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Filosofia Verde - Roger Scruton - Resumo

  • Foto do escritor: Canal Resumo de Livros
    Canal Resumo de Livros
  • 10 de mar. de 2019
  • 30 min de leitura



Filosofia Verde - Roger Scruton - Resumo


Capítulo 1 - Aquecimento Local

Hoje, as pessoas não associam mais a palavra conservador a conservação que ela denota. Para a maioria das pessoas, conservador é apenas uma pessoa que se preocupa unicamente com o lucro independente da natureza. Esquecem que os governos socialistas foram os que mais poluíram com a menor produção, ou seja, conforto para seus habitantes. O livre mercado normalmente está associado com melhoras ambientais, por mais que se diga o contrário.

Acontece que termos como conservadores e socialistas vão mudando o significado com o tempo. Hoje nos EUA por exemplo existem diferentes tipos de conservadores. E mesmo os socialistas, normalmente associados com poluição, hoje são vistos como os defensores do planeta.

O autor propõe que a resposta não está nas grandes empreitadas globais de mudança de hábitos, mas sim nas pequenas, na comunidade. Mudar alguns hábitos ruins, como fast foods, podem ser difíceis mas necessários. Na filosofia de Burke temos esse elemento do herdeiro. Somos os herdeiros das terras deixadas por nossos pais, e deixaremos para os nossos filhos. Apenas com essa atitude de conservação, de amor ao que é próximo, será possível algum controle sobre o futuro.

Não é o que as grandes ONGs que pensam. Eles acreditam numa abordagem em escala global. O que facilita a criação de vilões (o grande capital, as nações mais ricas) em detrimento da conscientização e abolição de vícios que fazem a comunidade e o dia a dia mais poluído.

É apenas com o amor ao lar (oikofilia) tão pregada pelos conservadores, que uma mudança em escala global pode ser possível. Acreditar que apenas atitudes em larga escala resolvem problemas, acaba criando uma sensação de desastre mundial eminente que é por vezes refutada. Essa sensação entretanto acaba criando seus próprios problemas ambientais, como no caso da Shell, que teve que desmanchar uma base petrolífera devido a uma ONG internacional, que não se afetou em nada do problema para o ecossistema local que essa obrigação sem fundo científico nenhum causou.


Capítulo 2 - Pânico Global

Por mais que a solução "comunitária" seja a mais conveniente, sabemos que existem problemas de escala global em que essa estratégia não é tão efetiva.

O primeiro passo é saber ser seletivo a quais problemas, ditos como globais, são realmente verdadeiros. Uma pessoa bombardeada por notícias apocalípticas, acaba por acreditar que o mundo aumentará 6 graus até o fim do século, como dito por Mark Lynas, sem nenhum estudo relevante. Acontece que as pessoas que não são da área biológica terão poucas fontes confiáveis para suas informações, acabando na mão de oportunistas com Al Gore, que usaram esse tipo de pauta para se promover politicamente.

Nesta área da ciência não existem leis físicas fixas, tudo é muito arbitrário e empírico. Assim, as informações não são simples de serem entendidas. Mas é fato que algumas atitudes humanas causam o aquecimento. Também é fato que tecnologias desenvolvidas por empresários (tão demonizados pelos esquerdistas ambientalistas) fornecem métodos para minimizar os danos causados pela poluição humana. Este tipo de ferramente permite que alterações ambientais sejam menores, sem comprometer o conforto e o consumo das pessoas.

Para resolver definitivamente qualquer problema que envolva o meio ambiente, será necessário um maior controle da energia. O contínuo investimento em fontes limpas é necessário. Estes simples detalhes mostram a importância da iniciativa privada na resolução de tais problemas.

Alguns argumentam que não temos como nos adaptar as mudanças climáticas, mas o autor faz uma boa analogia com a Revolução Industrial, onde crianças que tinham acabado de sair de uma situação de extrema pobreza devido ao feudalismo, agora trabalhavam em indústrias numa situação também ruim. Devido a riqueza de determinadas pessoas, foi possível tirar essas crianças das fábricas e dar um futuro para elas e um presente melhor para seus pais. Esse tipo de adaptação devido à caridade também será possível, conseguindo manter assim civilizada durante as mudanças climáticas. Nas palavras do autor: É precisamente na definição e na manutenção desse “nós” que a política conservadora, como a defendo, se orienta. Sacrifícios são feitos por comunidades específicas; projetos de grande escala (como os da geoengenharia) são empreendimentos de países capitalistas ricos.


Capítulo 3 - Em Busca de Salvação

Percebeu-se a necessidade da propriedade privada ao atacar problemas ambientais. A tragédia dos comuns, ou seja, problemas que ocorrem em locais públicos como matas e oceanos, são uma evidencia de que o estado não tem capacidade de gerir um problema desse porte.

Os termos esquerda e direita aqui, diferente da Revolução Francesa, vão nos indicar as identidades, que são reveladas na estrutura das escolhas coletivas. Para resumir, os capitalistas (direita) acreditam no livre mercado e os socialistas (esquerda) acreditam num planejamento central.

Esses conceitos foram levados aos debates sobre meio ambiente. Acontece que muitos se confundem ao acreditar que as grandes oligarquias que estão “acima da lei” são fruto dos monopolos invisíveis do capitalismo. Essas empresas chegam nessas posições por usarem da estrutura governamental, do seu monopólio da força para o roubo publico por meio de impostos e assim fornecer auxílios financeiros a essas empresas. Os conservadores veem a política como mesa aberta de negociações, entre interesses conflitantes, cujo objetivo é a paz. Essa concepção não vinga entre os políticos de esquerda, que favorecem as grandes transformações sociais e programas as estruturas que estão no caminho. Essa luta é exatamente o que o ressentimento exige: não se trata apenas de elevar o azarão, mas de humilhar o poderoso Überhund. Esse ressentimento nietzschiano é importante para entender o ódio de certos setores da esquerda a iniciativa privada, e parte dessa demonização toma força associando essas empresas aos problemas ambientais. Por quererem construir um novo mundo com um novo homem, esses intelectuais de esquerda não aceitam ajustes de pequena escala, como os propostos por conservadores. Essa ideia de politica absoluta estava muito bem definida nas ações de Lenin, e posteriormente apoiadas por Stalin, Hitler, Mao, Pol Pot, Trostky, Sartre, etc. Ajuda para entendermos a associação de medo do risco com esquerda, primeiro porque ela promove empregos com total segurança estatal devido ao pagamento de impostos, segundo, porque temos resíduos de antigos medos e panicos, assim, qualquer ambientalista maluco dizendo que o fim está próximo vai ao encontro desse medo, e também das teorias socialistas de Lenin que sobre a escravidão do povo trabalhador, que morreria de fome.

A verdade é que uma politica genérica nunca resolvera os problemas complexos que surgem devido a questões ambientais. Muitos desses problemas são locais, de tal forma que uma visão centralizada do problema, como na economia, só aumenta os problemas. O livro é vasto em exemplos, um em específico, que cita que a propriedade privada de uma floresta foi tirada de seu dono para o "cuidado do estado" só causou danos a propriedade e problemas ambientais. Assim, a solução é privatizar, para que reais e locais cuidados sejam feitos, evitando que um órgão muito distante da situação tome atitudes que não vão surtir em problemas para eles, mas muitos problemas para os que estão próximos.

Diferente do que os socialistas dizem, é apenas o livre mercado que dará jeito nesses problemas. Quando os socialistas tiveram poder para controlar os danos ao meio ambiente não o fizeram, sua administração centralizada não dava conta de criar tecnologias para melhor uso das matérias primas da natureza, não tinha concorrência e assim fazia produtos de baixa qualidade com alto custo de produção. Nas palavras do autor: É verdade que não se deve confiar nas pessoas quando as soluções de seus problemas são monopólio do Estado. Soluções estatais criam uma estrutura de diretivas impessoais e fechadas que afastam naturalmente as pessoas. As soluções estatais estão geralmente abarrotadas de aproveitadores e parasitas, ou de gente que vê vantagem em adotá-las somente na aparência, enquanto, na verdade, delas se furta. Esse é um constante lamento dos ambientalistas: toda solução que parece perfeita, em teoria, esfacela-se na mão dos governos. Isso se torna mais óbvio à medida que o problema se amplia.


Capítulo 4 - Precaução Radical

O autor mostra que reações exacerbadas a problemas ambientais por vezes aumentam mais os desastres do que previne-os, além de tirar a possibilidade das pessoas desenvolver o senso de risco que foi tão útil aos seres humanos para chegar ao topo da cadeia alimentar.

O chamado Principio de Precaução, pregado pelos comunistas verdes diz que “nenhuma tecnologia humana deve ser usada até que se prove inofensiva aos seres humanos e ao meio ambiente”. Tomando ao pé da letra nada poderia ser utilizado, porque qualquer advento impõe algum risco. Não existiriam acidentes de avião se não houvessem aviões, por exemplo. Este justifica tudo o que os burocratas fazem, já que eles de nada precisam além de uma avaliação científica “preliminar” que lhes sugira “motivos de preocupação” com “potenciais” efeitos que “podem” ser incompatíveis com o “alto nível de proteção” que esses próprios burocratas escolheram.

Essa centralização das regulações, que na Europa é feita pela União Europeia, acaba permitindo o lobby de grandes empresários para reduzir seus riscos de empreendimento e controlar ainda mais o comportamento das pessoas, engessando-as em relação a como agir com o ambiente. Mesmo quando não há proibição explícita do risco, do tipo proposto pelo princípio, as burocracias considerarão os riscos um a um e se empenharão na redução de cada um deles a zero, desconsiderando os custos. Normalmente, reduz-se um risco a zero quando se aumenta o risco em outra parte, mas os riscos aumentados serão problema de outro departamento – portanto, ignorados. Um exemplo muito doloroso desse tipo de politica foi a necessidade de veterinários para o abatimento de gado na Inglaterra, isso inviabilizou a carne de pequenos criadores. Também proliferou muitas doenças. O que era um foco na segurança alimentícia acabou se tornando um problema maior.

Para o ativista, esse tipo de luta desmedida é boa. Ele não tem meios para pensar em nada melhor. Sua forma preferida de regulamentação terá um caráter absoluto: um “não” incondicional perante o “sim e não” de seus oponentes. O ativista joga uma partida de soma zero; caso vença, seu adversário perde, e não há espaço para concessão.

Estes esquerdistas que acham que o mundo é um antro de riqueza dese seu início esquecem que foi devido a relação do homem com o risco que conseguimos nos adaptar as situações adversas de nossa existência e evoluir. Quando as pessoas esquecem a existência de riscos, elas acabam se tornando relapsas, aceitando qualquer coisa como normal, e o que lhes dizem que é perigoso, rejeitando sem nem refletir. Esse comportamento tóxico pode ser observado nos jovens ingleses, que, por exemplo, perderam o amor ao risco que a tradição de escoteiros lhes fornecia. O grande estado de bem-estar social os engessou e os deixou burros e relapsos.

A interpretação errada de eventos problemáticos no que refere a clima é um exemplo. No Japão, um país altamente atingido por tremores de terra, teve sua lição com o acidente nuclear de Fukushima. Mas nada disso tem qualquer comparação com regulações a usinas nucleares na Europa, local onde não há tais tremores. Porém, para ficar bem com certo tipo de eleitor, os políticos promovem essas atitudes sem sentido, que acabam refletindo em questões energéticas sérias, que eventualmente caem na conta de políticos que não tinham a ver com a regulação das usinas.

A resposta racional ao risco e à incerteza não reside, portanto, na concentração de esforços destinados ao risco zero, mas sim no equilíbrio de custos e benefícios, levando-se em conta a expectativa de resultados negativos. Ao eliminar um risco por completo, abriremos o caminho expresso para outros riscos: proteja os motoristas com cintos de segurança e os pedestres estarão mais ameaçados do que nunca; obrigue as pessoas a parar de fumar e assista a uma compulsão alimentar; proteja as fazendas das pestes e testemunhe a exposição aos pesticidas.


Capítulo 5 - Soluções de mercado e Homeostase

O autor propõe que o mercado, ainda que não seja a forma mais simples de intercomunicação social, certamente é a mais clara, e nele a responsabilidade dos indivíduos atua como um princípio de ligação. Alguns dizem que os problemas ambientes surgem das falhas de mercado, ficam do lado dos ambientalistas políticos dizendo que a ganância é que causa todo o mal. Acabam se esquecendo que boa parte dos problemas ambientais que ocorrem é devido a tragédia dos comuns, esta sim que surge quando a lógica do mercado e da instituição da propriedade privada não está presente.

Uma solução que não envolve a centralização do estado, proposto por alguns desses ambientalistas, foi o que ocorreu na Noruega. Lá os pescadores se tornaram donos das águas onde podiam pescar bacalhau, assim, essa pesca que estava fadada a deixar de existir devido à ganância de alguns, acabou tomando uma organização e poder por parte dos pescadores que apenas a propriedade privada poderia fornecer.

Elinor Ostrom mostrou numa abordagem a priori em seu livro "Patrimônio Comum dos Recursos" que as soluções equilibradas para problemas ambientais só são possíveis com propriedade privada. A experiência mostra isso, como na questão da desertificação da Espanha, ou a cooperação para a preservação dos prados alpinos da Suíça. Soluções que surgem de baixo para cima são sempre as mais efetivas, pois respeitam a lógica da tragédia dos comuns. A privatização do mar foi a solução para Islândia e nova Zelândia na questão da pesca.

Algumas soluções para materiais não renováveis também só surgem na colaboração entre pequenos pelotões, como os cientistas, que desenvolveram uma solução ótima para o mercado na fibra ótica, afinal, o cobre é caro e escasso. Com esse novo material, temos mais eficiência sem degradação da natureza.

Quando problemas ocorrem, o livre mercado também fornece soluções muito melhores. O caso do derrame de petróleo no Golfo do México deixa isso claro, pois altas taxas foram cobradas dos responsáveis. Isso não ocorreu, por exemplo, na URSS, quando houve o acidente nuclear, que por muito tempo foi até mesmo negado pelo estado soviético.

Ocorre que as vezes quem causa um problema tenta externalizar seus custos. A lei consuetudinária inglesa de responsabilidade civil, que pode ser considerada uma das grandes realizações dos povos de língua inglesa, adaptou-se a esse tipo de circunstância, desde o início da era industrial, não somente por meio do antigo direito de reparação por incômodos causados mas também pela criação, durante o século XIX, de um estrito compromisso jurídico de reparação de danos mediante de indenizações. Em outras palavras, é apenas com uma lei dura e imparcial que problemas externalizantes são possíveis de ser solucionados. Um estado grande como a URSS nunca conseguiu resolver esse tipo de problema, até porque não é lucrativo para eles causarem muito danos a grandes empresas que agem sem responsabilidades, como no caso das barragens o Brasil.

Mas como reorientar o funcionamento do mundo na direção de uma manutenção doméstica? Em primeiro lugar, governos favorecem determinados grupos e setores. Em segundo lugar, regulamentações de cima para baixo desagregam o risco. Em terceiro lugar, uma regulamentação coerente requer uma hierarquização dos problemas conforme o grau de seriedade, com a fixação do custo da solução. Em quarto lugar, regulamentações de cima para baixo inevitavelmente transferem problemas e soluções para um organismo central de tomadas de decisão.

Caso abandonemos a motivação humana destinada a tomar a frente quando os mecanismos de mercado fracassam, então soluções reais dos problemas ambientais continuarão uma quimera. Esse espírito nasce da percepção de que determinado problema é nosso problema; portanto, meu problema, como membro de uma comunidade. Esse sentimento desaparece quando burocracias anônimas confiscam nossos riscos e fingem que podem extingui-los por meio de regulamentações. Todas essas instituições, combinadas com a da propriedade privada e com a do livre mercado, criam uma rede eficiente de sistemas homeostáticos, nos quais erros são corrigidos e riscos são equilibrados à medida que surgem.

Os dois lados políticos tendem a pensar de forma diferente a resolução de problemas ambientais. Os esquerdistas acreditam que apenas com uma grande revolução por parte do estado é possível livrar eles de vez. Aos olhos dessas pessoas, os fracassos do mercado e seus efeitos colaterais são motivos mais do que suficientes para a adoção de amplas políticas de reforma, que, inevitavelmente, convidarão o Estado para o papel principal.

Os pequenos pelotões de Burke, resolvem essa situação de forma melhor, como já observado. Ao desenvolver esses argumentos, Burke fez uma observação vital: os revolucionários eram defensores ferrenhos do contrato social de Rousseau, e estavam ansiosos por estabelecer uma nova concepção de legitimidade, segundo a qual o consentimento do cidadão, em vez do direito herdado do monarca, constituiria o fundamento da ordem política. Mas, segundo Burke, quem são os cidadãos e como o consentimento deles será solicitado e integrado. Caso a sociedade seja um contrato, ela não pode ser apenas um contrato entre os que vivem, mas sim um que inclua os mortos, os vivos e os que vão nascer – resumindo, não pode ser um contrato, mas uma relação de confiança em que herdeiros vivos detêm um patrimônio que será legado aos seus descendentes. Burke está afirmando que os movimentos revolucionários destroem o capital social e que, em contrapartida, os pequenos pelotões o preservam. O conservador dirá que o mesmo vale para o capital ambiental.

Por tudo isso, a intervenção governamental aumenta os riscos ambientais ao desencorajar as pessoas a estabelecer preços sobre os riscos e assim adquirir, como resultado, a resiliência necessária para se adaptar aos perigos e prejuízos. De fato, a fraqueza da posição que John Gray descreve como “neoliberal” – a supervalorização ideológica do mercado como o único remédio dos problemas sociais e econômicos – é a sua recusa de fazer a distinção (aparente às pessoas mais ou menos sensatas) entre o grande negócio e o pequeno. Elas fizeram mais para encorajar o livre empreendimento do que praticamente quaisquer outros instrumentos legais ao possibilitar que pequenos investidores usassem suas poupanças para abrir um negócio próprio sem precisar arriscar todo o seu patrimônio.

Sejam lá quais forem os efeitos adversos das empresas (limitadas e de capital aberto), não deveríamos, todavia, tomá-los como motivo para acolher com alegria as intervenções estatizantes. Toda vez que o Estado interfere nesses assuntos, ele o faz blindando tanto quanto possível os grandes executivos, de forma que quanto mais irresponsáveis forem maior será a probabilidade de o Estado livrá-los de consequências indigestas.

Além do mais, não é somente o caso de poder haver um desastre ambiental; esse tipo de negócio retém vasta quantidade de capital humano que poderia ser efetivamente deslocado a outros setores da economia – por exemplo, no desenvolvimento de energia limpa. Essa queixa não é trivial. É difícil encontrar um setor industrial, no mundo de hoje, que comporte tamanho volume de habilidades, conhecimento e perícia como a indústria de veículos dos Estados Unidos. O mesmo pode ser dito sobre a politica.

Todos os problemas ambientais com os quais temos de lidar, incluindo a mudança climática, têm esta estrutura: são problemas que surgem quando os agentes escapam dos custos de suas transações.

Capítulo 6 - Economia Moral

Os problemas ambientais são de ordem moral, e não econômica. As teorias dos jogos e outras ideias a priori levam todos a tragédia dos comuns, ou seja, nossas escolhas estão sempre diante das escolhas de terceiros. Neste capítulo, se discutirá por que a busca por uma “ética do meio ambiente” ainda não trouxe uma solução aos problemas que venho discutindo.

Pensar de forma utilitarista é um erro. O axioma utilitário nos exorta a maximizar o bem, e isso significa considerar os interesses de todos os que possam ser afetados por nossas ações. Por conseguinte, ou temos o caso de uma ética utilitária antropocêntrica, que considera somente os interesses humanos, ou a temos em formato não antropocêntrico, que obter as grandes somas que nos permitam comparar um futuro infinito com outro?

Existem vários possíveis futuros na cabeça dos teóricos, nenhum claramente melhor. O que nos motiva a pensar desse jeito ou agir em razão de resultados? De fato, é espantoso saber que a raça humana ainda comporta pessoas que recomendam modos de vida com base em raciocínios utilitaristas, e o fazem como porta-vozes da razão num mundo repleto de desejos irracionais. Devemos recordar que os utilitaristas tiveram muitas oportunidades para mostrar o real alcance de sua filosofia. Lênin, Stálin e Hitler justificaram suas políticas em termos utilitaristas, defendendo que sacrifícios de curto prazo trariam benefícios de longo prazo.

Comparamos resultados ao julgarmos que algo é “melhor” e ao esperarmos encontrar o “melhor de todos”; e essa forma de raciocínio é governada por princípios a priori de escolha racional, que se aplicam igualmente ao âmbito econômico. Nossa repulsa contra o utilitarismo é certamente uma adaptação – mais do que uma adaptação, uma vez que captura uma verdade fundamental a respeito do raciocínio prático; ou seja, que as razões são passadas de pessoa para pessoa. Ao fornecer-lhe razões é que posso tentar assegurar a sua permissão, para que então você seja aquilo que pretendo, e que defenda as minhas posições.

Se utilitarismo não resolve nossos problemas, talvez algo totalmente humano resolva, que é o nosso amor por coisas que são inuteis. Dentre todas as espécies, só nós nos damos ao luxo de apreciar o inútil. O amor pelas coisas inúteis têm a sua utilidade – não apenas para as gerações presentes, mas também para as futuras. Ao respeitarmos o valor intrínseco da vida selvagem, perpetuamos os seus valores instrumentais – sua contribuição à biodiversidade, aos ecossistemas e a todos que recebem seus benefícios.

A questão de direitos é meio confusa quando colocamos um individuo que não consciente, como é a natureza. Foram poucos os filósofos que se excederam a ponto de afirmar que árvores têm direitos. Não estou convencido de que devemos atribuir “direitos” sequer aos animais, mesmo quando fazemos tudo para salvaguardar os seus interesses. Não obstante, reconheço que é inadmissível construir uma estrada no meio de um hábitat precioso apenas porque seria momentaneamente útil aos seres humanos. Será que ele de fato quis dizer que devemos acolher positivamente um ecossistema sustentável no qual leopardos regularmente se banqueteiam com crianças e que deveríamos nos opor àqueles que, ao expulsar leopardos, promovem uma explosão insustentável da população humana? Não há como saber.

Kant talvez seja o filósofo que nos de a solução para o problema de não "individualizarmos" a natureza. É apenas com uma relação que funde transcendente e empírico, como é a em segunda pessoa, que poderemos criar uma perspectiva a longo prazo, nos importando com as pessoas do futuro como com as de agora. Kant adotou a posição extrema de que a moral seria o exercício da “pura razão prática”; para ele a razão, por si mesma, pode ser motivo para a ação, e nos compele a fazer o que é certo por meio de uma força comparável à força que tem a lógica na conclusão de um argumento; a moral está fundada sobre um “imperativo categórico”: um imperativo da razão, que pode ser violado apenas quando se gera uma contradição.

Uma visão só empírica não resolve, existem várias nuances que caso a caso não é possível resolver. A preocupação com as gerações passadas e futuras é criada por vínculo, e murchará sempre que for arrancada dessa raiz. O motivo moral se estende pelo mundo em pontes antropocêntricas; antes, porém, é fundado em relações racionais de retribuição – de indivíduo para indivíduo – e por meio de laços de solidariedade que se tornarão mais frágeis à medida que aumentam a distância entre as pessoas. O senso de responsabilidade pode abraçar toda a natureza e toda a escala temporal, mas somente ao disseminar, com máxima transparência, a solidez das relações solidárias entre pessoas de carne e osso.


Capítulo 7 - Heimat e Hábitat

Alguns estudiosos afirmam que nosso apego ao lar vem de relações apenas neurológicas cujas circunstâncias há muito deixamos para trás. Não obstante, essas adaptações nos predispuseram a nos desenvolver de uma forma particular, impondo limites sobre a variação cultural e social. Deve haver, também, uma explicação no nível racional que percebe a motivação como oriunda de uma relação entre seres dotados de autoconsciência, que se reportam de um self para outro self. Burke dá sinais dessa explicação nas suas ideias conservadores na época da Revolução Francesa. No transcorrer de seu argumento, Burke desenvolve três ideias que representavam o cerne do pensamento conservador, e acredito que ainda compreendam o núcleo desse pensamento: respeito aos mortos, o “pequeno pelotão” e a voz da tradição. Ela surge do amor, e um amor que se orienta para o desconhecido nasce daquilo que é conhecido. O futuro é desconhecido, assim como as pessoas que o habitarão. Mas o passado é conhecido, e os mortos, os nossos mortos, são ainda objeto de amor e veneração. Para Burke, é na família, nos clubes, nas associações, escolas, igrejas, equipes e universidades que as pessoas aprendem a interagir livremente, cada qual assumindo responsabilidade por suas ações e responsabilizando as ações de seu vizinho. As relações culturais, tal qual as relações econômicas na economia austríaca, só ocorrem quando há participação de todos os membros da sociedade de forma descentralizada.

Os filósofos iluministas criaram a ideia de "contrato social". Embora sejam muitas as concepções de contrato social, o seu princípio foi anunciado por Hobbes com a afirmação de que não pode haver “nenhuma obrigação sobre qualquer homem que não surja de algum ato dele próprio. Hegel, por outro lado, dizia que a sociedade não se baseia num contrato: é a esfera do contrato, na qual as pessoas criam, por meio de acordos livres, as instituições, corporações e redes sociais que formam o estofo da vida em comunidade. O cidadão de confiança é produzido pela família, e a lei é imposta pelo Estado. Não obstante, nem o Estado nem a família se fundam num contrato, mas ambos precedem o indivíduo e pressupõem a livre associação por meio da qual indivíduos se reúnem na formação de uma ordem política durável.

Tudo isso é só uma forma intelectual de demonstrar o que grandes artistas definiram como oikophilia, o amor a morada. Os seres humanos vivem no mundo da natureza, e buscam explicá-lo por meio de categorias científicas e leis causais. Mas também vivem no “mundo natural”, diante do qual a atitude fundamental não é de explicação, mas de pertencimento. Esse mundo natural é um “mundo que nos cerca” (Umwelt) e um “mundo de vida”

(Lebenswelt). Ele é conhecido pelas aparências, que conceituamos na clave de nossos interesses e necessidades, e não em termos que nos permitissem explicar como ele funciona. Por exemplo, os conceitos de casa, ferramenta, amigo, lar, música; o nobre, o majestoso, o sagrado; legalidade, polidez e justiça. Tentar imaginar seres racionais que viveram sem esses conceitos, que nunca dividiram o mundo entre amigo e inimigo, sagrado e profano, justo e injusto, pátria e estrangeiro, é imaginar uma raça de criaturas não humanas, com as quais não poderíamos nos relacionar da mesma forma que nos relacionamos uns com os outros: de um eu para outro eu.

Hoje, o que não falta são meios de diminuir a importância do lar na vida das pessoas, seja em meios políticos como em pessoais. Ciência e pseudociências, da psicanálise freudiana à “neurociência”, que influenciam a psicologia de nosso tempo, encorajam-nos como autômatos, meros subprodutos de processos que não controlamos. Somos tentados por essas teorias, uma vez que elas simplificam nossos envolvimentos, anulam a esfera de responsabilidade e nos permitem vagar, sem culpa, ao sabor dos apetites presentes. Uma vez que as pessoas se entregam a essa tentação, começam a desperdiçar tanto a si mesmas quanto o mundo. O passado é deixado de lado. A duração é uma característica do Lebenswelt, e a forma como o recebemos compreende parte importante daquilo que somos. O passado vive em nós como um lugar de sendas não trilhadas, de decisões e de compromissos, e quando experimentamos o mundo dessa forma é que adquirimos o senso de intendência zelosa. Aprendemos a ver que o momento presente é também passado, mas o passado de outro que ainda está por vir.

Acreditar que o lar é uma entendida global não é a solução para os problemas, pois tira o amor construído no lido com o outro e com as condições que lhe são impostas pela vida. Essa primeira pessoa do plural é a precondição de uma ordem política que se opõe à ordem sagrada, e deve ser salvaguardada a todo custo, pois o preço de perdê-la significará uma completa desintegração social ou até mesmo uma tirania assombrada por uma classe política sacerdotal – a posição de base das comunidades humanas. Existe uma lealdade pré-política que pode ser utilizada de forma eficiente na resolução dos problemas ambientais e é definida pelo lar, pelo território e pelo povoamento comuns, nos quais o “sentimento de responsabilidade” se encontra enraizado.

Por fim, a tecnologia acaba se tornando um vilão para desenvolvermos o sentimento de pertencimento, afinal, as redes sociais e os aparelhos que usamos quase de forma descartáveis vão totalmente contra a ideia de perenidade e pertencimento. Essa luta contra o pertencimento ganhou muita força depois da segunda guerra mundial, onde se confundiu nacionalismo com xenofobia. O politicamente correto é a forma semântica dessa luta contra a oikofilia, por exemplo. Esse vácuo criado por esse comportamento politico acaba causando problemas ambientais na prática. Afinal, se ninguém se preocupa com um pedaço de terra, sempre haverá alguém para abusar dele.


Capítulo 9 - Beleza, Piedade e Profanação

Os progressistas do começo do século XX na Inglaterra tinha uma visão de mundo que deveria ser a acredita por todos: o amor a comunidade. Eles tinham a convicção de que a grandeza da Inglaterra era devido a seu povo e por isso odiavam o Partido Trabalhista, este de comunismo internacionalista. O autor expõe então porque essa vista internacional da solução de problemas políticos não tem nenhum resultado positivo nas questões ambientais.

A falta de oikofilia (amor ao lar) é um dos grandes problemas que afeta a China, um país que cresce rapidamente mas, por não ter essa base moral, acaba não sendo um bom local para a manutenção de investimentos. Eles, por não ter amor a tradições e localidades, acabam por não respeitar o povo e mesmo contratos, tornando assim perigoso investir lá. Uma lei que não é respeitada causa esse tipo de fenômeno. O mesmo acontecia (e acontecerá) quando o continente africano enriquecer, pois lá os sentimentos são apenas tribais, surripiar o próximo faz parte dessa cultura egoísta.

Mais efetivo que legislações positivadas é a tecnologia para evitar problemas ecológicos. O progresso tecnológico tornou possível o uso de material biodegradável nas embalagens normais, e não existe custo insuperável que se imponha sobre medidas de contenção de garrafas plásticas e frascos plásticos. Tais medidas removeriam rapidamente o plástico do meio ambiente das nações que as adotassem.

Filantropia é uma boa iniciativa para essas questões quando feita de uma maneira interpessoal. Todavia, quando olhamos para os fatos, a ideia de um governo transnacional perde credibilidade. Essas instituições transnacionais, da forma como emergiram do processo de globalização, ou são dependentes dos Estados nacionais em sua legitimidade e motivação, ou então serão vistas como sintomas de doença em vez de cura. Corporações multinacionais e ONGs existem dentro do espaço institucional criado por Estados nacionais, e seria uma fantasia produzir uma forma de governança que, no fim das contas, não se baseasse aberta ou veladamente em jurisdições territoriais estabelecidas pelos Estados.

Apenas a razão não é suficiente para buscarmos soluções, afinal nem sempre ela é seguida. Assim, a verdadeira resposta para termos respeito com ambientes que não são nossos por propriedade é que desejo viver segundo as expectativas daqueles aos quais pertenço. Faço distinção entre as pessoas que são minhas e as que não são minhas, e parte do que está envolvido nessa distinção é que as opiniões dos que são meus importam para mim. Pessoas comuns, diferente de intelectuais e empresários multinacionais não pensam da mesma forma nesse ponto. Para as pessoas comuns, seu sentido de pertencimento está ligado a uma localidade, uma linguagem, um conjunto de costumes e afeições familiares. Pessoas comuns compreendem a grande maioria, e o sentido que têm de cumprimento da lei é, portanto, da mais alta importância. Logo, algum elemento de lealdade nacional é precondição do direito, do direito internacional inclusive, e este é construído, embora de forma precária, sobre fundações domésticas.

Instituições internacionalistas como a União Europeia não tem a condição estrutural de dar soluções para os problemas aqui expostos. Na União Europeia, não há poder imperial; portanto não há agentes da lei com missão civilizadora que permaneçam ligados uns aos outros, como os romanos aos romanos e os britânicos aos britânicos sob a jurisdição do respectivo império. O que há é somente burocratas sediados num país, a Bélgica, notório por seu fracasso em produzir um sentimento de unidade nacional e, agora, prestes a se desintegrar. Seus investimentos em legislações e burocracias acabam desviando focos do que realmente soluciona problemas: tecnologias de fontes alternativas de energia.

Essas burocracias em vez de ajudar acabam atrapalhando. Por toda a Europa, campos, rios, lagos e jardins estão entulhados de garrafas e sacolas plásticas, e a produção per capita de lixo em embalagens varia de cem quilogramas/ano na Finlândia ao dobro desse número na França. Não obstante, qual foi a reação da União Europeia? Exigir que todos os alimentos fossem embalados antes de deixar os centros produtores.

O autor propõe que só a soberania nacional construída sob a intendência de tradições e laços familiares pode dar cabo de resolver questões que os internacionalistas não conseguem. Como a experiência dos Estados Unidos nos confirma, uma soberania relegada a um organismo federal é para ele transferida: os Estados da União perderam poderes, que foram repassados para o governo federal, e uma vez transferidos eles não podem mais ser readquiridos. O resultado, em determinado momento, foi a Guerra Civil, depois da qual os Estados da União retiveram uma soberania nominal.

Os maiores perigos do internacionalismo: as pessoas serão tragadas numa teia transnacional e acreditarão que engrandecem seu poder e suas escolhas, apenas para descobrir que ambos, poder e escolha, foram confiscados. Em determinado ponto, descobrirão que estão sujeitas a um poder ao qual não têm, tampouco podem ter, nenhuma lealdade instintiva – uma vez que a lealdade é um fenômeno local e histórico que não pode ser recrutado à força. Isso tem por consequência a “padronização” do mundo em algo acultura, sem alma para aqueles que consomem, como grandes produtoras de fast-food ou supermercados.

Nas palavras do autor: Creio que o único modo de nos prepararmos para essa contingência é parando de dar crédito a tratados punitivos que nenhuma nação tem motivo duradouro para honrar, como também nos sistemas transnacionais de governança, que erodem a obediência da qual dependem. Em vez disso, devemos reforçar nossa ligação com o Estado nacional e com os tipos de política que defendo neste livro, que colocam a pesquisa e o empreendimento na frente das regulamentações e dos controles.


Capítulo 10 - Engendrando em algum lugar

Nesses últimos capítulos o autor buscará soluções para os problemas apresentados a luz da visão conservadora. No decorrer do capítulo, ele mostra uma série de obras importantes da literatura inglesa onde o amor ao oikos é explícito, mostrando que a ação de cima para baixo para instigar o amor e a vontade de cuidar do ambiente é desnecessária. O belo, segundo Burke, não compreende apenas valor estético; na natureza, gentileza e harmonia se manifestam lado a lado com violência, vastidão e a estranha vacância dos oceanos e dos descampados. Assim sendo, beleza não é o suficiente para englobar esse importante assunto.

No fim do século XVIII, foi publicado o Ensaio sobre o Princípio da População, de Thomas Malthus, o primeiro dos muitos livros alarmistas sobre o fenômeno do crescimento – neste caso, o crescimento populacional, que se tornara evidente no fluxo em massa para as cidades e na repentina visibilidade das pessoas comuns. A miséria da terra e dos que nela trabalhavam foi uma preocupação central de William Cobbett, fazendeiro e ativista cujo Rural Rides, publicado em 1830, resumia duas décadas de ativismo ambiental, mesclado com longos períodos de caça a lebres e raposas. Embora a principal causa de Cobbett fosse a reforma parlamentar, seu ativismo foi contagioso e alimentou o desejo das pessoas de agir contra os danos sociais e ambientais que se tornaram visíveis no despertar da Revolução Industrial.

O direito inglês forneceu o conceito usado tanto na preservação das terras da aristocracia quanto para organizar, quando os aristocratas faliram, uma resistência à espoliação. A lei fiduciária permitiu aos proprietários criar pontos de fixação que eram passados de geração a geração, sob a vigência de termos que proibiam sua venda ou destruição. Mas, na época, o conceito de fiducial já havia começado a reagir, à medida que os oikofílicos se organizavam para proteger o seu país da destruição. Em séculos de vigência, o direito fiduciário ajudou os povos de língua inglesa a se formar sem se submeter a nenhum poder que não o de si mesmos. Essa tradição legal ofereceu proteção aos “pequenos pelotões” contra o Estado e contra o intruso e salvaguardou também os fundos de caridade, protegendo os estabelecimentos médicos e educacionais particulares dependentes desses fundos. Esses direitos de passagem (derivados da lei fiduciária) provaram ser, a longo prazo, uma das armas mais poderosas para prevenir invasões de larga escala das áreas naturais, uma arma que qualquer pessoa poderia usar nos tribunais, desconsiderando seu status social e seus direitos de propriedade.

No tocante aos movimentos de esquerda do começo do século XX, os socialistas se dedicavam à causa da transformação revolucionária, frequentemente associada aos esquemas futuristas de larga escala, como os que eram defendidos nas internacionais socialistas. A National Trust não era e nunca foi uma organização governamental, e chamá-la de ONG seria falsificar completamente o seu caráter moral. Trata-se de uma associação civil que concede privilégios a seus dois milhões de membros atualmente e se dedica a oferecer um exemplo nacional de intendência zelosa. Seus membros não são mobilizados em torno de campanhas, mas estabelecidos por um interesse comum que é sempre renovado com visitas aos lugares mantidos pela fundação.

O autor compara cidades que foram planejadas com cuidadas pelos próprios moradores e perceberam e diferença do cuidado com a natureza, essa dicotomia surgiu na comparação de Poundbury e Milton Keynes. Compare Poundbury e Milton Keynes e verá, de forma vívida, como iniciativas cívicas motivadas pelo sentimento de oikophilia diferem dos projetos estatais implantados sob o tacão de lobbies poderosos.

Em quase todas as controvérsias em que o meio ambiente da Inglaterra esteve em jogo, lares e hábitats estiveram ameaçados tanto pelos planos de ação do governo quanto pelas ambições de empreendedores privados, ao passo que o trabalho de preservação é sempre iniciado pelas associações civis, que passaram a receber apoio do governo somente depois que alteraram a percepção pública. Dizer isso não significa tomar partido contra o governo. É dever do governo arbitrar e, se possível, reconciliar interesses concorrentes. No entanto, isso confirma a tese deste livro de que a proteção ambiental vem da oikophilia, e não dos que usam dinheiro, influência e poder político para impor projetos de larga escala e autoritários.

Precisamos de uma filosofia da preservação que faça a distinção entre políticas que preservam a vida de uma nação e as que meramente conservam aquilo que já está morto. Afinal, nenhuma preservação faz sentido se direcionada apenas ao passado. É para o bem das futuras gerações que fazemos essas coisas. Essa é a mensagem de Burke e a mensagem deste livro.

Politicas de regulamentação agrícola resumidamente causam a obliteração da vida que brota na superfície do solo e sua substituição pelo verniz químico. O resultado é o declínio terminal do centro produtor local e da arte intendência zelosa por ele promovida. Brevemente, um meio ambiente que permanecera em equilíbrio homeostático por mais de dois séculos, em meio a um acelerado crescimento populacional e uma estrondosa expansão industrial, foi completamente destruído em cinquenta anos de grandes projetos de planejamento bem-intencionado.

Organizações gigantescas não tem a mesma efetividade que "pequenos pelotões" burkeanos para resolver esses sérios problemas. Ao analisar organizações como Cruz Vermelha, Lions, Elks, Liga das Eleitoras, escoteiros e ligas de boliche, Putnam descobre que, embora tivessem aumentado de forma estável ao longo do século XX, essas “associações secundárias” experimentaram, recentemente, súbitos e substanciais declínios em seus quadros de membros. Ele sugere muitas causas – como a maciça entrada das mulheres no mercado de trabalho, a ampliação do entretenimento doméstico, a mobilidade social e geográfica –, mas sejam lá quais forem os motivos, é certo que a oikophilia será muito provavelmente a primeira vítima do declínio dessas instituições.

Para concluir, o tema da mudança climática, cujo apelo se dá, em parte, ao internacionalizar a questão ambiental. A única resposta viável à ameaça de aquecimento global é a canalização de recursos para a descoberta de como poderemos produzir energia barata e renovável para então torná-la disponível a todos. Caso exista um papel do Estado em tudo isso, ele se situa no estímulo e no financiamento dessas pesquisas tão necessárias.

Da mesma forma que crianças educadas em sólidas relações de afeto se tornam adultos melhores e mais responsáveis do que crianças provenientes de lares despedaçados, nações que conduzem os seus assuntos num espírito de intendência zelosa, estimando sua identidade como um lar e encorajando o Heimatgefühl de seus cidadãos, tornam-se membros mais responsáveis da comunidade internacional.


Capítulo 11 - Propostas Modestas

Não é fácil traduzir filosofia em política, e as sugestões que faço neste capítulo são apenas provisórias, sujeitas à discussão e ao aprimoramento. O primeiro princípio de uma política conservadora é impedir que o Estado assuma atribuições que podem ser desempenhadas de forma muito mais eficiente pelos cidadãos. Para fazer de forma efetiva, deve-se levar em conta que não são aumentos de PIB que resolverão o problema, até porque por vezes eles estão associados com o aumento da poluição. Não é sustentável externalizar os custos da produção de lixo e da espoliação. Portanto, o primeiro passo, em qualquer política ambiental, será conceber um esquema de cobrar pela poluição e pelo lixo produzido, de modo que tanto produtores quanto consumidores se sintam incentivados a contê-los. Portanto, um passo para uma política energética convincente poderia seguir o exemplo dinamarquês e descentralizar a produção de energia. O resultado seria uma paisagem sem torres elétricas e indústrias que produzem sua própria energia usando fontes locais, como painéis solares ou processadores geotérmicos.

Quanto mais se emite, mais se paga. Além do mais, essa taxa deveria ser imposta sobre os produtos, independentemente de sua origem. Produtos altamente derivados da queima de carbono seriam taxados numa porcentagem correspondente à quantidade de carbono emitida na produção, sem levar em conta se são feitos na Grã-Bretanha, nos Estados Unidos ou na China, e o governo deveria usar esse imposto para financiar pesquisas.

Só vão existir soluções energéticas que não poluem se o conhecimento for compartilhando durante as pesquisas, independente de propriedade intelectual. O autor propõe que isso só será possível com auxílio do estado.

É evidente que as pessoas comuns estarão menos inclinadas a aceitar sacrifícios, em nome de seu meio ambiente, quando a ligação com a localidade está sendo substituída por uma competição entre tribos, famílias e religiões autoconstituídas. É difícil escrever sobre isso, tão grande é a intimidação pública sobre os que defendem controles migratórios ou sobre os que alertam contra o efeito fragmentário do multiculturalismo. Não obstante, é evidente que uma política ambiental conservadora, que não tenha estabelecido limites sobre a imigração e que não trabalhe na assimilação dos recém-chegados à oikophilia sobre a qual se assenta um Estado-nação em particular, não terá a menor chance de êxito.

não há razão social para que pequenos produtores e seus produtos não reocupem seu devido lugar na economia. Para que isso fosse possível, seria necessário eliminar as regulamentações de tolerância zero a que somente os grandes produtores podem se adequar. A curto prazo será impossível remover todos os subsídios do setor agrícola. É ilusório esperar que seja possível alimentar toda a população sem as grandes fazendas responsáveis pelas safras de batata e milho, mas o renascimento dos mercados locais mudará a forma como esses centros produtores geram e distribuem o que cultivam. Essa economia local sobreviveu intata até pouco tempo atrás, assim como se deu com outros interesses econômicos que mantinham viva a paisagem. A substituição desse tipo de produção local pelas redes globais de supermercado não é o resultado de uma competição livre e justa, mas sim de subsídios indiretos e regulamentações intrusivas – em particular as regulamentações referentes à “saúde e segurança”, às quais apenas os negócios centralizados podem se adequar.

O declínio das associações civis, documentado por Robert Putnam, tem muitas causas, e uma das mais importantes é o confisco, pelo Estado, dos poderes do cidadão. Muitos fazendeiros gostariam de vender sua produção em mercados locais. Regulamentações de saúde e segurança os impedem. Em geral, a política conservadora retorna as decisões e os riscos para as pessoas mais afetadas por esses riscos. Ela vê o Estado como um amigo da sociedade civil, e a sociedade civil como um organismo autorregulador, no qual resiliência e inventividade, em vez de regulamentação e dependência, são os instrumentos de sobrevivência.

A respeito do aquecimento global, a questão que perpassa a mente de todos é: o que faremos caso os piores cenários sejam verdadeiros? A resposta dos ativistas é simples: nós nos reuniremos em conferências internacionais e forjaremos um tratado que ponha um ponto final em nosso mau comportamento. A única resposta ao aquecimento global virá das ações dos Estados nacionais – ricos o bastante para conduzir pesquisas e atuar na escala exigida, suficientemente responsáveis para responder às necessidades de tamanha empreitada, dotados de uma opinião pública moldada pelo debate livre e aberto.


Apêndice I - Justiça Global

Embora possa haver agentes coletivos que infligem e/ou sofrem injustiça, “países” não estão entre eles. Nenhum governo pode responder às exigências de justiça global caso não se considere um real representante de uma nação, responsabilizando-se pelos erros e usufruindo o crédito dos acertos desse “nós”. Termos vagos como “país” podem ser usados em acusações emocionalmente satisfatórias de culpa coletiva, mas acusações se transformam em exigências definitivas somente quando pontuamos questões sobre agência, personalidade e responsabilidade trans geracional.

Alocação equilibrada não se confunde com alocação igual. Trata-se de uma operação que reconhece a responsabilidade desigual pelo estrago, como também o desigual poder para repará-lo. Os que devem ser acessados incluem nações como Grã-Bretanha, França e Estados Unidos. Mas também incluem as corporações, nacionais e multinacionais e entidades como a Gazprom (máscaras corporativas a serviço de forças políticas e de elites criminosas). Essa abordagem ao problema da compensação pressupõe os conceitos defendidos neste livro: identidade nacional, responsabilidade trans geracional. e preferência por iniciativas descentralizadas.


Apêndice II - Como Deveríamos Viver?

Muito antes da crise ambiental, os filósofos não falavam em uníssono sobre como devemos viver. Não obstante, a esperança era de que uma vida de virtude e uma vida calcada no dever coincidiriam em circunstâncias normais, e que ambas receberiam o apoio de nossos sentimentos piedosos. Durante a época desses filósofos, o desassossegado equilíbrio entre homem e natureza era ajustado pelo conflito e pela doença.

Compaixão pelas necessidades dos que agora vivem pode nos levar a desenvolver, explorar ou mesmo destruir os recursos naturais, ao passo que a piedade aponta para o sentido contrário, proibindo-nos de tocar as paisagens amadas ou perturbar delicados ecossistemas, sem levar em conta que isso pode prejudicar interesses e necessidades existentes. Assim que foi publicado o livro de Rachel Carson Primavera Silenciosa, houve uma forte campanha contra o uso do DDT, que matava os insetos e toda a cadeia alimentar da qual faziam parte. A campanha foi mundialmente bem-sucedida. Como resultado, a população de mosquitos na África foi às alturas, e muitos milhões de crianças que poderiam ter sobrevivido morreram de malária.

É claro que importa o que comemos – devemos ser cuidadosos para não comprarmos produtos que chegaram a nós pela via da destruição. Logo, não deveríamos ir ao supermercado; deveríamos comer a carne apenas de animais cuidados ou caçados de modo não cruel e de forma sustentável; deveríamos evitar produtos embalados e consumir alimentos produzidos localmente. E, talvez, passar as férias em casa, ou de qualquer forma em um lugar familiar e constantemente visitado ao qual pudéssemos chegar sem precisar incendiar o planeta. Não deveríamos criar animais domésticos ambientalmente destrutivos e carnívoros como cães e gatos. Deveríamos viver entre famílias, compartilhando os recursos, não para dividir o calor do corpo no aconchego, embora isso também seja bom, mas para gerar o recurso espiritual do qual a Terra depende: o lar e nossa ligação a ele.

A parte difícil é colocar a oikophilia em prática. Isso significa combinar-se com terceiros a fim de viver a vida cívica; significa resistir à entropia, seja quando ela vem de baixo, na forma de niilismo social, ou de cima, na forma de decretos oikofóbicos; significa criar e sustentar vizinhanças.

 
 
 

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