Conservadorismo - Roger Scruton
- Canal Resumo de Livros
- 6 de set. de 2019
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Conservadorismo - Roger Scruton - Resumo
Capítulo 1 - Pré-história
O autor se propõe a explicar um pouco da história e das bases do conservadorismo. Ele começa citando que elementos biológicos que vem desde nossa pré-história e que foram necessários para o surgimento da vida em sociedade são necessários para se entender o conservadorismo, e sem isso não teríamos a possibilidade de o entendermos, e também compreender a nossa civilização, as utopias por sinal os ignoram.
As pessoas se relacionam em sociedade, e para isso precisam da sensação de pertencimento, assim moldam seu comportamento para que este ocorra. Os elementos usados para isso são replicados da vida em família, como a subsidiariedade, por exemplo. Conservadorismo, como o próprio nome diz, é conservar essa “comunidade”, reformando-a quando necessário.
O autor acredita que esses regimentos para o bom funcionamento de uma sociedade não surjam de leis lógicas. Isso é demonstrado no "dilema do prisoneiro" onde a ação mais logica para cada um não é a melhor para a boa convivência dos dois. Isso é provavelmente a maior contribuição do conservadorismo para o entendimento da especia humana.
Outro passo importante foi o fim da associação do estado com a divindade. Agora a legitimidade do estado vinha de baixo para cima. Para que isso seja possível é necessário que exista um “contrato social”, que ninguém assinou, mas surge involuntariamente do interior da sociedade e relevada por consentimento tácito. Hobbes foi o autor dessa ideia, e também dele saiu uma derivação mais "utilitária" para a ética em sociedade, onde não seria necessária o uso do Imperativo Categórico, aparentemente tão impossível na prática. Com isso Hobbes fornece conteúdo histórico e empírico para o surgimento da Lei Comum inglesa.
Hume foi um outro pensador importante do conservadorismo “primitivo”. Ele atacou o Contrato Social, dizendo que é uma lei arbitrária que força as pessoas se comportarem bem apenas por laços de proximidade geográfica e hábitos. Suas ideias, um pouco mais voltadas ao torismo, que posteriormente se tornaria o liberalismo, se tornaram cruciais após a Revolução Francesa.
Tories e whigs são as versões antigas de direita e esquerda respectivamente. Porém suas questões eram mais filosóficas. Os tories acreditavam que a ordem politica era derivada da liberdade individual, os whigs conservadores acreditavam que a liberdade é que surgia da ordem politica. Um whig importante, que veio a se tornar referência no conservadorismo britânico foi Edmund Burke.
Locke, outro pensador liberal da época, não acreditava nesse consentimento tácito do contrato social, o governo é sempre imposto a maioria, em geral apoiado pelos laços tão bem vistos pelo conservadorismo. Assim, percebemos que o que caracteriza grosso modo a diferença entre liberais e conservadores é que os liberais viam a ordem política como derivando da liberdade individual e os conservadores viam a liberdade individual como derivando da ordem política.
Capítulo 2 - O Nascimento do conservadorismo político
Esta modalidade surge como uma hesitação dentro do liberalismo, e não como uma ideologia. Uma diferença gritante logo no surgimento desse movimento conservador foi que, os liberais acreditavam numa visão politica focada na economia de mercado, enquanto os conservadores acreditavam que as instituições e as tradições da comunidade fossem mais importantes.
A revolução americana é importante para o conservadorismo, por mais que muitos digam que ela ocorreu devido ao liberalismo. Afinal, são fundamentos do conservadorismo inglês que influenciam Thomas Jefferson, principalmente no que se refere a Lei Negativa. Essa é uma derivação da lei natural, e funciona apenas no que se refere a não agir de forma efetiva contra algum inocente.
No decorrer do século XVIII Adam Smith começou os primórdios da unificação de uma visão conservadora da sociedade com a economia de mercado. Era apenas na simpática mutua dos sentimentos que conseguimos nos habituar e servir os próximos de forma capaz de nos fazer acumular capital. Em Lectures on Jurisprudence ele também assume que a common law e a ideia de lei negativa são as únicas que promovem uma sociedade justa. Pagamos por nossos direitos por esses deveres legais.
Ele, antes da escola austríaca, observou que a interação social em que todos os indivíduos têm a liberdade de defender seus próprios interesses é o único arranjo que promove resultado benefícios para todos. A paz seria subproduto dessa liberdade. Posteriormente Ludwig von Mises percebe essa verdade de forma apriorística.
Chegamos novamente a Edmund Burke a importância de sua obra para a filosofia conservadora. Ele foi pioneiro em perceber, antes da Revolução Francesa, que sua estrutura que ia de cima para baixo e sua adoração por uma "cabala literária" causaria mortes. O desprezo pelos mortos levou a privação de direitos dos não nascidos. Assim, esses revolucionários destroem uma sociedade onde não estão incluídos.
Conceitos chaves para esse autor são os "pequenos pelotões" e a visão da sociedade como aqueles "que morreram, os que vivem, e os que nascerão". São nos pelotões onde promovemos nossas tradições e, apenas com a visão de que somos inquilinos da sociedade, que devemos a manter para que exista para os próximos. As tradições são respostas para perguntas persistentes. Não são todos que conseguem explicá-las, devido a sua profundidade, por isso Burke chamou essas descrições como "preconceitos", que é um conhecimento rápido e construído por todos os membros da sociedade, que sempre são mais sábios que cada membro individual. Assim, por consequência, os direitos que surgem numa sociedade não podem ser dados de forma tão simples aqueles forasteiros, seria uma forma de traição para os membros que se adaptaram e fazem parte dos preconceitos. Essa visão social da tradição conservadora promovida por Burke é muito diferente da visão revolucionaria marxista, onde um grupo sempre promove ideias sem consultar o povo. É apenas quando se perde o fato de que instituições surgem de baixo para cima que a lei natural é deixada de lado, é onde surge o juspositivismo, e a lei acaba sendo alterada ao bel-prazer de políticos.
3 - O conservadorismo na Alemanha e na França
Importantes nomes do conservadorismo nesses locais serão analisados. O primeiro deles é o alemão Hegel. Em Fenomenologia do Espirito ele cita que as relações de conflito e dominação são superadas pelo mutuo reconhecimento de direitos e deveres. A verdadeira liberdade envolve a consciência de minha autonomia, e só é possível de se obter em transações livres e iguais. De acordo com Hegel, então, a liberdade é um artefato social nascido do conflito, da submissão e do combate. Dessa dialética, Hegel descobre que a liberdade surge do reconhecimento de obrigações que não foram livremente escolhidas, como o "contrato social". Isso se molda quando percebemos que o estado e sociedade civil não são as mesmas coisas. Para o estado devemos uma lealdade parecida com a da família. É só delimitando esses dois elementos, estado e sociedade civil, que teremos uma organização estatal que não abusa de seu poder contra a sociedade.
Nomes francês importantes foram Tocqueville e Chateaubriand. Eles forma profundamente afetados pela revolução americana que, diferente da francesa, tinha elementos do conservadorismo inglês, e assim conseguiu dividir bem a liberdade da igualdade promovida pelos revolucionários franceses. Eles também alertaram contra o "despotismo democrático", que seria o esmagamento do direito das minorias devido a maioria revolucionária, que nunca falou pelo povo. Eles, Chateaubriand, Tocqueville, e seu antecessor francês, Maistre, rejeitaram elementos do iluminismo, filosofia vigente da época.
4 - Conservadorismo cultural
As teorias sociais no fim do século XIX e começo do XX buscavam, no surgimento de grandes cidades, explicavam a ação dos trabalhadores sempre a luz do socialismo. Elas não valorizavam a liberdade como valor primário mas sim razão e progresso. Assim surge a sociologia e positivismo por Augusto Comte. Pelo lado dos liberais surge Jeramy Bentham e o utilitarismo, que serve para moldar a ética ao bel-prazer daquilo que geraria mais riqueza e conforto para a maioria das pessoas. Essa forma matemática de ver a realidade criou uma sensação de que algo não iria bem, e como contra cultura surgiram movimentos conservadores para rebater.
Um pensador da época considerado conservador era Samuel Taylor, ele adaptou a versão kantiana a algo mais social democrata. Acreditava que o governo devia dar alguma assistência aos pobres, mas o principal era manter a cultura. Isso ajudou a despertar alguns liberais, como John Stuart Mill, para as falhas do utilitarismo que então defendiam. só é possível não pensarmos em lucro quando existe algum conforto para isso. senão o acumulo de capital se torna indispensável para a sobrevivência, assim a própria sociedade capitalista tem a cura para o problema que ela "criou", ou na verdade expôs. Essa alienação surgiu de deixar Deus de lado e ver o trabalho não como uma forma de alcançá-lo, mas apenas de alcançar riqueza.
Outro pensador importante é Ruskin, que em sua filosofia estética e cultural, desenvolveu uma forma de conservadorismo muito semelhante aos clichês apontados pela esquerda, como uma volta anseios infantis e nostálgicos.
Thomas Stearns Eliot, ou T.S. Eliot foi o maior poeta conservador da época. Elementos importantes no conservadorismo como tradição, ordem realismo e sinceridade são presentes em todas as suas obras. Padrões estabelecidos por grandes artistas, como Bach, Shakespeare, Tostoi, são revividos em Eliot, depois de ataques da contracultura. Com essa fluência e competência que Eliot rebate Shaw, quando este esquerdista tenta promover uma filosofia do progresso que vai contra tudo que passou pelo ônus do tempo. Nas palavras de Eliot: Se o homem como o conhecimentos não é capaz de uma filosofia do progresso, o sr. Shaw exige não um novo tipo de filosofia, mas um novo tipo de homem. Vemos aqui a visão restrita conservadora em contraponto a versão irrestrita da esquerda.
O alemão Herder fornece uma boa visão do conservadorismo de seu pais a época. Para ele havia na pisque humana uma profunda distinção entre civilização, que é a esfera do calculo racional e da construção de instituições, e cultura, que é o temperamento de um povo. Para ele a Alemanha que era a verdadeira construtora do mundo ocidental, e não a Grécia. Esse conservadorismo acabou se tornando um radicalismo politico.
Vemos que o conservadorismo tem uma história rica e uma filosofia contundente, mas por vezes ela é negligenciada em sala de aula. Por hora vamos revisar, no próximo capitulo, o embate entre conservadorismo e estado socialista.
5 - O impacto do socialismo
O final da Primeira Guerra Mundial influenciou grandemente a literatura da Europa, principalmente do império austro-húngaro. Suas obras esboçavam o luto pelas perdas do conflito. Assim, o conservadorismo do local deixou de ser a visão clássica britânica da liberdade e das tradições, para fluir um nacionalismo deturbado.
No começo do século XX ocorreu do termo "liberalismo" como cunhado na Inglaterra ser modificado na nação emergente dos EUA. Liberalismo lá se tornou um termo para agrupar os esquerdistas contidos, que iam atrás uma de uma igualdade populista nunca fundamentada na história conservadora do país. Para suprimir essa deturbação surgiu, naturalmente, a Escola Austríaca de economia, em especial Hayek, ganhador do premio Nobel em seu livro "Caminho da Servidão" ou mostrou a ineficiência estatal para desenvolver a cultura de um país e especificamente a letalidade de seu comportamento no que tange a economia. anteriormente isso já tinha sido mostrado de forma apriorística por Ludwig von Mises e a sua teoria da praxeologia, que é o estudo a priori da ação humana. Essa teoria refutou Marx quanto ao valor absoluto das coisas, pois é apenas numa economia dinâmica sem intervenção e planejamento estatal que o verdadeira valor dos produtos pode surgir e assim promover o melhor arranjo possível entre as trocas livres das pessoas. Porém Hayek acreditava numa democracia, controlada, mas necessária para se manter a liberdade.
Outro pensador, um pouco mais teórico e filosofo que Hayek foi Michael Oakeshott. Em seus textos desenvolveu a ideia de visão restrita e irrestrita, mostrando como existe uma deturpação da capacidade humana no ponto de vista dos esquerdistas para lidar com situações econômicas e sociais. Para que exista tamanho poder na mão do estado, terá que diminuir o cidadão e sua liberdade. Ela era secular, algo normal depois de guerras tão violentas.
Dois autores do começo do XX que começaram socialistas mas mudaram formam James Burnham e Whitakker Chambers. Burnan foi influenciado pela analise marxista. Com o tempo percebeu que a tendencia do socialismo não é produzir uma sociedade sem classes, mas gerar uma nova e intransigente classe de burocratas. Ele é duro ao descrever certos elementos da policia soviética como os espiões, vistos como burocratas sem escrupulos. Chambers, em especial fazia a analise do socialismo sobre o ponto de vista americano. Ser socialista para ele era ser central-americano.
Na França o conservadorismo foi tão duramente criticado que surgiu um movimento próprio, deixando de lado a metafisica e filosofia para se voltar questões puramente religiosas, como o culto a Joana D'arc. Simone Weil foi importante também por ligar cristianismo e misticismo. Ela era uma moralista, como Kant acreditava que a moralidade metafisica.
Para finalizar, outro importante autor foi Ortega y Gasset. Buscou a cura para a condição espiritual da nossa civilização e o remédio para decadência. Seu livro "A Rebelião das massas" assim como "A democracia na América" de Tocqueville, é um levante sobre o que a democracia e a ideia de cidade igualitária implicarão no longo prazo e uma tentativa de reter os elementos da antiga cultura que poderiam formar uma linha de resistência a mediocridade.
6 - Conservadorismo hoje
Conservadorismo moderno começou como defesa das tradições. mas agora tornou-se o defensor da civilização ocidental contra o politicamente correto e o extremismo religioso islâmico.
O primeiro autor a mostrar esse perigo foi George Orwell. Por mais que ele se considerasse de esquerda, seus textos mostram como essa ideologia formaria um estado totalitário que teria o poder até de mudar o pensamento. Duas de suas propriedades foram amplamente usadas pelo governo soviético e são utilizadas até hoje pelo politicamente correto, a novilíngua, que é uma especia de tradução da linguagem normal para a estatal e o duplipensar, que é a condição de manter duas proposições contraditórias ao mesmo tempo e acreditar nelas. Vemos o uso do politicamente correto para condenar pessoas que livremente criticam qualquer ponto que a esquerda concorda. Quando eles o fazem, Allan Bloom por exemplo em seu livro The Closing of the American Mind, são chamados de racistas, homofóbicos etc. Orwell é tão curiosamente esquerdista que apoio Hayek em seu livro O Caminho da Servidão.
Outro autor importante da atualidade é Minogue. Tem uma tendencia antidemocrática, dizendo que esta sempre terminará por minar a cultura da distinção e emulação da qual uma sociedade civil duradoura depende. Johnson é um historiador inglês freelance, uma nova leva de profissionais que surgiu com o advento da internet e mídias alternativas. Uma mídia onde o conservador pode citar sua filosofia sem medo do ostracismo.
Os Estados Unidos o conservadorismo ainda vive. Um dos motivos é que sua estrutura estatal surgiu de baixo para cima. Não deixando assim que elementos avessos a ordem espontânea tivessem muito poder durante a construção desse país. Uma importante pensadora desse país foi Ayn Rand. Em seu objetivismo libertário, mostrou que é uma ilusão acreditar que os mais pobres da humanidade se beneficiarão do socialismo. Nem todos os conservadores concordavam com ela, principalmente por seu puritanismo. Buckley foi um desses. Ele era mais voltado a importância da herança cultural americana. Até hoje ele luta contra "achados" da Constituição Americana, como o aborto. O principal autor conservador dos EUA é o Russel Kirk. Em seu livro Conservative Mind, por mais que não fosse o intuito de Russel Kirk, se mostrou um bom alicerce para a filosofia conservadora. Mostra em seus cânones que: - existe uma crença na ordem natural, afeto pelo mistério da existência humana, convicção de que existem classes naturais, propriedade e liberdade estão conectadas e fé nos costumes.
Libertários e neoliberais se tornaram uma força contra o crescimento exacerbado do estado. Scruton cita a importância de Milton Friedmann e Nozick para isso.
O autor cita a importância de sua publicação sazonal Salibury Review, uma luta própria contra o radicalismo islâmico. Ele, Samuel Huntington e Manent são as forças conservadoras contra esse ataque a civilização ocidental. Em especial Huntington mostra que oferecer a total liberdade para os islâmicos que chegam na civilização ocidental é o caminho para destruição. A sharia coloca todos que não acreditam nela como inimigos. A França sofre devido a força dessa guinada islâmica fundamentada no dinheiro árabe. É só com a lealdade nacional que se mantêm uma nação sadia. E essa lealdade é deixada de lado quando o governo abraça islâmicos indistintamente.
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