Ao Sondar o Abismo - Gertrude Himmelfarb
- Canal Resumo de Livros
- 18 de fev. de 2023
- 9 min de leitura
Ao Sondar o Abismo - Gertrude Himmelfarb - Resumo
Sinopse: O livro trata de uma análise de como sondar o pior do ser humano moldou o pensamento moderno.
Prefácio
Ao buscar uma objetividade isenta de moral, acabamos acabou criando a ideia de que bem e mal são apenas questões relativas, tornando o homem doméstico, longe de propostas superiores, levando a concluir que o que é bonito, na realidade é feio, o que é bom, na realidade é mal vice-versa etc. Simplificação é a tônica moderna. Para lembrar disso, o livro sempre retorna ao Holocausto e sua "desconstrução" atual. Ao "desencantar" o mundo, acabamos por dar atenção apenas ao nada, o que fez por proliferar o niilismo.
Introdução
O livro é dedicado a proposição de que, apesar de dizermos que "ideias tem consequências" e não damos muito valor a isso, esse adágio acaba por ser levado a sério quando essas ideias criam Stalins e Hitlers. Existe verdade absoluta, e existe relação entre imaginação moral e sensibilidade estética.
A autora propôs que o próximo passo da evolução da história seria a desconstrução dela. Não foi levada a sério, porém quando percebemos a destruição de símbolos antigos e mesmo de situações atuais como o Holocausto, percebe-se que ela está certa.
Capítulo 1 - Ao Sondar o Abismo
Uma série de obras que passam de Dostoievski até Nietsche, são citadas pela autora como que "flertam" com o abismo. Obras como essa, vistas pelo ponto de vista acadêmico não são saudáveis, pois "oficializam" uma versão niilista do mundo. O que ocorreu é que com mais de cem anos de estudo de livros como esses, o abismo foi ficando mais profundo.
Uma das propostas foi a desconstrução sem proposito. Deixar feio o belo virou padrão. A autora traz um poema cheia de simbolismo natural e sagrado, que foi descontruído com pornografia, como se isso fosse algo democrático e artístico.
Deve-se fazer uma mea culpa a Nietsche, pois pelo menos seu abismo é triste, o de Heidegger, grande apologista do nazismo, é feliz e mais atraente. Um autor moderno, Rorty, cita que Heidegger deveria ser lido completamente diferente de como se propôs a ser lido: "com a mente aberta".
O efeito de atitudes como essa é silenciar o drama da história, esvaziar seu conteúdo moral e minimizar a grandeza. Essa última causa efeitos catastróficos uma vez que tiramos a responsabilidade do indivíduo e colocamos "nas forças históricas". Quem promove isso, no fim das contas, são professores que se escondem atrás de suas cátedras.
Capítulo 2 - Sobre Heróis, Vilões e Criados
Hegel uma vez falou "Ninguém é herói para seu criado: não porque o home não seja um herói, mas porque o outro é um criado". Carlily, para complementar, dizia que o criado tinha "alma de criado" e isso lhe colocava nessa condição cega à grandeza. Ocorre que hoje os "pensadores" reduzem as grandes pessoas, procuram erros em suas biografias para reduzir suas obras (curiosamente é o tipo de gente que promove a promiscuidade mas busca santidade nos outros).
Virginia Wolf, no alto do seu feminismo, dizia que o que importava eram as pequenas coisas, como a pessoa assoava o nariz ou ia ao banheiro, que suas grandes obras não eram o importante a ser passada. Por sinal, dizia que buscar a grandeza é algo machista, que as mulheres não deveriam se preocupar isso, apenas com as coisas efêmeras, reduzindo assim claramente a humanidade delas. Fazem isso para igualar o criado e o herói. Isso se tornou mote da observação dos modernos aos antigos, mesmo na igreja católica, a parte que mais interessa de suas biografias é quando dormiam na igreja ou algo bobo do gênero, na teologia, a busca do Jesus histórico etc. Não leva em conta que "grandes obras" é ignorar que é possível transcende cor, sexo, condição social. A consequência é colocar no mesmo nível funk e música clássica, por exemplo.
" o problema da concepção "serviçal" da história não é somente o aviltamento da grandeza e do heroísmo, mas também a conspurcação da individualidade e da liberdade. Coletivo não age, Napoleão quis ser Napoleão, apesar dos historiadores falarem que as forças históricas o formaram.
Onde não há heróis, também não há vilões, o que pode tornar tudo isso muito perigoso. Stalinismo sem Stalin é uma peça de Shakespeare sem nenhum personagem (apesar de pessoas dizerem hoje que boa parte das maldades não foi conjecturadas por ele).
Não havendo vontade e liberdade não há virtude e vício, não podem haver heróis e vilões e não vamos distinguir o bem e o mal, o trivial e o importante, o belo e o feio.
Capítulo 3 - De Marx a Hegel
Apesar de Hegel ser anterior a Marx, por vezes a leitura cronologicamente contraria traz concepções importantes. Sabia-se que Marx foi influenciado por Hegel, mas isso só foi revelado como quando o Partido Comunista da Alemanha passou seus escritos para o Partido Comunista da URSS, por mais que não fosse vontade de Hegel.
O sistema hegeliano de Marx estava centrado na história. A História hegeliana era uma espécie de transcendental platônico. Ele acreditava que a história era regida pela Razão, uma espécie de consciência metafísica. Como se ela devesse potencialidade eminente. A Consciência é de suma importância para a Liberdade, assim como a Razão é de suma importância na História. A liberdade dos homens é total para Hegel, mas poucos são os que perceberam.
Hegel morre em 1831, deixando para trás dois grupos, os de direita, que acreditam no seu conteúdo (Razão na História e o Estado moderno como corporificação da mudança), e os de esquerda, que acreditam na sua forma (dialética eterna). A direita colocou Hegel no lugar de Deus e a esquerda tomou a Razão para repudiar o cristianismo. Strauss, um hegeliano, foi o primeiro a dizer que os milagres de Cristo na verdade eram apenas concepções de uma comunidade mística antiga.
Marx e Engels contra os dois tipos de Hegelianos, que se preocupa com coisas transcendentais, colocavam os pés no chão da maternidade e escreveram o Manifesto Comunista, que é mais uma filosofia da história do que um manifesto. Para Marx a história é teleológica, assim a luta de classe acelera a História. Ele começa escreve que o proletário (que vem de prole por referência aos pobres) trabalham cada vez mais por menos. Alguns marxistas vieram com a ideia de "imiseração" que são as coisas terríveis só piorando, até que venha um grande cataclisma e melhore tudo até a perfeição (me parece o tipo de situação onde se prega que quanto pior, melhor, típico de alguns libertários). Entretanto, o Manifesto Comunista foi escrito na época em que a vida dos proletários melhorava.
Marx se apoiava na ideia de determinismo histórico, ou seja, Hegelianismo, para afirmar que o comunismo era inevitável e por consequência uma lei cientifica.
A autor avalia o que Marx devia ter pensado para dizer o que disse sobre o Livre Desenvolvimento e conclui que não faz sentido de nenhuma forma (basicamente, o livre desenvolvimento é aquela ideia boba de que alguém vai poder criar gado de manhã e estudar ciências a noite ou algo assim). A argumentação de Marx sobre a inevitabilidade do marxismo é semelhante ao do Bitcoin, angariou forças, mas me parece que apenas daqueles que esperam. Os que não esperam se mantem no socialismo.
Por fim, Marx não quer o indivíduo, por isso diz que proletariado é a verdadeira força, é o homem sem individualidade, apenas trabalhando para o bem de quem decide o que é certo ou errado. Sendo assim, chamar Marx de humanista é quase um insulto a essa pessoa que sempre teorizou o ser humano perfeito como uma engrenagem.
Capítulo 4 - Liberdade: "Um princípio muito simples"?
O século XX mostrou que os regimes tirânicos como o nazismo e o socialismo não funcionam na prática. Porém, hoje a liberdade tem um novo inimigo, a tirano a social, exercida pela população sobre o indivíduo. John Stuart Mill, famoso pensador liberal do final do século XIX em seu livro A Liberdade conjectura a famosa frase "a minha liberdade termina quando começa a do outro". Ele defendia a liberdade de expressão, porém essa, para a autora, dá uma vantagem ao pensamento errado, ao colocá-lo nivelado ao pensamento verdadeiro, uma vez que os dois tem o mesmo direito de serem expostos, mas apenas um deles tem valor. A conclusão dessa premissa é que a verdade se relativiza e assim a imoralidade ganha força.
Muitos autores, como Kant, deram outras concepções de liberdade. Mill em alguns de seus textos cita que a natureza humana precisa de freios, e em outros cita o contrário, o que traz a ideia de dois Mills literariamente falando. Na prática, o conceito de liberdade total de Mill foi usada como lenha para a secularização da Inglaterra na época, apesar de talvez não ter sido o intuito dele.
Uma outra frase obscura sobre liberdade por parte de Mil é: Tudo o que se permitir fazer deve-se aconselhar a fazer. Tirando toda a distinção pública e privada da vida das pessoas. Não vincular a lei a moral acaba vinculando a condição de maior conforto da massa, o que por vezes promove comportamentos viciosos. Mill acredita que o governo não deve se meter em assuntos que as empresas podem resolver, como fazer estradas, por exemplo. O problema é que a definição do que deve ou não deve ser proibido pelo governo não é claro em Mill. Poderia o governo proibir a venda de determinadas substancias pois fazem mal para o corpo, mas as pessoas poderiam ter a liberdade de publicar livros que fazem mal para a alma. É sabido que Mill não era uma materialista, ou seja, se preocupava com as consequências morais, porém, é um fato que ele relativiza a moral, talvez esperando a boa escolha das pessoas, que até hoje não se observou de fato. Tocqueville era um pensador que acreditava que a religião poderia ser essa fonte norteadora de sentido da liberdade. Por outro lado, o controle total do absolutismo é um perigo porque ou ele tolhe a inventividade da liberdade ou ele acaba, quando derrubado, gerando uma libertinagem ainda maior.
Capítulo 5 - A Encruzilhada Sombria e Sangrenta: o Ponto de Encontro do Nacionalismo e da Religião
Existe um conceito de nacionalidade, mas querem dizer que isso é falso ou inútil. Certos pensadores, principalmente os liberais, dizem que nações não são vetores de desenvolvimento e ideologia num nacionalismo, como algo ruim depois do nacional-socialismo. E por consequência, a religião entra no mesmo balde, sendo vista tão obsoleta ou perigosa quanto o nacionalismo.
Uma das batalhas contra o nacionalismo foi a Reforma Protestante, que na prática destruiu as monarquias pois abalou a religião católica, sendo assim uma "Reforma" não tanto religiosa, mas anticlerical e secular. Essa luta desagua nos genocídios "étnicos" que na verdade não são étnicos, uma vez que foram pessoas de mesma etnia, mas religião diferente, que formam mortas.
Nem todos os países estão dispostos a ter instituições livres, a resposta para isso é um nacionalismo do tipo ocidental. A religião tem papel fundamental, não numa fé privada, mas integrante da vida pública.
Capítulo 6 - Aonde foram parar as notas de rodapé?
Um capítulo par amostrar que quando Rousseau começou a moda de colocar as notas de rodapé no fim do livro, o fez para esconder a falta de conhecimento sobre os assuntos que tratava. Colocar na mesma página demonstra a humildade do professor.
Capítulo 7 - A História Pós-Moderna
Os discursos antes da modernidade eram vistos com todos os "ismos" críticos que conhecemos. Porém, isso piorou hoje com o pós-modernismo. Pois no modernismo, por mais errado que seja, ainda considerava algo como verdade a ser procurada. No pós-modernismo não existe verdades absolutas, apenas as parciais e contingentes. Buscar verdades absolutas se torna algo quase que criminoso. O modernismo tolera o relativismo, o pós o celebra. Negar a verdade é uma libertação. Certos professores de história nunca escreveram sobre acontecidos, mas sim apenas analises.
Os pós-modernos são tão estranhos que Habermas, por exemplo, considera mesmo Foucault como um "jovem conservador". Eles buscam o radicalismo, de forma que eles apoiam, por exemplo, as feministas, não pela maior participação das mulheres, mas pela ideia de que sem a "feminização" o mundo deixará de existir.
Posfácio
Luiz Bueno resume a obra. Cita que a Inglaterra está sobrevivendo melhor ao pós-modernismo por estar mais ligadas as suas tradições. Mostra que o conceito de pobreza deixa de ser algo estabelecido e vira algo fluido, onde mesmo alguém com casa, agua, comida e mesmo um celular pode ser considerado pobre hoje em dia, problema econômico fruto dessa verdade relativa.
Resumo da obra: Por identificar estas conexões, a autora empreende a investigação nos campos onde se produzem as ideias que depois verter-se-āo em atos concretos na sociedade. E por isso que a sua crítica à nova história se preocupa tanto com a relativização e a desumanização que a nova história produz ao falar sobre o Holocausto, a desobrigação com o "fetiche por fatos" 15 ou o aprisionamento na busca da objetividade e da verdade dos eventos históricos, ambos sem aspas. Pela mesma razão, é preciso apontar o que pode ocorrer quando o relativismo da filosofia se transforma em niilismo, quando a amoralidade se torna em imoralidade, a irracionalidade em insanidade, 16 quando a liberdade, tão cara aos liberais, agora torna-se em liberdade econômica, não mais em autonomia moral, pois a liberdade, levada ao seu extremo, termina por expelir a moral tanto do indivíduo quanto do Estado.
Dado que é isto que se pode contratar ao sondar o abismo, é preciso tomar a perspectiva de que somente poderemos sobreviver à morte de Deus, à morte do Homem, à morte da História, à morte do pós-modernismo, se pudermos nos manter sóbrios o suficiente para não perder de vista os perigos derivados de nossas boas intenções. A imaginação moral e o senso de realismo moral são os elementos que nos manterão com os pés na borda do abismo sem que nele caiamos enquanto o perscrutamos.
Parabéns pelo conteúdo, acabei de encontrar pois ninguém mais fala sobre Ao Sondar o Abismo. Continuem com o bom trabalho!