiu responder a pergunta do que é o Eu. Podemos afirmar que animais e computadores tem comportamentos semelhantes a humanos, mas não podemos ter certeza que eles reagem internamente como nós.

Algumas disciplinas como a psicologia evolucionista diz que determinados comportamentos podem ter sido necessários para a nossa evolução, estes mesmos comportamentos podem ser explicados por neurofisiologia e ciência cognitiva de outras formas, assim haveria uma forma de unir as três disciplinas numa “neurofilosofia”?


Sobredeterminação

Alguns comparam a determinação de uma formiga ao entrar num formigueiro em chamas com a de um soldado que se sacrifica pela tropa. Ignora-se ai o elemento de consciência da ação que, independente de ser controlada pelos genes, dá ao individuo a ideia de seguir sua própria moral. Não pode se dizer que é apenas a moral que faz um ser humano tomar uma atitude, se assim o fosse não teríamos nossas reações instintivas, por exemplo. Os elementos naturais e morais não são suficientes para explicar esse comportamento, da mesma forma que era impossível explicar com apenas um desses componentes a matemática, que teve uma necessidade adaptativa mais que dentro de si tem procedimentos que não foram em hipótese alguma necessárias a evolução.


A ideia de informação

Um computador consegue construir uma imagem com inputs e outputs, e podemos descrever essa imagem sem usar nenhum jargão humano como ver, pensar, observar etc. Uma pintura, diferentemente carrega um significado externo a química dos pigmentos da tela, para nós isso é obvio, mas como irmos de uma explicação para a outra? Acreditar que existe um único conceito que “une” os dois citados é uma ideia, mas como provar?


A falácia mereológica

Esta se trata de atribuir a um pedaço do todo as mesmas características que definem o todo, como o humuculo de Descartes que era uma parte dentro do ser humano que definia o verdadeiro ser humano. Os cientistas cometem o mesmo erro quando dizem que “apenas o cérebro” interpreta e define coisas humanas como escolhas.

Podemos perceber a importância da consciência nesse assunto quando notamos que é possível descrever o comportamento de um termostato ou mesmo de um computador sem jargões de intencionalidade, mas o contrário não é possível.

O exemplo da primeira pessoa

Caso conseguimos descrever todo o processo do que é o Eu a partir de uma super-neurologia, a priori, o fenômeno em primeira pessoa, que é aquele em que minha autoconsciência toma ação, deixaria de fazer sentido. Tudo existiria apenas em terceira pessoa. Descreveríamos as coisas como “me parece que tal processo ocorre em mim”. Essa própria descrição nos mostra que o Eu não foge, independente da intenção dos cientificistas, só muda de lugar, estando agora no "me parece" da frase. Somos organismo humano e pessoa, dois elementos que não se separam e se influenciam. Assim, não precisamos acreditar que exista um mundo do verdadeiro eu.

Sendo assim, surge a pergunte de que poderíamos estar numa alucinação compartilhada em que somos mais do que a ciência pode definir.


Sujeito e objeto


De novo, o dualismo cognitivo

O funcionamento em primeira pessoa, citado anteriormente, implica na importância da dualidade cognitiva da interpessoalidade, ou seja, entendemos o mundo também em função do outro. Assim é o jeito que um filósofo deveria se aproximar da neurologia, levando em conta que quando interpreto uma música ou uma pintura, estou na verdade situando-a no mundo humano: o mundo das nossas reações, intenções e autoconhecimento, tirando ele do reino científico e colocando no Lebenswelt.

Temos uma dimensão própria que não é apenas um eu verdadeiro dentro do corpo, mas algo a mais. Nosso eu é composto por duas partes, como nas ideias de Spinoza, onde não existe substância individual

Sujeito e objeto

Alguns estudos dizem que o cérebro age independente de nossa intenção, e depois nos justificamos essa intenção. Isso poderia significar que não existe aquilo que chamamos de Eu, mas para o autor é justamente essa significação das ações que caracterizam este Eu. Perceber que sou Eu e não o outro que tomou tal atitude e justificá-la é construir um Eu com a necessidade da existência da segunda pessoa (você).

É assim que se justifica a existência de um Deus que só pode ser encontrado numa relação Eu-você. Percebemos essa relação. Não temos como observar a dimensão atemporal de Deus, mas quando ele se transforma em humano na figura de Jesus, podemos ter contato com esse “você” que agora carateriza um deus interpretável.


Intencionalidade ampliada

A conclusão deste capítulo começa com a explicação de que a consciência existe fisicamente, ou seja, o que nos define como eu não está numa outra dimensão, mas a mesma também não está na visão cientificista do mundo. Nas palavras do autor: o que importa para nós não são os sistemas nervosos invisíveis que explicam como as pessoas funcionam, mas as aparências visíveis as quais reagimos quando reagimos a elas como pessoas. Então, nos surge a pergunta, onde está a lacuna que divide objeto humano e o sujeito livre?

Comecemos a responder percebendo que o que há de transcendental em nós é justamente o que nos dá o autoconhecimento, não precisar de critérios para saber que a dor que sinto é minha. Essa transcendência kantiana vai além, e diz que somos sujeitos totalmente temporais, o que nos define está no passado e futuro. Para que essa temporalidade seja real, temos que colocá-la em prática, então, usamos a razão prática que nos questiona “o que devo fazer?” Essa resposta só é possível se eu for livre. Assim, o que pode nos mostrar efetivamente se somos livres é nossa relação com o outro, afinal, nas palavras do autor: “Eu sou eu para mim mesmo apenas porque, e na medida em que, eu sou você para outro. Portanto, devo ser capaz de ter um diálogo livre no qual assumo a minha presença diante da sua presença. Isso é o que significa entender o exemplo de primeira pessoa”.

Percebemos que o “eu” requer “você”, e estes se encontram em um mundo de objetos, o Lebenswelt, onde vivemos também na perspectiva do outro (o mundo não científico). O autor então, para melhor esboçar essa relação dicotômica, define a “intencionalidade excessiva de atitudes interpessoais”, ou intencionalidade ampliada, que é quando, na relação eu-você, o outro se torna parte do eu, e isso se mostra na busca intangível de algo no outro quando nos relacionamos com ele.

Essa intencionalidade ampliada, ou seja, ver o outro no eu, explica o porque não aceitamos a versão reducionista da condição humana, o porque mantemos uma dimensão espiritual em nossas relações mesmo numa época com pouca religião. E principalmente, deve-se ter a consciência que essa intencionalidade pode ser moldada por nossos vícios e virtudes, quando agimos temos sempre o outro dentro de nós, e a correção da moralidade vem disto, a relação eu-você que existe em nossas ações.


Capítulo 4


A primeira pessoa do plural

Esta seção do livro resume de forma breve os três capítulos anteriores, principalmente as partes referentes ao entendimento do que é o Eu.

Adendo: Compactando o conceito de Lebenswelt na ideia de Husserl sobre o Lebenswelt, ao mostrar como o mundo humano pode ser tão radicalmente diferente do mundo dos animais, apesar de nele conter, do ponto de vista científico, somente as mesmas coisas básicas.


A ordem da aliança

O autor faz um apanhado histórico dos direitos, desde os judeus até a common law. Ele percebe que os autores mais modernos que fundamentaram a lei inglesa acabam por se basear no conceito de “observador imparcial”, ou seja, uma terceira pessoa que julgará se o contrato é justo e valido. Assim, temos essa “sombra” nos julgando que automaticamente nos ajuda a ser justos. Algo parecido ocorre na relação com deus, que por vezes interpretamos como um contrato.


O cálculo dos direitos

O autor define a Lei Natural, que seria um dispositivo inerente a mente humana que define que a propriedade de alguém é absoluta, e por direito você poderia cobrar alguém pelos danos causados a essa propriedade.

Este conceito por vezes pode parecer contraditório, como no caso onde existe a necessidade moral de se roubar a propriedade de alguém, por exemplo sua motocicleta, para que assim com esse veloz automóvel seja possível chegar a determinado lugar a tempo de salvar a humanidade.


Inflação de direitos

Ao definirmos, por exemplo, o direito a vida como um dos direitos naturais, podemos supor que esse direito engloba também a necessidade de ser protegido de qualquer ação que possa tentar contra a sua vida. Assim, um médico que por qualquer motivo não queira lhe ajudar a resolver uma doença grave pode ter cometido um crime contra a sua vida.

Essa é uma contradição importante pois, a partir do momento que inflacionamos o conceito do que é um direito natural, acabasse por consequência lógica, tendo que criar um órgão que supra todas essas novas necessidades (saúde, educação, qualidade de vida) que só crescem e se tornam cada vez mais difusas. Este órgão é invariavelmente o estado, e lhe dar plenos poderes para isso vai contra a lei natural, pelo menos no que se refere a liberdade e propriedade privada.


O fundamento dos direitos

Para entender porque os seres humanos falam a partir de conceitos de direitos, podemos seguir a perspectiva de Searle, que diz que a esfera dos nossos direitos nos limita até onde nossos poderes são soberanos. Perceber a esfera do outro é saber que a partir do momento que a perpassa, você está sobe a obediência do outro. Se eu não tiver direitos, então nenhum contrato entre mim e outra pessoa tem qualquer valor pois qualquer um poderá perpassar a minha esfera de ação.

Assim, percebe-se que o direito é fundamental para que exista a relação eu-você citada nos capítulos anteriores, em que a nossa sociedade é fundamentada. Sem os direitos, a esfera de liberdade de ação é rompida e o individuo não tem legitimidade para contrato e atividades que forma sua identidade e a da sociedade.


Justiça e liberdade

Levando em conta que alguns inflacionam a lei natural, outorgando-a direitos efêmeros, busca-se então uma nova definição do que seja a justiça.

Esta pode surgir em Aristóteles, que diz que justiça é dar as pessoas o que é de direito e mérito. Também em Hegel, que propõe a existência de uma dicotomia entre servidão e liberdade, fruto da luta de vida e morte que existia anteriormente as leis naturais.

É evidente que muito do que esses autores propõe pode ser altamente interpretativo e moldado pela ação humana.


Obrigações não contratuais

Para o autor, inflacionar direitos é um erro, mas também é um erro acreditar que as únicas obrigações que temos são aquelas que concordamos. Para a existência do Lebenswlet, é necessário relações não contratuais como amizade, afeição etc.

Em alguns exemplos, como a diferença entre contrato e voto, podemos perceber esses limites. O voto é uma relação transcendental, pois independente do que é externo a ela, tem uma dimensão que é cara apenas as duas pessoas que o fazem, como num casamento. O efeito dessa relação não contratual acaba indo para o Lebenswelt na prática, vemos que sociedades que não respeitam a dimensão não contratual do casamento acabam não cuidando bem de suas crianças.

Justiça e devoção também mostram esses limites. A existência desse sentimento de devoção, associado a piedade, é o que mantêm certos procedimentos sociais que são validos e fortalecem os laços, como cuidar dos pais.


Além da Aliança

Juntando a ideia de que vivemos não só num mundo de contratos mas também de votos, devoção e vínculos, percebemos a transcendência em nossa existência. Essa transcendência se revela em obrigações que surgem fora da nossa vontade. Quando perdemos a importância dessa transcendência e vivemos num mundo de escolhas individuais, criamos um mundo que não estamos verdadeiramente em casa.


Capítulo 5


Encarando um ao outro

O rosto é o elemento do corpo humano onde o eu e a carne se fundem. É nele que o outro me conhece melhor que eu mesmo no agora, pois eu tenho a carga temporal na memória, enquanto o outro vê o pathos da minha decadência atual.

O rosto é subjetivo e anatômico. Quando confronto o Eu de alguém faço pelo rosto, este pode ser enganoso, mas não existe joelho ou cotovelo enganoso.

É ereto e com o rosto limpo que nos diferenciamos dos animais no nosso ritual sacro de alimentação. Ou seja, todos os rituais impõe disciplina ao rosto, “é o lugar onde eu sou em um mundo de objetos, e o lugar de onde eu me dirijo a você”.


Sorrir, olhar, beijar, enrubescer

O sorriso é uma atitude involuntária, mas que apenas seres racionais de conduta voluntária podem fazê-lo. Obter o sorriso de alguém então é perfurar essa dimensão que é só da pessoa.

Um beijo, diferente do sorriso, só é sincero quando é voluntário. Como no sorriso ele tem modos alternativos que são belicosos. Um sorriso falso é uma armadura a realidade que é dolorosa para quem faz. Um beijo falso é doloroso, como ocorreu com Lucrécia ao descobrir que estava beijando seu estuprador, e não seu amado. Tanto um sorriso quando um beijo tem uma condição apenas física, de nervos e visuais, mas é o significado que está por rás dele que dá o caráter de importância que eles tem para nós. É a revelação do jeito que ocorre quando esses eventos acontecem que dão o seu poder.

Esses elementos estão presentes também no olhar. Quando dois amantes se olham estão procurando a verdadeira essência um do outro, essa dimensão intangível. Por isso também que olhares fixos de desconhecidos são aterrorizantes.

O enrubescimento, mais semelhante as lágrimas do que ao sorriso, não pode ser planejado, e justamente por isso tem todo seu apelo social. É a resposta natural a existência do outro em mim.


A mascará do self

Ao fazer analogia da importância da máscara em determinados eventos sociais, resume o autor: E talvez as nossas interações cotidianas sejam mais “carnavalescas” do que queremos acreditar, o resultado de um imaginar criativo e constante de que por trás de cada rosto existe algo similar a isso — em outras palavras, a unidade interior com a qual estamos familiarizados e para a qual nenhum de nós

Tem palavras. Essa reflexão faz surgir uma outra: a de que a individualidade do outro reside meramente no nosso modo de vê-lo e de que tem muito pouco ou nada a ver com o seu modo de ser. Estamos novamente caminhando na trilha seguida por Espinosa, que nos leva à conclusão de que não existem indivíduos verdadeiros, mas apenas vórtices localizados na única coisa que é tudo.


Desejar o individuo

É no rosto que o E use revela, mas o corpo tem papel especial nisso. Diferente dos animais temos uma atração concupciosa pelo corpo. Descrita várias vezes na Queda do Éden, Eva em várias pinturas agora esconde o corpo nu pois ela sente que pode ser maculada pelos olhares dos outros.


O mito da origem

As religiões normalmente iniciam seus textos com algo que explique a origem de tudo. A física, por mais que busque soluções para a singularidade do Big Bang, nada pode explicar sobre seus momentos inicias ou anteriores. Assim, vemos na literatura a importância dessa tema, mostrado também por Edward Craig, que analise os estudos alemães da era romântica, citando que o único tema que importava para eles era o, já datado desde os deuses egípcios, a unidade, sua perda e recuperação.


Hegel, a dialética e a autoconsciência

Para Hegel a dialética é a unidade que engloba liberdade e consciência como metas a serem alcançadas. Nelas percebemos o já comentada questão da perda da unicidade e a busca por obtê-la novamente.

Então, percebemos que a sociedade surge no momento que compreendemos a dicotomia que existe na relação do outro. E assim podemos definir a ideia de Lebenswelt novamente como a autoconsciência de estágios tardios de alienação do outro, da reconciliação da mesma forma que é feita com a nossa busca da unicidade descrita por Hegel.


Liberdade

Aos nos observarmos todos como sujeitos de liberdade, acabamos percebemos que essa liberdade dos outros pode ser incomoda para nós. Assim, nas palavras de Hegel, começamos a ver os outros como objetos, o que tem por consequência vermos nos mesmos como objetos também, nesse estágio que surge a alienação. Só nos livramos desse estado alienado quando vemos o próximo um fim em si mesmo e temos em conta que as relações só podem existir entre seres livres.

Assim, a liberdade de um sujeito pressupõe a existência de um mundo onde pode existir distinção entre os fins e os meios necessários para que uma ação seja feita.

Assim voltamos ao rosto, que nos fornece toda essa dimensão do que é um ser humano. Nele temos a visão rápida da unicidade do ser. Desconsiderar o humano presente implícito nas feições do rosto é um ato pornográfico.

Tudo aquilo que percebemos ao observar um rosto é mais importante do que o que podemos analisar de alguém usando ciência. Assim, Oscar Wilde estava certo em afirmar que apenas uma pessoa muito superficial não julga pelas aparências.


Capítulo 6


Encarando a Terra

O mito da origem não é apenas uma história cheia de alegorias ultrapassadas. Este foi sempre uma forma de interpretar o mundo a luz da raça humana. A ideia de bom-selvagem e contrato social de Russeau, por mais que sejam vistas como modernas, tem a mesma ideia antropocêntrica. A forma moderna desse mito da origem são as várias versões freudianas e genéticas das explicações da ação humana.

As religiões descrevem o mito da origem colocando o homem num local especial pois isso nos ajuda a compreender nossa própria existência. Para que nos vejamos como sujeitos de tal importância, é necessário que elementos como direitos e deveres que, nas palavras do autor, só são possíveis com um Estado para protegê-los, exista.

Essa dimensão humana da análise nunca seria possível para um psicólogo evolucionista pois este vê o ser humano sempre com a mesma face e mesma estrutura.


O assentamento e a cidade

Mitos de origem local, como os gregos, sempre está associado a ideia de deus, com família e fogo, elementos necessários para a manutenção de indivíduos em determinados lugares. Para a manutenção desses elementos, as religiões foram evoluindo e fixando a ideia de cidade como lugar santo. Em especial os judeus adicionaram um mandamento extra de Deus ao explicitar a necessidade da existência de uma cidade para a sua morada.


O templo

Levando em conta a importância que todas as tribos e religiões antigas davam ao templo, podemos resumir, nas palavras do autor que: uma verdadeira cidade começa por meio de um ato de consagração, e é o templo que se torna o modelo para todas as outras habitações.


Outro mito de origem

Percebe-se na arquitetura das igrejas o conceito de “encontrar deus ao escondê-lo”. Como Pedro disse aos Coríntios que Deus vive dentro de cada um, a arquitetura das igrejas tende a dar o mesmo efeito mesmo aos céticos. A ideia de que algo invisível o está observando.


Cólofon imaginado

Trecho que trata de uma análise do que seriam torres, balaustras e sua comparação natural com árvores.


A rua e o livro dos padrões

A analise continua, mostrando que a arquitetura sempre surge da ideia de tempo, da mesma forma que cidade surge no conceito de deus.

A arquitetura reflete também a gramática, e quando esta arte parou de seguir o sagrado, se tornou profana também na forma como nos diminui.


O mundo decaído

O autor faz um paralelo da forma que tratamos o lugar que moramos com a forma que tratamos nossos semelhantes. Se vemos nosso lar como objeto, a história mostra que começamos a tratar nossos próximos da mesma forma


Beleza e assentamento

A procura pela explicação do que é belo é uma discussão importante desde Kant e Hume, que em seus estudos a definiram como uma relação moral entre o que sentimos e o que admiramos. Assim, podemos ter em mente a relação eu-você para observar a beleza em obras de arte. Nas pinturas de Van Gogh, por exemplo, ele projeta a ideia de rosto que se abre para quem quer conhecê-lo mesmo sem suas pinturas de ambientes.

Essa relação moral não ocorre apenas com elementos construídos por nós, mas mesmo por paisagens, que refletem a falta de comportamento piedoso do ser humano que a usa mediante a sua manutenção.


Capítulo 7


O espaço sagrado da música

Será apresentada uma reflexão sobre a música, suas representações e mudanças no mundo atual.


Cientificismo e entendimento humano

Da mesma forma que para entender o funcionamento da beleza na vida humana, a dimensão científica por vezes não é nada necessário, o mesmo acontece com a música.

Por mais que sabemos a importância da música na ligação entre mãe e filho, isto não é importante para compreender o seu efeito na vida humana. Essa cientificação pode ser perigosa quando assumimos que qualquer mudança na qualidade do que hoje é consumido pode ser associado ao “melhor dos mundos” que a genética nos prove.


Entendendo a música

Quando queremos entender uma música, perceber os seus procedimentos mecânicos pouco importa. É quando refletimos o porque de determinados movimento baseado na mente do compositor é que começamos a ver uma dimensão extra na beleza musical.


O espaço da música

Diferentemente de uma linguagem, a música não consegue esboçar por si só exatamente o que quem a faz ou a toca quer passar. Podemos reparar isso na questão das pausas musicais, que não podem ser chamados de espaços pois estes não existem fisicamente, mas que antigamente eram nulas e hoje refletem o assustador vazio que existe na mente de quem ouve.


Cultura musical

Theodor Adorno, mesmo sendo um estudioso da Escola de Frankfurt, foi um grande crítico musical de sua época. Ele percebeu a cultura de massa que o jazz trazia consigo.


Cultura de massa e vício

Da mesma forma que a pornografia traz um prazer rápido e fácil, e isso causa um vício, a música sofre do mesmo problema. As músicas hoje em dia tem por definição a existência de batidas rápidas que não fazem esforço nenhum na cabeça de quem ouve para apreciá-las. Estas melodias eletrônicas também não permitem que quem as ouve, dance com algum parceiro, pois são músicas feitas para o indivíduo.

As mudanças da prática musical são importantes historicamente, desde as proibições de festa da Roma Antiga, passando pela destruição das tábuas da Lei de Moisés ao ver seu povo adorando uma imagem: em vez de observarmos a transcendência do ser, agora se transforma o ser em ídolo.


O significado do silêncio

O autor faz um paralelo da importância e mensagem que o silêncio faz em algumas obras clássicas como a de Beethoven, e a mensagem que as músicas querem passar, mesmo quando isentas de letra. Estas comunicam em algo intrínseco que apenas a relação eu-você com o objeto da música pode fornecer a resposta, e não um darwinista de plantão.


O significado da música

Se a música tem um sentido, então se trata daquilo que você entende quando a entende. Notamos isso quando percebemos que há uma intencionalidade na música que nos fornece uma mensagem independente de seus arranjos mecânicos


Dançando com a música

A intencionalidade que diferencia o ouvir do escutar uma música, sendo que num você simplesmente esta na presença dela e na outra você presta atenção, é aquele que faz sentirmos a música a ponto de dançá-la. Quando esta nos passa uma sensação de falta de moral, dançamos dessa forma, sentindo sua intencionalidade. Quando alguém dança, independente de estar ou não com alguém, nunca está sozinho, pois está traduzindo junto com a música algum significado, como na relação eu-você.


Música e moralidade

Quando uma música força sentimentos em nós, percebemos que criamos uma relação objetiva com ela, da mesma forma que fazemos no sexo ou numa amizade deturpada. Entender que esse tipo de fenômeno está em todos os arredores do que nos é caro é compreender um pouco mais a nossa relação com Deus


Capítulo 8


Em busca de Deus

A intenção do autor foi introduzir o leitor a dois pensamentos fundamentais: o primeiro é que a intencionalidade eu-você se projeta além dos limites do mundo natural; e o segundo é que, ao

Fazer isso, ela revela o nosso anseio religioso.


A ordem da criação

Diferentemente da física, que não permite que exista uma singularidade como "criação" devido a seus corolários de conservação, na vida humana isso é diferente. Nas palavras de Sartre, só existe o que entendemos como self pois sempre observamos o nada, ou seja, a morte, em nossa consciência.

Como somos sujeitos, podemos remodelar a importância da morte em nosso Lebenswelt, diferente de um pedaço inconsciente de carne.


Morte e sacrifício

Notamos que o momento da morte é importante em várias civilizações. Em especial, quando observamos um corpo morto, percebemos um elemento sem dono, aquele que o comandava não está mais lá. O sagrado está lá, no momento em que o ser e o nada estão contidos dentro da vítima da morte.


Doar e perdoar

Momentos de doar e perdoar são comuns em livros sagrados como a Bíblia. O exemplo mais claro é a aliança criada entre Deus e Abraão quando este foi chamado a sacrificar seu filho.

Estes sacrifícios não tem apenas a dimensão violenta, como dizia Girard, mas são comuns na nossa vida (como numa paixão, onde um individuo depende do outro) para vivermos por completo.

São nessas conexões de responsabilidade, sacrifício e dom que surgem os motores da vida como nascimento, amor sexual, morte e funeral.

Sem o sacrifício e dom dos outros não podemos viver em sociedade. Sem ignorarmos nossa sede de vingança, perdoarmos e nos doarmos essa aliança é impossível. E curiosamente esses ensinamentos foram mantidos mesmo em épocas difíceis de guerra e peste (ou justamente por causa delas).


Dualismo cognitivo e crença religiosa

Sendo o deus dos monoteísta aquele que responde os porquês, e não está no continuum das perguntas, percebe-se que ele está envolto de mistérios. Ignorar a importância desses mistérios é o mesmo que não levar em conta que existe um elemento na música além das ondas mecânicas oriundas o processo de tocar um instrumento. Ou ignorar o "eu transcendental" que existe mas não ocupada espaço, porém toma ações nesse mundo espacial.

Kierkegaard entre outros propôs uma aproximação de deus ao ignorar o intelecto, mas o autor não concorda com essa visão, e afirma que a fé é entender que existem mistérios e que devemos conviver com eles.

Na relação entre deus e o homem, pode-se dizer que Ele é a causa para a busca de leis (jusnaturalismo), ou seja, foi deus que implantou a lei e a busca por justiça no coração e na organização humana, “como se nós, humanos, nos orientássemos por tais princípios, em vez de sermos animais que se orientam pelo campo magnético da terra”.

A existência de Deus

O autor percebe que Sarte criou uma teologia pós-cristã em "O Ser e o Nada". Neste livro, como em tradições teológicas do século IX, deus é entendido como o nada, pois Ele transcende o ser.

A abordagem politeísta se diferencia da monoteísta pois, se existisse mais de um deus, a busca pela razão jamais seria alcançada.

Se Deus existe ele necessariamente é o criador pois somente dessa forma a sua concepção atemporal faria sentido. Foi sua vontade criar, e no decorrer do livro entendemos que a vontade é um dom do self, com todas as consequências dessa constatação, incluindo ver deus como um sujeito. É nesse sentido que compreendemos a contingencia como um dom, pois quando algo de ruim nos acontece, é porque nos foi dado pela vontade dEle.


A natureza da religião

O coração da religião é o ritual. É neles que entramos em contato com deus independente de ações prévias. Ele pode vir em forma de talismãs, como para os judeus, ou em orações como Ave-maria e Pai nosso. É mantido uma relação de respeito com o passado, essas liturgias em geral não mudam com o passar do tempo.

Existe uma dicotomia entre a fé e o ritual, para alguns, com os protestantes, a fé é mais importante que as obras, ao contrário do que pensam os católicos atuais. Porém, vemos na igreja patrística católica essa maior importância ao rito. Até hoje, as igrejas se preocupam com a competição que existe entre o mistério sacrificial e a clareza da doutrina. O primeiro exige palavras antigas e ritos solenes, nos quais a ideia de sacrifício é dramatizada, mas não explicada. A segunda exige novos sermões e explicações seculares, nas quais o receptáculo da liturgia fica cheio de furos, e assim o seu conteúdo se derrama pelo chão.

Temos a ideia da condição atemporal de Deus em ritos como a Pascoa ou guardar o sábado pois, como são ritos frequentes, é como se eles nunca tivessem acabado. Em particular guardar o sábado mostra a dimensão não-espacial de Deus, quando de fora da “criação” observamos o que foi feito, deixando de lado atitudes que não tem sentido senão em si mesmas.


Morte e transcendência

É difícil para os seres humanos aceitarem a morte. Verificamos essa verdade na forma que cuidamos dos nossos mortos, os enterrando em lugares em que podemos encontrá-los. Toda esse significado se mantêm mesmo em uma época secularizada, o que traz junto a nossa vontade em não acreditar que não há mais nada depois da morte. Essa negação surge justamente na intencionalidade ampliada da relação eu-você que criamos com aqueles que se foram.

Podemos ignorar essa dimensão misteriosa da morte percebendo ela como uma transição. Só podemos viver num mundo habitável se aceitarmos a realidade da nossa morte. É também nessa aceitação que perdemos a dimensão temporal da realidade, e nos unimos ao criador. Claramente essa discussão não está presente no mundo cientifico, mas sim no Lebenswelt, o mundo dos ritos e sujeitos que fazem nossa vida fluir. Tanto a vida aqui como algo depois da morte só pode ser alcançado com atitudes morais perante o Criador. Perderíamos a vida eterna e no agora objetificaríamos o outro.

 
 
 

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  2018 - Os textos aqui expostos não representam a opinião do autor.

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