Introdução: O autor cita que belo é um conceito muito relativizado desde Nietzsche, que cita que qualquer coisa pode ser bela, até aquelas que negam a beleza. O autor argumenta que existe um senso natural de beleza.
1 - Julgar a Beleza
Belo nunca é metáfora, quando dizemos que algo é belo, estamos associando a algo bom. Mas isso nem sempre é real, as vezes devido a beleza de uma mulher, ficamos cegos a seus vícios. Beleza para Kierkegaard também estava associada à vidas baseadas na sensação, algo negativo. Para São Tomas, a beleza lhe ligava ao divino. Sendo a beleza um conceito que permeia a todos, por vezes ela se torna a opinião da maioria, mas isso não faz sentido para o indivíduo, que deve ter experiências próprias para conseguir julgar aquilo, pelo o que o objeto é, e não por efeitos internos ou externos. O autor apresenta o conceito de beleza mínima, que normalmente é esquecida por nós quando tentamos definir beleza, mas sem ela no nosso cotidiano, estaríamos fadados a uma vida de poucas sensações. Mesmo a beleza grande, de catedrais por exemplo, não seria possível se não houvesse a beleza mínima das estruturas a sua volta. Beleza nem sempre é algo que nos deixa confortáveis. Por vezes ela é tão bela que nos irrita, ou deveria nos irritar e achamos bela, de tal forma que o conceito de beleza não é muito bem definido. Quando vamos definir arte e beleza, não é possível se ater apenas ao sentido prático dela, a beleza por vezes tem um fim de significado em si mesma. quando queremos algo em específico, estamos associando o seu valor individual mais conectado à beleza, e não à praticidade. Quando escolhemos uma fruta em detrimento da outra, podemos pensar no seu aspecto prático (matar a fome, ter prazer) ou no estético (querer ela pelo o que ela é). De tal forma que se substituirmos esta fruta por outro alimento, estamos apenas substituindo seu valor prático, e não o fruto por si só. Ou seja, conclui-se que a beleza pode ter caráter tanto sensorial como prático. A beleza por trás de uma história não está apenas na forma com que as palavras saem, mas sim na parte intelectual associada à ela. Kant em sua teoria sobre a beleza diz que, diferente dos animais, nós humanos temos desejos que não são "interessados". Os animais sempre buscam as coisas com interesses bem práticos. Já os humanos podem ter determinado interesse não como um meio para um fim prazeroso, mas que são fins para si mesmas. O conceito de prazer desinteressado é muito presente em Kant, ele abrange várias situações que estão associados à justificação do que é belo. Dentro dessa prerrogativa, ele usa três palavras que servem para definir quando o prazer é desinteressado, ou seja, um prazer que surge da racionalidade e da busca moral dentro de si, e não de suas buscas animais, as três palavras são: o prazer que "advém" de, o prazer "em" e o prazer do "porquê".
2 - A beleza humana
Esta necessidade de estar perto do belo, ao tentar ser explicado pode ter raízes darwinistas. No plano social poderia ser importante para se buscar diferenciação entre outros seres. Outro ponto dessa visão darwiniana é que toda a criação bela dos homens é uma forma de apelo sexual. Porém, ao mesmo tempo que coisas não belas podem ser usadas como artifício sexual, as coisas belas não precisam necessariamente ser usadas para tanto. Desejo por algo belo não é o mesmo que admirar a beleza, mas quando o autor tenta fazer uma conexão entre sexo e beleza, ele acaba citando que esse amor de desejar é mais o "Eros" de Platão, e o amor contemplativo seria a "paixão platônica" muito mais recatada e sem intenções de posse. Historicamente houve a fusão dos conceitos para os que compilaram a obra de Platão, mas essa é uma forma bem "otimista" de se observar essa questão, pois querer algo e ter apenas o símbolo desse algo não funciona plenamente em questões tão potentes como a sexual. Uma analogia seria a possibilidade de se matar a fome de comer carne recebendo a foto de uma vaca. O autor faz uma brilhante nota sobre o desejo sexual: O que nos move na atração sexual é algo que pode ser contemplado, mas jamais possuído. Nosso desejo poderia ser consumado e temporariamente extinto. Ele, porém, não se consome porque possuiu aquilo que o inspirara: o que o inspira se encontra sempre além de nosso alcance; é uma posse do outro que jamais pode ser partilhada. Para fazer isso compara primeiramente a admiração pela beleza do rosto de um idoso e o desejo que surge num jovem devido a beleza de uma mulher. São sensações diferentes, mas envolvem o mesmo conceito de beleza. A beleza de um corpo por vezes pode se tornar obscenidade, e isso ocorre quando o corpo se torna apenas corpo, quando se perde a dimensão humana de quem o tem. Normalmente podemos associar beleza e desejo, mas isso se torna um pouco complicado quando associamos ao sagrado, por vezes nosso desejo se torna bruto ao realizarmos com situações que não são permitidos. Sempre subjugamos alguém que demonstra desejo por crianças, pois a beleza de uma criança, ou de uma virgem (como observado na arte clássica) são sagrados.
3 - A beleza natural
Ao contrário do que muitos estudantes da questão levantaram, Kant dizia que o senso de beleza não está associado apenas as artes, mas a tudo que vem da natureza, por ela não ter história, pode ser apreciada por qualquer cultura. Mas pare ele, mesmo na natureza, a beleza por vezes está em quem vê e não no objeto em si, como no caso das paisagens. Por vezes, alguns pensadores da nova esquerda associam a beleza e o interesse desinteressado que a caracteriza como algo burguês. Que esse interesse desinteressado só existe porque parte das pessoas, os burgueses, tem a capacidade de fazê-lo. Transformando a beleza numa questão materialista, o que a faria passar longe de questões de sacralidade. Esta é uma forma de apequenar conceitos que surgem desde Platão e pensadores como Confúcio. O ônus da prova dessa materialização da beleza deveria ficar a esses pensadores marxistas. Admirar a beleza da natureza como algo "humano" é egocentrismo, pois ela é bela por ser, não por uma construção humana. Ser humano vê beleza no esmagador poder e infinitude da natureza, mas também a vê porque consegue criar poder sobre ela, e consegue vencê-la quando segue seus princípios morais e não instintos naturais. O autor conclui dizendo que durante todo o capítulo, por mais que quisesse demonstrar que beleza e utilidade estavam desvinculadas, ele sempre acabava por compará-las, o que demonstrava uma relação entre elas. Essa discussão é realmente complexa e elevada, então no próximo capítulo o autor cita que irá se preocupar com a beleza no raciocínio prático comum.
4 - A beleza cotidiana
Ao citar a organização útil de jardins e da etiqueta, o autor começa sua análise da beleza cotidiana, que por tempos foi negligenciada em comparação com belezas mais populares como a de obras de arte. Ao discorrer sobre a beleza involuntária da ação de animais, ele faz a comparação com as escolhas de um carpinteiro na parte estética do seu trabalho, e chega à conclusão de que o carpinteiro faz suas escolhas baseado naquilo que parece bom, no qual o trabalhador busca na sua racionalidade argumentos que justifiquem sua escolha. Adequar uma solução para um problema que pode ser solucionado de várias formas, é aí que entra o senso coletivo de estética e a moda. No que se refere a estilo, Scruton cita que quando uma pessoa toma atitudes relacionadas à estética em determinada situação, como no caso de servir vinho, automaticamente a pessoa busca elementos e situações para conformar a sua escolha, esse processo acaba por ser dicotômico pois a pessoa está descobrindo no próprio esforço estético aquilo que quer representar. A moda então se torna uma espécie de fenômeno que torna as pessoas "pretendentes à concórdia", que como dizia Kant, é a busca de ser aceito pela sociedade com imitação e não sendo desagradável. Beleza por vezes está associada a rituais, alguns efêmeros, como os bacanais romanos, outros mais fixos que acabam abstraindo todo o conceito individual de beleza e tornando ela fixa como os egípcios. O autor cita que durante todo esse capítulo não usou a palavra "beleza" para suas indagações porque queria deixá-lo mais apegado a coisas práticas. Mas na sequência irá explorar a junção dos conceitos práticos com a beleza filosófica propriamente dita.
5 - A beleza artística
Essa estrofe extraída do livro resume completamente a sensação do autor na relação entre arte e beleza natural.
“Foi apenas no século XIX, e na esteira das lições de estética de Hegel, publicadas após a sua morte, que o tema da arte veio a substituir a beleza natural como objeto principal da estética. Essa mudança fez parte da grande transformação da opinião intelectual que hoje conhecemos como movimento romântico e que colocava os sentimentos do indivíduo, para quem o “eu” é mais interessante do que o outro e vaguear mais importante que pertencer, no centro de nossa cultura. A arte se tornou a iniciativa pela qual o indivíduo se anunciava ao mundo e recorria aos deuses para se justificar. No entanto, ela se mostrou peculiarmente falível como guardiã de nossas aspirações mais elevadas. A arte tomou para si a tocha da beleza, correu com ela por um tempo e acabou deixando-a cair nos mictórios de Paris.”
Hoje em dia, qualquer coisa pode ser considerada arte. Nisto, primeiramente, tiramos o ônus da cultura das pessoas, colocando no mesmo patamar novelas malfeitas de Shakespeare. Ao mesmo tempo deixamos o indivíduo livre. Mas até que ponto isso está certo? Podemos fazer um comparativo com piadas, existem as que fazem rir e as de mau gosto, por mais que todas sejam piadas, elas têm "culturas" diferentes associadas. A fonte, a "obra de arte" que iniciou essa discussão, pode ser categorizada como arte da mesma forma que uma piada suja o é no seu âmbito. Reduzir a arte à grosseria faz ela não ir ao encontro do que nos diferencia do que nos faz humano, e por consequência nos bestializa. Alguns autores ousaram dividir arte em dois conceitos. No primeiro, a arte verdadeira, o que realmente importa é o objeto a ser visto. No segundo, a pseudo-arte, seriam os efeitos que determinado objeto causa em si. Isto é falho porque parte da experiência artística é o que determinado objeto os revela, mas é uma boa arguição pois, ao ficamos muito dependentes de efeitos ou realidade e por vezes essas sensações não exprimem sentimentos positivos. O sentido numa obra de arte por vezes depende de analisá-la da forma com o criador a fez. Sem traduções ou fotografias, pois estes quebram o sentido inicial do projeto. É sem dúvida possível passar parte da sensação, mas em algumas situações como na Cadeira de Van Gogh se torna impossível ter a experiencia completa, mesmo imaginando que a experiencia que o autor quer passar estivesse escrita ao lado da obra. Na visão do autor, essa tentativa de entender o significado emocional da arte ainda não foi obtido, mesmo em teorias da semiótica, cognição, etc. Até mesmo porque, de acordo com Kant, existem níveis de apreciação da beleza que são inexpressíveis. Quando temos a arte tentando advogar por uma causa, fazendo propaganda, perdemos a dimensão mais essencial da arte, que é abrir nossos olhos para o mundo por ela mesma, não por uma ideologia externa à ela.
6 - Gosto e ordem
Ao analisar os gostos de alguém, normalmente levamos em conta o caráter democrático da sociedade, onde "todos são iguais". Porém, o que é belo ou feio não deixa de ser por um fundo político. Este conceito pode estar associado com a moda, por exemplo, e neste caso, quando algo foge à moda, é feio, por mais que o indivíduo não o considere. Tome como exemplo alguém que destrói uma paisagem classe de uma cidade, construindo um prédio com outro conceito arquitetônico. Este não está seguindo o conceito democrático citado acima, exprimir sua individualidade só o caracteriza ainda mais em sua feiura. Para conseguirmos contextualizar algo como belo, devemos ter experiência, sem ela por vezes perdemos nuances que o autor quis passar que mesmo nós a uma primeira olhada achamos negativo, depois de ver a luz de nossas experiências temos maior apreço. O autor chega à conclusão que, diferente da ciência, no juízo estético não se busca a universalidade. Objetividade e universalidade se distanciam, o que não acontece no ramo científico. O importante é que a experiência do belo engrandeça a pessoa dentro de suas perspectivas. Não se pode imaginar que um ocidental vá ser afetado pelas belas obras da música clássica indiana como alguém que já está incluso naquela cultura. Para concluir, o autor diz que beleza não trata daquilo que queremos, mas do que devemos querer porque assim a natureza exige. A discrepância entre funk e música clássica é um exemplo disso, pois a música clássica nos instiga a ser pessoas melhores, sendo, portanto, considerada um belo estilo musical, diferentemente do funk.
7 - Arte e Eros
O autor aqui quer unir a beleza humana a artística. Ele começa analisando a individualidade. Atos como rubor e sorrisos são coisas individuais. Algumas obras de artes como as Vênus de Bocicceli tem certos olhares que falam com quem a admira, mas tentam deixar claro que ela é dona de si, não se entregando. Em outros casos a nudez é tão vulgar, mas percebemos isso em sua face. O desejo sexual e erotismo na arte são combinações do mesmo, onde o corpo não é um instrumento, mas sim a fronteira final desse desejo, a fronteira física da alma racional. Hoje, deixamos isso de lado para uma versão niilista desse amor, não o vemos mais como eterno. O desejo sexual busca a união entre dois indivíduos, o que é diferente de transformá-los em ferramentas para a manutenção do desejo, pois ferramentas podem ser substituídas. Neste quesito, percebemos que a pornografia nega a dimensão humana individual do sujeito que nela é retratado, na arte temos vários exemplos como um quadro onde uma moça está em posição sexual. Aquilo a transformou num objeto de desejo, onde sua nudez não está velada pela vontade do artista sério de demonstrar o desejo sexual da figura desenhada, e não o incitar em quem a vê. Assim, o autor diz que a pornografia não pode ser chamada de arte pois não usa a beleza da pessoa para ser individualizante, mas sim transformá-la num objeto. Quando pensamos em nós mesmos, por vezes nos esquecemos do óbvio: nosso corpo é nossa encarnação, não existe um eu sem o corpo, vendê-lo com pornografia ou prostituição é vender a si mesmo.
8 - A fuga da beleza
A arte moderna não se importa com a beleza, apenas se importa em chocar. Talvez seguindo a linha de pensamento que a beleza num determinado "zeitgeist" (espírito do tempo) será ultrapassada no próximo, causando choque para os do zeitgeist anterior, então, que se promova o choque o quanto antes. Percebemos que esse tipo de comportamento acaba por destruir a tradição e colocar no esquecimento obras construtoras do conceito de belo. A arte de hoje exemplifica a fuga da beleza em vez do desejo de recuperá-la. Situações como morte e paixão nos mostram seres humanos fora da nossa realidade, e exigem ritos que demonstram a individualidade do eu impressa na nossa carne. Profanar isso com atitudes pornográficas é macular a experiência da liberdade e negação do amor. O ser humano busca, ao de-sacralizar a beleza, fugir de suas responsabilidades como indivíduo, onde mesmo a democracia que toma com tentáculos todos os âmbitos da experiência social acaba não conseguindo alcançar. Na vida real as pessoas demonstram suas diferenças de interesses em relação a beleza de outrem, ou seus atributos. Destruir com a importância da beleza é se esconder no lodo do coletivo. O autor cita que existe um prazer próprio na dessacralização, e este ocorre em várias áreas artísticas e pessoais. Em geral os prazeres devem estar no objeto e não na sensação que eles nos causam. Quando muito assimilado apenas aos prazeres sensoriais puros, pode causar vícios. Veja o caso de quem analisa vinhos, este pode ter um prazer no objeto por compreendê-lo e assimilá-la, também em sua degustação. Mas o prazer apenas corpóreo sem se importar com o ato ou conteúdo do mesmo pode causar vício. Isso é muito presente na sexualidade, onde obscurecer essa dimensão individualizante pode ser um caminho de vício e impessoalidade no ato. Sobre o vício, o autor diz: As disposições cognitivas raramente viciam, uma vez que dependem da exploração do mundo e do encontro do indivíduo com o objeto individual, cujo encanto encontra-se fora do controle do sujeito. O vício nasce quando o sujeito exerce pleno controle sobre o prazer, sendo capaz de produzi-lo à vontade. Resume-se sobretudo ao deleite sensorial e envolve uma espécie de curto circuito da rede de prazer. Caracteriza-se pela perda da dinâmica emocional que, de outro modo, governaria uma vida cognitivamente criativa e voltada para o exterior. Nesse aspecto, o vício em sexo não é diferente do vício em drogas; ele se opõe ao verdadeiro interesse sexual: o interesse pelo outro, objeto individual do desejo. Por que passar por todas as inquietações do reconhecimento mútuo e da excitação comum quando há disponível um atalho que culminará no mesmo objetivo sensorial?
A arte se opõe aos efeitos do vício, no qual a necessidade de estímulos e excitações cotidianas bloqueia o caminho que conduz à beleza, ao colocar no centro do palco atos de dessacralização. O porquê de esse vício se mostrar tão virulento hoje é uma questão interessante: qualquer que seja sua explicação, porém, meu raciocínio pressupõe que ele é inimigo não somente da arte, mas também da felicidade, e que todo aquele que se importa com o futuro da humanidade deveria estudar como recuperar aquela “educação estética” - como a descreve Schiller - que tem o amor à beleza como objetivo. (Nota: é interessante notar como esses elementos comportamentais associados à uma filosofia conservadora da beleza vão ao encontro das novas descobertas que associam o vício, mais propriamente o vício em pornografia, às condições que diminuem a felicidade, como uma saturação dos receptores de dopamina, os tornando dependentes do ato do vício, ansiedades, depressão e disfunção erétil também.) A arte que não transcende se transformou em kitsch, isto é, numa arte sem nenhuma mensagem própria, na qual todos os efeitos seriam copiados e todas as emoções, falsificadas. E por isso que a arte é relevante. Sem a busca consciente da beleza, corremos o risco de resvalar num mundo de prazeres viciantes e de dessacralizações rotineiras, em que o valor da vida humana não é mais percebido com nitidez.
9 - Reflexões finais
O autor em nenhum momento afirmou o que é beleza, mas a resposta é tão somente esta: tudo o que afirmei acerca da experiência da beleza insinua que ela possui fundamentos racionais. Não existe a tal “beleza está nos olhos de quem vê”, para se obter a beleza deve se seguir um caminho da mesma forma que se segue para se fazer uma ação certa.
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