Evasivas Admiráveis: Como a Psicologia Subverte a Moralidade - Theodore Dalrymple
Canal Resumo de Livros
10 de ago. de 2018
9 min de leitura
Atualizado: 17 de out. de 2018
Evasivas Admiráveis: Como a Psicologia Subverte a Moralidade - Theodore Dalrymple
Prefácios: Ele cita que em uma visita à Austrália, foi em uma banca e só achava livros de autoajuda de cunho psicológico, complementa que hoje no mundo um dos ramos que mais capta estudantes é a psicologia, e argumenta que isso é um reflexo no foco egocêntrico. Que coisas básicas do comportamento humano como o fato de que por vezes nos sentimos bem com o mal-estar de amigos tomaram forma quase que científica. Torce para que o mesmo não ocorra no Brasil.
Cap 1
Não podemos afirmar que hoje entendemos mais sobre o ser humano do que a 300 anos atrás. Quando comparamos os escritos de alguns psicólogos com textos de Shakespeare notamos como as ideias ilustradas de forma dramática pelo autor inglês são por vezes transpostas com jargão científico e tidas como psicologia. Cada vez mais as pessoas estão dependentes químicas de remédios que nem de longe há comprovação que funcionam, pelo contrário, por vezes transtornam ainda mais seus usuários. O autor critica Freud, primeiro porque suas atitudes em vida não eram necessariamente de um grande conhecedor da própria mente, e segundo porque suas teorias nada mais eram que essa cientificação de textos antigos. O encapamento científico de atitudes simples e bem conhecidas dos seres humanos como ressignificação do sexo, atitudes ou palavras são conhecidas há séculos. Por vezes suas teorias servem como muleta para o auto-centrismo. A psicanálise acaba sendo uma ponte para ignorar as ações próprias para resolver problemas da mente, colocando a culpa no seu passado, algo que é imutável. A solução para os problemas de acordo com ela é a livre associação, ou seja, a falta de disciplina, atitude que toda pessoa inteligente sabe que não ajuda na busca por seus objetivos. Suas soluções normalmente não são muito saudáveis, e suas considerações não podem ser ditas como verdades absolutas. Considerar sentimentos como líquidos por exemplo não se mostrou uma boa atitude, pois dar vazão a eles por vezes os amplifica, causando ainda mais problemas. Consequências duríssimas dessa "atitude psicológica" no dia a dia são a trivialidade e paranoia. Trivialidade porque, sendo tudo que é dito ter a sua real interpretação nos meandros do que não é dito, tira todo o valor do que é dito. E paranoia porque a pessoa quando enfurnada nas ideias psicanalistas acaba buscando verdades nos mínimos detalhes, onde na realidade não existe nada. O próprio Freud disse que "às vezes charutos são apenas charutos". Sendo a psicanálise o estudo do eu, por vezes isso acaba tomando formas bem egocêntricas, as pessoas acabam tentando enxergar o humano apenas limpando os óculos, e não olhando para os outros. Nessas condições faz até sentido uma pessoa, depois de milhares de horas e de reais de análise, achar que esta realmente serviu de algo, se fosse diferente disso a pessoa poderia atestar sua certidão de ignorante por tanto empenho para nada.
Cap 2
A psicanálise não é científica, nunca conseguiu se estabelecer por mais que tenha tentado algumas vezes. Após um tempo, começou a se apoiar no behaviorismo, por mais que seja uma teoria que reduz os problemas metafísicos dos seres humanos à uma simples animalização dos nossos instintos. As questões mentais das pessoas não podem ser comparados ao comportamento controlado de animais em experimentos. Os mesmos não vêm os motivos por trás de seus comportamentos, só esse argumento já é suficiente para a não-redução. O funcionamento da teoria em alguns casos, para os behavioristas, é argumento suficiente para reduzir todas as ações humanas à situações que ocorreram no seu passado. Como se toda a grande obra de Einstein ou Mozart fosse reduzida por seus desejos sexuais recaldados por suas mães, ou todo problema psicológico tivesse seu problema iniciado por motivos mentais e não por doenças, como a sífilis por exemplo. Quando problemas psicológicos são resolvidos, os psicanalistas dizem que outros surgem, por mais que esses nunca tenham sido observados, nada que sirva de argumento para os psicanalistas, afinal, a mente humana esconde de si mesma muitos segredos. Este tipo de visão do mundo se encaixa muito bem ao tipo de pessoa que gosta de negligenciar as próprias responsabilidades, pois, sendo o behaviorismo o estudo de atitudes consequentes de situações anteriores, podemos jogar o ônus da culpa de nossos erros na economia, no capital, etc. Este argumento foi aprofundado por Hume na sua negação à identidade pessoal, sendo que para ele nunca se é a mesma pessoa duas vezes na vida, sendo assim, aquele que cometeu um crime no passado não deveria, necessariamente, ser a mesma pessoa que irá pagar pelos crimes. Estas teorias por vezes são reafirmadas como científicas com velhas balelas como a do rapaz que era um bom sujeito, até levar uma pancada que "alterou" uma parte de seu cérebro. Esta não é uma verdade universal e por vezes a consequência de se acreditar nisso pode ser muito perigosa.
Cap 3
Aqui o autor trata de Terapia Comportamental Cognitiva (TCC), que nada mais é que a busca de soluções para problemas físicos e psicológicos em pensamentos repetitivos. As consequências desse tipo de tratamento nem sempre são positivas. Por vezes, dependendo das consequências financeiras para quem sobre de um problema que necessita de TCC, as mazelas podem ter algo de positivo, como aposentadorias por invalidez e por aí vai. A pessoa, então, consciente ou inconscientemente faz seus sintomas continuarem, mesmo depois de receber seu dinheiro, pois ninguém gosta de ser visto como um falastrão. Também se nota que quanto mais uma doença é citada, mais ela ocorre, como disfunções alimentares ou mesmo suicídio. Até que ponto então investir em divulgação desse tipo de tratamento pode ser saudável para a sociedade?
Cap 4
Os diagnósticos de doenças mentais estão tendo efeitos sociais cada vez mais semelhantes a problemas físicos. Esta não é uma analogia direta, afinal de contas, os problemas físicos em sua grande maioria não são causados por culpa de quem os sofre. Problemas psicológicos normalmente são frutos de vidas irresponsáveis. Porém, a maioria das pessoas não julga quem padece desses problemas, pois julgar além de ser visto como algo ruim, tira de quem julga a possibilidade de ter “entendido” o problema e a situação da pessoa.
Cap 5
A autoestima é sempre vista como algo positivo. Alguns professores hoje são obrigados a não corrigir provas com caneta vermelha, pois isso poderia denegrir a visão que seus alunos têm de si mesmos, e sendo a autoestima uma das atitudes mais importantes que uma pessoa deve ter, essa sensação ruim da correção deve ser minimizada ao máximo. Por vezes foge da visão dos profissionais da área psicológica que autoestima demais pode ser um grande problema. Também não levam em conta que não fazer autocrítica é o mesmo que psicopatas fazem em relação à ética de suas ações. Se perdoar então nada mais é que complacência levada a um plano ontológico. Esta forma de ver os próprios problemas acabou levando a "existência" de dois eu's: o Eu Verdadeiro e o Fenomenológico. O primeiro mantêm toda a essência do bem e o segundo é o culpado pelas atitudes negativas. Atitudes boas nunca são vistas como "acontecidas" de um Eu Verdadeiro ruim, por mais que essas atitudes sejam muito recorrentes. A realidade é que todas as pessoas tem seus lados ruins e bons, mesmo Hitler era bondoso com cachorros e crianças. Acreditar piamente na existência desses dois eu's permite atrocidades sociais como "pagar pelos erros", como se fazer boas atitudes e ficar preso fosse uma moeda para se poder cometer crimes.
Cap 6
Diferentemente do que psicólogos e a Nova Esquerda prega, a lei existe para defender as pessoas, não para melhorar aquele que não a cumpre. Percebe-se a tentativa de reduzir todos os crimes a problemas psicológicos, e assim, de alguma forma, obrigar o Estado a se comprometer a curar o indivíduo que comete crime. Também apresenta a ideia de que não devemos nos expor muito, pois assim as pessoas teriam material suficiente para ver como somos tolos. Então, o mundo se tornou uma verborragia de frases e atitudes sem sentido, como podemos notar no Facebook, curtimos a trivialidade dos outros para que os mesmos curtam as nossas. Para concluir, o autor discorre sobre a neuroquímica, que é usada como bengala para a maioria dos problemas e sofrimentos humanos. Com a pesquisa nesta área descobriu-se que algumas doenças psicológicas estavam associadas com a falta de determinadas substâncias no corpo. Com o tempo essa nomenclatura se tornou familiar à uma série de pessoas que nunca estudou sobre o assunto, mas que não perderam a oportunidade de colocar a culpa das suas faltas numa química que elas não têm nenhum controle. Os estudos mostram que tentar regular essa química com remédios não é mais eficaz que os tratamentos de choque feitos no passado. Os estudos que fizeram sobre Prozac, por exemplo, hoje são categoricamente vistos como inconclusivos, por descartarem resultados que não eram do interesse das empresas farmacológicas. Com toda essa capa científica, hoje qualquer problema emocional é considerado depressão, e não infelicidade, sendo essa última normalmente culpa de quem a tem. De acordo com o autor: "Se alguém admite ser infeliz, pode ter sido sua má conduta, tola ou imoral, que contribuiu para isso; mas se ele é deprimido ele é vítima de uma doença que, metafisicamente falando, caiu do céu. Isso faz com que a pessoa deixe de ser um sujeito e se torne um objeto; E enquanto existem circunstâncias em que essa pessoa é vítima de maneira pura e não adulterada, um objeto no caso, existem relativamente poucas quando se trata de seu funcionamento e conteúdo mental. Tudo isso reduz muito a capacidade humana de lidar com sua própria humanidade. Sem suas crises de infelicidades, grandes autores não teriam feito suas mais belas obras. Não teríamos Hamlet. Nos tornamos mimados, agora não culpamos mais o Sol e as estrelas por nossos problemas mas a noradrenalina, serotonina, etc. Reduzir essa dimensão trágica é nos reduzirmos perante o universo.
Cap 7
O autor demonstra que correlacionar diretamente problemas sociais como violência e vício a genética (outra bengala psicológica) é um erro. Com dados que demonstram que, por mais que determinados grupos, como negros, tenham se mantido na mesma proporção durante os últimos 50 anos, as estatísticas de criminalidade mudaram, ou seja, deve haver outros apontamentos que levam à uma causa e efeito mais claro, como os tratamentos médicos ou o estado de bem-estar social, mídia, etc. O mesmo pode ser dito de viciados, o número de pessoas que usam heroína na Inglaterra aumentou drasticamente nos últimos anos, independente da miscigenação do país.
Cap 8
Outro grande paradigma da psicologia são os escâneres. Ao colocar uma pessoa num deles, nota-se que partes do cérebro acendem, associam isso a pensamentos e atitudes que as pessoas têm. De tal forma que qualquer um pode argumentar que tomou determinada ação não por escolha própria, mas sim por uma questão de “fluxo sanguíneo” na parte "errada" do cérebro. Obviamente são só as ações negativas que acabam tomando essa tecnologia como argumento para serem minimizadas.
Cap 9
Foi observado que mesmo os mais alcoólatras conseguem aguentar as suas punções caso haja um motivo. Ou seja, não somos tão escravos dessas situações incontroláveis, porém os psicólogos ignoram essas realidades, afinal de contas, onde há uma vítima, há um cliente. O autoconhecimento, por mais que seja libertador, nunca será um meio “cientificamente aprovado” se depender dos profissionais da área.
Cap 10
O autor cita que além das desculpas psicológicas que os genes podem dar, os neodarwinistas ainda por cima, colocam argumentos marxistas dentro de sua teoria. Um de seus maiores expoentes cita, por exemplo, que homens e mulheres são iguais geneticamente, ora, pois é justamente a genética que os diferencia! Além disso argumenta que todas as atitudes que temos não dependem de nós mesmo e sim da evolução darwinista de nossos genes, ou seja, temos tanto controle de nossas atitudes, nossa história etc quanto uma bactéria. As atitudes criminosas de alguém se devem porque os genes associados à criminalidade estão tentando sobreviver.
Cap 11
Nem todos as teorias psicológicas são descartáveis, muitas funcionam pontualmente, o errado é generalizar a dimensão trágica do ser humano a ponto de transformá-lo num objeto. "[...] o efeito geral do pensamento psicológico na cultura e na sociedade, e o instinto, tem sido esmagadoramente negativos, já que dão a falsa impressão de um aumento enorme no autoconhecimento humano que nunca foi alcançado, encorajam a evasão da responsabilidade ao transformar sujeitos em objetos, pelos quais supostamente se responsabilizam ou que lhe interessam como experiências subjetivas e torna raso o caráter humano porque desencoraja o exame de si mesmo e o genuíno autoconhecimento. É sentimentalista e promove a pior autocomiseração, pois torna o ser humano vítima de seu próprio comportamento [...]". Ele cita o livro Obediência à Autoridade, que trata de um experimento onde pessoas escolheram dar choques mortais em outros indivíduos com o aval de cientistas. Com isso surge o argumento de que autoridades são ruins, mas é óbvio que em algum nível elas são necessárias para o bom funcionamento da sociedade, seja técnica ou legalmente. Por vezes essa autoridade pode se converter em atitudes negativas, verdade muito observada também. Para finalizar o autor reafirma que a psicologia não contribuiu em nada para o autoconhecimento humano, e que por sinal seu efeito pode ter sido negativo pois se colocar entre o ser humano e o "movimento de sua própria mente" (Samuel Johnson) pode ser fatal. Ele cita que literatura e outras artes podem dar apoio à compreensão da dimensão trágica e cita dois exemplos, o primeiro é o do Rei Lear, que afirma que não se deve bater na prostituta pois se deseja fazer com ela o mesmo que o faz puni-la. Por vezes as pessoas veementemente negam algo que querem ou são, e o fazem com violência, numa tentativa de vencer a falta de autocontrole pelos próprios desejos. A segunda é um texto de Samuel Johnson onde um jovem escuta de um filósofo que, resumidamente a "razão é saudável e as paixões são instáveis e traiçoeiras". Porém esse mesmo filósofo perde sua filha no dia seguinte a esse discurso e praticamente ignora todo esse autoconhecimento adquirido. Quando argumentado pelo jovem, ele dá de ombros: "Que conforto a verdade e a razão podem me oferecer? De que servem neste momento a não ser para me dizer que minha filha não voltará?" Para o autor: O que Johnson capturou com brilhantismo é a dimensão inerentemente trágica da existência humana, dimensão que só a literatura e outras formas de arte, mas não a psicologia, podem capturar, e que é a vocação da psicologia negar e ocultar com o verniz da ciência. Sem uma apreciação da dimensão trágica, tudo é raso; e os que não têm estão destinados à uma vida desagradável e bruta, se não necessariamente curta."
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