Introdução a Filosofia Moderna - Roger Scruton - Resumo
Capítulo 1 - História da filosofia e história das ideias
A natureza da filosofia poder ser apreendida mediante dois contrastes: com a ciência e com a teologia. A ciência, em especial, produz questões que ultrapassam sua própria capacidade de resolvê-las. Em contrapartida, a teologia apoia sua alugação numa doutrina metafísica, mas expressa essa doutrina dogmaticamente.
Cinco ramos de estudos aqui são relevantes: metafísicos, lógicos e epistemológicos, com éticos e de filosofia política, que chegam a níveis que nenhuma observação empírica pode dar resposta satisfatória. Um exemplo disso está na forma natural com qual julgamos menos um homem fazendo crime famélico do que um rico que rouba algo de valor. Assim, os problemas filosóficos acabam sendo formulados em termos que tendem a se referir a possibilidades, e não a realidade.
O autor afirma que, por mais que uma filosofia tenha muitas verdades lógicas, suas conclusões e implicações metafísicas são tão inalcançáveis quanto as de qualquer dos grandes sistemas especulativos.
Essas distinções são marcantes quanto comparadas com o método científico. Pois é natural que alguém que não entenda nada de história da ciência seja um bom cientista, mas na filosofia tudo que foi estudado em Platão e Aristóteles, recorrentemente está em voga. Diferente da ciência, na literatura e filosofia é impossível desvincular a situação social de quem escreve a seus resultados.
Capítulo 2 - A origem da filosofia moderna
O autor dá um apanhado geral em importantes filósofos que vieram antes da era moderna, e que eles tem contribuições estudadas por esses modernos.
Platão tinha uma abordagem transcendental da realidade. Ele dizia que a verdade sobre Deus e o mundo estava no pensamento a priori, e não na percepção sensível. Dessa filosofia surgiam perguntas abrangentes sobre a natureza de Deus, a possibilidade de sua existência, quais as leis que regem o movimento etc.
A Igreja Católica se apoio nos pensamentos de Aristóteles, essa soma deu-se o nome de escolástica (século XI e XII). A teologia dessa época pode ser resumida no tomismo de Santo Tomas de Aquino, nos seus estudos escritos na Suma Teológica.
1 - A doutrina da substância
Associar matéria e ideia era uma dificuldade estrutural, assim a ciência aristotélica, muito presa a essa dicotomia, foi rejeitada no decorrer do século XVII.
2 - A natureza dos universais
A ideia de universais está associada com a questão mais importante da teoria do conhecimento, que é até que ponto o mundo pode ser conhecido por essa razão. Guilherme de Ochkahm (1285-1349) tratou de criar uma forma de análise, onde o empirismo tinha papel essencial. Não era uma ideia antiga, pois como já dizia Santo Tomás de Aquino "nada há no entendimento que não tenha estado nos sentidos".
3 - O argumento ontológico
Este, muio bem sintetizado por Santo Anselmo diz: por Deus compreendemos um ser maior que o que de modo algum pode ser pensado. Essa ideia existe claramente em nossa mente e é a ideia de um objeto dotado de toda perfeição e todo atributo positivo. Mas se o objeto dessa ideia deve existir apenas em nossa mente, e não na realidade, deve haver uma ideia de algo que lhe seja superior, isto é, do ser que possui não só todas as perfeições já concebidas como também a perfeição adicional da existência real, o que é contrário a hipótese. Por conseguinte, a ideia do mais perfeito dos seres deve corresponder a realidade.
Outra importante questão é a suposta existência de um ser necessário, para responder a questão de toda a metafísica: por que existe alguma coisa? Ou por que deve o Ser ser?
4 - Livre-arbítrio e natureza humana
Por fim Santo Tomás de Aquino se rendeu aos importantes estudos de Aristóteles, que iam ao encontro de sua teoria teológica, principalmente na obra Ética a Nicômaco. Um importante sustentáculo dessa teoria é a razão prática a fim de proporcionar uma avaliação da liberdade humana.
5 - A rejeição da escolástica
No século XVII a escolástica foi deixada de lado pela corrente principal de pensadores, lideradas por Francis Bacon e Renê Descartes no chamado Renascimento. Em especial Bacon, que alegou que a lógica aristotélica, sendo de caráter puramente dedutivo, não prove método algum para a descoberta de novos fatos, mas apenas um meio de chegar as consequências lógicas do que se conhece. Este é um pensamento que reflete os novos conhecimentos científicos obtidos na época. Bacon também atacou o que considerou arbitrário e convencional na ciência aristotélica e, ao fazê-lo, introduziu sua doutrina das "formas", que prenunciou a que viria a ser cogitada por Locke, ou seja, a de que a ciência deveria lidar com o real e não com as essências nominais das coisas.
Parte I - Racionalismo
Capítulo 3 - Descartes
Renê Descartes (1595-1650) tem várias contribuições, na filosofia e na matemática. Ele foi contemporâneo de Bacon e Galileu, assim, sua filosofia foi influenciada por esses pensadores. Para ele, os resultados obtidos por toda especulação anterior a escolástica tinha de ser postos de lados ou suspenso até que se pudessem estabelecer princípios claros e indubitáveis.
Sua primeira obra importante foi "O Método". Ele sempre duvidou dos sentidos para a analise filosofia, tanto que em sua obra citada nos pedia para imaginar um espírito de tamanho e poder e malignidade que cause em nos todas as experiências e todas as crenças que lhes são associadas, com a intenção manifesta de enganar em relação a elas. Que garantia tempos de que a existência de tal "gênio maligno" não é a verdadeira causa da experiência atual?
Por acreditar totalmente no pensamento a priori, ele tentou buscar na expressão “eu penso” uma autoverificação. Também sentiu que poderia deduzir sua própria existência da experiência pensada. Só assim poderia concluir que a verdadeira pode ser validada por um argumento a luz da razão.
Dentro dessa lógica, buscou a comprovação da sua própria existência como “algo que pensa”, e como é impossível conceber a si mesmo sem pensar, acreditava que ai estava a resposta a priori para a existência. As consequências de se imaginar apenas como um ser pensante, sem a condição material acabou se tornando um problema em sua teoria.
Ele buscava a existência de um ser que fosse independente de si mesmo. Neste ponto surge o racionalismo e a tentativa de demonstração da existência de Deus. Ele suponha ser um ser impotente (o que é provado pelo fato de poder duvidar, e consequentemente não possuir conhecimento perfeito). Mas temos a ideia de um ser mais perfeito (de Deus), de onde vem tal ideia? Ela não pode ter sido concebida por nos, já que, pela luz natural da razão, é evidente que deve haver "tanta realidade (perfeição na causa quanto no efeito)". Visto que a ideia de um ser mais perfeito é a ideia mais perfeita, a sua causa deve também ser uma coisa perfeita. Consequentemente, não pode ser causada por mim, mas por um ser perfeito, isto é, pelo próprio Deus. Mesmo supondo a realidade em graus (ontologia) a ideia de perfeição última permanece.
Sobre a realidade das coisas, usou o exemplo de um pedaço de cera, que pode ser facilmente classificado pelos sentidos, porém, quando se faz uma análise mais próxima, ele demonstra uma outra realidade de elementos não observados. Assim, conclui que os sentidos não são absolutos na análise da realidade, e que ela própria está acima disso, apenas na busca a priori encontraremos ela.
Capítulo 4 - A revolução cartesiana
Tem se dito que Descartes foi um dos que colaborou com a derrocada da escolástica e a redução da filosofia apenas ao Renascimento. Não é o caso. Na verdade Descartes conseguiu trazer suas ideias a campos que, eventualmente, foram se tornar por propriedade do Renascentismo, como na ciência, onde colocou ideias axiomáticas, por exemplo a lei da inércia, que serviu para a teoria de Newton sobre o movimento.
Muitos se inspiraram em suas obras, com grandes colaborações. Um deles foi Port-Royal, que buscou na lógicas respostas importantes. Ele desenvolveu de forma semimatemática parte da lógica medieval, continha a primeira premonição da lógica formal moderna. Também por ter feito a distinção, recente a época, mas atualmente considerada fundamental para a lógica, entre compreensão e extensão de um termo geral.
Outro importante discípulo que, polímata da filosofia e ciência foi Blaise Pascal. Este argumenta que a indefinição de termos e a necessidade de axiomas no “método geométrico” mostravam não a validade absoluta da "ideia clara e distinta". Mas a imperfeição de mentes finitas, que devem sempre contentar-se com indefiníveis. É dele a "aposta de Pascal" sobre o utilitarismo em acreditar em Deus. Esta foi uma nova abordagem, por oferecer razões práticas a fé, diferente da busca de associá-la a ciência.
Capítulo 5 - Spinoza
Spinoza obteve em sua filosofia a priori boas respostas para questões que Descartes deixou em aberto, como o da substância.
1 - O método geométrico
O livro de Spinoza Os princípios da filosofia cartesiana é um sumário brilhante e do maior interesse por não ser escrita do ponto de vista artificial de meditações de descartes, mas pela ética, onde a própria filosofia é exposta de forma axiomática.
2 - Substância
Qual a relação entre substância entendida como individuo e como matéria? Para Spinoza, sem a noção de substância o próprio pensamento torna-se impossível. Por conseguinte, a filosofia precisa de uma real definição de substância que apreenda o que é essencial a ideia. Ele escreve que uma substância é aquilo que é "em si mesmo e é concebido através de si mesmo", ou "aquilo cuja concepção não depende da concepção de outra coisa da qual deva ser formado". Em outras palavras, Spinoza extrai da ideia de substancia predominante em seu tempo a característica de ser concebível isoladamente. Uma substancia deve ser inteligível separadamente de todas as relações com outras coisas.
Ele argumenta que há e só pode haver uma substância, e que, portanto, não há possibilidade de interação entre substâncias. Essa substância única pode servir tanto como individuo quanto como matéria da qual todos os indivíduos aparentes (que não são genuínos indivíduos, mas apenas modificações da substância única) são constituídos. Ela é infinita e existe necessariamente, por conseguinte, não há explicação de sua persistência que não seja também numa explicação de sua origem. Essa substancia única tem, enfim, muitos atributos de quantidade infinita, sendo idêntica a Deus. Para se compreender a substancia surge a ideia de atributo, que é aquilo que o intelecto percebe, e pode ser entendido mediante ciência e geométrica.
3 - Monismo
Mesmo existindo infinitos atributos, os seres finitos só podem conhecê-los de forma finita. Assim, podemos compreender der em sua extensão finita quando o chamamos de Natureza. Esta é a única coisa que existe necessariamente e persiste por toda a eternidade. Assim, deixa de existir diferença entra distinção e espírito.
4 - Espírito e corpo
Como estas são a mesma coisa em Spinoza, isso resulta num panspiquismo, radical, que podemos tornar inteligível para nós mesmos refletindo sobre nosso próprio caso e imaginando que a relação que existe entre nossos estados de espírito e nossos estados corporais repete=se em toda natureza infinita.
5 - Pessoas e coisas
Para compreender o paradoxo aqui, podemos inverter o argumento cartesiano relativo à cera. No caso de pessoas, somos capazes de conhecer o esforço da essência não apenas sob o aspecto da coesão física, mas também sob o aspecto do pensamento.
6 - Conhecimento
Está dividido em três níveis: percepção sensível ou imaginação, reflexão embasada a princípios, e o mais alto nível de raciocino, chamado intuição.
Assim, toda ideia é um vislumbre mental de um processo físico e, inversamente, todo processo físico não é mais que uma corporificação extensiva de uma ideia.
Na concepção de Spinoza tudo acontece devido a sua natureza inelutável. Assim, um evento só acontece como consequência necessária de tudo que o precedeu. Por consequência, Deus é necessário e idêntico a totalidade das coisas, pois ele é a primeira causa.
9 - Atividade e passividade
No que se refere a liberdade, Spinoza conclui, devido a sua concepção consequencialista da realidade, que esta é a consciência de que existe uma cadeia de causas, e não o controle sobre as causas em si.
10 - Conclusão
Na filosofia de Spinoza se percebeu a perda de qualquer importância a primeira pessoa do singular. Suas premissas por vezes são fracas, particularmente naquela ideia fatal de substância que ele pensava tanto necessitar quanto poder tonar inteligível
Capítulo 6 - Leibniz
Ele deu sequência aos estudos de Spinoza sobre a substância, mas com uma visão mais matemática.,focando no que ele chamou de mantemas, que são partes do todo. Tentou derivar seus princípios a gramática de uma característica universal, uma linguagem em que só se poderia expressar alguma coisa consoante as leias da lógica e cuja gramática fosse regida por essas leis. Seu racionalismo levou-o a pensar que tudo que pudesse ser expresso em tal linguagem também seria verdadeiro.
1 - Princípios
A totalidade de atributos que estão presentes no mundo ele chamou de “monada”.
Como Spinoza, Leibniz não quis limitar as explicações a algo causa mecânico, ao contrário, ele realmente quis dizer razão, e não apenas causa, ou seja, por causa ele quis se referir ao que quer que torne um fenômeno racionalmente inteligível, e não apenas ao que o cause.
2 - Contingencia e metafísica
Ele acreditava no pensamento lógica a priori. Até mesmo tentou derivar leis básicas da física por razão pura.
3 - O mundo material
No sistema leibniziano, todo o mundo físico vem a ser um fenômeno bem fundamentado, o que equivale a dizer que as propriedades dinâmicas e estáticas da matéria, sua organização espacial e até mesmo temporal, e finalmente as leis causais que regem seu comportamento são atribuídas por Leibniz ao mundo da aparência.
5 - A monadologia e Deus
Leibniz apoiou-se firmemente nas doutrinas racionalistas de que a existência é uma perfeição, o mal é uma privação e assim por diante, até chegar a conclusão de que Deus só poderia ter criado o melhor de todos os mundos possíveis.
Parte II
Empirismo
Capítulo 7 - Locke e Berkeley
Estes foram os primeiros filósofos do empirismo. Esta linha filosófica considera o entendimento humano restringido pelos limites da experiência humana, só os ultrapassando para cair nas malhas do ceticismo ou para perder-se em meio a considerações absurdas.
1 - Hobbes e a filosofia da linguagem
Empirismo só se tornou uma grande ferramente filosófica quando se associou a linguagem. Hobbes tem papel importante nisso pois buscou uma teoria que lhe explicasse como as palavras adquirem significado, a fim de demonstrar que determinadas doutrinas metafísicas são, literalmente falando, desprovidas de significado. Associou a representação de pensamentos ao fato de que ideias estão primeiramente associadas com órgãos dos sentidos.
2 - Locke e a teoria das ideias
A ideia que associa a palavra "dor" poderia ser associada por você a palavra "prazer", essa diferença entre nós, jaz, por assim dizer, oculta pela máscara do nosso uso comum. Tal teoria, que extrai do significado sua "publicidade" essencial, seria agora, por essa razão, rejeitada de modo quase universal. Ps.: Scruton parece ser muito empirista sobre a existência da consciência, pois associa ela muito claramente ao fato empírico de sentir dor.
3 - Ideias inatas
A questão linguística se mostra relevante ao empirismo pois eles, os linguistas, que argumentam que deve haver conceitos inatos, caso a aquisição da linguagem deva ser possível, não fazem mais que repetir uma velha falácia adequadamente exposta pelo próprio Locke. Confundem a posse de um conceito com o poder de adquiri-lo.
Locke então quis mostrar que tudo aquilo que entendemos (toda ideia) é entendido em virtude de sua ligação com a experiência. ele visou defender a premissa racionalista de há ideias cujo conteúdo só pode ser revelado pela razão, e não pela experiência. Quando Locke tentou buscar uma forma última associada apenas do exercício da razão, criou um Deus contingente.
4 - Ideias abstratas
Para os empíricos conceitos que definem os objetos, como cor, tamanho etc não definem o que aquilo é, por vezes elas se anulam, como no caso de algo que é branco ou preto, baixo ou alto, o que sobre é a ideia abstrata que só contem as características comum a todas as instâncias.
5 - O mundo físico
Ao contrário das qualidades primárias, as qualidades secundárias não se assemelham as ideias que produzem. E isso nos possibilita dizer que num certo sentido, as qualidades primárias estão realmente nos objetos que as possuem, ao passo que as qualidades secundários não.
6 - Essencial real e nominal
Locke, foi influenciado por Aristóteles, que reconheceu que tal concepção negativa da realidade, apenas associada a substância, nos deixa a tarefa de definir a natureza de um individuo. Um individuo não pode ser identificado como uma substância particular, visto que nada se pode dizer das substâncias, quando consideradas separadamente de suas qualidades.
Para Locke, então, a constituição de um objeto não pode ser determinada pro decreto, mas somente pela investigação da realidade da própria coisa. Ele estava disposto a pensar que as essências reais são icognosciveis, em parte, pro que ele pensava que a realidade subjacente as substâncias materiais deve permanecer oculta a observação. Hoje com a ciência, podemos ter uma definição mais precisa que essa, como por exemplo, identificar o que diferencia o ouro é seu número atômico.
7 - Identidade pessoal
Em que consiste a identidade de uma pessoa para Locke, a mesma pessoa existe desde que haja suficiente continuidade da consciência do passado ou futuro, ideia que continua em voga para ideias empíricas, como a do próprio autor sobre a existência da consciência em primeira pessoa.
8 - O conceito de causa
Antes de Kant, não se reconhecia a importância filosofia da doutrina de Newton. Entrementes, Leibniz combatia vigorosamente a concepção absoluta de espaço que Newton sustentara, enquanto os empiristas se ocupavam em compreender o profundo e difícil conceito de causalidade sobre o qual se erigira a física newtoniana
9 - A crítica de Berkeley
Ele, um empirista, atacou a doutrina lockeana da abstração, argumentado que, já que tudo que existe é um particular, não pode haver algo como uma ideia abstrata. Ele usava exemplo de triângulos que por mais que sejam definidos de uma forma, não são em essência os mesmos. Locke não se referia a um "triângulo", mas a ideia de triângulo. É ridículo supor que a ideia de triângulo é ela mesmo um triangulo, e portando, determinada em sua forma.
10 - Idealismo
O que é existência então? Berkeley definida que é ser percebido. Se tudo que nos deparamos é uma ideia, então o princípio da existência deve ser encontrado na natureza das ideias.
11 - Deus e a alma
Como Berkeley resolve o problema de se supor que tudo que existo só existe em minha consciência? Ele dizia que se podia de modo voluntário trazer a mente uma imagem ou pensamento e reconhecê-la como o produto de minha atividade mental. Mas outras ideias, particularmente as que são incluídas sob a denominação de sensação e crença, não são similarmente acessíveis a minha vontade. Não posso impor a crença de que a França é menor que a Inglaterra, por exemplo.
Capítulo 8 - A ideia de ciência moral
Após o surgimento da filosofia empirista, algumas ideias que colocavam essa teoria em cheque começaram a aparecer. Uma pergunta coerente e que essa nova filosofia não tinha uma bosta resposta é: se o que conheço do mundo, é por meio da observação, que posso conhecer além do fato de que pareço observar coisas? Sem a estrutura a priori esse tipo de resposta ficara difícil. Este capítulo se propõe então a mostrar como o empirismo de Locke se desenvolveu gradualmente mediante a reflexão sobre a parte da filosofia que nos tempos modernos só fora abordada de modo sistemático por Spinoza, pensador profundamente não-empirista. Trata-se da parte conhecida como ética. No iluminismo, corrente cultural que surgia na época, buscava, assim como na teoria de Newton, uma cientificação empírica das ideias da mente.
Pensadores como Hutcheson tentavam buscar respostas importantes envolvendo a realidade moral sobre a ótica do empirismo. Ele se deparou com uma questão: como sabemos que uma ação, ou caráter, é moralmente boa, se isso não nos é revelado pelos cálculos do autointeresse? Ele pressentiu que não podia responder referindo-se somente a capacidade comum da percepção sensível: a bondade não é, como poderíamos dizer, uma propriedade perceptível, do mundo, do mesmo modo que o vermelho é vermelho, pois como Shafterbury, outro pensador importante, também observara, só os seres reacionais têm concepções morais.
A ideia dê certo e errado começa a tomar fora nessa teoria. Se dissermos que há uma percepção do certo e do errado e que é a benevolência que nos leva a ela, também precisaremos fazer frente a critica posterior de Hume, segundo a qual o que considerarmos percepção é apenas outro exemplo da capacidade da mente de espraiar-se sobre os objetos.
Butler trazia a tona a ideia de prazer. Ele cita que o prazer pressupor a existência do desejo, sendo obtido não porque o procuramos, mas porque procuramos algo a mais. O prazer de beber vinho vem da satisfação com o vinho, se fosse apenas a resolução da necessidade de prazer, aceitaríamos qualquer outro objeto para resolver nosso desejo.
Ele também dizia que a vontade de seguirmos leis vem do desejo inconscientemente de não violar obrigações conhecidas.
Filósofos empiristas começaram a se conscientizar da grande lacuna existente em sua filosofia da mente por não terem conseguido falar da beleza, e por seus desajeitados esforços para proporcionar uma avaliação que distinguisse o verdadeiro gosto da mente preferência sensorial
Capítulo 9 - Hume
A fama do escocês David Hume (1711-1776) baseai-se em seu ceticismo. Ele percebeu, ou assim acreditou, que a perspectiva empirista limitava as possibilidades do conhecimento humano mais do que haviam percebido seus predecessores, também encontrou motivos para ser cético acerca da existência dos objetos materiais e da natureza e realidade da conexão causal, e o que mais surpreende, a cercada existência da própria alma humana.
Ele dizia que a diferente entre impressões e ideias estava na sua respectiva “força” ou "vivacidade", assim, ele juntava as áreas sensoriais e intelectuais. Assim, para Hume, as ideias se originam necessariamente não nas impressões sensoriais, mas que seu conteúdo deve ser dado em termos dessas impressões.
Com isso em mente, podemos compreender uma importante alegoria de sua filosofia, a chamada "Guilhotina de Hume" que assumia que os conhecimentos só podem derivar de experiências ou de relações abstratas entre ideias. A conclusão mais dura de sua guilhotina é que a experiência é a única fonte de qualquer conhecimento das questões de fato, ou seja, o pensamento a priori dos racionalistas não tem nenhuma validade para ele.
1 - Causalidade e indução
A ideia de ligação entre eventos nunca pode ser justificada para Hume, sendo a ideia de tal conexão necessária baseada numa confusão. Ele acredita que essa relação temporal é apenas uma percepção errônea nossa. Se existem dois eventos A e B e eles podem ser separados em pensamentos, significa que não há relação real entre eles.
Para problemas claramente causais, como o saber que o Sol nascerá a todas as manhãs, para ele este é uma situação que pode ser considerada geral, ou seja, as leis da física enunciam verdades universais, diferente de uma evidencia finita.
2 - O mundo exterior
Sua conclusão sobre esse tema é que tornar-se-ia cada vez mais evidente que não há dois problemas, - concernente a causalidade e a indução, o outro, ao mundo exterior - mas apenas um, ou seja, o problema do conhecimento objetivo como tal.
3 - O eu [self]
Sua filosofia apresentada até agora não dá razão para a existência de relações. Hume foi mais a fundo nessa ideia, argumentam que a existência do "eu", existência audaciosamente afirmada em todo ato de pensar, também talvez não existe. Ele não encontra nenhum fato que de impressão da existência do eu.
4 - Ética
Hume negou a existência de algo como a razão prática. Para que a razão seja prática, não é suficiente que seja aplicada a questões práticas, deve também ser capaz de gerar conclusões práticas. Como argumentava Aristóteles, na Ética a Nicômaco, as conclusões práticas não são pensamentos, mas ações. Portanto, não é contrário a razão preferir a destruição do mundo inteiro a um arranhão em meu dedo. O que considerarmos raciocínio prática é simplesmente o desenvolvimento dos melhores meios para a satisfação dos desejos que se originam, não na razão, mas na paixão, esta que é sempre dominante sobre a razão.
5 - Deus e livre-arbítrio
Ele diz que a filosofia não sustenta qualquer evidencia da existência de Deus. Também abranda na questão da liberdade humana, ao defender uma posição conciliatório que, desde então, tem sido muito aceita, de que não há contradição entre a asserção de que os seres humanos são livres, e a crença de que a natureza é regina por leis imutáveis. Segundo ele, se examinarmos a ideia de liberdade, não encontraremos nada que sobreponha as leis naturais.
Parte III
Kant e o idealismo
Capítulo 10 - Kant I: A Crítica da razão pura
A principal contribuição de Immanuel Kant (1729-1804) foi mostrar que a escolhe entre Empirismo e Racionalismo era ilusória, que cada filosofia estava igualmente equivocada, e que a única metafísica concebível que podia recomendar-se a um ser racional deve ser tanto empirista quanto racionalista. Ele demonstrou isso em suas três principais obras: Crítica da razão pura, da prática e do juízo, este último se importando mais com questões estéticas. Ele é considerado o maior filósofo desde Aristóteles com uma filosofia que não é única apenas em métodos mas também em objetivos.
Ele quis descrever a natureza e os limites do conhecimento, não só em relação a descoberta científica, mas de modo absoluto; sua metafísica estava destinada a ser não um pós-escrito a física, mas a própria fundamentação do pensamento. Ele fez isso argumentando que uma consequência do entendimento é que teologia racional é não só inacreditável como impensável, que um mundo objetivo deve ser obediente a uma lei de conexão casual (diferente do que Hume pensava). E que certos princípios fundamentais de ciência, tais como o da conservação da substância e o de que todo evento tem uma causa e o que de que os objetos existem no espaço e no tempo, podem ser estabelecidos a priori.
Quando surge a pergunta de como é possível a lógica, ele argumenta analogamente, se os princípios sinéticos a priori do entendimento são tão fundamentais para o pensamento como asseverava Kant, a própria tentativa de estabelecer sua validade deve simultaneamente admiti-la, esse tipo de pensamento necessário por si só ele chamava de transcendental.
Sua conclusões levam a anulação do privilégio da subjetividade e, ao fazê-lo, descarta a possibilidade de uma teoria empirista da mente. Em suma, no caso do atual conteúdo da mente, desaparece a distinção entre ser e aparência. É isso que queremos dizer com subjetividade da primeira pessoa. E assim o self não é concebido como a conclusão de um argumento, mas como a pressuposição de todo autoconhecimento. Portanto, o ceticismo radical (de Hume, por exemplo) só pode ser enunciado a partir da permissão de autoconhecimento, pressupõe sua própria falsidade. assim, a experiência deve conformar-se as observações contidas em tal conceito, de tal forma que não posso pensar em termos de objetos sem pensar em entidade que perduraram através da mudança, isso requer que eu aplique a minha experiência o conceito de substância. Por exemplo, para que compreendamos como é que a categoria de causa encontra aplicação na experiencia, devemos considerar a própria experiencia como já restringida por um princípio geral de causalidade, isto é, o principio que todo evento tem uma causa. Ao elaborar o sistema dos princípios, Kant esperava estabelecer que os axiomas fundamentais da ciência são sintéticos a priori (isso se mostrou muito útil na construção da escola austríaca de economia).
A teoria kantiana do sintético a prior depende crucialmente do elemento empirista de sua filosofia, a concepção de que o conhecimento advêm da síntese de conceito e experiência. Tentar, como Leibniz, descrever a realidade através de um noúmeno (objeto de pura apreensão intelectual) é tentar obter conhecimento somente por conceitos puros, é a tentativa de transcender os limites do entendimento humano, que para Kant, é uma lógica fadada ao fracasso.
Na segunda parte da Crítica da razão pura, ele diagnostica o fracasso da “razão pura” a partir de paradoxos e contradições. Um deles é as ideias que concernem à alma e a Deus. Para ele a ideia de que algo existe não pode ser associada previamente com a sua concepção. Como nas versões de Spinoza e Descartes para a existência de Deus.
A ideia do Eu para Kant também não é puramente a priori, para ele o privilégio de primeira pessoa pressupõe a existência do Eu, como objeto, portanto não cabe ao autoconhecimento determinar o que conhece. A essência do Eu permanecer oculta, mesmo que seus acidentes sejam imediatamente dados a consciência.
Capítulo 11 - Kant II: Ética e estética
Aqui Kant apresenta um pouco mais do seu pensamento a posteriori, ou seja, empírico. Pois, a que mais podem corresponder os princípios morais e estéticos, senão as expressões de preferências individuais, quiça poderosas ao exercerem sua supremacia sobre a mente que as concebe, mas não justificadas por qualquer ordem independente?
É na falta de dependência entre uma coisa que deve ser para uma coisa que "é" que ele constrói seu principal insight, o Imperativo Categórico.
1 - O imperativo categórico
O imperativo que é categórico não depende de "condições empíricas" mas é observado na prática. Eles são justificados ao apelarmos para certos princípios da razão prática, que podemos mostrar serem deriváveis de um princípio singular ou equivalentes a ele. O primeiro e mais importante foi "Age apenas segundo aquela máxima em relação a qual o mesmo tempo possas querer que se conversa em lei universal". Isso mostra que a lei moral não somente é baseada no "respeito as pessoas", mas também expressa tal respeito.
2 - A necessidade objetiva do imperativo categórico
Em que consiste a objetividade deste e como defendemos? Para isso, este não faz distinções entre agentes racionais, mas se aplica, se possível, a todos os que estão sujeitos aos ditames da razão. Assim, não aceitá-lo é não raciocinar de modo prático. Po fim, aceitar tal princípio é adquirir um motivo para agir, é ser persuadido a obedecer.
Como podemos sustentar essa pretensão de objetividade? Nesse momento, a filosofia moral de Kant se torna difícil e obscura. Embora ele afirme que conhecemos a validade do imperativo categórico a priori, reconhece que fazer essa afirmação não é mais suficiente no caso do raciocínio prático que no entendimento científico. Kant, porém, não proporcionou essa dedução, em vez disso dedicou seu segundo livro da série Crítica a um exame das questões metafísicas que, apesar de muito influente, não preencheu o hiato entre sua metafísica e sua moral.
3 - Liberdade e razão
Para Kant nenhuma lei moral vale se não houver liberdade. Esta para Kant é a sujeição a lei moral. Mas, em si, não tendo conseguido essa autonomia, suficiente para exigir o respeito de seres racionais, o individuo que passa por isso situa-se fora da ordem moral. Em outras palavras, para Kant liberdade é ter disciplina, aquele que não controla a si mesmo acaba com o respeito próprio.
4 - A antinomia da liberdade
Trata-se da contradição entre livre-arbítrio e determinismo. Ele separa as decisões em suas razões teóricas (penso que vou beber) e as razões para agir (estou fazendo o ato de beber).
5 - Os postulados da razão
Estes são: a existência de um domínio noumenico, a imortalidade da alma, a afirmação da liberdade positiva e a existência de Deus. As duas últimas são postulados. E o que se refere a percepção da ordem moral não tem nenhum juízo cientifico.
6 - Estética
Kant foi um subjetivo no que ser refere a estética, e para o autor seu livro é muito obscuro nas passagens desse tema.
Para ele, a contemplação estética não é o mesmo que prazer animal, é um juízo que surge de uma análise racional. Ele cita uma "intencionalidade sem propósito" que segue não apenas numa teoria estética, mas também para uma visão mais ampla, que mostra o papel do juízo estético na investigação intelectual como um todo.
8 - Fichte, Schiller e Schelling
Estes são seus subsequentes seguidores que foram muito importantes para a escola romântica de pensamento.
Fichte em específico, colocou em voga a ideia de ego. Ele conhece a si mesmo e a sua própria natureza mediante o conhecimento prático, visto que sua essência é a atividade autocriadora. Pode-se levar a importância do ego a algo transcendental que acaba derivando que toda realidade existe apenas no pensamento. Ai Fichte conclui que o ato da vontade, através do conhecimento prático que nos situa num mundo moral, nos proporciona o sentido de nossa realidade objetivo. O mundo objetivo é o mundo conhecido por meio da ação moral. Esse pensamento foi utilizado pela Escola Austríaca para derivar a importância da ação humana na aplicação das ideias do individuo transcendental de Kant. Para sintetizar esse pensamento, temos as palavras do autor para o pensamento de Fichte: O ato da vontade, através do conhecimento prático que nos situa num mundo moral, nos proporciona o sentido de nossa realidade objetivo. O mundo objetivo é o mundo conhecido por meio da ação moral.
Capítulo 12 - Hegel
Hegel (1770-1831) foi chamado de filósofo oficial do Estado prussiano. Sua principal obra foi "A fenomenologia do espírito". Ele tinha a ideia de dar respostas amplas a perguntas que os filósofos vinham se engalfinhando a séculos para responder. Buscava uma filosofia que totalizava isso tudo no "Verbo" descrito na bíblia. Hoje ele é tido por pensadores de direita como um dos filósofos que mais contribuíram para as politicas totalitárias do começo do século XX.
Ele queria corrigir Aristóteles, numa nova ciência, que possui tanto forma quanto conteúdo, e a partir da qual se pode derivar a natureza da verdade metafísica. Assim, a lógica para ele lida com a verdade, não somente com o sentido forma de dizer-nos que argumentos preservam a verdade, mas nos sentido real de dizer-nos que é a verdade, e, por consequência, o que é verdadeiro. Para ele a mentalidade humana é pequena para compreender toda a verdade, assim, nessa ânsia de buscá-la, acaba na falsidade absoluta da autocontradição. Essa falta de capacidade é ilustra com o erro de analisarmos o movimento de um carro, quando na verdade é o nosso carro que se move. Apenas um terceiro individuo fora da limitada perspectiva das pessoas dentro do carro, percebe a realidade.
Nas palavras do autor, temos a estrutura “dialética” da razão de Hegel: Assim, o processo dialético é o seguinte: um conceito é postulado oferecido como descrição potencial da realidade. Logo descobrimos que, do ponto de vista lógico, esse conceito deve conter sua própria negação, ou seja, a antítese é automaticamente à tese, seguindo-se um "conflito" entre as duas, que é resolvido por uma ascensão ao plano mais elevado a partir do qual pode ser compreendido e reconciliado: tal ascensão constitui o processo de síntese, que gera um novo conceito a partir das ruínas do anterior. Esse novo conceito gera suas próprias negações sucessivas aplicações da dialética, toda a realidade tenha sido revelada.
O fato de precisarmos de relações lógicas para compreendermos a verdade constituído um fato acerca de nós, e não concernente a lógica. Esta lógica para Hegel não estava tão engessada como sua teoria da busca por uma realidade acima pode demonstrar. Na verdade ela é bem dependente do tempo. Ele explica que algumas monadas (substância única de uma analise) devem conter predicados que não pode - a partir do nosso ponto de vista limitado - coexistir. Algo não pode ser vermelho e azul ao mesmo tempo. mas pode sê-lo sucessivamente.
A sua ideia temporal, em conjuntura com a ideia de conhecimento superior que vai chegando mais próximo da realidade do todo, chega ao fato que conclusão e argumento são inseparáveis, ainda que não possam ser representados de maneira totalmente atemporal exigida pela lógica teórica tradicional. Assim, a consciência só existe como um primitivo "eu quero" da criança que não pode provar qualquer pista com relação a natureza dos estados.
Quando Hegel estuda o Self e o conceito dele em sua liberdade, ele chega num conflito que só é resolvido na relação entre senhor e escravo. Esta relação que por vezes faz mal ao Senhor e por vezes ao Escravo, fazendo "bem" de certa forma a ambos, tem como consequência o imperativo categórico da justiça de Kant, que mostra que a solução moral é que os dois se tratem como fins e não meios. Tratar as pessoas como meios acaba fazendo mal até mesmo para aquele senhor que parece só se dar bem com a situação, e isso pode ser exemplificado em relações sexuais etc. A consciência infeliz (alienada) confere ao mundo objetivo o poder que só pertence a si, tornando-se assim, desamparada, oprimida pela culpa e ansiosa por redimir-se.
Talvez o que implique em Hegel ser associado a regimes políticos assassinos seja o fato que em sua teoria o "eu" individuo é apenas uma metáfora. Nenhum argumento filosófico pode provir do conhecimento de um individuo, pois nesse próprio ato de conhecimento o individual se torna universal. Todo pensamento constitui uma subjunção a um conceito. Essa doutrina de que real é racional e racional é real e a teoria da história, que dizia que os eventos ocorrem devido a uma inevitabilidade da lógica, acabou acarretando em absurdos filosóficos como o Marxismo. Mas para o autor esse é um erro histórico que ele tentara explicar em próximos capítulos.
Capítulo 13 - Reações: Schopenhauer, Kierkegaard e Nietzsche
Os chamados "Jovens Hegelianos" usarem a teoria desde para abrir portas ao materialismo histórico que culminou no aterrorizante marxismo. Porém, na mesma época, importantes autores ganharam a cena por terem uma filosofia muito mais aprimorada.
Arthur Schopenhauer (1788-1860) foi um deles. Ele dizia que o conhecimento do mundo da aparência envolve a organização de ideias de acordo com as categorias, e Schopenhauer aceitou a doutrina kantiana de que as categorias só fazem sentido quando aplicadas na experiência. Ele utilizou o conhecimento de Kant da Crítica da Razão pura, onde Kant argumenta que não pode ser conhecimento a respeito das coisas em-si, apenas o autoentendimento. Assim, para Schopenhauer, a própria vontade não é conhecida pelo intelecto, que seria a forma de acessar o transcendental em Kant, mas imediatamente. Não preciso descobrir o que são minhas intenções, tais coisas me são apresentadas como uma certeza que desafia o ceticismo e é irredutível. Assim, a vontade se manifesta em aparência para grande parte daquilo que observamos como uma expressão da vontade.
Ele dizia que mesmo no caso do Eu, o entendimento conceitual nos mantém a uma ceta distancia da essência individual, e somos obrigados a admitir que nada podemos dizer a respeito da nossa própria natureza, a não ser que ela é vontade. Essa vontade então existe pós-morte, o corpo fenomênico nada tem a ver com ela. De tal forma que a ação humana não pode ser justificada pela liberdade, esse caráter fenomênico citado anteriormente é a origem de todos os seus atos, sendo também determinado em todo particular. Só há liberdade no senso comum: um homem pode fazer coisas, e nem sempre é constrangido ou obstruído.
Kierkegaard (1831-1855) foi outro importante pensador que pensou fora da caixa dos Jovens Hegelianos como Bauer e Strauss, que concretizou o pesador de Kierkegaard sobre a transferência da fé religiosa para o mundo. Kirkergaard dizia que a lógica não é suficiente para provar suas próprias premissas, etas devem ser obtidas em alguma outra fonte. Critica o modo de vida estético, este que é o mais evidente acessível a consciência romântica, que une o sujeito ao que é temporário, fixando sua alma nisso.
Ele era cristão e buscou unir sua fé a representação do existencial. Ele não conseguiu que sua filosofia chegasse a tanto, mas isso não tira o mérito de sua obra, principalmente como escritor.
Nietzsche é o último dessa linha de pensadores, diferente de Kierkegaard ele rejeitava a religião. Baseou parte de suas premissas na conclusão de Max Stirner que "Deus estava morto". Rejeitava todas as instituições, a não ser aquelas de que o ego individual podia apropriar-se. Rejeitava todas as formas de conhecimento objetivo para que não houvessem contradições ao se buscar um individuo que deveria superar o "instinto de rebanho". Isso era possível com um "ceticismo de estação a vida". Para isso ele, como já afirmado, negligenciava Hegel, principalmente suas conclusões sobre Escravo x Senhor, que para Nietzsche era uma alegoria da religião.
Nietzsche baseou muito de sua filosofia (grande parte dela na verdade) nos escritos de Aristóteles sobre grandes indivíduos e vida. O homem nietzschiano é capaz de querer que seu próprio desejo seja uma lei para si mesmo, como o de Aristóteles que acreditava que suas paixões deveriam ser ordenadas. O "Ubermensche" de Nietzsche tem as mesmas características do "homem de grande alma" (megalopsuchos) de Aristóteles.
Para Nietzsche a verdadeira crença é aquela que aumenta o poder de alguém. Isso facilitou ele a recomendar a crença numa doutrina metafísica que contrapõe considerar obstáculos ao pensamento sóbrio, a sua doutrina do eterno retorno. Essa incentivava a "vontade de poder", para se construir uma vida que, mesmo que ocorresse infinitas vezes igualmente, isso seria vindo como uma benção e não como a maior das desgraças.
Parte IV - A transformação política
Capítulo 14 - A filosofia política de Hobbes a Hegel
Platão e Marx tem muito a vez nas suas misturas de antropologia a priori e economia pseducientifica. Como um pouco de luz a esse absurdo intelectual, temos Thomas Hobbes (1588-1679), que mesmo defendendo a ética estatal, teve bons insights.
Ele concebeu a associação civil como uma comunidade, na ideia de organismo Aristotélico. Como consequência, suas ideias sobre soberania deveriam ser aceitas por muitos que não compartilhavam a sua convicção, mas sem isso não haveria coesão estatal.
Hobbes, preocupado com a legitimação percebeu quão frágeis são as nossas concepções humanas de justiça quando não sustentadas pelo poder material. A justiça não pode existir no estado natural da vida humana, sendo portanto artefato tornado possível, para ele, pelo poder do estado, que cria a ordem. Assim, apenas pela covardia que pode existir a ideia de direito, de acordo com sua filosofia.
John Locke foi outro importante pensador da época, que como Hobbes, defendeu ideias que iam ao encontro do poder vigente da Inglaterra seiscentista.
Locke propôs as leis naturais, que são aquelas observadas no comportamento moral humano, como o direito a vida, a liberdade e a propriedade privada, esta última lei essencial na defesa dos direitos. Para um bom exemplo dessa lei pode ser citado a Primeira Apropriação, que é quando o homem usa seu trabalho para moldar um determinado pedaço de terra, e assim fica obvio para todas as pessoas que aquele pedaço é dele. Infelizmente a época, Locke só conseguiu defender a importância da Lei Natural a luz da teologia. Talvez por isso hoje ela não tem muito seguidores. Porém a Escola Austríaca de Economia a reavivou devido ao pensamento a priori, de onde derivou independente da existência de um Deus.
Tanto Locke quanto Hobbes acreditavam numa espécie de contrato social, que permitiria o bem-estar da pessoas em detrimento de algumas cobranças do estado, que se tornava uma espécie de individuo dotado de direitos e deveres também devido a esse contrato. Locke também propôs da repartição dos poderes em três: executivo, legislativo e federativo.
Jean-Jacques Russeau, é o último e talvez mais controverso autor dessa análise. Ele acreditava na teoria de que todas as pessoas nasciam boas, mas eram as instituições que as corrompiam. Ele distinguia a "vontade geral" da vontade de Todos", o que diferenciava uma escolha boa a todos de uma má, mesmo feita pela maioria democrática. Ideias como essa viriam a influenciar Hegel.
Este, diferente de Kant que fez uma miscelânea de termos com Eu self e ser transcendental e empírico, conseguiu dar definições de individuo ao estado, chegando ao ponto de dizer que ele é um ser que deve ser tratado como fim e não como meio.
Na filosofia de Hegel, a sociedade só funcionaria em paz se algo a mais além dos contratos fosse vigente. Esse algo a mais está dentro da concepção do estado. Sai o "direito natural" e entra a "obrigação artificial" para ações do estado. Porém, não foi com o intuito de totalitarismos que ele escreveu isso, seus textos refletem a ideia de liberdade. Está só seria possível se houvesse certa colaboração entre as pessoas um senso de submissão a comportamentos, da mesma forma que existe submissão a família, afinal, nascemos sem a existência de um contrato entre nos e nossos pais. Para ele só no confronto com o objeto social é que o individuo chega a autoconsciência. Só então alcança uma concepção dos limites de sua ação, e o estado tem as instituições necessárias para limitar essas ações.
Capítulo 15 - Marx
Os já citados "jovens hegelianos trouxeram para a filosofia toda seriedade religiosa, perdendo um por um, sua inocência ao serem de várias maneiras seduzidos por Hegel, sobre isso Nietzsche caracterizaria toda filosofia pós-kantiana como "teologia dissimulada", concebendo-a como uma tentativa de manter vivo o espírito religioso ao conferir-lhe uma aparência secular.
O filósofo mais importante que pertenceu a essas linhas foi Karl Marx (1818-1883), suas obras são críticas a esses Jovens Hegelianos que um dia ele mesmo pertenceu.
Ele foi exilado na Inglaterra, e isso ajudou a ter uma obra em que faltava certa disciplina. Essa mescla de filosofia hegeliana do espírito e economia empirista, teoria da história surge o marxismo. Ele buscou em Hegel um destino humano, de que a história se movia ao desenvolvimento da alma.
Os escritos do jovem Marx já citavam que a propriedade privada é a instituição por mio da qual encontra a expressão a auto-alienação humana (onde o humano se transforma em objeto). O comunismo então seria superior a esse efeito do capitalismo, pois nele o domínio da natureza seria completo que a propriedade privada e a separação entre os homens seria superada. Assim percebemos uma obscura relação interna entre propriedade e alienação. Ele acreditava numa essência humana, e por isso atacava o liberalismo. O que de certa forma estava correto pois foram as relações liberais em economia que domaram o selvagem assassino dentro do homo sapiens.
Sua teoria sobre fetichismo torna obscura a relação do sujeito com o mundo, absorvendo sua vida humana na vã adoração de objetos e afastando-o da verdadeira compreensão de si mesmo, como ser autônomo que se relaciona intrinsecamente com outros seres de sua espécie e com um Deus transcendental. Por isso ele, assim como Feuerbach, acreditavam que religião era fetichismo. Essa doutrina serve de base a afirmação de Marx de que alienação, sendo uma forma de isolamento da vida social, é experimentada como alienação do Eu. Estes só não ocorre quando tratamos os outros como fins e na vida social redescobrindo o potencial de um ser humano.
Em nenhum momento de seus textos Marx provou que a alienação está diretamente vinculada à instituição da propriedade. Ele tentou e não conseguiu associar isso ao fato de que "compramos" as pessoas ao fazê-las trabalhar para obter fetiches (objetos) assim tornando-as um. Toda a crítica marxista ao capitalismo acaba se baseando numa engenhosa teoria da exploração expressa de modo científico.
Sua teoria econômica tem várias falhas e a estrutural foi imaginar que o valor das coisas estava associada diretamente com a atividade humana, e não com a troca em si. A chamada "teoria do valor do trabalho" foi refutada inúmeras vezes historicamente. Mas para Marx ela explicava bem sua teoria de exploração, A produção de mais-valia deve necessariamente ocorrer mediante a extração de horas de trabalho não pagas, afinal os produtos feitos pelos trabalhadores valiam apenas pelo tempo que eles passavam trabalhando. Assim as relações capitalistas são sempre de exploração.
Muito do que se diz associado a Marx a hoje não tem uma ligação clara. Entretanto, de fato, os três aspectos mencionados - a filosofia do homem, a teoria da história e a concepção de valor - podem ser vistos como tentativas separadas de articular uma intuição permanente. Tal visão sintética é atraente, mas suas partes são logicamente independentes.
Ao fim, percebemos erros empíricos e lógicos na sua teoria, principalmente ao chamá-la de científica. A única teoria que esclarecerá o mistério das coisas humanas é aquela que pode ser incorporada ao raciocínio prático do agente. Mas essa filosofia, ao apropriar-se de credenciais científicas, acaba renunciando ao ponto de vista que a toma inteligível e criando, entre a teoria e a prática, uma barreira que chega a parecer intransponível.
Capítulo 16 - O utilitarismo e a filosofia posterior
A filosofia marxista possui um valor permanente, em grande parte devido à sua tentativa de reconciliar a visão hegeliana da consciência com uma economia política empirista.
Alguns filósofos buscaram então uma teoria utilitarista para rebater, sem muita base, muito do que vinha crescendo referente a Marx. A resistência ao ethos da reforma fora expresso na obra de Edmund Burke (1729-1797), outro filósofo cujo pensamento se enraizava na psicologia moral setecentista.
Bentham foi um deles, ele não criou uma filosofia nova, mas buscava elementos em autores anteriores. Por si só chegou numa teoria do prazer. Contanto que os prazeres e as dores sejam concebidos como mantendo apenas uma relação mútua quantitativa, mas não qualitativa (ou seja, desde que o principal objetivo e objeto da ética seja esquecido), é possível imaginar uma solução para todos os problemas morais. Porém não há uma razão a priori para pensar que todo o prazer de um indivíduo não possa ser utilmente sacrificado para o maior benefício de todos.
Tentando explicar essa relação a priori surge outro importante pensador foi John Stuart Mill. Ele tinha uma filosofia meio falha que não conseguia associar a criação de uma nova Lei Positiva aos velhos ensinamentos liberais. Ao criar uma filosofia "utilitarista" descartou referências importantes como Platão e Kant, simplesmente por falta de conhecimento.
Ele não conseguia diferenciar, em sua filosofia, as divergências claras entre vários tipos de "felicidade", como as de longo e curto prazo, que tem efeitos diferentes em questões importantes como economia. Buscava, de forma vã, nas relações benevolentes entre as pessoas a existência de determinados comportamentos econômicos. Ideais assim só funcionam a luz de darwinismo social, o que é facilmente refutado pelo autor ao analisar uma tribo que tem uma religião que exige sacríficos, para um antropólogo, é clara a necessidade desse tipo de atitude para a coesão do grupo, mas na mente daqueles que tomam as atitudes, os lideres da tribo por exemplo, é apenas uma relação em primeira pessoa religiosa. Esse tipo de filosofia em primeira pessoa que foi totalmente negligenciada por Mill.
A princípio, se não fosse contra a lei, nenhum comportamento seria negligenciado na filosofia utilitarista. Isso da marge a atitudes negativas que vem a prejudicar a vida do homem, como o vício.
Parte V - A filosofia recente
Capítulo 17 - Frege
Sua obra passou despercebida, e foi apenas no fim do século XX que este foi considerado o verdadeiro fundador da lógica moderna.
Certas descobertas relativas aos fundamentos da matemática e as técnicas de formalização prepararam o terreno para sua lógica. Mas o que possibilitou esta foi o fato de Frege ter compreendido a importância da investigação lógica e os esquivo filosóficos perpetuados em nome da lógica. Frege acreditava que a teoria kantiana da matemática - de que toda verdade matemática é sintética a priori - era equivocada e isso pode ser mostrado pela adoção de uma lógica livre das preconcepções aristotélicas que concentraram as atenções de Kant.
O número um, para ele não é mais uma entidade que o homem comum, e as leias da matemática não são mais verdades acerca de um mundo independente do que a asserção de que "todos os solteiros não são casados". Ou seja, se possuímos um conhecimento a priori, isso se deve ao fato de que nós mesmos termos construído essa verdade. Visto que Kant identificou a metafísica com o domínio do conhecimento sintético a priori, apresentando a matemática como o exemplo mais persuasivo de tal conhecimento, a demonstração de que a matemática é analítica deu ensejo a uma rejeição totalmente nova e caracteristicamente moderna da especulação metafísica.
Ele perguntava o que seria um número. Sabemos, independentemente da teoria, que há uma lógica coerente que rege termos como "existe". Sabemos que o enunciado "Existe algo que não é vermelho" requer a falsidade da generalização "Tudo é vermelho". A lógica aristotélica não tinha um modo de representar essa relação. Ideias como "existe" e "tudo" tem um caráter lógico especial. Eles denotam, não a propriedades de objetos, mas por assim dizer, propriedades de segunda ordem das propriedades. Suponhamos que pudéssemos especificar o que torna verdadeiro um enunciado aritmético que a = b assume a forma "a" e "b" sem apelar para o conceito de número. Então teremos explicado o uso do conceito aritmético de identidade.
Um bom exemplo para sua teoria é o estudo do Zero. Zero é o número que pertence ao conceito "não-idêntico a si mesmo". Frege optou por essa definição porque, como alegou, decorre das leis da lógica que o conceito "não-idêntico a si mesmo" não possui extensão. Ao argumentar assim, Frege visou constantemente proceder desse modo, não introduzindo concepções que não pudessem ser logicamente explicadas. Seguindo tal método, foi capaz de extrair as definições e as leis da aritmética de modo a mostrar, como pensava, que todas as provas matemáticas eram aplicações complexas da lógica, e todos os enunciados aritméticos, se verdadeiros, o eram em virtude do significado dos termos utilizados para expressá-los.
Resumindo, ele inventou a moderna ciência da lógica formal; e, ao fazê-lo, subverteu as doutrinas da lógica aristotélica e pós-aristotélica que, por 2 mil anos, impediram que tal disciplina progredisse.
Uma consequência a linguagem ão estas duas: a de que uma palavra só tem significado definido no contexto de toda uma sentença e a de que o significado de qualquer sentença deve ser derivável dos significados de suas partes. Elas parecem ser contraditórias, mas não são. A primeira (da qual encontramos uma aplicação na definição fregeana contextual de número) diz que o significado de uma palavra não pertence a ela isoladamente, mas consiste em sua potencialidade de contribuir para um "pensamento" completo. Assim sendo, a palavra "homem" possui o significado que tem porque a utilizamos para falar sobre homens.
Capítulo 18 - Fenomenologia e existencialismo
Muitos pensadores fizeram parte destas linhas filosóficas, entre eles o mais famoso sem dúvida é Sartre. Comecemos nossa análise com Brentano. Ele em parte devido ao fato de ter enfatizado a primeira pessoa" não se aventurou muito pelo âmbito do que hoje chamaríamos de psicologia empírica. Ao contrário, preocupou-se com um. antigo problema filosófico: o da natureza do conhecimento da primeira pessoa. Ele argumentou que todo estado ou evento mental é caracterizado pela "referência a um conteúdo" ou por estar "direcionado para um objeto" (em consequência, por um "objetivo" ou "intenção" interior). Se creio, existe alguma coisa em que acredito. Brentano acreditou que tal propriedade da intencionalidade é peculiar aos fenômenos mentais e comum a todos eles.
Seu pensamento baseia-se em duas premissas principais. Em primeiro lugar, ele reafirma a essência da posição cartesiana, ou seja, a de que o conhecimento imediato que tenho de meus próprios estados mentais conscientes constitui o único fundamento seguro para uma compreensão de sua natureza, desde que eu possa isolar o que é intrínseco ao estado mental e separá-lo de tudo que é exterior. Em segundo lugar, a intencionalidade do mental torna o "significado" ou a "referência" essenciais a todo ato mental.
Outro importante pensador que seguia essa linha de importância do conhecimento em primeira pessoa foi Husserl. Este pensou que o "eu" existe apenas como sujeito e nunca como objeto da consciência. Além disso, constitui o único acesso ao significado, que é criado pelos atos mentais, e é só mediante tais atos que o mundo se torna presente à consciência. Consequentemente, nosso entendimento determina as essências das coisas, ao determinar a maneira pelo qual são conhecidas. Desse modo, a fenomenologia gera um conhecimento das essências, e não dos fatos. É, por conseguinte (assim se alegam), uma ciência a priori.
Heidegger também teve insights importantes. Para ele, minha própria existência é questionada quando se relaciona com essa existência dos outros. Tomo-me consciente do que Heidegger chamada de meu "estar-abandonado". (Geworjenheit), ou seja, o fato de que minha existência no mundo carece de uma razão; o fato de que simplesmente estou lá.
Como Heidegger assinala, a ansiedade "individualiza". É precisamente devido ao fato de não ter objeto, e de sua intencionalidade ser universal, indiferenciada e sem nada focalizar, que nada só pode ser compreendida como minha. Ao experimentar a ansiedade, sou destacado deles e reintroduzido em minha individualidade, minha existência, como o fato derradeiro.
O eu [se/f] "cuidadoso" possui um novo tipo de ser - uma totalidade que Heidegger também descreve como ser-para-a-morte. Pois a ansiedade traz a apreensão de finitude e vulnerabilidade; e o "cuidado" é simplesmente compreender o mundo como o lugar da existência finita e vulnerável.
Isso acarreta o fato de que só posso tornar me autêntico se concebo que meu ser está no tempo, não apenas no sentido de que todas as coisas estão no tempo, mas no sentido mais profundo de que o tempo deve formar e determinar toda a minha perspectiva sobre o mundo, separando o futuro, que é objeto da capacidade de resolução, do passado, objeto de culpa e responsabilidade.
Seus conhecimentos são bem sólidos a luz de uma filosofia a priori. Por isso, muitas vezes foi buscado cientificar seus textos. Este não foi a intenção de Heidegger. Podemos observar isso na falta de termos como "assim sendo", "portanto" etc.
Os escritos de Jean-Paul Sartre (1905-1980), discípulo francês de Husserl e de Heidegger, que tudo fez para propagar o existencialismo como doutrina moral e metafísica peculiarmente adaptada às exigências da consciência moderna, também apresentam essa deficiência no que se refere à argumentação.
Ele introduz o "nada" na em sua filosofia. Quando entro num bar em busca de Pedro, e ele não está lá, o bar apresenta uma espécie de narrativa da não-existência de Pedro que não poderia ser compreendida em qualquer localidade em que eu não esperasse encontrá-lo. Assim, o "nada" tem importância existencial em sua teoria.
Sobre angustia Sartre diz que, inicialmente, ela se manifesta como o sentido de que os objetos não se distinguem propriamente entre si. Eles são indiferenciados, passivos e espectadores da ação. O sentido que fazemos do hiato entre sujeito e. objeto traduz-se num sentimento de náusea por causa da dissolução das coisas. O mundo torna-se viscoso. Isso ocorre quando adoto uma moralidade, uma religião, uma função’' social que foram inventadas por outros.. e que só são importantes para mim na medida em que estou objetivado nelas. O resultado é o que Sartre chama de "má fé", indistinguível, no meu entender, da inautenticidade heideggeriana, devendo uma vez mais o conteúdo que podemos atribuir-lhe à "alienação" do pensamento hegeliano do século XIX.
Sarte acredita que somente em sua individualidade, fundindo-se com o mundo é que o ser é livre. Mas ele não explica como fazê-lo. Sartre introduz sua famosa defesa do subjetivismo ético, alegando que qualquer adoção de um sistema de valores representado como "objetivo" constitui uma tentativa de transferir minha liberdade para o mundo dos objetos e, desse modo, perdê-la.
Sarte, novamente imitando Hegel, descreve todas as relações humanas em termos de luta. Se amo alguém, nunca constitui simplesmente uma questão de luxúria o fato de satisfazer-me com seu corpo: se fosse apenas isso, qualquer objeto, mesmo um simulacro de corpo humano, me satisfaria do mesmo modo. O que eu quero é alguém, ou seja, o indivíduo que só é real em sua liberdade, e que é falsificado por toda tentativa de representá-lo como objeto. Mas, naturalmente, a liberdade possui a peculiaridade de não ser emprestada, compartilhada ou roubada. É minha e somente minha. O amante, que quer possuir o corpo do outro somente como amante e somente na medida em que o outro possui seu próprio corpo, está limitado por uma contradição. Seu desejo só se realizará frustrando-se, deixando-o com a liberdade do outro que, não obstante, é suprimida. No ato do amor, o outro torna-se seu corpo, perdendo, assim, aos olhos do amante, a subjetividade que o define. Sartre sugere que o caso mais evidente de tal coisa é o sadomasoquismo, que analisa de maneira detalhada e fascinante.
Capítulo 19 - Wittegenstein
A descoberta da nova lógica precipitou a filosofia "analítica", acarretando em primeiro lugar o atomismo lógico, depois o positivismo lógico e, finalmente, a análise linguística, cujos adeptos têm, em geral, atentado pouco para os argumentos e objetivos de seus antecessores.
1 - A origem da filosofia "analítica"
Ludwig Wittgenstein (1889-1951). Atualmente, ele é considerado por muitos o filósofo mais importante de nosso século. Todavia, é difícil enquadrar seu pensamento na história da filosofia, em parte devido à sua iconoclastia posterior e, em parte, porque, como Frege, ele foi "provinciano".
Sua filosofia começa com perguntas como a de Moore: Como é possível que minha crença de que tenho duas mãos seja menos certa que a validade de todos os argumentos filosóficos que se têm aduzido para refutá-la? Ele acreditava que ser coisas não podiam ser ditas, destas a metafísica era a mais facilmente reconhecível.
2 - A teoria das descrições
Em questões envolvendo estruturas de frases, Russel criou toda uma teoria filosófica que tentava dar lógica ao que falamos. Wittgeinstein sintetizou tudo isso em sua obra "Tractatus"
3 - O atomismo lógico e o Tracatus
As sentenças atômicas são aquelas que empregam os primitivos da linguagem, isto é, os nomes e predicados elementares que, sendo indefiníveis, servem para distinguir (ou "descrever") o que Wittgenstein chamou de fatos atômicos. Trata-se do "princípio da extensionalidade", com o qual já nos deparamos ao discutir Frege e que, de acordo com Wittgenstein, é uma precondição do pensamento e da análise lógicos. A lógica ocupa-se apenas da transformação sistemática de valores-de-verdade e, por conseguinte, uma linguagem lógica deve ser transparente aos valores-de-verdade.
O paradigma de verdade objetiva é a "tautologia" veri-funcional. Consideremos a sentença "p"ou "q", A definição de "ou" é: p ou q é falso se tanto p quanto q forem falsos e, em caso contrário, verdadeiro. A definição de "não" é a seguinte: não-p é verdadeiro se p é falso, e falso se p é verdadeiro. Isso quer dizer que a sentença "p ou não-p" é sempre verdadeira, qualquer que seja o valor-de-verdade de "p". Desse modo não importa como substituímos o termo primitivo "p", pois isso resultará sempre numa sentença verdadeira. As sentenças que assumem tal forma são portanto, necessariamente verdadeiras, podendo ser consideradas verdadeiras a priori por qualquer um que compreenda as operações lógicas da linguagem.
Assim, o mundo é descrito pela totalidade das proposições atômicas verdadeiras; estas são verdadeiras, mas, sendo atômicas, poderiam ser falsas, já que nada em sua estrutura determina sou valor-de-verdade. Os limites do pensamento são os limites da linguagem. Wittgenstein conclui seu livro com o lacônico enunciado: "o de que não se pode falar deve-se calar".
4 - Wittegenstein e a análise linguística
O slogan do positivismo - o significado de uma sentença é seu método de verificação - é tirado do Tractatus, como grande parte do aparato mediante o qual se buscou livrar o mundo de entidades metafísicas.
5 - O Wittgenstein posterior
A ênfase da filosofia posterior de Wittgenstein é decididamente antropocêntrica. Seu ponto de partida se tomaram, não as imutáveis abstrações de um ideal lógico, mas os esforços falíveis da comunicação humana.
Todavia, é verdade que o único constrangimento envolvido no uso comum é o próprio uso. Se nos opomos a verdades que nos parecem necessárias, tal se dá apenas porque fomos nós que criamos as regras que as fazem ser assim; e também podemos abrir mão daquilo que criamos.
Ao realizar tal transição, tenta subverter a principal premissa de quase toda a filosofia ocidental desde Descartes - a premissa da "prioridade. do caso da primeira pessoa".Wittgenstein usa vários argumentos destinados a mostrar o que essa premissa realmente significa e, ao fazê-lo, tenta demonstrar sua insustentabilidade.
6 - O argumento da linguagem privada
o mais famoso argumento desenvolvido pela posição wittgensteiniana é o que veio a ser conhecido como "o argumento da linguagem privada": há um "privilégio" peculiar ou "imediatidade" envolvidos no conhecimento de nossas próprias experiências atuais. Em certo sentido, é absurdo sugerir que tenho de ou poderia descobrir estar equivocado a respeito delas no curso normal das coisas. (Esse é o pensamento que também subjaz a tese kantiana da "Unidade Transcendental da Apercepção".
Contudo, realmente os cartesianos e sua progênie empirista têm sempre, intencionalmente ou não, aceito essa conclusão como se cada um de nós descrevesse nossas sensações e outros episódios mentais atuais numa linguagem que, em virtude de seu campo de referência ser, em princípio, inacessível a outros, só é inteligível para quem a usa. Wittgenstein opõe-se à possibilidade de tal linguagem privada. Para Wittgenstein isso está errado: que parece certo é o que é certo; consequentemente, não se pode mais falar do certo. Isso leva à seguinte conclusão: não podemos referir-nos aos eventos mentais cartesianos (objetos particulares) numa linguagem pública, nem nos referir a eles numa linguagem privada. Em consequência, não podemos referir-nos a eles. No entanto, seria possível dizer que eles, não obstante, podem existir!
7 - A prioridade da terceira pessoa
Compreendemos o passado e o presente da humanidade por meio de nossos objetivos, emoções e atividade, e não mediante teorias preditivas. Todas essas distinções parecem suscitar a ideia, se não de um mundo especificamente humano, pelo menos de um modo especificamente humano de conceber as coisas. Em outras palavras, apesar de ter atacado o método e a metafísica da fenomenologia, Wittgenstein compartilha com os fenomenologistas o sentido de que há um mistério nas coisas humanas que não será revelado pela investigação científica.
A destruição da ilusão da primeira pessoa tem duas consequências. Em primeiro lugar, não podemos iniciar nossas investigações a partir do caso da primeira pessoa e pensar que ela nos proporciona um paradigma de certeza. Pois, considerada isoladamente, ela nada nos proporciona. Em segundo lugar, embora a distinção entre ser e parecer não exista para mim no momento em que contemplo minhas próprias sensações, isso só ocorre porque falo uma linguagem pública que determina essa propriedade peculiar do conhecimento da primeira pessoa. A suposição de que existe a certeza da primeira pessoa, que proporciona um ponto de partida para. a investigação filosófica e que levou ao racionalismo de Descartes e ao empirismo de Hume, bem como a grande parte da epistemologia e da metafísica modernas, foi finalmente deslocada do centro da filosofia.
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