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Mapas do Significado – Jordan Peterson – Resumo

  • Foto do escritor: Canal Resumo de Livros
    Canal Resumo de Livros
  • 24 de mai. de 2020
  • 35 min de leitura

Atualizado: 4 de jul. de 2023

Mapas do Significado – Jordan Peterson – Resumo


PREFÁCIO


O livro se trata da compreensão da dimensão cultural que define muito do conhecimento que temos e a forma que lidamos com tudo. Não podemos “ver” a cultura, mas ela está em todas as nossas ações, ela surge do caos, se a cultura se abala, o caos pode voltar.

O autor cita que cresceu num lar cristão, mas logo na adolescente abandonou sua fé, pois não conseguia encontrar respostas como o porquê existir o mal. Ele acabou entrando num partido de esquerda pois acreditava que a raiz de todo mal estava na economia. Lá percebeu que aqueles membros do partido em geral eram uns ressentidos, e não conseguia ter admiração por eles, da mesma forma que tinha por certos “burgueses” com os quais teve relacionamento profissional e acadêmico. Como diz Orwell, socialistas não gostam de pobres, mas odeiam os ricos, sua ideologia é sustentada pelo ódio e ressentimento e alimentado pelo fracasso.

Com o tempo foi percebendo que nada tinha valor intrínseco, que são as pessoas que dão valor aos objetos (diferente do que a doutrina esquerdista prega). Ao entrar no curso de psicológica, acabou se deparando com o mal em sua frente quando foi a uma prisão, conversou com um rapaz que parecia ser normal, mas, na verdade, matou dois policiais pais de família que imploravam pela vida. Nesse momento percebeu que o mal poderia estar dentro dele também. Começou a estudar Jung, que dizia que o que mostramos para os outros está relacionado também com os outros, não apenas comigo. Devido a isso ele já não acreditava mais no que dizia. A lógica dos argumentos não lhe dizia mais nada.

Depois de tanta dúvida em sua mente, decidiu certo dia pintar um quadro, e deixando a mente fluir na tinta acabou pintando a imagem de cristo crucificado com uma cobra envolta, um desenho com simbologia estranha para um ateu. Ao ler mais Jung percebeu que certos arquétipos da cultura podem afetar o indivíduo, como se a consideração que temos sobre o mundo externo a nossa cabeça fosse tão horroroso a nós, também por causa da ignorância e da falta de controle deste, que temos representações horríveis dela em sonhos.

Acabou descobrindo que as crenças (que os seculares rejeitam) na verdade são efetivamente o mundo onde vivemos, porém isso não torna tudo um relativismo moral, por sinal elas definem absolutos morais universais. Ele aprendeu então porque as pessoas fazem guerra, o aspecto terrível ad vida poderia de fato ser uma precondição necessária para a existência da vida. Que elementos gerais como o Grande Pai (cultura), Mãe Natureza (mundo físico) alocam elementos como medo do desconhecido, desvendado pelo arquétipo do herói, e sua negação pode ser entendida como o diabo.


CAPÍTULO 1 – MAPAS DA EXPERIÊNCIA

Interpretamos baseado na cultura, e isto se torna um guia para a ação. Existem duas formas de se obter conhecimento, pela cultura ou pela ciência. Alguns acham que a ciência é suficiente, mas não levam em conta que "achar" não é ter a certeza. Muitos não percebem que existem limites para a obtenção de conhecimento nessas duas áreas. Analisando isso pela ótica de um bebê que encosta numa escultura de vidro, ele tem uma análise material do objeto, mas quando sua mãe diz para ele nunca mais tocar naquilo, ele cria uma noção de significado para o mesmo, e esses dois conhecimentos se fundem numa totalidade. Essa soma de concepções está em nossa mente quando dizemos, por exemplo que um homem é assustador e são essas concepções que moldam o mundo em que vivemos.

O significado de algo está sempre associado a ação que temos em relação a esse algo, nunca agimos se isso não significar algo pela gente, mesmo o estudo mais enfadonho ganha um aspecto primoroso para nós, algo que a ciência crua não conseguiria.

Como as pessoas pensavam antes de ser experimentalistas como os seculares? Quando analisamos textos de alquimistas, percebemos que existe sempre a dimensão moral sobre uma análise que hoje é feita apenas cientificamente, ou seja, sem o apelo de algo que não possa ser observado por todos. Mesmo os "normais" naquela época se esforçavam pela "perfeição". Devido ao cientificismo, deixamos de lado esses conhecimentos antigos, o que poderia parecer algo engrandecedor, na verdade nos colocou no mesmo patamar de pedras para o cosmos. Por consequência, não acreditamos nas nossas próprias histórias, e nem que elas foram uteis no passado. Essa é uma análise interessante pois todas as ideias que derivam do passado foram uteis para a construção das sociedades, e as criadas hoje em dia, supostamente sobre lógica, como o comunismo, não foi suficiente para fazer uma sociedade vingar por uma geração que seja. Nietzsche aponta essas dicotomias quando indica que mesmo alguém, ou a sociedade, quando abandona a fé, continua com seus pressupostos no seu comportamento, mas não consegue sustentar isso logicamente. Matamos Deus, mas não temos condição de sustentar essa morte no que se refere a moralidade (aqui o autor e o Nietzsche, ao meu ver, não levam em conta a ética jusracionalista). Não encontramos Deus lá em cima ou o diabo lá embaixo porque não sabemos ainda como encontra o "lá em cima" e o "lá em baixo", nossos ancestrais também não. Também não podemos interpretar os textos dos antigos com a visão de que é uma espécie de protociencia: são fenômenos de qualidades diferentes. A ciência, simplesmente o "afeto" do encontro com um objeto ao fazer a sua análise, algo inconcebível para os antigos. Essa desestruturação da moralidade causa, nos tempos atuais, uma incoerência muito curiosa, questão as religiões da Nova Era, uma busca atual numa religião sem lógica pela moralidade perdida no passado.

Nietzsche foi um grande crítico do socialismo, um desses regimes que buscam no conhecimento, e não na tradição, o paraíso na terra. Ele citava que regimes como esse tem o desejo escondido de “negar a vida”. Dostoievski dizia que isso talvez ocorra porque esses planos “lógicos” deixam de considerar o aspecto irracional, transcendente, incompreensível e frequentemente ridículo do caráter humano. Assim, as associações mitológicas podem dar conta de explicar o primeiro estágio de uma moralidade universal, podemos fazer isso dentro de uma psicologia. Pode nos ajudar a ver como o que devemos fazer poderia estar intricadamente associado ao que o que é que somos.

Muito disso vem da importância do mito. A importância do mito não está apenas numa figura que gera uma nação, mas nos comportamentos e cultura que as precedem e as sustentam. Por vezes nessas histórias tem elementos que não são facilmente postos em palavras. Disso então o autor mostra que determinadas coisas “são” e existe um "caminho" que nos leva a como as coisas deveriam ser. Este "caminho" é algo natural em escritos de várias culturas. Um exemplo é a moralidade cristã, que pode ser entendida como o plano de ação, cuja a meta é o restabelecimento do "reino de Deus".

O processo de amadurecimento pode ser entendido como uma situação onde coloca a pessoa perto do “caos” de onde a cultura surge. Pois ao amadurecer, perdemos a certeza de tudo que tínhamos na infância. Tendemos a nos comportar para que esses encontros com o caos, o desconhecido, não aconteçam.


CAPÍTULO 2 – MAPAS DO SIGNIFICADO


Humanos são condicionados a responderem as novidades de forma diferente das respostas usuais. Passando pela emoção relacionada ao evento até a compulsão. Quando chegamos ao desconhecido, as emoções primordiais nos governam, ou seja, temos esse desregulamento pelo desvinculo da realidade ao propósito que almejávamos. Novamente nos símbolos já citados, temos o conhecido (homem, Deus), desconhecido (natureza, mulher) e o presente, a capacidade para exploração criativa e geração de conhecimento.

Inconveniências fazem parte desse futuro desconhecido, quando se acumulam em número suficiente viram uma catástrofe auto induzida, mas as vezes não percebida dessa forma por isso associada ao um ato divino. Evidencias indicam que nossas respostas afetivas e cognitivas ao desconhecido ou imprevisível estão conectadas. Essa analise natural da ação que fazemos (estar no ponto B e querer ir ao A) é um tanto primitiva em nosso cérebro. Quando olhamos isso na forma cultural, observamos que o universo se divide entre caos e ordem, e por mais que seja uma metáfora, parece que nosso cérebro se adaptou a ela.

Podemos perceber exemplos disso numa narrativa simples, onde o homem tem uma espécie de reunião perfeita em sua mente, e depois de ter treinado para ela e ir em sua direção, percebe que esqueceu de levar em conta o atraso que o elevador está fazendo a isso, suas expectativas estão sendo quebradas a um nível que tudo o deixa nervoso. Porém, ao chegar mais próximo da reunião após o empecilho do elevador, quase que esquece por completo da reunião quando escuta um som e imagina que um caminhão está a ponto de atropelá-lo. Quando percebe que é só uma barra de ferro que caiu em outro ponto da rua, se sente extremamente feliz. Percebemos que o desconhecido serve como um estimulo não condicionado.

Temos bons limites para o que consideramos o mal absoluto ou o bem absoluto que pode acontecer conosco. Os afetos as vezes não estão associados apenas aos nossos objetivos, mas a algo inesperado que ocorreu, como a criança que esperava ter que mostrar ao professor que não fez a tarefa, mas o sinal bate antes disso ocorrer. Em culturas antigas, como os budistas, eles acreditavam que a significam motivacional dos eventos em andamento é claramente determinada pela natureza do objetivo ao qual o comportamento é dedicado, ou seja, que tudo é uma espécie de ilusão relacionada as nossas expectativas. Quando algumas expectativas são frustradas, paramos de acreditar que nosso fim é possível, pois os meios não estão alinhados a este. Neste processo também fica difícil para o indivíduo lidar com suas próprias falhas, até o momento que ocorre a necessidade de adaptação revolucionária. De fato, nossas culturas são erguidas sobre o alicerce de uma única grande história: paraíso, encontro com o caos, queda e redenção, em outras palavras, eventos que também ocorrem no cotidiano daquele que busca fins.

Alguns cientistas acreditavam que os seres humanos funcionariam como animais se privados de seus elementos básicos para a vida, como comida e sexo. Mas é impossível prever o que um ser consciente vai fazer apesar desses elementos importantes e limitantes em nossa biologia. Para ilustrar esses fenômenos, o autor cita um trecho do livro Arquipélago Gulag, onde comunistas que foram perseguidos pelo próprio regime soviético, em seus últimos momentos de vida, em vez de clamarem ou lutarem entre si por comida, fizeram uso máximo de suas aptidões mentais para palestrar sobre os temas que estudaram durante toda vida. Também citou um artigo de Viktor Frankl sobre uma leva de judeus que estavam a caminho de Auschwitz, mas como ocorre um problema nesse trajeto, acabaram sendo transferidos a outro campo de concentração. Por mais anti-humano que tenha sido a situação que foram expostos devido a esse problema no percurso (tiveram que ficar em pé uma noite inteira passando frio) eles estavam extremamente felizes. Ou seja, afirmar que apenas devido a condições biológicas as pessoas se comportarão de determinada forma é um erro, além de cair na falácia naturalista (derivar um ser de um dever ser).

Também existe a ambivalência de significado, que é quando algo pode ser bom e ruim ao mesmo tempo, como uma comida gostosa, boa para matar a fome, mas ruim para manter o peso. Ou seja, a busca de um dos nossos vários objetivos pode agir negativamente na possibilidade de obtenção do outro. Por mais que por sermos humanos temos um fundo de objetivos que são normais a todos, isso não é suficiente para afirmar que todos querem as mesmas coisas, e os vários eventos, o desconhecido, que permeia a nossa vida, vai afetando nas nossas escolhas e nos objetivos em si. Os próprios limites lógicas e naturais tem esse efeito. O fato de queremos algo no imediato e isso entrar em conflito com o que sabemos que é bom e queremos para o futuro cria conflito intrapsíquico. Talvez isso implique, numa sociedade moralmente deturpada, que anseios que não são confortavelmente obtidos, como prazer sexual com alguém, sejam facilitados, pois existe esse estímulo geral para não sofrermos por esse tema. No mínimo isso funcionou para a pornografia.

Caminhos que não causariam conflitos, ou seja, inclusivos, tanto internamente quanto externamente, ou seja, com a comunidade, criam a alegoria da Terra Prometida. Apenas reavaliando nossos fins e meios e sabendo que temos limites biológicos, podemos tomar decisões mais coerentes com os objetivos.

A novidade entra em jogo aqui, quando entramos no território da novidade, podemos ter a certeza que haverá eventos positivos e negativos. É nesse processo de exploração do imprevisível que todo o conhecimento é gerado. Só damos valor a algo que mexe com nossas emoções, e a cultura é toda baseada em como interpretamos essas emoções. Assim, estudo neurológicos mostram que a presença constante e universal do incompreensível no mundo provocou uma resposta adaptativa de nós e de todas as outras criaturas com sistemas nervosos desenvolvidos. Evoluímos para operar de modo bem-sucedido em um mundo eternamente composto do previsível, e em justaposição paradoxal ao imprevisível. Nossa estrutura fisiológica se harmoniza nessa realidade. É no medo e seus efeitos que temos essa primeira relação com o desconhecido, e só é possível fazer estudo dessas condições quando o corpo passa por essa transformação, porque qualquer simulacro para pesquisa não leva em conta que a pessoa já espera algo relacionado a novidade.

Quando as coisas estão dando certo, a parte do córtex funciona, quando isso não ocorre, o sistema límbico e amidalítico, ou seja, as partes mais primitivas do cérebro tomam controle, modificando o afeto, a interpretação e o comportamento, isso afeta principalmente os centros do controle motor e a memória cortical. As coisas são transformadas em insignificantes, e coisas novas acabam usando partes primitivas do cérebro., que tem mais força, por isso mais um perigo na pornografia, que acaba tornando normal aquilo que deve ser divino e afetando o cérebro de forma descontrolada por ter novidades chocantes em cada vídeo, imagem etc.

Ao estudar o medo, percebemos que os seres humanos não aprendem a temer objetos ou situações nova e nem aprendem a temer algo que outrora era seguro. Medo é na verdade a resposta que temos ao fato de não existir nenhuma estrutura de adaptação, ou seja, é a reação a tudo que não foi transformado em previsível por algum comportamento do passado, sendo assim, é a segurança que é aprendida, e não o medo. É difícil qualquer estudo nesse âmbito pois nossa mente se esforça constantemente a dar aspecto normal ao mundo e a sua própria estrutura (loucos então devem viver em constante medo). Muitos estudos com ratos não levam em conta essa caraterística do medo e acabam prejudicando as conclusões, pois quando um rato é colocado numa gaiola de teste, tudo aquilo é novo para ele, então fora de antigos comportamentos seguros do passado, de tal forma que gera medo. Assim, percebemos que não só na nossa mente, mas no nosso exterior é necessário esse segurança para que consigamos viver sem medo, e isso se dá pela ordem social, que surge devido a cultura. Ratos tentam controlar esse médio fazendo uma nova varredura em seu ambiente caso tenham visto um gato. A manutenção do que é previamente explorado é tão importante para os ratos que mesmo eles, mamíferos que tem apreço aos seus próximos, os matam caso esses voltem com cheiros diferentes a seu ambiente de sobrevivência, humanos por vezes tem comportamentos parecidos. As capacidades intelectuais semelhantes entre mamíferos vão se aliando perante a personificação do cérebro, e não exatamente sua massa, ou massa relativa como muitos pensaram.

O homúnculo motor é um bom gancho para mostrar a importância que o sistema motor tem para a adaptação mental dos seres humanos. Capacidades do corpo humano estão associadas com o desenvolvimento deste. A fala está associada com a mão, devido à capacidade de escrever. É curioso como a pele do rosto, por ser fina, ajudou nesse processo de comunicação e como, de acordo com Sartre, é justamente nos detalhes do rosto e suas expressões em momentos de emoção que observamos o Ser. As atividades motoras liberam dopamina devido ao sistema cortical, o que instiga a investigação. Mas essa não é feita apenas por esse sistema, mas também pelos pensamentos. Talvez por isso pensar de mais seja um sintoma da depressão, ou sua causa, e também a ansiedade. Pois medo gera ansiedade, fugir dele demanda muitos pensamentos. Ou seja, saímos do conhecido, para o desconhecido pela exploração, percebemos aqui uma derivação para o arquétipo do herói.

Percebemos essa distinção do comportamento cerebral entre situações exploradas e não exploradas, isso está associado com os hemisférios do cérebro. O lado direito não é fluente em línguas, um efeito disso é a inibição de comportamentos e produção de sentimentos negativos. Esse lado do cérebro está sobre o controle do sistema límbico, aquele relacionado ao medo. O esquerdo por consequência tem mais aptidão com o desempenho quando o que é o que deveria ser feito não é mais um problema, ou seja, associado com o que já foi estabelecido.

Metáforas, como nomenclatura de incógnitas "a" e "b" derivam os mitos culturais que estabelecem nosso comportamento social. Eles são importantes porque nos levam a territórios conhecidos a partir da lógica e o cérebro então não cai em sentimentos como medo. Significa que o fato de conhecer como agir mesmo em uma situação ruim é algo bom pelo fato de ser um território conhecido. Aqui também entra o conceito de intuição, que é ter conhecimento do como, mas não necessariamente o porquê.

Nossa mente está mais interessada em ter um plano, e não o conhecimento em si da resolução daquele plano. Vemos isso principalmente no comportamento de crianças, que aprendem a agir por imitação, e principalmente em jogos destes, os quais aprendem o que deve ser feito sem saber exatamente os porque ou os objetivos. Relacionamos isso com a cultura para os adultos: nos comportamos de determinada forma sem necessariamente saber o porquê, conceito muito associado ao preconceito burkeano que sustenta a vida em comunidade. Quando olhamos para nós mesmos, não sabemos o que somos, e esse assombro toma a forma da história, ou mais fundamentalmente, do mito.

A habilidade que temos de copiar o comportamento dos outros permite que todos se beneficiem da ação criativa de determinados indivíduos, no longo prazo aumenta a inteligência de todos, e assim seus efeitos benéficos para a comunidade (isso serve como defesa ontológica ao fim da propriedade intelectual). Não só o comportamento é imitado, como as formas de aprender determinado comportamento. Os jogos nesse contexto, desenvolvem essa capacidade nos seres humanos: a construção de uma narrativa baseada em eventos do cotidiano, da cultura ou dos pais. Como jogos podemos entender também as narrativas, por isso as pessoas dizem que Freud descobriu tardiamente o que Shakespeare já esboçava nos meandros de suas peças.

Essas memórias narrativas então são personificadas no comportamento das pessoas (representação do mito). Essa é uma precondição essencial para a construção social de indivíduos complexamente civilizados. Como a mente está mais preocupada com o caminho do que com o objetivo, é mais fácil replicar os comandos do rito do que a compreensão de que ele é um rito, como observado nas brincadeiras infantis, e por consequência na cultura (preconceito burkeano). O próprio Nietzsche diz: "o que os estudiosos chamavam de "alicerce racional para moralidade" e tentavam suprir era visto a luz correta, simplesmente uma expressão acadêmica da fé comum na moralidade prevalente, um novo meio de expressão para essa fé. Ou seja, toda filosofia é uma confissão pessoal do autor e um tipo de memória inconsciente e involuntária. Obviamente, de geração em geração alguns detalhes da história vão mudando, isso vai desencadear num aglomerado de histórias parecidas para várias civilizações diferentes.


REPRESENTAÇÃO MITOLÓGICA: OS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DA EXPERIENCIA


Percebemos essa relação espaço temporal entre pensamentos semelhantes em detalhes das nossas próprias arguições. Quando por exemplo um adultero pensa sobre trair sua mulher, ele sabe que isso poderá ser prazeroso mais ao mesmo tempo ruim, pois prejudicará seu matrimonio, ou seja, mesmo pensamentos tem valências diferentes. Se não houvesse esse tipo de dicotomia em cada pensamento, nunca precisaríamos pensar. É de praxe para o ser humano aprender, e assim guardar as possíveis opções para determinada ação em sua memória, e assim porventura utilizar no futuro. Como uma faca, ela serve num momento para cortar pão, mas em outro pode servir como chave de fenda. O conhecimento Primero não exclui aos opcionais. Isso deságua nas histórias semelhantes já citadas, em mesmo em clássicos da literatura. Essa reorganização baseada no que é mais apropriado de cada história é o mesmo fenômeno que ocorre tanto no caso da faca multiuso quanto de deixar de querer ler pois a lâmpada agora fez a casa pegar fogo. Uma derivação clássica de como a mente cria histórias é quando a pessoa sempre inventa uma história para tentar compensar um fracasso e ver o lado positivo destas, entrando num território seguro após a queda ao caos. Conceito de inconsciente vinculado com o desconhecido e a forma que o sistema límbico lida com este.

Existem histórias de níveis diferentes. As mais amplas são cada vez mais complexas, de tal forma que não podem ser simplesmente formuladas, então se desenvolvem na forma de mito.

O desconhecido, o conhecedor e o conhecido formam o mundo e as narrativas que entendemos dele, com o "caos pré-cosmogonico" cercando esses três elementos. Alguns mitos antigos reiteram essa estrutura. Um importante é o do ouroboros, o grande dragão do caos que devora a si mesma, pode ser entendida como a informação pura antes de ser analisada no mundo do familiar, do não familiar, e do indivíduo sendo experimentado. Lembrando que as representações culturais de todos esses arquétipos surgem na mente, em suas divisões já assinaladas anteriormente. Essas semelhanças entre histórias, teoriza-se, é devido a disseminação a partir de uma fonte única centenas de séculos atrás. Esses mitos têm ritos, que por sua estrutura levam a uma finalidade. O mesmo se aplica ao comportamento moral e a crença que o apoia. Os adultos personificam a sabedoria comportamental da sua cultura para seus filhos, tal qual a linguagem por exemplo. O inconsciente coletivo então vira uma espécie de sabedoria comportamental personificada. Agrupamos nosso conhecimento em categorias naturais, e não consistem de propriedades consensualmente apreensíveis. Diferente de um triangulo que tem categoria bem definida, não existem triângulos mais triângulos que outros e não existem coisa que são quase triângulos. Diferente de coisas naturais como uma maça, onde você não consegue caracterizar nenhuma característica nela que não tenha em outro objeto, mesmo os supostamente não naturais como um lápis.

Agora descreveremos a natureza dos padrões universais na narrativa. As figuras do mundo dão um apanhado do que podemos vivenciar, coisas malignas ou bondosas podem viver dentro de nós. Narrativas comuns das culturas antigas associadas aos arquétipos conhecido, desconhecido e herói. O livro traz uma importante transcrição dos mesopotâmicos, ali percebemos elementos do cristianismo, por exemplo a moral, que seria a imitação de Marduk, deus que serve de exemplo para o imperador mesopotâmio. No cristianismo é Logos, o verbo citando em Atos e também aquele que fez o homem sua imagem e semelhança. Conforme o sistema semântico analisava as informações apresentadas no formato narrativo, mas não entendidas, o homem gerava hipóteses imaginativas sobre a natureza do comportamento humano ideal no ambiente arquetípico. Daqui é deduzido que o conhecedor é o criativo, o ego, o eu, o olho, o falo, o arado etc, o conhecido é a cultura, controle, superego etc, desconhecido é o yang, frio, feminino etc. Todos elementos presentes em narrativas de várias civilizações. Um poema taoista exemplifica bem a situação:


O Tao existia antes do seu nome,

e a partir de seu nome, os opostos evoluíram,

fazendo acontecer três divisões,

e depois nomes abundantes.

Essas coisas acolhem receptivamente,

alcançando harmonia interna,

e por sua unidade criam

o mundo interno do homem.


Histórias arcaicas da geração do mundo, portanto, concentram-se em toda a realidade ao invés dos aspectos distantes e abstratos que consideramos puramente objetivos. Na tradição judaico-cristão, a criação depende da existência e ação do Logos, consciência discriminatório ou espirito exploratório miticamente masculino, associado de maneira insolúvel a capacidade linguística - a Palavra, conforme São João declara, paralelamente ao início do Gênesis, No princípio era a Palavra e a Palavra estava com Deus, e a Palavra era Deus. A ação da deidade que causa o empenho criativo, como tal, por parte do sujeito criador, portanto deus é mais do que um sujeito ou uma concepção narrativa original de si.

Em algumas culturas eles "isolavam" comportamentos e os chamavam de deidades, como na Grécia e anteriores, que existiam deuses para luxuria, raiva etc. Ainda pensamos que esses elementos são externos a mente quando dizemos: não era eu quando agi com raiva, com luxuria, etc. O local onde as pessoas habitavam, historicamente chamado de Santuário quando Deus também habitava, crescia e viravam as cidades. Cidades são uma representação de Deus entre as pessoas, de acordo com o Scruton, e a arquitetura é o rosto desse encontro. Por mais antigas que essas histórias sejam, elas não caem em contradição dentro de suas próprias narrativas, diferentes de misticismos Nova Era de hoje em dia.

Esse desenvolvimento também poderia ser considerado uma ilustração da crescente psicologização, abstração e internalização da ideação religiosa: nos estágios iniciais da representação, deidades são vistas como pluralistas e como membros individualistas e rebeldes de uma comunidade supracelestial (isto é, transpessoal e imortal) Em seguida, elas são integradas a uma hierarquia, à medida que a cultura se torna mais integrada, mais certa sobre a valorização relativa e virtude moral – e um deus simples, com uma multidão de características relacionadas, vem a dominar. O desenvolvimento do monoteísmo assim se assemelha à integração moral intrapsíquica e intracultural.

Mesmo o estado é analisado por Peterson em relação a deidade do faraó, e isso se moveu no tempo até o comportamento em relação a reis e a mitificação de figuras políticas. Por estado o autor generaliza que esse líder é sempre alguém com atributos positivos e que de certa forma foi aceito psicossocialmente por essas habilidades, não que deve ser imposto e monopolizar a segurança, como nos dias de hoje.

Dois ou mais objetos ou situações vem a ocupar o mesmo espaço mitológico porque compartilham forma ou capacidade similares para induzir o afeto e forçar o comportamento (a cor vermelha por exemplo tem várias dessas associações, que conecta violência com morte).

Um símbolo muito interessante utilizado para identificar perfeição e mistério é o círculo. O Ouroboros, o Dragão do Caos que está associado a criação do universo se desenvolve num círculo por comer seu próprio rabo. O Deus da raiz abraâmica também é associado a um círculo por ser "o Alfa e o Ômega, o principio e o fim". Esse novo associado a Deus transcende todas as expectativas de uma classificação. Essa energia para esse fim pode ser considerada o impulso religioso mais fundamental, o de estabelecer um relacionamento com Deus, e é isso que sustenta a ordem histórica civilizada. Esse mistério, e o Êxodo de uma vida egocêntrica para uma vida com Deus foi observado por Voegelin em "Ensaios Publicados".

A imitação é um elemento necessário nessa civilidade. As crianças imitam seus pais, metaforicamente tomando o espirito deles, tal qual eles fizeram na infância. Esse desconhecido se torna uma entidade transpessoal. Sua personalidade é construída por vários mitos, pois foram esses que ao decorrer das gerações foram usados para representar o mundo e incorporados na forma de agir das pessoas, tal qual seu pai e o pai do seu pai, e assim chegando a você. Lembrando que desconhecido é a coisa e si e a fonte de toda informação.

A Grande Mãe é outro símbolo interessante. A mãe é o começo do universo conhecido para cada ser humano, e essa ontologia é semelhante à da humanidade com o universo. Nascimento sempre está ligado a morte e destruição.

Seres humanos tem o interesse genuíno no funcionamento de tudo, incluindo de si mesmo, por isso muitos dizem que Freud apenas recapitulou Shakespeare. Esse funcionamento se dá, miticamente, na ação do herói., que reestrutura o velho para dar lugar ao novo, estabelecendo a paz, numa espécie de paraíso mítico onde o leão convive com o cordeiro. Essa forma de agir do herói nos é passada de geração a geração. Agimos como sem entender de onde esse comportamento veio, por meio de observação e cópia de padrões de comportamento. Somos mais complexos do que podemos compreender e também é o mundo para podermos nos ajustar. Ou seja, a história primeiramente é padrão, só depois que o sistema cognitivo está ativo é que os objetivos são explicitamente imaginados. Vemos isso mesmo em recentes descobertas neurologias, onde as partes do cérebro foram divididas e uma destas era levada a rir, quando perguntada o porquê da risada, o outro lado do cérebro inventava qualquer história para isso, a qual não havia relação com o fato dá risada.

Voegelin diz que o "Eu" como entendemos surgiu no ocidente. Percebemos isso quando fazemos essa regressão história e percebemos que na Mesopotâmia e Egito os governantes eram deuses. Só eles tinham alma. No surgimento dos gregos agora todos a tinham e foi então, com os judeus e cristãos que todas as pessoas tinham um valor individual absoluto e inviolável, tudo isso perante Deus, o que mostra que o cristianismo vai ao encontro da Lei Natural. O herói é um padrão de ação, projetado para encontra sentido no desconhecido: ele surge necessariamente onde os seres humanos são bem-sucedidos. A adesão a esse padrão central assegura que o respeito pelo processo de exploração permaneça sempre superior a todas as outras considerações, incluindo aquela da manutenção da crença estável. É por isso que Cristo, o herói definidor da tradição ética ocidental é capaz de dizer "Eu sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vem ao Pai, senão por mim". Ou seja, as histórias que as pessoas vivem surgem devido a demandas biológicas concorrentes e também a relação à presença de confrontos de outros com o mesmo destino. Um exemplo desse conflito é a formação de personalidade por parte do irmão mais velho, quando nasce seu irmão mais novo ele precisa tomar decisões um tanto quanto contraditória, como expressar o amor que sente pelo irmãozinho e a raiva que sente por ter perdido toda a atenção dos seus pais. A personalidade então surge como resultado de tal guerra. A revolta emocional causada pela aplicação simultânea de estratégias interpretativas ou comportamentais desproporcionais fornece o impulso para a organização dessas estratégias. Essa organização surge como resultado da “luta pela dominação, intrapsíquica ou interpessoalmente” – emerge em consequência de uma luta quase darwinista pela sobrevivência.

Sociedade nenhuma, incluindo a moderna, cresceu sem usar elementos culturais, a diferença da atual para as antigas é que as antigas acreditavam em revelações como origem super-humana. Histórias comuns de civilização que envolvem elementos míticos são as mais variadas. Um exemplo são as histórias de diluvio, este associado com o caos, com disfarce ao "retorno das águas primordiais". Numa dessas histórias o Herói, um simples alfaiate percebe que isso ocorreu porque o antigo Rei morreu e estava chorando no céu, sendo assim ele sobe ao céu e costura o buraco por onde caia as lagrimas do Rei, sendo assim este lhe concede a mão de sua filha em casamento. O Rei seria a imagem do grande pai, a princesa tudo que é feminino (belo jovem), e o alfaiate o herói, que transforma o caos em paz.

Os indivíduos arrogantes, pelo contrário, são demasiados soberbos para prestar atenção nas coisas ou pessoas que desprezam, deixando de lado assim o que pode ser importante. De soberbos vamos até os tiranos, que são aceitos pelas pessoas. E mesmo quando cai um tirano e entra a democracia, as pessoas tendem a se referir a nação e as coisas que acontecem nela, como a construção de algo pelo governo, como feito "pelo político", por exemplo, diziam que Hitler estava construindo estradas em toda a Alemanha, e Mussolini estava drenando os pântanos na Itália.

Homens "pequenos" podem fazer coisas grandes em relação a pessoas que agem como tiranos. O próprio Rei Acabe da Bíblia agiu como a maioria dos reis da época agia, matando seus próximos para ganhar aquilo que queriam. Fez isso para conseguir um pedaço de terra e, vendo a injustiça, Elias, um homem que nem sacerdote era tomou lado e denunciou o rei. Essa é uma história sem paralelo na época até então. Evento semelhante ocorreu com o importante Rei Davi. O Pai Tirânico é um símbolo importante nesta análise. Ele é a personificação do Estado autoritário ou totalitário, sujo objetivo é a redução de todos os que estão atualmente vivos para a manifestação de uma única personalidade antiga morta. Quanto são iguais, tudo é previsível, todas as coisas são de valor estritamente determinável, e tudo que é desconhecido está escondido da vista. Vemos a semelhança disso com as derivações hegelianas (que era um grande estatista) de todos virando um único ser. Pessoas que não tem a figura de um pai na vida talvez busquem essa compensação no estado. Faz sentido que essas mesmas militantes deixem um pouco a militância de lado quando arrumam um namorado durão.


CAPÍTULO 3 – APRENDIZAGEM E ACULTURAÇÃO


Rousseau foi um pensador que acreditava que tudo de negativo que surgia no comportamento de alguém era devido ao que sociedade impunha a este. Sendo assim, toda estupidez e inutilidade de alguém era culpa da sociedade, portanto essa era obrigada a pagar pelo seu prejuízo. Isso transforma o indisciplinado num rebelde, uma espécie de simulacro ruim do comportamento do herói (por vezes a forma mais abundante e fácil de perceber esse comportamento simbólico importante para todas as pessoas, e talvez por isso os jovens em especiais tendem a sentir atração por quem tem esse comportamento e acabam se comportando assim.

Um símbolo importante da transição de um período para o outro é a água. Ela está presente, por exemplo, no momento do batismo das crianças. O ser é afogado por ser profano e ressuscita, reunindo-se com a Grande-mãe.

Sobre os jovens, é apenas a transmissão de padrões comportamentais historicamente determinados e futuramente as suas descrições que possibilita a sobrevivência na juventude. O jovem em geral não tem a capacidade de compreender os porque se de tudo, e como a criança vai pela repetição e assim se comporta bem. Alguns jovens não têm esse apoio, e por isso acabam desenvolvimento sintomas como depressão e ansiedade, isso se deve a muita exposição ao "desconhecido e pouca incorporação da estrutura cultural.

A transição bem-sucedida da infância para a adolescência significa identificação com o grupo, em vez de dependência continuada dos pais. Essa identificação se dá devido ao passado criativo, conceitualizado como a síntese de toda atividade comunicativa exploratória criadora de cultura incluindo o próprio ato de síntese. Alguns adolescentes transacionam mal da infância para juventude pois a mudança é muito drástica, se ela não tem mais um norte a seguir, acaba querendo sair da situação de desconhecido que está o mais rápido possível, assim desenvolvendo apreensão e outros problemas. Isso explica o porquê adolescentes mudam de comportamento, odeiam os familiares, afinal eles não os prepararam para essas mudanças. Não passar bem por isso cria uma reação exagerada a tudo, ansiedade ira resposta a tudo.

Sobre essa importante estrutura histórica, ela protege a si e a sua estrutura de duas maneiras relacionadas. Primeira, ela inibe intrinsecamente comportamentos recompensadores, mas antissociais ao associá-los a certa punição. Essas restrições fornecem limites universais para a moralidade humana aceitável. Constante adaptação se torna importante, justamente devido a mudança de ambiente também constante. Ou seja, essa flexibilidade vai ao encontro da necessidade do ônus do tempo para a construção de boa cultura e conhecimento: somente se uma ideia perdura durante muito tempo ela serve aos princípios darwinianos e é funcional as pessoas.


CAPÍTULO 4 – O APARECIMENTO DA ANOMALIA


Cada indivíduo, motivado para regular suas emoções por meio da ação, modifica o comportamento dos outros que operam no mesmo ambiente, como consequência disso em larga escala (vários indivíduos que agem) um padrão é projetado para o individual e social simultaneamente. Ocorre que, principalmente na modernidade, temos consciência suficiente para desestabilizar nossas crenças e padrões, mas não temos consciência suficiente para compreendê-los, devido a toda complexidade neurológica e simbólica já citada. Porém, se as razões para existência de nossas tradições se tornarem mais explicitas, talvez possamos desenvolver uma maior integridade social e intrapsíquica. Assim usaríamos nossa razão para apoiar, e não destruir, os sistemas morais que nos disciplinam e protegem. Nietsche disse que as religiões morrem sempre da mesma forma, uma parte das pessoas criticam a veracidade do mito, e aqueles que acreditam começam a tentar prova-lo de forma histórica. A estabilidade por si só não é algo necessário, depende da época para ser bom, na nossa, muito apressada, talvez não seja.

O herói revolucionário: pensadores famosos do século XIX e XX tiveram profundos períodos de inquietação, que poderia ser considerado uma doença mental hoje em dia. São como os xamãs que percebiam algo de errado nas condições usuais da sua tribo. É este que mostra o caos que pode ocorrer caso o herói não age, e ele, em meio a loucura, toma sua coragem e vai a batalha. Indivíduos como esse podem parecer ruins pois destroem o que já está posto, mas por meio dessa destruição baseada na coragem, acabam por construir algo melhor.

O estrangeiro é aquele que não obedece a hierarquia local, e por isso pode muda-la. Quando querem destruir as bases da civilização, estão destruindo também os elementos que definem essa percepção de necessidade de mudança. Todo axioma é na realidade uma condição infinita. É infinitamente impossível que determinado evento ocorra, assim, de certa forma temos concepção do eterno.

A jornada do herói normalmente termina com ódio daqueles que permaneceram na caverna, vendo o herói como uma ameaça. Não cair no pessimismo, mas também não cair na solução tirânica, isso é o herói. Um homem que sabe pouco do seu potencial pode por meio dessa ignorância, ter esperança.

As mudanças internas de uma criança para adolescente podem mudar completamente seu humor. Começando as analogias, o mito primordial fala de um homem espontâneo e livro, que perdeu isso com a queda, a ruptura entre Céu e Terra. O Éden significa deleite, e a própria palavra em inglês, paradise, vem do persa pairi, ao redor, ou "um muro", ou seja, a segurança de um lugar onde o caos não entra (vale lembrar da analogia com Attack on Titan, onde a ilha murada é chamada de Paradis pelos fundadores).

As condições de existência, ou seja, o salto entre ordem, caos e consciência, parecem por vezes intoleráveis, daí vem a vontade do estado de não-ser (que da perspectiva católica pode ser entendido como a natureza do pecado), é a ausência de sofrimento.

A infância pode ser entendida como a falta de contaminação do conhecimento da morte, e é por isso que muitas pessoas associam a transcendência a agir como criança (ou seja, envelhecer é lidar (compreender, aceitar) a morte). Crescimento significa declínio, já que te leva a morte. (Quando somos crianças temos potencial, mas como na física, o potencial descreve apenas evolução numa direção, no caso do adulto, a morte).

Conhecer a nudez e ficar com vergonha dela é entender exposição, fraqueza e vulnerabilidade (como vincular isso a pornografia? As pessoas aparecem nuas e não se envergonham, como crianças, não há autoconsciência? Rituais nus e bacanais romanos tem a ver com isso e pornografia?).

É na relação entre luz e trevas que nasce a existência. Jesus é entendido com a luz que transcende o passado e estende a todos os indivíduos a identidade com o Logos divino. No processo quântico só existe a realidade se houver a observação por meio da luz. Apesar da existência existir sem observador o homem cria uma nova existência observando.

O mito então é o ser que faz a fazer se revelar e existir a realidade. Isso parece a forma pré-newton, aristotélica de entender a realidade e a causa das coisas, por exemplo da queda dos corpos.

A autoconsciência surge quando se vê a diferença de um ser para um outro. Hegel diz que só podemos nos definir como sujeitos quando estamos em contato com o outro. Isso demanda a percepção do ser e a definição de propriedade privada. Ou seja, um elemento transcendental para sairmos da "não existência" na sua forma mais crua, simplesmente na distinção de sujeito e objeto, é a existência de propriedade privada. Talvez daí derive o caos que surge por não se respeitar propriedade.

O herói surge quando sai da sua prisão das delicias, como Gautama por exemplo. O mito prepara o terreno para a compreensão de outras coisas e é compreendido por meio de analogias. Quanto a analogias, a "grande serpente dragão é o dragão do caos" analogias como essa sempre estão presentes em mitos de criação.

Esse dragão pode ser entendido de várias formas em várias leituras, como por exemplo o Moby Dick, ou aqueles vermes enormes de Duna, ou o leviatã, revelado a Jó como mistério máximo dos caminhos de Deus.

Ingestão é mais um símbolo importante que está associado em mudanças internas, como a hóstia e o fruto do conhecimento.

Os humanos e os repteis tem estruturas fundamentais do cérebro muito semelhantes, uma analogia interessante é pensar na cobra do Éden como a nossa parte animal cerebral mais profunda.

Resumindo o capítulo até agora: O nascimento da tragédia e a evolução da vergonha podem ser considerados inevitáveis consequências do voluntarismo em si, da heroica tendência exploratória, diabolicamente predeterminada em seus desdobramentos, levando inexoravelmente ao desenvolvimento da (auto)consciência insustentável, mas potencialmente redentora. A extensão do conhecimento objetivo do eu significa o estabelecimento permanente de uma ligação conceitual entre existência individual e determinada mortalidade. O desenvolvimento dessa ligação significa existência em conflito interminável, já que toda atividade humana doravante ocorre no vale da sombra da morte. O destino obriga todos os membros da raça humana a compreender seu isolamento, sua individualidade, sua submissão abjeta às duras condições da existência mortal. Reconhecimento do eu nu, exposto de forma indigna à devastação do tempo e do mundo, insuportável e altamente motivador, condena o homem e a mulher a labuta e sofrimento durante a vida e a morte: " $E$ os olhos de ambos se abriram, e eles viram que estavam nus, e coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais" (Genesis 3,17).

Se acreditar fora da dicotomia entre bem e mal, tal qual Nietsche, é se colocar no mesmo nível de animais, que por razões obvias não o fazem.

Pecar é se esconder de Deus. Autoconsciência é viver plenamente. Me encolho no meu próprio potencial pois tenho "teto de vidro", e assim a sobrevivência, as ações cotidianas, são feitas pelo medo, não para liberdade.


Capítulo 5 - Os irmãos hostis

O que não faltam são mitos que envolvem agua, talvez pela sua relação obvia com a existência de vida, e com o caos do oceano.

Na cosmologia egípcia, Osíris, o rei, imagem mítica do conhecido, o Grande Pai, tem um gêmeo e oposto eterno ruim, Sete, que por fim leva a Osíris à morte. Quatro mil anos depois, a moral dessa grande história ainda não foi entendida: a incapacidade de compreender a natureza do mal leva a sua eventual vitória. No final desse, o mais cruel e sanguinário de séculos, corremos o risco de não apenas fracassar em entender o mal, mas de negar sua existência. Contudo, a invisibilidade é o que o diabo mais deseja.

Peterson cita que a cultura, entendida como Grande Pai, nos protege do estranho e desconhecido. Sendo assim surge a pergunta: será que por entendermos "a" cultura (no feminino) muda a nossa percepção sobre extra no Brasil.

O mal é a rejeição ao processo de exploração criativa, é o desejo de disseminar as trevas per se. E é daí que surge a vontade de Deus de inundar tudo. O poder absoluto causa o mal nas pessoas, até porque não existe o contraponto de ninguém, uma vez que grandes tiranos de hoje em dia são altamente paparicados, diferente dos imperadores romanos do passado, que pagavam escravos para lembra-lhes que eram humanos. Nossas tendências tirânicas são freadas pela própria impossibilidade material de concebe-las, quantos de nós não se tornariam tiranos caso tivessem o poder para tanto? Por tanto, todo avanço no poder torna a necessidade de autoconsciência muito mais necessária (uma analogia boa é o filme Duna, onde tecnologia se une a moralidade).

Satanás é a melhor personificação do mal já criada. Pois o mal é um complexo vivo, que por vezes, depende da estrutura onde está colocado. Os nossos ancestrais tinham a ideia de que o mal era algo intrínseco ao ser humano (o que foi corrompido pelas teorias de Rousseau do "Bom selvagem").

Satanás era o "anjo mais alto" e por vezes associado com o conhecimento, consciência. Toda ditadura está baseada na ideia de que as decisões dos "elevados" pode reger melhor a todos".

Sendo assim a diferença de um revolucionário e um herói está na humildade de perceber que não se sabe todas as coisas, mas lutar contra o desconhecido, a coragem para isso é um bem. Acreditar que já tem todas as respostas te tira a oportunidade de estar com a fonte da verdade. É rejeitar aquele que medeia o caos e a ordem Herói-Jesus. (Como Olavo diz, quando se abandona a logica, vivemos no mundo das sensações, e sendo assim, tudo que cria uma sensação ruim conhecida, como desconhecido aqui para Peterson, acaba sendo associado como mal. A parte de atualizar a moralidade por meio do contato desconfortável com o estrangeiro é justamente o que a igreja católica sempre fez). Se associar com o espirito de negação é uma tendência negativa nessa situação.

Para se livrar dessa condição, Tostoi propõe quatro meios: a ignorância, o epicurismo, a força e energia e a fraqueza. O mal é a rejeição voluntária do processo que torna a vida tolerável, justificado pela observação da terrível dificuldade da vida, mas é só o contato com a tragédia que gera a autoconsciência, como foi o caso da vergonha da nudez no Éden. Ser contra a mudança da infância para adolescência nos deixa passivos na vida.

Os absolutistas, diferente dos revolucionários, querem as coisas como eram, negam assim a sua própria força por vezes para não abalar o status quo. A consequência disso é que os homens não deixam de agir individualmente por vergonha, na maioria das vezes é por inercia. Não é logico não ser individual e não querer se adaptar, apesar de ser mais cômodo. A pessoa que não quer amadurecer faz uma força para isso. Eles buscam uma deificação do passado e o abandono do herói. Aqui está o caráter conservador da cultura lacradora, na verdade eles só querem um espaço onde não há heroísmo, individualidade, se apegam ao grupo, por fim, buscam a infantilidade. Acredito que eu possa falar o mesmo dos conservadores per se, pois, buscam um mundo passado melhor que o atual.

Me parece que os únicos onde não consigo fazer uma analogia clara são os libertários, pois usam o passado como base para avançar no futuro, no mínimo em seus empreendedorismos.

A realidade não pode ser negada. Sendo assim, obter um desejo não muda a realidade daquilo que foi negado para essa obtenção. O indivíduo aparece na fraqueza, por isso Jesus diz que só os com dificuldades herdarão o reino de Deus. O indivíduo quando se esconde na força do grupo se sataniza. A crença se baseia na fé no potencial humano, liberalismo é um fruto dessa visão mitológica do mundo.

Só se evita o possivelmente melhor se já definiu algo como definitivo, por isso marxista acredita no estado como um Deus-pai.

Fico me perguntando se nesse tempo de hipersocialização os decadentes simplesmente não procuram seus grupos idênticos a si na internet, tornando assim individuais apenas aqueles que lutam contra todas essas marés baseado numa metafísica solida.

Peterson começa a citar seus pensamentos na época de revolucionário, seu ódio a tudo, apesar de se achar o salvador da humanidade. Era uma visão infantil, uma vez que a natureza dos modos de viver adulto são os mesmos da religião. Durnin dizia que a fé em Deus é justamente se afastar da segurança dos pais e vivenciar a realidade. Humildade e aceitação perante o erro é uma forma de aprender. A anomalia vira alimento espiritual, esse desconhecido é matéria prima da personalidade.

Boa parte dos maus do século XX foram cometidos pelos obedientes. Não podemos resumir esse fenômeno ao nosso lado animal. Foi a lealdade aos regimes revolucionários que o fizeram tão sangrentos. Ao julgar os acontecimentos, as pessoas não costumam se perguntar se não iriam preferir ser o ditador em vez da vítima.

Para aqueles que defendem o regime, o argumento lógico não importa, existe um emaranhado de defesas para o mal que vê. A ideologia limita o potencial humano. O mal por si só não é ruim, mas sim não perceber e aplicar a verdade por trás dele, isso vem ao encontro da ideia de mortificação, pois a pessoa que conhece a Verdade pode sofrer por ela mas sabe que está fazendo algo valioso. O símbolo do herói então está associado com escolher a terceira via, fora da dicotomia que sempre se levanta entre duas ideologias antagônicas. Buscar apenas a segurança, amar apenas aqueles que lhes amam, não lhe permite ser adaptativo. Com o tempo sua personalidade fica fraca, e não conseguirá sacrificar o que tem pela verdade. O diabo, que é a representação de todo mal, não aceita o conhecimento de sua limitação e imperfeição. Recusa a mudança, a metanoia, ou seja, a mudança de paradigmas pessoais. Pessoas em situações extremas precisam reavaliar seus paradigmas, o que as fazem, por vezes, como algumas pessoas nos gulags, a evoluírem. Algumas pessoas precisam sentir o verdadeiro mal para mudarem, a metanoia forçada, com o mundo atual permite adultos a manterem a segurança da vida de crianças, ou seja, eternos adolescentes, essa metanoia não acontece. Não deixar a mentalidade de grupo é tão perturbador a personalidade humana quanto não deixar a infância. Um dos conhecimentos alquímicos mais importantes traduzidos por Jung era que mentir para si mesmo prejudica o processo que lhe dá força para suportar o mundo. Aristóteles e Platão acreditavam na unidade da alma imortal, como uma cola para tudo que somos.

Vemos a imagem de Cristo nessa descrição de como lidar com a tragédia. Quando ele foi morto, não o foi por um tipo de ideologia, mas sim por toda a humanidade. Durante toda a época em que ensinou, teve que lidar com enigmas do tipo koan que vinham dos escribas e fariseus. Contudo a lei irrefletida da tradição põe o homem como um eterno adolescente. Apenas a atitude heroica (não revolucionária, pode ser a atitude certa contra a tradição. A incorporação do herói se dá por meio da hóstia na missa.

Mesmo na ciência a ideia de Pai acaba sendo prejudicial sem o contraponto do herói, como nas teorias cientificas que ficam tão engessadas que acabam virando quase que misticismo. Novas teorias como a quântica, vistas como impossíveis por pais da física, serviram para resolver muitos problemas.

Mesmo na ciência, mais especificamente no estudo material do mundo, criou-se simbolismos. A ideia de "material" na alquimia trazia a necessidade de um elemento primordial, chamado de informação no sentido moderno (matéria secunda para os escolásticos). O outro sempre teve o sentido de evolução, por isso em tantas mídias populares ainda hoje é usado a versão dourada como versão evoluída.

Tantas ideias ruins foram desenvolvidas que os simbolismos acabaram se perdendo, isso tem reflexo hoje em dia. O problema do movimento revolucionário e da filosofia ruim do nosso século ser o fato que as pessoas ficam presas a jogos de linguagem, o conhecimento virou apenas texto e não algo real, diferente do que acontecia nessa época, onde tinham a ideia de que ação precede a ideia. De toda forma isso não funcionou a época, e os "textos" newtonianos galgaram o avanço da tecnologia, e talvez por isso envolveram a filosofia no meio.

O mundo passou 1700 anos acreditando que a alquimia traria a riqueza criando ouro. Na matéria subjaz a riqueza, sabedoria, saúde (notamos isso por exemplo inverso, quando associavam a existência de um demônio no chumbo. N.A.: Por não conseguirem criar o outro, os poderosos, com apoio da filosofia analítica, ou seja, jogos de linguagem, mudaram a narrativa e começaram a criar riqueza do nada imprimindo dinheiro. O último empreendimento tanto de Newton quanto da Europa cristã foi utilizar essa mesma alquímica para criar um novo homem (voltamos a isso com o transumaníssimo).

A investigação da matéria era vista de forma herética pelas pessoas na época medieval. (Isso dá um bom tema de livro tipo a matéria ser o fruto proibido, um conhecimento antigo nos diz para não mexer, a gente mexe e dá ruim, exemplo é a bomba nuclear. Tem isso em Attack on Titan também, descobrir a verdade causou todo o problema com o Eren.)

Da mesma forma que o coletivo não via união em si (diferente do Deus único que adoravam) também somos nós mesmos uma bagunça, burros e desorganizados. Reconhecer o animal interior é parte necessária da redenção. Para que, por meio da confissão e do conhecimento por presença possamos vencer esse lado mal, o mesmo lado que para os orientais era a ilusão dos praticantes de yoga e no cristianismo é o lado que oferecemos a Deus. Perceber o mal em si é perceber essa força complexa, que pode ser tanto tormento como fonte de vitórias. "As virtudes são feitas da mesma matéria que os vícios" Santo Agostinho.

A Conjunção: conhecimento só existe quando deixa de ser algo virtual, por isso Wittgenstein e Kant estavam errados. Conhecimento pela percepção, não apenas por textos (Olavo). A tentativa de criar um mundo perfeito é como tentar ser perfeito internamente, de certa forma são a mesma coisa. Tentar a perfeição de um deles é criar a redenção no outro. Alquimia é a redenção da matéria: modifica-la para deixa-la perfeita.


Conclusão

Peterson fala de alguns casos de pacientes. Um deles conta que ficou louco quando depois de seu trabalho como escritor viu o Diabo ao pé da sua cama. Olavo diz que isso era normal no passado, mas hoje as pessoas ficam loucas com qualquer elemento de sobrenaturalidade. Ficar atento pois coisas assim não são apenas literatura, podem acontecer com qualquer um.

Ele cita que o mal individual das pessoas, mesmo as pessoas mais simples, podem desencadear coisas terríveis, ou seja, como diz Guilherme Freire, o nosso mal individual é a causa do mal do mundo. O mal pode trazer o bem quando visto como sacrífico e quando ele não ocorreu apenas para o sofrimento de inocentes. Mesmo as coisas amadas causam sofrimento, devido a sua natureza limitada. O mal é como se fizesse parte da regra do jogo da existência. Fugimos da responsabilidade, por isso não lidamos bem com o mal, pois o verdadeiro mal conseguimos suportar, é o mal besta que nos afeta. Necessariamente para percebemos o bem é necessário o mal.

Não ter fé lhe permite ter irresponsabilidades, que a fé não lhe deixa ter. Por isso as pessoas tentam fugir da verdade. Peterson, mesmo quando ateu, conclui que acredita em coisas, mas não sabe o que são ou de onde elas vêm, isso serve como uma conclusão do livro: todas as culturas com exceção do ocidente, não possuem um histórico baseado em "eventos objetivo". Todas desenvolvem culturas determinadas biologicamente. E tanto as interpretações mitológicas como as empíricas são verdadeiras, ambas em suas determinadas formas.

Todas as culturas atuais estão, de forma mística, baseadas num status divino do indivíduo, status que está se perdendo ao ponto que deixamos de lado a visão mística da realidade. A mentira que vivemos agora é que a individualidade é uma tragédia, e a experiência humana é ruim. Isso gera a mentira mais perigosa, que é a negação da responsabilidade individual.

Essa falta de responsabilidade individual gera todo o tipo de mal que estamos passando por hoje, mas quanto ao indivíduo e para o próprio individuo, o problema da maldade é mais complexo. O prazer no mau está sempre associado a uma falta de sentido na própria vida.

Concluindo, o significado é o instinto que torna a vida possível. A grande mentira é que o significado não existe. Quando o significado é negado, o ódio pela vida e o desejo por sua destruição inevitavelmente governam.



 
 
 

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