Conhecimento na Desgraça - Luiz Felipe Pondé - Resumo
- Canal Resumo de Livros
- 4 de mai. de 2020
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Conhecimento na Desgraça - Luiz Felipe Pondé - Resumo Introdução A pergunta que o livro quer responder é: utilizando a filosofia pascalina, como os seres humanos, caídos em desgraça, conseguem produzir conhecimento experimental dentro de certos critérios de consistência. Temos que levar em conta que, de acordo com Pascal o Homem é um ser sobrenatural, sendo assim, lidar com problemas humanos significa abandonar as fronteiras naturais, de tal forma que qualquer filosofia se torna teologia. Dessa maneira, teríamos de aceitar um tipo de pessimismo teológico profundo, o que seria uma total tragédia para um racionalista cristão-crente como Leibniz. A derrota da razão implicaria a derrota de uma cosmologia racional, esse é o efeito contagioso nesse caso. Esse princípio da insuficiência é, acredito, o verdadeiro coração da reflexão pascaliana. Mas o que é insuficiência? Seria o fato de que sem Deus, viveríamos na nossa condição de natureza, ou seja, miséria. Foi a partir do pecado original que esse fato torna-se realidade, uma existência apartada de Deus, distante da sua graça, portanto, exilado na des-graça. Um trecho importante dos textos de Pascal para exemplificar essa condição de desgraça é onde ele diz: O homem ultrapassa o homem. Que concordemos com os pirrônicos nisso que eles tanto gritaram, que a verdade não é de nosso alcance, que ela não habita a terra, que ela é natural do céu, que ela habita o seio de Deus, e que nós só a conhecemos a medida que agrada a ele revelá-la. Aprendemos então, com a verdade incriada e encarnada, nossa verdadeira natureza. Percebemos nesse trecho um pouco da metafísica pascaliana, um conhecimento que só pode ser acessado devido a graça, e não por meios científicos. A epistemologia em seus textos está associada a contingencia do ser humano. E nessa contingencia surge também aquilo que o Homem tenta entender. Percebemos então que a epistemologia age de forma contingente e não exata, criando uma realidade também não exata. Sendo assim, fazer ciência é uma atividade humana na desgraça, estabelecida pela insuficiência caída, construída pelo aparelho cognitivo insuficiente, pois é humanamente natural, ou miserável. Essa contingencia aparece em vários textos, quando o mesmo diz que esse pensamento que tenta entender o mundo é contingente, pois sem sua mãe ele nem mesmo existiria para fazê-lo. CAPÍTULO 1 - O PRINCÍPIO DE INSUFICIÊNCIA: PREDESTINAÇÃO GRATUITA E EQUIVOCITE NOS ECRITS SUR LA GRACE Pascal é um claro anti-humanista, pois o humanismo significa esquecer-se do sobrenatural, ou seja, excluir Deus do conhecimento. Porém, por mais que Pascal assuma que o Homem está em desgraça, não significa que devemos assumir que ele exista apenas em desgraça, ou seja, desgraça não é o nosso meio ontológico suficiente. Como dizia Santo Agostinho, o homem é uma criatura completa apenas quando preenchida pelo Caritas, e Deus nos planejou para isso. Veja que para Pascal, a própria capacidade de fazer pedidos, assumindo a insuficiência, e assim obter uma graça de Deus, já é a própria graça de Deus. Sendo assim, a única forma para fugir do erro é quando se usa a razão para buscar "cânones sobrenaturais". Para concluir, contingencia faz parte da ontologia da natureza e por consequência da epistemologia da ciência CAPÍTULO 2 - A FENOMENOLOGIA DA DESGRAÇA: AS FACES DA CONTINGENCIA - DISJUNÇÃO, DESPROPORÇÃO E IMAGINAÇÃO Temos até aqui que a fenomenologia da desgraça se constitui em uma profunda analise ontológica da contingencia e suas distintas formas associadas, entendidas como uma consequências direta do princípio geral de insuficiência. Pondé desenvolve a ideia de infinito na analise de Pascal. Ele começa caracterizando as ordens, que ele divide em três categorias, carne, espirito e sabedoria. Pascal cita que é impossível chegar de uma ordem na outra, ou seja, por mais que você seja muito sábio, não conseguirá com isso ter qualquer desenvolvimento na carne ou no espirito. Também cita que aquele que vive e determinada ordem não interage ou vê sentido na outra, e que por mais que a pessoa participe de duas ordens, por exemplo Arquimedes que era príncipe e cientista, o fato de ser rico em nada influencia nos conhecimentos que obteve. "Pedaços de matéria juntos não são capazes de obter qualquer espiritualidade". Ocorre que, mesmo conhecendo a natureza, o ser humano continua expandindo o infinito de coisas que não sabe. É como se esse estado material que vivemos não fosse suficiente para obter o conhecimento verdadeiro, esse só pode ser obtido a partir da graça. Por isso temos uma "necessidade ontológica" do sobrenatural. Nossa incapacidade de compreender o infinito, para Pascal, chega a alguns absurdos, como tentar fazer uma comparação do que é Deus com a ideia de infinito matemático ou físico. Deus é uma substancia do amor e não do intelecto, por isso que, de acordo com Agostinho, apenas o intelecto não é valido para conhecê-lo. O ser humano sem a graça, então, é incapaz de diminuir sua ignorância. A desproporção do Homem em relação as infinitudes (grandes e pequenas) do universo, são a "água" que nos afogam na ignorância. O homem, por não ter não do infinito, achou que tinha alguma relação com ele, por isso se pois a investigar. Um ponto a se destacar é que o homem é "infinitesimal" demais para ter experiencias metafísicas o tempo todo, tal qual propõe algumas religiões. Tal como a ciência experimental que obriga a natureza a fazer algum sentido, essas religiões obrigam a metafísica a ter também. Essa soberba humana é tão viciosa que faz as pessoas que a tem se sentirem mais completos do que aqueles que realmente tem a razão. CAPÍTULO 3 - A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO EXPERIMENTAL L'ESPRIT GÉOMEÉTRIQUE E LA PHYSIQUE DES EFFETS Já sabemos da importância da graça, agora a missão é como conseguir conhecimento exilado dela (vemos nesse ponto o link da filosofia de Pascal com os Jansenistas). Por mais que Pascal tenha construído muito conhecimento em áreas como matemática e física, ele não considera que isso possa dar qualquer pista sobre nosso estatuto cosmológico. Ele acredita que nem mesmo a linguagem possa dar qualquer pista de conhecimento. Ele crítica Descartes, que tenta usar a lógica para buscar evidencias, porém essa mesma estrutura de palavras e ações não possuem definição alguma. Apenas Jesus Cristo, que é o infinito da graça, conseguiria fazer algum link entre as três classes de conhecimento. Pensemos na definição de algo como o tempo, todas as palavras que supostamente poderiam ser usada para tentar fazer essa definição necessitariam de uma definição anterior, algo que não ocorre. Conceitos bem geométricos como tempo, espaço movimento etc também não precisam de definição para serem entendidos. Pascal cita que qualquer tentativa de defini-los só colocaria mais "sombra" sobre o verdadeiro conhecimento. Nesse ponto vemos um erro na sua analise, pois o tempo, em especial, foi melhor entendido com as analises matemáticas de Einstein. A própria linguagem demonstra uma ligação com a geometria quando analisamos ela no ponto de vista da programação de computadores. Lá os elementos respeitam regras lógicas e obtêm respostas tal qual no mundo real. A geometria de Pascal tenta não produzir sobras pelo conhecimento. Assim, a ideia de racionalidade se torna um tipo de caixa de ferramentas de procedimentos que tem como meta nos iluminar durante nosso movimento cego neste cosmos sem chão. Como já vimos a filosofia pascaliana é um tanto pessimista, assim, a ideia de que a desproporção do conhecimento no homem surge devido ao fato de que seu aparelho cognitivo foi feito para coisas sobrenaturais, mas devido ao fato de sermos uma especie caída, utilizamos ele para ver coisas do mundo material, o que nos leva ao sofrimento, e a nunca alcançar o verdadeiro conhecimento. Diferente da epistemologia da escola austríaca, por exemplo, a pascaliana não busca deduções em série, é sim um procedimento de ação. Vemos uma pouco de redundância na sua teoria pois ela, de certa forma, tem uma estrutura de ordens. Em toda a física que Pascal desenvolveu, ele nunca tentou fazer qualquer dedução absoluta saindo da geometria, todas as suas analises eram "locais". Ou seja, na física (o estudo da natureza) o que importa para se obter conhecimentos são os experimentos, e não os pensamentos. Conclusão Pascal mostra que a Natureza, não é o verdadeiro objeto desta ciência experimental. Vimos que esse objeto é um constructo conceitual artificial, que são, na realidade, os efeitos causados por uma série repetida de experimentos estruturados e cercados por uma determinada disposição de instrumentos associados a uma certa definição de nomes produzindo um determinado número de máximas". Levando em conta que Homem não é um ser do mundo natural, mas num mundo desgraçado, é natural que percamos a "natureza", nesse sentido, o "pesadelo" de uma futura cultura biotecnologica-dependente é simplesmente um produto necessário da história teológica do pecado e deve ser analisado como tal por qualquer filosofia de cunho religioso. A biotecnologia nos dá a noção que os antigos tinham com sua insuficiência.
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