Lixo: Como a sujeira dos outros molda a nossa vida - Theodore Dalrymple
Canal Resumo de Livros
2 de jan. de 2019
11 min de leitura
Lixo: Como a sujeira dos outros molda a nossa vida - Theodore Dalrymple - Resumo
Introdução
Ao dirigir pela costa inglesa com sua mulher, Dalrymple nota a quantidade absurda de lixo, em sua maior parte associada a junk food (comidas lixo). O autor nota que próximo de lugares pobres, a quantidade de lixo aumenta, e também o número de casas arrombadas, mostrando que a violência e a sujeira sempre afeta mais os pobres.
O livro tratará de filosofar sobre o lixo excessivo da população atual, entender suas causas e suas consequências.
1 - A Filosofia do detrito
Hoje pode-se entender melhor o comportamento de civilizações antigas devido aos detritos que as mesmas deixaram. Da mesma forma é possível entender a civilização atual relacionada aos detritos que elas deixam. Levando em conta que a maior parte do lixo está associado com alimentação, é claro que algo não está certo com a forma que as pessoas comem. Mas exatamente o que está errado?
Para um economista, o fato das pessoas comerem junk food corresponde ao conhecimento econômico que, quanto mais rápido e mais barato se alimentar melhor. Ainda no âmbito econômico, poderiam argumentar que é errado comer mal pois a pessoa que o faz dará gastos maiores a saúde pública, gastos esses que serão pagos pelos contribuintes. O problema dessa afirmação é que isso criará uma ditadura do comportamento que causará danos muito maiores do que a saúde ou ao bolso das pessoas. Ou seja, argumentar em cima da liberdade da pessoa comer o que ela quer esta errado se tentamos encontrar o problema dessa alimentação ruim. Para defender esse estilo de vida horrível algumas pessoas poderiam argumentar que o fato de obesos morrerem cedo é uma grande ajuda na questão previdenciária. E que mesmo pessoas que praticam exercícios e tem um corpo saudável por vezes dão gastos ao sistema público devido as suas lesões.
O real problema da alimentação por junk food não está essencialmente no ato de comer ou nos ingredientes, mas sim como e porque a dieta é adotada. Essa forma de alimentação é o resumo de um jeito degradante de se viver
2 - Refeição em família
O comportamento porcalhão das pessoas que jogam lixo na rua e comem mal, por vezes é reflexo de uma família disfuncional.
As crianças em países secularizados por vezes não tem o pai presente. Este, quando existe, em geral não quer ser um homem preso a rotinas, pois isso é degradante ao seu estilo de vida livre. Sem essa organização, a mãe das crianças fica cada vez mais vulnerável. Por si só a mulher que tem filhos descompassadamente devido a vida naturalmente promiscua dos dias de hoje tem uma responsabilidade que não consegue lidar no que se refere a seu filho. Em vez de se preocupar em discipliná-lo (com uma disciplina que ela, na maioria das vezes não tem) acaba por fornecer a seu filho uma alimentação rápida para ela e gostosa para ele.
Esse comportamento repetido durante toda a infância ajuda a moldar a personalidade do adulto, que será egocêntrico e achara que seus desejos são as únicas réguas do universo, sem se preocupar com as pessoas ao seu redor e buscando atropeladamente resolver a ânsia dos seus vícios.
Conclui-se então que comer em família molda os instintos egoístas das crianças, ao mesmo tempo que fornece a socialização necessária para que o futuro adulto não seja escravo de seus próprios desejos egocêntricos.
3 - O nível de classe
Não é apenas em lugares pobres que a sujeira se multiplica. Ao se relacionar com estudantes de ricas universidades inglesas, Dalrymple reparou que, para eles, não comer a mesa era uma atitude muito natural, e que não havia diferenças de uma refeição com a família. Outra comprovação dessa pouca importância das pessoas de alta classe com a sujeira era a quantidade de lixo nas ruas próximas aquela universidade.
Curiosamente, esses mesmos estudantes que sujam as ruas sem nem pensar sobre seus atos, defendem veementemente o mundo com seus discursos contra o aquecimento global. Esse fato esboça o comportamento "quero mudar o mundo antes de arrumar a cama". Estes estudantes acreditam que o problema do mundo está sempre nos outros (normalmente capitalismo) e que eles são a solução pois se preocupam com questões maiores do que aquilo que os afeta diretamente. Para eles o que importa é a sociedade perfeita, e se para isso eu tiver que ignorar os problemas ao meu lado ótimo, contanto que eu discuta sobre questões maiores como a maldade do capitalismo, a pobreza do mundo (nunca se discute a riqueza, essa sim algo raro e recente na humanidade) ou o aquecimento global. Parte desse fenômeno se deve a secularização de certos países, como a Inglaterra descrita pelo autor. Alto nível de secularização eleva o homem ao patamar de deus, de tal forma que se há algo de mal nele, não é por culpa do individuo, e sim de uma força maior como o capitalismo.
Velhinhos observados pelo autor não tinham esse comportamento porcalhão. Quando perguntados o por que de não jogar lixo no chão, eles respondiam com interjeições de surpresa, afinal, para eles era natural não fazer esse erro. Dalrymple se perguntava se isso não era apenas ver o mundo por uma lente da nostalgia, se perguntando se existia tanto lixo assim na sua juventude, mas em todas as pesquisas imparciais que fez conclui que não havia.
Alguns argumentam que essa quantidade de lixo atual seja devido a riqueza de agora, em comparação com a pobreza do passado. Seria um experimento impossível tentar achar uma relação direta entre riqueza, pobreza e lixo, mas ao analisar fotos da Guatemala no seu período mais pobre, numa época em que a guerra destruía o país, e hoje, ele observa que a quantidade de lixo era a mesma independente da pobreza.
Os vários argumentos citados como possível causa para a quantidade de lixo tentam esconder o real culpado, que são os cidadãos. Hoje é errado julgar o comportamento do seu próximo, de tal forma que tentamos tirar a culpa de quem comete os erros, colocando em qualquer outro laranja. No caso, quando tentam imputar na riqueza o fato de ter mais lixo, estão tentando pôr a culpa no próprio lixo, e não em quem o causou. Reflexo de uma sociedade egocêntrica e mimada.
4 - A Travessa do Gim
Por mais que se diga que a cultura inglesa sempre foi bagunceira usando como argumento a Travessa do Gim, uma importante alegoria histórica as bebedeiras inglesas, isso não é ao todo verdade.
O autor cita que hoje se convive com uma geração que não tem mais a tradicional sutileza inglesa. O comportamento do inglês médio era naturalmente silêncio, e isso era refletido também nas obras de arte. Hoje, um dos efeitos colaterais dessa inversão de valores são obras bem espalhafatosas. Esse dado vai ao encontro da passividade dos ingleses de hoje, escravos da União Europeia e suas leis absurdas, em comparação ao inglês da Segunda Guerra Mundial, que mudou a história do mundo vencendo o nazismo.
Para o ex-ministro Tony Blair, depois do acidente da princesa Daiana, os ingleses inventaram uma nova forma de ser, essa mais “espontânea”. Mas é obvio, mediante ao lixo no chão, badernas em baladas e cheiro de urina nas ressacas de domingo, que essa espontaneidade não leva em conta o bem-estar do próximo. Para o inglês hoje, se "x" é proibido, eu posso fazer todas as outras coisas na forma mais extrema possível, independente da opinião do outro.
É claro que proibir determinados comportamentos é um ato contra a liberdade, mas a liberdade não é a única coisa a ser valorizada por um povo. Em especial, há atitudes importantes que devem ser proibidas (como dirigir embrigado) que vão contra a total liberdade. Nem todas as pessoas que dirigem bêbados vão matar alguém (isso é argumento para algumas pessoas acharem errado prender alguém por dirigir bêbado) mas sem dúvida acarreta um risco desnecessário a si e ao outro.
Da mesma forma que as pessoas podem beber e não brigar, ou seja, não há uma ligação direta entre beber e arrumar briga, também não existe uma ligação direta entre comer na rua e jogar lixo no chão, mas nas circunstancias atuais de cultura existe essa relação, e isso deve ser combatido.
5 - Bárbaros
Existe uma argumentação que explica o porque alguns ingleses fazem questão de jogar o lixo no chão associado a falta de “gratidão” que tem ao estado. Quando vem uma lixeira estatal, fazem questão de jogar o lixo perto dela, a lixeira fazendo o papel de atrair a atenção daquele que produziu o lixo. Como bárbaros tentando se adequar a cultura de um local, olham a lixeira e a tratam como referência para lixo, não sabendo como a usá-la, jogam no chão perto dela. A preguiça por vezes é usada como desculpa, ou mesmo a "invisibilidade da sujeira" em suas vidas.
Mesmo tendo conhecimento do mal sanitário que o lixo causa, isso não impede as pessoas de proliferarem ratos mantendo as cidades emporcalhadas.
O autor, ao se perguntar se não poderia existir algo de belo na sujeira, cita que a beleza em geral é difícil de ser explorada socialmente porque vai do gosto de cada um. O que é belo não é necessariamente bom. Para ele, a única forma das pessoas não estarem se preocupando com questões estéticas, de saúde ou comportamentais, é porque, para eles, o lixo é tão natural quanto o oxigênio.
Destruindo a importância do passado, ou de qualquer coisa que tenha real valor, deixa as pessoas aptas a não se preocuparem com os erros que cometem agora. Em especial os governos não se preocupam em citar com veemência o que havia de bom no passado, focam apenas em coisas ruins (como holocausto) se mostram bons em comparação aos monstros do passado, assim afirmam que tudo que é novo é bom, e comportamentos porcalhões são positivados.
Esse comportamento doentio se reflete em especial nos jovens ingleses que, não se importando com absolutamente nada do passado, não tem assim como fazer uma comparação de juízo de suas atitudes, ou mesmo dos seus prazeres e sua intelectualidade. Buscam no agora a felicidade absoluta, como se as suas festas fossem o ápice da sua existência. Vivem como se tudo que não fosse assassinato é permitido, e não fazê-los é perda de tempo. Mesmo com a possibilidade de observar no agora bons comportamentos (em detrimento da impossibilidade de compará-los com os do passado) não o faz, porque quando está olhando, não está observando. Apenas age por instinto, como se estivessem desesperados por não terem vidas com significado real ou propósito
6 - É o meu direito
As pessoas que mais se irritam com a sujeira, em geral não tem o comportamento que leva a reclamarem e mostrarem sua indignação e sentimentos em publico. Isso se deve também ao fato que associamos maus comportamentos a maus comportamentos, assim, quem joga lixo na rua pode é um individuo violento em potencial.
Não existindo uma lei para prender quem joga lixo na rua, fazê-lo se torna na mente dos que vivem em jurisprudências positivadas, um dever. Ir contra isso é ir contra a liberdade da pessoa. Estes porcalhões não pensam por um segundo de onde surgiu seus direitos. Mesmo aqueles atribuídos a priori da Declaração de Independência americana demoraram para serem definidos. Não levando em conta a dificuldade para que direitos surgissem e fossem respeitos, se torna mais fácil poluir o som com música alta ou o chão com lixo.
É da natureza humana que o desapontamento o acompanhe em sua jornada terrena, mas quando ele é sentido como uma injustiça, e não como a contingência de ser um ser consciente, ele é duplamente doloroso. As pessoas se sentindo o centro do universo, por vezes com seus sonhos sendo sumariamente tolhidos pela realidade dura, diferente da vendida pela mídia, se torna o estopim para comportamentos violentos quanto alguém vem dar uma lição de moral ou simplesmente dizer que é errado poluir o ambiente.
Somasse a tudo que foi dito uma atitude de ojerize ao passado, como representado pelo autor no comportamento dos neoateus, negando as benesses do pensamento religioso por ainda se imaginarem vivendo em teocracias violentas, surge para os porcalhões o argumento de que, se somos diferente dos antepassados “machistas e opressores” sujando as ruas, melhor assim.
7 - O outro mundo
As pessoas hoje em dia consomem lixo não apenas material, mas mental. Todos estão sempre entorpecidos com o som e as luzes de uma tela ligada, e isso data desde a época que só havia a televisão. Os pais ficam felizes com o fato de que suas crianças sabem usar celulares, mas aos poucos vão as infectando com essa poluição.
As pessoas ficam absorvidas com essas luzes e mais especificamente as músicas pop's que as acompanham. Criticar quem fica entorpecido e distraído com esse tipo de conteúdo é diferente de criticar aqueles que ficam dentro de suas mentes resolvendo grandes questões, devido ao fato de que o primeiro caso é uma ação egoísta, na segunda sempre existe uma externalidade positiva à absorção em pensamentos.
Essa absorção chega a níveis perigosos quando misturada ao volante. Sendo dirigir um ato massante, essas músicas entorpecedoras ajudam a entrar em estado de transe, fazendo o motorista não levar em conta os vários quilometros que dirigiu sem atenção.
Sendo o carro o único ambiente privado de alguém, pois sua casa normalmente está cheia de filhos chorando ou esposas reclamando. Porém, o governo tende a dominar cada vez mais o âmbito privado. Tentando mudar a forma como professores e médicos trabalham, por exemplo.
Essas interferências agem sobre trabalhadores estatais e privados. Criam tantas leis que por vezes não regulam nada, apenas criam mais empregos para os "amigos do rei" em concursos públicos por exemplo.
Um exemplo curioso dessa inflação de leis foi a vez em que o autor teve que preencher um formulário estatal (caso não fizesse estaria demitido) que questionava se aquele que assinava já foi um terrorista. Pode parecer uma lei inútil mas não é, pois apenas o fato de terem criado esse tipo de formulário faz surgir automaticamente milhares de empregos, e também reduz o individuo perante o estado.
8 - O olho da câmera
Margaret Thatcher foi uma politica inglesa que tentou aplicar conceitos da economia de empresas privadas no serviço público. Porém, levando em contas os aspectos econômicos e principalmente morais, esta medida não funcionou, afinal, os servidores com seus empregos garantidos não tinham o empenho necessário e por vezes moldavam dados para agradar seus superiores sempre próximos, ações impossíveis de serem minimamente funcionais em uma empresa privada.
Este comportamento foi o estopim para uma maior regulação, que hoje tem como efeito colateral as pequenas "anarquias" feita pelo povo, como jogar lixo no chão em forma de mini-protesto.
Mesmo aqueles que não o fazem por protesto, jogam o lixo porque não podiam fazer diferente, o estado ajuda nesse comportamento regulando cada atitude que o individuo pode ter, criando nele o senso de desrespeito natural para o mínimo funcionamento da sua vida.
Por vezes o autor ia a casas de baixa renda e percebia que a atitude comum dos populares em referencia ao lixo em frente de suas casas era dizer "Eu pedi a prefeitura, mas eles não fizeram nada". Como se toda a escatologia produzidas pelas pessoas devessem ser limpas por humanos "inferiores" apenas porque foram pagos para isso. Isso vai ao encontro de uma frase de Burke "O que é liberdade sem sabedoria e sem virtude. É o maior dos males possíveis, porque é estultice, vício e loucura, sem tutela e sem freio".
Mediante a esses casos, surge a ação paliativa do governo de instalar câmeras para a fiscalização. Mas essas por si só não podem quem comete a infração, seja violenta, seja de jogar lixo no chão. Leis por si só não guiam os homens, por mais que em alguns estados, como em Singapura, a lei bem aplicada serviu para moldar o comportamento sujismundo de sua população.
Nem o governo nem a população acham que é responsabilidade deles lidar com esse problema urgente. O governo porque se considera superior a problemas tão efêmeros, que não mudarão o mundo. O povo porque delega esse tipo de responsabilidade ao governo e curiosamente desdenha daqueles que se preocupavam com a ordem e limpeza no passado.
9 - Estudos sobre o lixo
Levando em conta uma versão da teoria das janelas quebradas (que diz que um ambiente com essa imagem violenta atrai mais violência) associada a lixo, Dalrymple se pergunta porque ele mesmo não é levado a cometer tal ato.
Tentando entender o porque de sua ojerize a jogar lixo na rua, Dalrymple se pergunta se seria o medo de ser pego. Conclui que não, pois isso dificilmente acontece.
Não é por questões estéticas pois o ambiente não ficaria melhor ou pior com mais algumas sujeiras feitas por ele. Independente do utilitarismo, estética o estrago já estava feito.
Diferente do que alguns profissionais da educação e psicologia, ele não acredita que uma educação externa a família resolverá a atitude das pessoas em relação ao lixo, pois conclui que não joga devido a sua mãe. Essa conclusão não tem muita racionalidade implicada, mas apenas a imagem metafísica de sua progenitora é suficiente para ele não fazer o que é errado neste caso.
Conclusão
Dalrymple, para tentar regular a atitude socialmente isoladora e grudenta de mastigar chiclete e jogá-lo no chão, propõe um imposto para permitir uma limpeza assídua desse detrito. Para ele, se isso não resolver, então que a proibição seja total.
Outro problema abordado é o das sacolas de lixo. Por mais que taxas tenham sido postas ao uso desse artefato, as pessoas ainda a descartam erroneamente. O autor conclui que o problema para isso está, além da atitude das pessoas, na falta de coleta de lixo em seu pais. Isso ocorre devido a degeneração do serviço público lá, que tem muitos gastos devido ao estado inchado que a Inglaterra se tornou, não tendo assim dinheiro suficiente para essa ação "menor" que é a limpeza publica.
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