Coração Devotado à Morte - Roger Scruton - Resumo
- Canal Resumo de Livros
- 26 de jan. de 2020
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Coração Devotado à Morte - Roger Scruton - Resumo
Prefácio
Scruton introduz que o livro será, além de uma analise profunda da obra Tristão e Isolda de Wagner, um estudo sobre a natureza do amor erótico, muito disso pode ser derivado da música. A maior contribuição teórica para a construção dessas ideias veio de Kant, o livro é um estudo da filosofia kantiana do homem.
Capítulo 1 - Wagner e a religião
Wagner tinha uma fé cambaleante, e tentou se redimir pela sua fé falha com a arte. Ele acreditava na força do mito para a construção da sociedade. A vida humana não tem valor sem esses mitos, que alguns pensadores, como Freud, tentaram compreender como resíduos psíquicos universais de nosso desenvolvimento sexual, levando em conta os deuses gregos e suas fabulas.
O compositor de que trata o livro não deu muito espaço para a religião, mas sua obra sim. Ele via a arte como uma forma de alcançar a Deus, nas palavras dele: "cabe à arte preservar o núcleo da religião na medida em que as imagens míticas que a religião quer que se creiam verdadeiras são apreendidas na arte por seu valor simbólico, e, pela representação ideal desses símbolos, a are revela a profunda verdade oculta neles". A filosofia para ele era um substituto da teologia, nessa mesma linha ele se agarrava com muito a força na teoria de Schopenhauer, quanto ao refugio que temos da morte, o erro trágico da existência individual, etc. Ou seja, temos o importante elemento de mistério em sua obra.
Por acreditar que a melhor versão de homem heroico surgiria na burguesia, ele recebeu críticas de Nietzsche. Este livro defenderá que Nietzsche. estava errado em suas criticas, que Wagner estava certo ao reconstruía a ideia de herói, principalmente o que leva a vida no mundo moderno. Dentro dessa chave, será compreendido a ideia de redenção nas operas de Wagner. Para compreender isso devemos entender o sentido da redenção quando ela não esta ligada com nada após a morte.
Capítulo 2 – A História de Tristão
Somos apresentados a história de Tristão e Isolda da forma como esta chegou a Wagner. É a história de um casal sem sorte, onde o rapaz era tão apaixonado pela moça a ponto de matar um dragão para ficar com ela. Exausto após a luta ele não consegue provar que foi ele o matador de dragões, outro surrupia sua conquista, mas a garota consegue provar que a afirmação deste outro rapaz era uma farsa. A trama passa por um plot politico, onde existe toda uma burocracia para ficar com a moça, que já estava prometida a outro. E por fim, os dois chegam ao ponto onde seu amor é consumado: na morte.
Scruton cita alguns pontos interessantes nessa obra. O primeiro deles é que em toda a obra Isolda é chamada por um pronome de gênero masculino, ou seja, essa história tem fontes árabes co, pois era na literatura árabe da época medieval que mulheres eram chamadas por pronomes de gênero masculino, para que o lado sexual do relacionamento fosse deixado de lado, mostrando que quando consumado, o que importava era o valor transcendental ao por que este denotava. Essa é claramente uma tendencia platônica e que promove a castidade. A obra tenta mostrar que o amor, quando desvinculado da racionalidade, causa problemas. O amor deve ser separado do seu lado instintivo, uma vez que somos feito imagem e semelhança de Deus. Essa tentativa de desvincular se dá a partir da cortesia. Apenas um amor insubstituível pode ser verdadeira, por isso que, nessa obra, o amor de Tristão estava fadado ao fracasso, afinal ele considerava substituível, pois existiam duas Isolda na história. A morte aqui faz parte da realização do amor, tal qual uma especie de fetiche.
CAPÍTULO 3 - O TRATAMENTO DADO POR WAGNER À HISTÓRIA
Scruton faz varias analises músicas da filosofia da música dessa opera. A primeira é uma analise do momento de uma nona menor com o olhar que rei Maker dá em sua esposa. Ele contrasta vividamente o verdadeiro olhar de amor com o olhar examinador. Outro elemento presente na obra é a poção do amor. Aqui temos a primeira alusão a amor erótico, pois essa poção age no corpo, tal qual esse tipo de amor. Esse mesmo corpo que nos escraviza com suas leis inexoráveis é aquele que nos liberta, pois nos dá a possibilidade do sacrifício redentor. Ao aceitar a morte por um ato de sacrifício, transcendemos a morte e nos elevamos acima da condição mortal Essa é a ideia por baixo do mistério da Paixão de Cristo. No desejo corporico é que encontramos santidade, profanação, consagração etc. Essas ideias religiosas são tiradas da própria experiencia humana, não de um drama religioso ou tradicional.
O desejo em Tristão e Isolda está longe de não ser erótico. Porém, devido a força das palavras e da música, esse desejo toma forma metafísica, casto, sem espaço par ao universal humano. Vemos aqui o mesmo contraste shakespeariano entre o mundo da honra mundana e o mundo da necessidade psicológica, intensificando a necessidade de individualismo necessário para o isolamento metafísico. A obra de Wagner tem um desfeche de morte, porém nas versões atuais, Isolda termina a opera comemorando, como alguém que faz um gol. Essa mudança de narrativa ocorre pois pessoas não tem mais a mesma experiencia de amor erótico e sacrifico religioso.
CAPÍTULO 4 - A MÚSICA DE TRISTAN UND ISOLDE
Para fazer uma analise filosófica propriamente da musicalidade da opera, devemos utilizar as teorias feitas por Kant e Schopenhauer. Kant rejeitou a música como um mero jogo de sensações. Schopenhauer, por sua vez, acreditava que a música era a própria definição de vontade. ele dizia que é a mais poderosa entre todas as artes pois alcança seus objetivos inteiramente por seus próprios recursos. A importância da música para Schopenhauer era tão grande que, como já dito, ela era a própria vontade, essa que na teoria dele se igualava a "coisa-em-si" kantiana, que por sua vez é a realidade indescritível atrás do véu da percepção humana, que podemos perceber apenas pela autoconsciência. Porém, Schopenhauer comete algumas incongruências no desenvolvimento de sua ideia. Ele chega a afirmar que música representa a vontade, também fala que a vontade é a coisa-em-si, mas se o fosse, nada poderia ser dito sobre ela. Ou seja, qualquer analise lorentziana, mais técnica, não conseguirá esboçar todo o conteúdo por escondido no transcendental que envolve a música.
CAPÍTULO 5 - A FILOSOFIA DO AMOR
Algumas perguntas associando amor erótico ao amor ágape são levantadas, como por exemplo, o amor erótico faz parte do corpo ou d'alma. Essas perguntas podem parecer para alguns apenas problemas provincianos, mas na verdade essas questões são vivas até hoje e atingiram filósofos desde a época de Platão. Santo Agostinho falava que diferente do amor ágape, que era uma benção e se doava aos outros, o eros não o era, pois só criar falta.
Wagner se baseou em Schopenhauer em muitas de suas definições de amor. Schopenhauer, por sua vez, tal qual Wagner, tinham um vínculo teorético muiuito forte com Kant. Kant acreditava numa filosofia transcendental que independia da existência de Deus. Para eles os humanos, diferente de todo o resto material, tem uma dimensão metafísica associada, grosso modo, com a consciência: o fato de termos noção da nossa própria existência cria toda uma dimensão compartilhada pelas outras pessoas, pois elas também tem noção de que no próximo há algo como elas, que os define como pessoas. Uma alegoria a essa dimensão única, além da material, é quando olhamos um retrato e sabemos que ali há toda uma dimensão material da tinta e dos traços feito pelo autor, mas também há o rosto de uma pessoa. Somente alguém com algum problema mental pode deixar de lado isso. Liberdade, individualidade, subjetividade e personalidade são propriedades desse eu transcendental, quem é cego a esse mundo também deixa de pertencer a ele.
O conceito de redenção está presente na obra de Wagner, mas diferente dos hegelianos de esquerda, que utilizaram isso para propor o marxismo, Wagner acredita na redenção interior atingida apenas pelo sujeito humano, baseada no isolamento metafísico que o distinguir da ordem natural e o condena a um sofrimento que nenhum outro elemento terá. Fizemos o papel da morte nesse contexto. Para Schopenhauer a morte não pode extinguir a vontade, e ainda que aquilo que sobreviva morte não seja o individual, mas o universal, isso não nos deveria preocupar, já que foi o erro de existir como individuo que causou todo o nosso sofrimento. Vemos nessa ideia muito do hegelianismo na obra de Schopenhauer. A importância da filosofia oriental para Schopenhauer. acabou levando ele a conceitos diferentes sobre o "eu". Na filosofia Upanishades, oriental que ele seguia, eu tem o contexto de fluxo e meditação para o Nirvana, que seria o fim da individualidade e do mundo dos fenômenos.
Ao teorizar sobre o erótico, Schopenhauer. prefigurou o caminho para teorias generalizantes da sexualidade como as de Freud, ou seja, teorias sem intencionalidade. Diferente de Wagner, onde seus personagens terminam unidos até mesmo na morte, o significado que um tem para o ouro é o que os impulsiona para essa morte. Tal qual ele propôs para o próprio Schopenhauer, que a predisposição para o amor sexual representa um caminho para a salvação que leva ao autoconhecimento e a autonegação da vontade, ou seja, o que há de mais humano em nós. Esses elementos, tão presentes no relatório Kinsey sobre a sexualidade humana, deixam completamente de lado elementos importantíssimos para a sexualidade, como o rosto, o rubor e o sorriso, elementos que a pornografia ou o sexo descompromissado deixado de lado, mas que são tão poderosos a ponto do autor citar que o verdadeiro individuo, o "self" metafísico kantiano, se expressa justamente nessas ações involuntárias, mas que estão totalmente vinculadas ao amor eros.
A amizade, diferente do amor, não causa malefícios por definição. Temos instituições para nos proteger do abuso do desejo sexual, mas nada disso foi necessário para a limitação da amizade.
Dramas tem fortes efeitos na mente humana. Temos um comportamento prazeroso ao nos deparamos com tragédias simuladas, em teatros, músicas ou filme por exemplo. Sentimos um prazer ao assistir cenas terrificantes, na medida em que são ficções, onde há um controle e para isso não há nenhuma explicação. Sacrifícios fazem parte dessa analise. Sacrifícios e rituais são anteriores a qualquer religião atual. Bukertt e Girard acreditavam que o animal sacrifical é a vítima original, e o ritual é uma reencenação cerimonial do peado original do caçador-coletor e uma oferta para propiciar a vítima por meio da consagração das especie. A importância prática de sacrifícios e rituais, além da sensação de comunidade, é observar os efeitos de comportamentos viciosos sem o risco de problemas no processo. Assim é a obra de Tristan e Isolde, é apenas na aproximação de sua morte num espirito quase cristão de renuncia, não focando nada além e sua união final.
CAPÍTULO 6
Os sociobiólogos reduziram a experiencia de desejo sexual a algo mecânico, completamente associado ao ato, e não a metafísica do desejo. Deixaram de lado elementos importantes da vida humana, como o fato de que, mesmo morto, um corpo continua sendo sagrado, justamente devido a morte e ao mistério envolvido nisso. Não levaram em conta que, é justamente na impessoalidade no apagamento da liberdade da pornografia que o senso de sagrado fica mais evidente. No fim, quando Tristan e Isolde morrem, Tristã faz questão de tirar seus curativos, se sacrificando pelo amor, para que ele termine ali, sem nenhuma diminuição devido a questões contingentes humanas, como contas para pagar etc. Por mais que a obra de Wagner seja vasta, ela apenas emula um rito semelhante que vem do cristianismo, a Santa Comunhão. Assim, para que a obra do alemão esteja completa, ela precisa de uma visão moral. Esse vem do compromisso sincero e da redenção pelo amor. Nesse visão a vida ganha sentido quando joga fora as recompensas, ou seja, quando se autossacrifica, dessa forma Wagner oferece a prova final de que o homem pode santificar-se para si sem qualquer ajuda dos deuses, evolvendo o sacrifício na aura sacra do erótico.
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