O livro trata de explicar o racionalismo e o individuo racionalista. Este surgiu na Europa após o renascimento e se trata de um movimento que tenta resolver todos os problemas da humanidade a partir da razão, desconsiderando, por exemplo, a tradição, cara aos conservadores.
Para este, todos os problemas da humanidade podem ser resolvidos a priori, ou seja, por uma lógica mental. Assim, todas as experiências do passado são negadas. Qualquer coisa que sofreu ação do "verme" da tradição deve ser apagada. Nas palavras de Voltaire: Só surgirão leis boas quando as velhas forem jogadas foras. Um racionalista menos egocêntrico poderia se perguntar o por que a humanidade não deixou de existir antes da existência dos mesmos.
Na politica o racionalista tem seu habitat, pois pode argumentar que tudo que foi previamente construído pode ser melhorado a partir da razão, independente se algo é bom ou ruim, para o racionalista só importa o perfeito. Curiosamente, para o autor, a politica não parece ser um local onde o racionalista terá força, tendo em vista que ela depende de tradições, porém, vemos a crescente expansão de uma visão racionalista da vida aplicada a politica nos dias atuais.
Alguns exemplos de racionalismo politica são citados como o Estado Mundial, federalismo e nacionalismo.
II
O autor define dois tipos de conhecimento: o técnico e o prático. O técnico pode ser obtido em receitas, manuais, livros etc, é um conhecimento muito útil para pessoas que querem aprender algo como uma profissão, uma forma de arte, o lido politico. O conhecimento prático não pode ser obtido por livros, apenas complementado. Ele se dá a partir da vivência perto de quem realmente conhece como fazer algo. São conhecimentos distintos mais que se complementam, sendo que o prático se mostra muito mais útil na resolução de problemas, independente da área que o aplique. Resumindo, em nenhuma área, especialmente na política, é possível separar o conhecimento técnico do prático, assim como em nenhum campo eles podem ser considerados idênticos entre si e por consequente um assumir o lugar do outro.
Levando em conta o modo impessoal e utópico que se dá o conhecimento técnico, ele é mais maleável a ser ensinado. Diferentemente do conhecimento prático, que não pode ser explicado ou replicado, pois é uma forma de entendimento que só existe em primeira pessoa. Grosso modo, o conhecimento técnico pode ser tanto ensinado quanto aprendido. Por outro lado, o conhecimento prático não pode ser nem ensinado nem aprendido, apenas comunicado e adquirido.
O autor, para concluir a seção se pergunta: qual geração transformou o conhecimento prático em algo sem valor?
III
Para responder a questão da seção anterior, voltemos a autores importantes no final do século XVII: Bacon e Descartes. Por um perdoável reducionismo da história, o personagem racionalista pode ser visto como tendo sido expelido do exagero das esperanças de Bacon e de uma negligência em relação ao ceticismo de
Descartes; o racionalismo moderno é o que mentes comuns conseguiram tirar da inspiração de homens dotados de distinção e gênio. Em outras palavras, as pessoas não conseguiam admitir que precisavam do conhecimento tradicional para entender o mundo a sua volta, então se prostraram perante a lógica disfuncional da técnica.
Em suma, uma geração nunca em paz com sua mente porque nunca conciliada com seu passado.
Um autor importante para entender esse fenômeno foi Pascal. Ele evitava essa conclusão através de sua doutrina da probabilidade: o único conhecimento objetivo assim o é devido a sua parcialidade; o paradoxo do conhecimento provável carrega mais da verdade total do que certo conhecimento isolado. Sua conclusão sobre o tema era que a significância do racionalismo não se encontra na ênfase ao conhecimento técnico, mas sim em sua cegueira quanto aos outros conhecimentos.
IV
No âmbito politico, percebe-se que qualquer um que queira fazê-lo deve-se basear em alguma ideologia. Mesmo aqueles que lutam contra esse racionalismo, como Hayek, buscam outra força de racionalismo para combatê-lo. Autores como Bacon e Descartes então foram interpretados como aqueles que poderiam trazer uma receita de bolo racionalista para se resolver problemas políticos sem apelar para tradições. Mas foi em O Príncipe de Maquiavel que essas ideias iniciaram. Porém Maquiavel estava ciente das limitações do conhecimento técnico; e, diferente de seus eventuais seguidores, ele próprio não acreditava na soberania da técnica nem muito menos que o
governo pudesse ser reduzido a mera ‘administração da coisa pública’ e que, por conseguinte, poderia ser aprendida através de um manual. Então ao novo príncipe ele não ofereceu somente seu livro, mas também sua tutela pessoal, o que obviamente acabou constituindo-se em uma inevitável deficiência de sua obra.
Nenhuma obra de politica racionalista fez mais sucesso que as de Marx e Engels. A política europeia sem esses autores ainda assim teria se coberto toda
pela avalanche racionalista, mas sem dúvida nenhuma que tais autores são os mais destacados artífices da política racionalista – e não é para menos, tendo em vista que suas obras atingiram uma classe que nunca imaginaram, nem em seus sonhos mais delirantes, poder se debruçar sobre o exercício de poder de fato.
Outro exemplo de como ideias racionalistas tomaram conta da politica foi nos EUA. No velho oeste as pessoas se tornaram racionalistas porque não acreditavam que as benesses de seu regime se devia as tradições que vieram da Inglaterra, e sim de acordos feitos com seus próximos. A Constituição, por exemplo representa a política da necessidade percebida com a ajuda de uma ideologia. Nas palavras do autor: “Por isso não me espanta que veio a constituir, junto com os documentos oficinais da Revolução Francesa, uma das mais sagrados manifestações da política do racionalismo, servindo de modelo-padrão para tantas outras aventuras racionalistas de reconstrução de sociedade.”
Observar a limitação da racionalidade para lidar com problemas complexos como a politica é ser humilde, entender que as complexidades que permeiam o tempo e a contingência mundana são impossíveis de ser controladas.
V
O primeiro passo para a aplicação do racionalismo na vida cotidiano surge na educação. Desde os primeiros dias de sua emergência, o racionalista se
interessou, um tanto macabramente, pela educação. Em todos os pontos da educação tradicional o racionalismo se entranhou, incluindo em áreas que hoje são conhecidas como técnicas. Grandes profissões são desmantelados em prol dos chamados interesses garantidos pelo Estado. Dessa forma, se ignora a força da família ao desenvolver uma aptidão profissional por gerações e dá ao estado a total hegemonia no que se refere ao caminho certo de desenvolver uma ação produtiva para a sociedade. Isso é um resumo em poucas palavras do que se trata o Ministério da Educação.
Mas sem dúvida a área mais nociva dessa racionalização é na educação moral. Ao tirar o elemento tradicional da resolução de problemas morais da sociedade, esta acaba-se por se tornar “um amálgama de espasmos, um conjunto de atos descontínuos, uma solução de problemas em série, um campeonato de crises sucessivas.” Os racionalistas acreditam que exista uma moral que deve ser seguida, mas não percebem que ela se baseia em elementos como família e religião. Assim, ele tenta drenar essa moral, mas o que sobra é apenas uma massaroca difícil de ser seguida, pois a estrutura que a sustentava não existe mais, assim, fica impossível seguir qualquer conclusão que eles o tenham de forma positiva.
Capítulo 2 - As massas em uma democracia representativa
I
O autor se propõe a explicar quando surge e como é o “homem-massa”, um personagem venerado pelos racionalistas.
II
Até o começo do século XII o ser humano não se preocupava com individualidade. Participar de um emprego ou da igreja, por exemplo, era suficiente para ele. Como tempo a individualização do ser humano foi crescendo, então este começou a se preocupar com o “eu” em detrimento do nós. É um fenômeno que vem crescendo até o século XX (época que o livro foi escrito). E tomando conta de todos os indivíduos, não apenas os homens ricos.
Autores como Hobbes, Spinosa e Kant atribuíam mais poder a essa individualidade, dizendo que o ser humano por natureza buscava a felicidade e que devia ser tratado como um fim em si mesmo, e isto teria como consequências direitos aplicados a todos de forma igual. Para que isso fosse possível na mente de pensadores da época, era necessário a existência de um estado. Este deveria ser único e supremo, deveria ter a prescrição de alterar velhas leis e aplicar novas e deveria ser poderoso, mas não ao ponto de se sobrepor a individualidade. O que fazia frente a essa ideia na época eram os feudos, que não passavam no teste da aplicabilidade geral, pois estes forneciam vantagens a determinados membros.
III
Tendo em vista a dificuldade que é ser um individuo e todas as suas responsabilidades, surgiu então o “anti-individuo”, um tipo de pessoa que prefere que outros tomem suas decisões e lutem pelo "bem comum". Para que isso fosse possível era necessário, por exemplo, o fim da propriedade privada. Os arquitetos dessa moralidade identificaram a propriedade privada com a individualidade, e consequentemente conectaram sua abolição com a condição da circunstância humana apropriada ao ‘homem-massa’. Alguns autores como Nietzsche, Kierkegaard e Burckhardt notaram que esse anti-individuo se tornaria os novos bárbaros.
Este personagem então achava que seus direitos eram soberanos e deviam ser resolvidos. Para ele não era suficiente ter apenas o direito a felicidade, e sim, que este fosse prontamente resolvido. São nesses meandros que o "governo popular" ganhou força. Entretanto, o que venho chamando de ‘governo popular’ não é uma forma concreta de governo estabelecida e praticada: é uma tendência a impor certas modificações no ‘governo parlamentarista’ no intuito de convertê-lo em uma forma de governo apropriada às aspirações do ‘homem-massa’. O que esse anti-individuo queria era um líder, mas este próprio também era um anti-individuo, só assim não haveria suspeitas de "fraude" nesse processo. Afinal de contas, esse anti-individuo não tem nenhuma teoria própria ou pretensão. Assim como reside no caráter do ‘homem massa’ o fato de ele enxergar em todo mundo um funcionário público, um agente do ‘bem público’, e de ver seus representantes não como indivíduos, mas como delegados instruídos, ele também passou a ver cada votante como um participante direto da atividade de governar: e o meio para isso era o plebiscito.
Sua predisposição é outorgar ao governo poder e autoridade jamais vistos na história; ele é totalmente incapaz de diferenciar um ‘governante’ de um ‘líder’. Resumindo, a predisposição em ser um ‘anti-indivíduo’ é algo a que todo o europeu tem uma propensão; o ‘homem massa’ é somente alguém em que essa propensão é dominante. É notório como a existência de um estado grande sempre foi uma condição para que esse anti-individuo se desse por satisfeito, assim, percebemo a simbiose entre defensores de estados que massacram a individualidade, como o estado comunistas, e aquelas pessoas que se abstêm de serem grandes por si só e buscam a aprovação e dependência do governo.
IV
Por mais que o anti-individuo seja maioria, esse depende e quer a parte positiva de ser um individuo. Afinal, foram esses que desenvolveram a humanidade. Assim, o autor concluí que o mais importante dessa leitura é que não se permita que o anti-individuo tome o poder, ou seja, que a liberdade do civil do individuo seja sobrepujada pelo desejo “comunitário” do anti-individuo.
Capítulo 3 - Ser Conservador
I
O autor acredita que pode haver um modo racional de se entender o conservadorismo, porém, não é necessário. Este é um modelo baseado no passado mas com olhos para o futuro. Quando se entende a dificuldade de obter algo e como é maravilhoso que consigamos obtê-lo, começasse a entender. Nas palavras do autor: Ser conservador é, pois, preferir o familiar ao estranho, preferir o que já foi tentado a experimentar, o fato ao mistério, o concreto ao possível, o limitado ao infinito, o que está perto ao distante, o suficiente ao abundante, o conveniente ao perfeito, a risada momentânea à felicidade eterna. Relações familiares e lealdades têm preferência sobre o fascínio pelas alianças de momento; comprar e aumentar é menos importante do que manter, cultivar e aproveitar; a tristeza da perda é mais aguda do que a empolgação pela novidade e pela promessa.
Para o conservador, nem toda inovação é boa, e aquela que não for deve ser deixada de lado. Este não tem medo da mudança, mas sim tenta entendê-la antes de se jogar abruptamente nela. Para que uma inovação seja valida, o conservador deve: ter em mente que inovação implica em perdas e ganhos, acreditar que quanto mais uma inovação tem aspecto de ganhos, mais perdas ela poderá dar, inovação é sempre em respeito a um defeito específico, o compasso deve ser devagar e a ocasião para mudança é importante para que se possa fazê-la. Em poucas palavras, o conservador é precavido.
II
Esse comportamento pode se basear na natureza humana. Essa tem por ação principal permanecer em segurança. Este comportamento pode mudar dependendo da situação do individuo, como por exemplo a sua idade.
Nos últimos séculos percebemos que a aptidão a mudança está crescendo. As pessoas deixaram de se preocupar com a necessidade de se manter aquilo que passou pelo ônus do tempo. Assim, o conservador surge na figura de um zelador que demonstra coisas do passado a crianças atônitas.
Uma atitude conservadora é importante ao se querer serviços, pois, espera-se que o comportamento de quem nos vende algo tenda a melhorar por experiência, ao acontecer o contrário ,a tendência é nos darmos mal. Então, não é um erro associar conservadorismo a livre mercado. Podemos trocar de vendedores ou produtos, mas com amigos a situação é diferente. Eles são um fim em si só, portanto, não os temos numa condição utilitarista, e sim pelo simples prazer de tê-los, como um pescador que se diverte pelo ato, não pela quantidade de peixes que pesca.
Ao analisar a ação humana, percebemos que para cada empreendimento que temos é necessário o uso de ferramentas. Essas ferramentas são utilizadas com melhor aptidão por aqueles que tem um comportamento conservador em relação a eles. É natural que um carpinteiro, por exemplo, utilize suas ferramentas com mais qualidade e precisão que usaria as ferramentas de outro carpinteiro. Tendo em vista que ferramentas são necessários para qualquer empreendimento que de lucro aos seres humanos, o comportamento conservador detêm então porão considerável de nosso caráter. Percebe-se então que é natural que não tentemos “reinventar a roda” toda vez que somos levados a fazer uma atividade importante. Podemos expandir essa análise a ferramenta mais utilizada por todos, ou seja, as regras de conduta. É na rotina que conseguimos ser produtivos e manter bons relacionamentos, tentar quebrar esse ciclo com inovação se mostra disfuncional. Testes devem ser feitos, mas não em situações complexas e delicadas, a menos que isso seja cabal para o funcionamento do mesmo.
III
Para compreender o conservadorismo em politica a luz do que foi explicado, devemos ter em mente que ele não necessita de outros elementos que caracterizam conservadores, como, por exemplo, religião, não que estes não tenham o seu valor, mas sim porque o que é realmente importante é o lido do dia a dia. Mais precisamente, deve-se notar que em geral, por mais que as pessoas discordem por vezes, elas vivem em harmonia e tentam colaborar umas com as outras. Isso pode não ser o mundo ideal para certos tipos de indivíduos já discutidos no livro, porém, perceber que esse empreendimento inovador pode ser frustrante e contraproducente é importante para se entender o modus operandi da politica conservadora.
Para um conservador, é limitante que o governo se preocupe apenas com a justiça, independente de sonhos utópicos que os membros do governo possam ter. Afinal de contas, é frustrante termos que ouvir os sonhos das pessoas, é ainda mais frustrante forçar pessoas a viver neles. Pode parecer que ter essa atitude negativa em relação ao governo é se eximir do trabalho, mas diz isso quem tem uma visão utópica do processo de governar. Afinal de contas não é de se imaginar que um juiz de futebol, por exemplo, tem pouco trabalho por se preocupar apenas em lidar com as regras do jogo. Numa escala muito maior temos a situação de um governo. Em suma, ser conservador na política é um reflexo do que consideramos ser apropriado para as regras de conduta.
É claro que vivemos num mundo em constante mudança, devido principalmente a tecnologia. Essas mudanças podem influenciar na forma que as leis são regidas, questões como direito de imagem são um exemplo de novas leis que tem que ser analisadas. Assim, nas palavras do autor: um politico conservador considerará mais prudente examinar a ocasião de inovação com cuidado; em suma, estará disposto a encarar a política como uma atividade em que um rico conjunto de instrumentos é renovado de tempos em tempos, sempre afiados.
Algumas pessoas percebem o governo como um poço de poder e querem se banhar nele. Observam o quanto podem se dar bem, da mesma forma que se dariam com um empreendimento de sucesso, mas diferentemente do livre mercado, o governo é um monopólio para esse poder. Em geral, quando indivíduos assim são percebidos, mesmo em democracias, são deixados de lado. Deve-se tomar cuidado para que o “juiz” não tome um lado, que apenas deixe o jogo continuar. Tomar o cuidado de perceber que onde existe um empreendimento de inovação é necessário ter alguém com jurisprudência para pará-lo.
IV
Para terminar o livro o autor cita que politica não é para jovens. Ele não diz isso de forma pejorativa. Todos os atributos inconsequentes que definem um jovem são positivos (neste ponto o autor agrupa a ideia do prazer da juventude ao fato de que o conservadorismo não precisa de ideais religiosos para funcionar). E assim, ele conclui que o governo deve ser deixado na mão de pessoas prudentes, e que caso um jovem não tenha a sorte de permanecê-lo para sempre, ai sim ele poderá ingressar na vida politica.
Comments