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A Vingança de Aristóteles - Olavo de Carvalho

  • Foto do escritor: Canal Resumo de Livros
    Canal Resumo de Livros
  • 25 de jul. de 2024
  • 10 min de leitura

A Vingança de Aristóteles - Olavo de Carvalho


Introdução

O conhecimento obtido pela lógica só garante veracidade dentro do jogo mental criado, mas não na realidade. Ou seja, a lógica serve apenas para testar se uma teoria é boa. Olavo é considerado um bom interpretador de Aristóteles justamente por ir além do que o texto expõe, completando aquilo que falta com suas próprias concepções.


Pensamento e Atualidade de Aristóteles

Aula 1 - Apresentando Aristóteles

Não adianta ter vontade que algo faça sentido. Se um indivíduo não consegue fazer isso, mais ainda o coletivo. Porém, as pessoas se escondem por trás dos erros do coletivo para fugir da realidade. Nossa época em especial esconde a verdade por trás da renovação social. A filosofia surge exatamente nesse momento, onde o indivíduo sente a incoerência, então tenta reconstruir seu corpo de crenças (há quem diga que filosofia é sempre dialética, ou seja, não adianta apenas a ser igual b, mas sim a ser diferente de c, então igual b). E no fim, o que importante é a consciência individual, mesmo a confissão, é a mais pura busca da verdade interior, é sempre uma luta contra neuroses, ou seja, a vontade de mentir para si mesmo. Essa necessidade da individualidade na filosofia não é o que vemos em instituições nacionais como a USP, onde a verdade é sempre a busca de aceitação do coletivo.

Platão era um filosofo que acreditava em universais, elementos que vivem no mundo das ideias e são formas perfeitas de coisas que pensamos ou vivenciamos imperfeitamente. Essa ideia foi muito utilizada por Newton, por exemplo, tentando matematizar perfeitamente um mundo incompleto (o que se mostrou limitado quando observado a luz da física dos pequenos e dos grandes corpos). Essa forma de ver o mundo na realidade se iniciou com Pitágoras, ou seja, pura matemática sem necessariamente relação com o real.

Aristóteles, por outro lado, talvez muito influenciado com seus estudos biológicos, via o conhecimento como um sistema, onde várias partes (ou órgãos) precisavam funcionar concomitantemente para se chegar a verdade. Vale a pena frisar que o próprio nome do livro se baseia no fato de que muitos pensadores modernos queriam negligenciar o efeito de Aristóteles na ciência, porém a ciência moderna se provou submetida a toda concepção cientifica do filosofo. Tal qual o menino sendo o juiz do homem, pois são com os olhos do menino que o homem mede se conquistou o que sempre sonhou, a modernidade também deve ser avaliada a luz de pensadores de outras épocas. Em nosso caso especifico, devemos nos ver como um fenômeno que aconteceu 2400 anos depois de Aristóteles, e não tentar estuda-lo baseado no que somos hoje.


Aula 2 - Aristóteles e o historicismo

O historicismo discute a questão, e não o fato que demandou determinadas atitudes, sendo assim, ela se torna inútil a qualquer pergunta mais fundamental. Uma consequência dessa forma de pensamento é observar o mundo a luz de jogos mentais, por exemplo: criamos uma máquina que funciona como o cérebro humano, o computador, depois tentamos explicar a própria mente como se fosse um computador. Essas hipóteses podem até trazer algum resultado, mas devido a isso, alguns pensadores extrapolam até onde elas podem atuar.

Uma característica importante do pensamento atual, que vai contra Aristóteles, é o mecanicismo, nessa forma de pensamento derivada de Newton, a separação pode ser completa, analisando elemento a elemento separadamente. Aristóteles, por ter tido uma formação biológica, tentava entender os fenômenos como um sistema, onde uma parte era totalmente dependente da outra para funcionar. Nisso ele se distancia de Platão, que acreditava que existiam realidades mais fundamentais que outras, como por exemplo, a cor ou a existência. Para Aristóteles, apesar de observar um como contingente do outro, entendia que era necessário que tudo isso existisse junto.

Aristóteles era mais "mão na massa", classificar animais, por exemplo, não era tão "preto no branco" quanto classificar formas geométricas, atitudes que Platão pensava que poderia ser estendida para qualquer ente. O próprio Piaget mostrou que era impossível existir a sensação pura, pois ela seria impossível de se distinguir de outras sensações, o que por definição é um absurdo.


Aula 3 - Organicismo e gnosiologia

Não se pode simplesmente ignorar que algumas formas de se analisar a realidade são mais valiosas que outras, e que entender o caminho a se fazer isso é diferente de se chegar na conclusão da análise. Platão e Aristóteles criam formas diferentes, por exemplo. Enquanto Platão tenta criar dois mundos, um dos pensamentos e outros dos entes materiais, Aristóteles entende que existimos em apenas um mundo, e parte desse sistema para explicar a realidade, tal como dizia São Paulo: “é nele que vivemos, existimos e somos".


Aula 4 - Aspectos gerais da obra de Aristóteles

A filosofia de Aristóteles é baseada na totalidade, não é possível dividir a realidade em pequenos pacotes e estuda-los individualmente. Ele também define alguns termos que nos ajudam na investigação, como por exemplo categoria, que é a forma com que a realidade chega até nos. Também temos alguns predicáveis, como definição, gênero, propriedade e acidente. Algum dos seus elementos de interpretação, como linguagem, pensamento e hermenêutica foram desenvolvidos, eram conceitos lógicos e depois viraram conceitos gramaticais, como por exemplo a ideia de substantivo e adjetivo. O que Aristóteles chamava de analítica, os estoicos posteriormente chamavam de lógica, que é como chamamos esse conteúdo desenvolvido pelo filosofo, porém, o próprio dizia que a lógica era o mais baixo de seus desenvolvimentos, pois sem as premissas, de nada adiantava o raciocínio estar bem desenvolvido, afinal, é possível criar sentenças logicas perfeitas de realidades que sequer existem, sendo assim, o que é realmente decisivo é a dialética.

Existe uma relação forte entre cristianismo e aristotelismo, tanto que Santo Tomas de Aquino baseou-se na teoria do filosofo para desenvolver suas teses. Ocorre que, diferente de todas as outras áreas do conhecimento, o cristianismo foi estudado e informado aos modernos pelos seus inimigos, o que é um erro, pois quando vamos estudar algo, temos que perguntar a quem conhece, não a seus rivais, não perguntaríamos sobre o judaísmo a um nazista, por exemplo. Em especial, para se entender uma teoria, ou até mesmo um discurso poético, é necessário se abrir a possiblidade, absorver o conteúdo como se ele fosse verdadeiro, mesmo se ele não o for. A dialética, então, serve não só para o treinamento da mente, mas também como instrumento de investigação

Existem conhecimentos que uma vez obtidos, podem ser generalizados, isso quem dizia era Platão, que fez sua filosofia baseada em universais, enquanto Aristóteles, como biólogo, fazia a sua baseado no mundo real, ou seja, um mundo prático onde algo isolado não tem como funcionar como os universais platônicos. Por exemplo, filosoficamente uma coisa é o gato individual, outro é a espécie de gato, porém uma não existe sem a outra. Ou seja, existe uma contraposição entre o ser e o conhecer, essa é a própria estrutura da realidade, e Olavo desenvolve mais isso em seu "conhecimento por presença".

Só existe a unidade porque existe a pluralidade, e só existe a eternidade porque existe o efêmero, tal qual o ser vivente, que muda constantemente mas mantem algo que é totalmente seu, temos essa experiência ao olharmos para nós mesmos. Ou algo existe como substancia ou na substancia, talvez se possa fazer uma analogia aqui com Deus, onde existimos nele.

Mesmo com todos esses desenvolvimentos, a humanidade emburre céu e virou mecanicista, ou seja, a realidade para estes poderia ser estudada em pacotes independentes um do outro, e qualquer coisa que não pudesse ser estudada assim não seria real. Essa espécie de neoplatonismo só foi derrubada com a chegada da mecânica quântica, apesar que seu filho, o cientificismo, anda em voga. Não se pode criar um mundo baseado em modelos, tal como Eddington dizia no seu exemplo da mesa, que na realidade não era uma mesa, mas um emaranhado de átomos, nos fazendo acreditar que o mundo de verdade era o modelado matematicamente, e não o prático.

Nós temos um esquema de forma inteligível, ou seja, conseguimos criar mentalmente algo que representa aquilo que queremos entender, mas não necessariamente conseguimos cria-lo, como por exemplo quando uma criança desenha uma casa simples, ela coloca um teto, portas, janelas, aquela figura poligonal não parece uma casa real mas exemplifica o que uma casa deve ser. Notamos com esses exemplos que a lógica não é suficiente para se chegar a verdade, porém, foi o que Descartes procurou fazer. Ele se colocou numa armadilha, pois queria separar a verdade do dedicado real da experiência, que é onde ela está. Não encontrando verdade alguma se perguntava: qual é a única certeza que posso ter? E chegou na conclusão que era que ele existia se pensasse, porém para que ele existisse eram necessárias muitas outras condições, esse experimento mental é uma mentira, essa verdade é uma condição externa a realidade da existência. Jogos mentais podem ser bem lógicos, é fácil quando criamos suas regras em nossa mente, mas eles podem não seguir o que é real, isso que é o realmente difícil. Apesar dos filósofos lógicos (Descartas, Spinoza, Hegel etc) dizerem que é possível obter verdades por deduções puras, eles na verdade não queriam nada com a realidade, mas com a universalidade. Sem um terceiro para confessarmos a verdade, a experiência desta não existe, ela simplesmente não se põe a nós. Sendo assim, mesmo uma tese filosófica só é bem entendida quando posta contra alguma outra tese.

Alguns filósofos, como Scheling, Hegel e Fichte tentaram expandir a ideia de dialética de Aristóteles. Fichte acreditava que apenas a lógica não era suficiente de explicar a realidade, é necessário a autoconsciência para quebrar a divisão entre o eu e o mundo, porém, ele não conseguia resolver essa divisão, então se isolava no eu para buscar respostas, o que é um erro. Para Schelling, Deus se apresentava como natureza e subjetividade, para que assim pudemos ter alguma noção da realidade, "Nele nos movemos, vivemos e somos".

Uma ideia que não está explicita nos textos de Aristóteles, mas é necessária para seu entendimento são os "Quatro Discursos", que, resumidamente, são formas de expressão: a poética, a retórica, a dialética e a analítica. Essa análise é necessária pois assim se une tudo que o filosofo escreveu, senão, sua obra é mutilada na tríade "lógica formal+sensualismo cognitivo + teologia do primeiro motor". De uma forma bem resumida, temos níveis de confiabilidade, tal qual temos níveis de erros, ódio, bondade etc, dentro dos quatro discursos temos então o Retórico, que é o discurso verossímil, o poético, que é possível, o dialético, que é provável que o logico que é verdadeiro. Porém, como já foi discutido, nem tudo que é verdadeiro tratasse do que é real, por tanto o dialético é o que mais representa a realidade, e pode vir de uma sequência direita do retórico, tal qual o poético.

Aristóteles usava sua ideia de unidade sistemática como forma de resolver vários problemas, desde método até metafísica. Ele diz que os universais de Platão não podem existir, pois isso causaria a necessidade de todas as possibilidades acontecerem ao mesmo tempo.


Aristóteles na História

Breve história dos efeitos da física de Aristóteles

Einstein dizia que o pensamento de Aristóteles havia dominado o conhecimento ocidental até o advento da ciência moderna, mas isso não é verdade. Aristóteles não tinha autoridade academia na Idade Média, o que eles escreviam vinha da experiência da vida cristão, principalmente da confissão. O que havia de cientifico na Idade Média vinha da alquimia, jogando foram toda essa produção, que é cerca de 80% do que escreveram, sobre apenas discussões de temas abstratos.


Enganos sobre Aristóteles

Newton refutou Aristóteles?

Muitos conceitos epistemológicos estão errados ao se afirmar isso. Começando, por exemplo, com a ideia do que é uma explicação ou uma descrição, um exemplo é a teoria gravitacional. Dizer que as massas se atraem ou descrever isso matemática não explica as causas do fenômeno, porém, para muitos mecanicistas, nada que não possa ser matematizado desse jeito pode ser considerado conhecimento, ou mesmo real. A física só descreve bem matematicamente o mundo, pois só estuda aquilo que pode ser matematizado.


A Physique aristotélica e o erro de Xavier Zubiri

Este autor entendeu Aristóteles errado, pois não levou em conta o que significam certas palavras na obra do filosofo. Forma, por exemplo, é o conjunto inteiro das estruturas que compõem um ser na totalidade da sua existência, da origem até o fim, ou seja, tem a ver com a causa final. Tentar pegar Platão ou Aristóteles num erro é pedir para passar vergonha, pois estes não são simples filósofos de departamento, mas sim pessoas que abriram o conhecimento para o resto da humanidade.


A vingança de Aristóteles

Apologia de Émile Boutroux

Poderíamos resumir o mecanicismo como platonismo e o indeterminismo quântico como aristotelismo. Essa matematização de tudo é o mecanicismo, que foi um dos erros de Galileu, que tentava faze-lo mesmo com entes que não podem ser matematizados. Eles construíram uma ciência que acreditava na matematiza ontologicamente. Sendo assim, surgiram ciências como a Relatividade Geral que descrevem elegantemente coisas que nem sabemos se podem existir. Leibniz foi um dos poucos que reparou nesse problema, pois mesmo Einstein dizia que Aristóteles foi um atraso para a ciência. A argumentação de Boutroux parte de uma base kantiana. Nas matemáticas reina absoluta necessidade lógica, mas os juízos matemáticos são puramente analíticos, no sentido kantiano, isto é, suas conclusões já estão contidas em suas premissas. Então isso não pode funcionar para ciência, pois essa não pode depender apenas de logica, mas de juízos analíticos tirados da experiência. Sendo assim, nunca poderemos ter uma "certeza absoluta" na ciência, pois ela é sempre tirada de juízos contingentes. As ciências humanas, para Max Weber, deveriam usar um pouco de matemática e um pouco de "cultura", mas o mesmo serviria para as ciências da natureza? (N.A.: tem-se uma discussão parecida na praxiologia, onde usamos sintéticos a priori para prever a ação humana).

Aristóteles é base para toda ciência que acredita que nem tudo é imutável e matematicamente exato, como a quântica ou teoria que tentam dar "sentido" as ações da natureza.


A vingança de Aristóteles

Aristóteles só não acertou na parte matemática da explicação da material. Os escolásticos já falavam da matéria segunda, que é a parte "quantitativa" da matéria e isso que verificávamos quando queremos fazer um experimento quântico, por isso ele causa problemas de medição. (Nas notas dessa seção ele cita também a matéria prima, que é por assim dizer o próprio conceito de matéria).


A vingança de Aristóteles: aprofundamento

Leibniz dizia que não se pode definir algo apenas utilizando matemática tem que existir algo de real e material, por isso ele dizia que se jogássemos fora a física aristotélica, acabaríamos num mudo que mediríamos tudo, mas não saberíamos do que estamos falando. Justamente por isso para Aristóteles o método superior de obtenção da verdade era a dialética, onde não se tem verdades apodíticas, mas sim probabilidades razoáveis. Um exemplo disso é a neurologia, ela explica muito da mente, mas não tudo, e só explica aquele cercadinho que se propõe a estudar, porém se a pessoa que se propõe a ler sobre o tema não entender de onde veio e o que estuda a neurologia, vai achar que ela pode explicar todos os fenômenos da mente.

 
 
 

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