A Cultura Moderna - Roger Scruton
- Canal Resumo de Livros
- 19 de dez. de 2023
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A Cultura Moderna - Roger Scruton
Introdução
A proposta do livro é avaliar a cultura, o que ela é, como é transmitida e o efeito que tem naqueles que a recebem. Porém, é impossível defender a cultura para alguém que não a tem. Em especial, será analisado a origem religiosa da cultura.
1 - O que é cultura?
Alguns filósofos atuais defendem que a cultura é apenas algo que homens da elite tem. Porém, a cultura se desenvolveu desde as épocas mais remotas. Existem duas ideias modernas de cultura: a primeira é que ela é particularista, da ilha que somos nós para o oceano que são eles e também uma concepção mais ampla, que cita que tudo é cultura. Essas duas ideias se alimentam de uma fonte comum.
Uma das primeiras ideias religiosas vem do mito, que de ser forma "anima" o mundo, porém, não há uma teologia do mito, então ela não responde às perguntas existenciais.
Desde cedo o homem se preocupou com a morte, por isso todas as culturas antigas falavam sobre a importância dos mortos estarem "presentes" na forma como vivemos e socializamos. Do sacrilégio como lidamos com os mortos surgem uma série de outras impiedades do homem moderno. Sem o homem do passado presente no agora, surge uma série de problemas que vemos na guerra cultural de hoje em dia.
A ideia que surgiu no Iluminismo de contrato social reduz toda a cultura citada anteriormente. Ela reduz a relação humana a uma decisão que não é livre por parte do indivíduo e tira os homens do passado da decisão. Sem religião o homem moderno tende a acreditar nesse contrato, ou seja, tende a acreditar no estado e nas convenções modernas. Um antropologista pode afirmar que o motivo de que os homens antigos davam essa importância aos mortos era a vantagem evolutiva disso, mas aquele homem antigo que o fazia ignorava completamente essa ideia, ela não passava por sua cabeça.
2 -
Existe um regresso do Eu verdadeiro que se dá por meio da alta literatura. Talvez por isso a altura cultura importa tanto e a religião tornou isso facilmente disponível.
Outro dispositivo importante da cultura é a linguagem, em especial as línguas antigas. É importante que línguas antigas e mortas sejam usadas em cerimonias, pois, a palavra de Deus é absoluta, e uma língua está em constante mudança, sendo assim, as palavras utilizadas devem permanecer constantes.
3 - Iluminismo
Kant acreditava que surgiria um governo mundial, que deixaria de lado todas as lealdades tribais, raciais, dinásticas etc. Tudo deveria ser avaliado por um referencial a priori indiscutível. Veio a revolução francesa, e os iluministas fizeram uma carnificina e tiraram o poder do rei. Dali começou a derrotada das grandes dinastias. Com o tempo, surgiram os nacionalistas, que exultavam a nação, mas sem Deus na equação. Essas ideias são populares porque estão sempre associadas a uma agenda política e porque nos oferecem uma visão de conjunto. Não podemos mais voltar atrás, temos que aprender a lidar com o que as "luzes" da revolução nos deixaram de herança.
4 - O olhar estético
Arte e literatura ficaram de lado como recreações, agora são vistos como estudos para a alma. Para Kant o saber na análise estética é saber o que sentir quando estamos perante ela.
Hoje a arte se reduz ao que é visto. Ou seja, quando vemos uma estátua, isso não deve nos remeter mais a algo além dela, mas sim a sua própria forma. Para o crente, a estatua é um meio para Deus, e para o ateu, Deus é um meio para a estátua. Afirmar que a função da arte se aproxima da função da religião não incorre na estetização da religião.
Nossos paradigmas da de altura cultura desde o iluminismo é a obra de arte e o motivo é que quando uma cultura entre em declínio, só a obra da imaginação pode sustentar e renovar a vida ética.
5 - Romantismo
O romântico bebe de Kant quando dá muito valor a morte e a estetização da natureza. Três temas dominam a arte romântica: natureza, amor erótico e mundo pré-iluminismo.
Sujeita as pressões da vida secular, a arte se adaptou. As fantasias pré-fabricadas substituem o trabalho da imaginação, e a firmeza moral dá lugar ao sentimentalismo tóxico. Por coisas assim no mundo que vivemos hoje, tudo, até mesmo o sagrado, está à venda.
6 - A fantasia, a imaginação e o homem
Coleridge sugeriu a diferença entre fantasia e imaginação. A arte mostra distinção disso. Por exemplo, as obras tidas como eróticas no passado eram cheias de imaginação para a pessoa que a via. Como os corpos não totalmente explícitos, dava espaço ao imaginário, diferente da pornografia dos tempos atuais. Na fantasia o objeto de desejo não tem capacidade de se defender, por coisas assim existe violência nesse tipo de material moderno, como filmes de ação. Num filme pornografia a pessoa do desejo está ao seu dispor, diferente de um relacionamento real onde para se obter prazer é necessário uma série de atitudes bem humanas.
Esse desencantamento do mundo citado anteriormente acaba desaguando em outros fenômenos sociais, como o casamento. As duas pessoas prometem a Deus e a comunidade que nunca irão se separar, mas mesmo assim se separam. A força superior a lei mundana não mais serve para essas pessoas modernas. Cresce o sentimentalismo, mas o sentimento poluído por ele se torna miserável. Com essa dimensão sendo deixada de lado, cresce o cinismo.
7 - Modernismo
Scruton cita que tal qual muitos dizem que a filosofia são notas de rodapé de Platão, a altura cultura é notas de rodapé da obra de Wagner.
Sobre o amor presente nas obras de Wagner, ele cita que o casamento é algo além do indivíduo, mas sim um rito de passagem da tribo.
Para ele a religião, em especial o cristianismo, é importante. Se deixarmos de lado o cristianismo, perdemos muitas características humanas, como por exemplo a verdade mediante a mortalidade
8 - Vanguarda e kitsch
O kitsch (que numa tradução direta seria "brega") não foi uma investida contra a tradição artista, mas sim uma tentativa de resgata-la, uma tentativa de encher o mundo de sensações e emoções falsas. Tanto a arte quanto a religião hoje em dia buscam justamente esse sentimentalismo toxico do kitsch. A cultura moderna então joga fora por completo tudo que veio antes dela, mas não consegue tem empenho suficiente de aplica-la.
9 - Superfície e profundidade
O interesse de um a pintura está na representação de um objeto, que existe, por via de regra, apenas no ato da representação. É por esse motivo que não há lugar, na verdadeira arte da pintura, para o detalhe banal, ou para as emoções vicariantes, ávidas do que é distante, supérfluo, mas real, justamente por isso fotografia não é tão arte quanto, pois só pode retratar as coisas, sem espaço para a imaginação. Justamente quando um fotografo como a mexer com detalhes da iluminação e cores para dar mais alma a suas fotos, ele se transforma num pintor. Filmes são uma extensão técnica das fotos, e por consequência, os apreciadores de um filme não tem vontade de vê-los mais que poucas vezes, diferente de um quadro.
10 - Yoofanasia
A música atual, como não é harmônica, não vai para lugar nenhum. A estrela pop é um tipo de esperança, pois vive cercada de um monte de elementos da vida moderna, zunindo e a perturbando, mas saiu ilesa. Totalmente diferente do músico clássico, que era servo da música.
Quando um fã se pergunta o que é que o cantor tem que ele não tem, a reposta é sempre nada, pois para o fã, a pessoa no palco é ele próprio. Dessa semelhança formam-se grupos de pessoas, que não necessitam de disciplina e nem profundidade, como grupos de estudo ou igreja. O mesmo pode-se dizer de esportes de massa como o futebol.
A educação centrada no aluno talvez seja um dos motivos desse comportamento estranho, pois tal qual o aluno, o fã está tentando salvar-se do desespero em que os adultos o colocaram, que é tentar criar sua própria personalidade num mundo que ser jovem é o objetivo de todos os velhos.
11 - Mãos Ociosas
Para fazer parte da "intelligentsia". A Rússia reclama de si mesma por imitar a cultura europeia e, mesmo a revolução russa, nada mais é que uma imitação da francesa. O poder então é visto como algo ruim para esse tipo de gente. Em especial Foucault, este nunca leva em conta que o poder pode ser algo positivo, como o poder de um pai cuidadoso sobre sua família. Tudo acontece pois a anticultura quer destruir coisas sagradas, que definem nossos ritos de passagem e nos fazem ser adultos.
12 - Obras do Diabo
Derrida teoriza o nada, pode ser sem sentido, mas é importante entende-la. Sua proposta é que o que importa está na ausência, não no Logos, isso, resumidamente, é a obra do diabo na história.
13 - Conclusões
A cultura da desconstrução e a cultura pop é praticamente a mesma coisa, porém produzida por professores de universidade que querem destruir tudo enquanto recebem seu salário do estado.
As pessoas vivenciam as coisas sem se preocupar com seus fins, a ideia do livro era escrachar isso, e deixar claro que a cultura popular (não a pop) contem resquícios dessa sabedoria.
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