Memórias de Underground - Roger Scruton - Resumo
- Canal Resumo de Livros
- 20 de out. de 2019
- 11 min de leitura

Memórias de Underground - Roger Scruton - Resumo
Capítulos 1 ao 5
A história se trata de um rapaz interessado em leitura que morava de baixo do solo na Tchecoslovaquia, na época em que o partido comunista dominava este local. Seu pai foi morto por planejar contra essa ditadura esquerdista. Sua mãe se relacionava com um membro do partido, o que lhe deu condições de ter uma máquina de escrever e poder assim criar histórias e panfletos contra o regime.
O garoto era aficionado por dar identidade a pessoas que via em seus breves passeios pela cidade. Dando rosto a pessoas esmagadas pelo gigantismo do estado. Certa vez viu uma garota que se apaixonou a primeira vista. Sua falta de atenção foi tão grande ao vê-la que, numa das vezes a seguiu, mas esqueceu sua bolsa dentro do trem após uma inspeção de policiais mal encarados. Na bolsa havia, além de obras como as de Dostoiévski (autor que inspirava muito o garoto, uma de suas frases mais inspiradores era aquele que dizia que a verdadeira escravidão é a doença da vontade, uma espécie de armadilha em que nós mesmos nos colocamos, criando expectativas que sabemos que não serão atendidas), panfletos feitos por sua mãe. Após isso a mãe foi presa.
Passado um tempo da prisão da mãe, ele muito ferido psicologicamente, vê novamente a garota, que lhe chama para conversar. Ela se demonstra interessada na obra da mãe dele, e também na vida dele. Ele, após perceber a importância que sua vida tinha para a garota cita que pela primeira vez descobriu quem era ele, não Soudruh Andros, ou Jan Reichl (seu pseudônimo), mas o homem diante dela. Ele pergunta a ela porque de tanta importância, e ele diz que seus livros são uma janela, onde ele e ela aparecem.
Podemos ver nesse breve período um pouco da obra de Roger Scruton mixada com fantasia. Sua definição de self e sua constatação de como pessoas perdem sua identidade em regimes socialistas é bem evidente.
Capítulo 6
O personagem principal acumula algumas dúvidas em relação a Betka. O que significaria a frase: Gostaria de lhe trazer para a luz e te ver piscar? Ele vem tendo premonições, que a princípio se mostrarão sensatas, em seus breves encontros com Betka.
Como ela pediu, ele foi visitar a mãe. Mas nessa visita só pode conversar com alguns policiais, que o trataram de forma dura, induzindo palavras em suas declarações anotadas.
Ao ir falar com Betka ela perguntou o porque sua mãe foi presa. Ele não quis deixar claro que fora sua culpa. Ao perguntar para ela no que seus pais trabalhavam, ela descobriu que o pai dela era um membro do estado. Vivenciar momentos com Betka era mágico para ele, em suas palavras, os breves encontros que tinham pareciam que fazia sua amada "desaparecer por portas cuja existência eu nem supunha que existiam".
Capítulo 7 ao 9
Honza cita as guerras do século XX como a noite imprudente em que se paga o preço pela ausência de sentido no cotidiano. Ele cita que todas as atitudes feitas num regime ditatorial são egoístas, pois buscam apenas a sobrevivência. As pessoas nesse tipo de regime fazem atitudes ridículas como ficar horas numa fila por uma fatia de pão, coisas que não fariam por motivos nobres como curar a fome da áfrica. São nos breves momentos de sacrifício de alguns que surge alegria e luz por todos os membros do local sobre regime ditatorial, e assim as pessoas se lembram de quem são. Certos elementos presentes na cultura da Tchecoslovaquia mantêm a moral daqueles que estão lutando contra o regime, como os mitos fundadores do país.
O personagem principal acaba se relacionando de forma próxima com um padre chamado Pavel. Ele permanece fiel a Deus mesmo num país onde a fé foi exterminada. Honza faz perguntas de cunho religioso a ele, e percebe que em alguns momentos sem resposta para perguntas importantes, principalmente as internas, ele toca em algo interior que parece ter estado sempre lá, mesmo que inacessível.
Capítulo 10
Continuando suas desventuras com o padre Pavel, Honza percebe que a religião cristã usa o sofrimento, algo recorrente onde ele mora, como uma forma de entender o mundo. Honza parece se tornar mais introspectivo sobre os pensamentos, levando-os ao um nível superior, percebendo a metafísica em arquitetura, como no trecho em que cita que as fachadas dos prédios, onde ele diz que elas vestem um rosto, que a salvação que provem deles "baixa os olhos" para eles.
Capítulo 11
Honza começa a criticar alguns colegas percebendo-os como jornalistas e filósofos fracassados. Buscando em histórias como a da sua mãe, a redenção por suas incapacidades. Betka era quem segurava todas essas tensões de Honza, ao mesmo tempo que criava novas, devido a seu mistério. Quando indagada sobre todo esse mistério, ela diz que não o faz por querer, isso quem faz é Honza, ela é tão livre que se torna misteriosa.
Capítulo 12
Honza cita que liberdade, como ele aprendeu com seu pai, não pode surgir por meio de guerra e não pela troca de abstrações, mas sim pelo amor.
Capítulo 13
Tanto Betka quanto o nosso personagem principal se mostram um pouco incomodados com o comportamento de alguns membros. Talvez todo o ambiente de pressão e acusação contra os compatriotas cria esse tipo de cizânia mesmo entre os membros da reforma.
Capítulo 14
A vida de Honza mudava rapidamente, e um dos elementos que produzia isso era sua amizade com o padre Pavel. Betka dizia a importância de tomar cuidado com ele, pois como padre hora ou outra vai querer que ele se confesse, e isso poderia entregá-la.
Ele cita que o estado tchecoslovaco queria colocar máscaras neles, para deixá-los sem face perante a grandiosidade do partido. Porém eles mesmos colocavam certas máscaras para se vender ao mercado internacional de "liberdade". O que colaborava com isso era o pouco vocabulário permitido pelo governo, tornando a situação parecida com uma distopia orwelliana.
Capítulo 15
O personagem cita que visitou sua mãe nesse período, e seu caso foi julgado. Ela pegaria nove meses de prisão, e cinco anos proibida de escrever.
Capítulo 16
Seu relacionamento com Betka vai avançando, e isso o leva a muitas dúvidas. Até que ele consegue extrair de Betka a verdade: ela era a paixão de um professor que liberou o apartamento onde os dois se encontravam.
Capítulo 17
Betka o leva pra uma cidade interiorana, onde conta que fazia parte de esquemas do partido. Só assim ela conseguiu adquirir status para ter uma casa. Foi nesse ambiente bucólico que os dois estreitaram seus laços e chegarem a se casar.
Capítulo 18
Ela contou que na sua infância o Exército Vermelho fez coisas terríveis, incluindo o roubo e morte de donos de terra, foi assim que ela perdeu seu pai. Em conjuntura a isso, Betka levou Honza até uma igreja, onde, para seu espanto, ela se ajoelhou, rezou e chorou, mostrando para ele que ela não era tão forte quanto aparentava. Foi nessa situação que Honza concordou com Espinosa, que a verdadeira liberdade era a noção da limitação. Diferente do que sente escrevendo esse livro em Nova York, seu apreço pelos momentos que viveu com Betka naquela cidade bucólica lhe dão a verdadeira felicidade.
Capítulo 19 - 21
Honza cita a visita de um professor estrangeiro chamado Gunther, ele tem uma atitude muito expansiva, e isso levou a alguns membros do partido tomarem cuidado e até o perseguirem, devido a exposição do mesmo. Ele começou sua palestra com muitas referências a Nova Esquerda e Escola de Frankfurt, falando de uma realidade um tanto alienígena para os que ouviam aquelas palavras no Underground. Ele falava sobre uma "luta" que eles passavam, jargões esses utilizados pelo Partido e que os membros das discussões odiavam. Falou, em especial, sobre a crença útil, que era aquela "verdade" que apenas as minorias podiam reivindicar. Ao falar sobre Aborto os membros se agitaram e começaram a refutar Gunther, principalmente Padre Pavel. Citava o discurso que a mulher é dona do seu corpo, e nada disso incluía qualquer direito do feto. A língua tcheca se mostrou muito útil nessa discussão pois Padre Pavel citou que em tcheco a palavra pravo, que significa direito e justiça é também parte da palavra pravda que significa verdade. Direito para eles é aquilo que ninguém pode roubar, a própria humanidade, e não uma ideia genérica criada na mente de pensadores progressistas.
Capítulo 22
Betka se mostrou muito propensa a deixar Honza longe de seu apartamento, e com certa determinação o mandou embora depois de um dos seus encontros românticos no apartamentinho do seu professor.
Capítulo 23
Quase que decretando um fim no relacionamento, Betka discute se quem Honza ama é ela ou um ideal de Betka que ele tem
Capítulo 24
Ao citar brevemente sua vida atual, Honza fala que agora não há mais "momentos de verdade", impossível num local risonho como os Estados Unidos. Foi essa sensação de verdade que o fez, finalmente, confessar a Padre Pavel. Ele cita que salvação só se encontra em confessar os próprios erros para assim se chegar no estado de graça. Cita que amar Deus é amar a ausência. O padre crítica Honza, o chamando de Jan pois ainda não usa seu verdadeiro nome, pois ele, até aquele momento, esperava que a mudança viesse de fora dele (partido etc) e não interiormente. Isso vai ao encontro do intuito do partido, que é fazer as pessoas viverem uma vida em que falsidade e verdade sejam indistinguíveis. Com isso se perde a dimensão que define a alma: o sacrifício.
Capítulo 25
Ao chegar a seu local de trabalho (pela primeira vez no livro citado com ênfase) Honza descobre que um bilhete de Betka foi interceptado pela polícia.
Capítulo 26
Novamente Honza tenta escrever uma carta de perdão a sua mãe e não consegue, as inteferencias causadas pela presença de Betka em sua vida promovem isso. Betka se despede dele, dizendo que vai viajar com a família, mas perde para que eles se encontrem uma noite antes disso. Honza, pela primeira vez, sente que Betka é uma mulher que pode lhe causar perigo. Juntando isso ao fato de ter visto ela conversando com Gunther num bar, ele a trata com tristeza. O que lhe deixava um pouco tranquilo é que sabia que Gunther seria preso por agir de forma tão displicente em público.
Capítulo 27
O protagonista vai conversar com Padre Pavel num bar. Este cita que a filosofia progressista de Gunther enxerga tudo como negociável, algo que chega a ser maligno. Após perceber dois homens lhes observando de forma explicita, padre Pavel muda o discurso, citando todos os jargões marxistas para Honza. Dizia que nos tornamos quem somos por meio de disputas, de oposição, e que no fim entendemos que precisamos enregar tudo, nossa vida inteira, sem ficar com nada. Vemos aqui a clara influencia da dialética hegeliana e do marxismo. Após isso os dois são levados para carros separados pelos dois agentes do governo que estavam os investigando.
Capítulo 28
A conversa do agente que prendeu Honza é mostrada. Ele cita a importância dos livros, e que se interessa pelos livros de Honza. Fala que ninguém mais le o Das Kapital, mas ninguém vê os fundamentos de um prédio enquanto ele fica em pé. Cita que a Tchecoslovaquia é fundamentada em livros desde a sua história, e isso fez os tchecos acreditarem que seria suficiente terem livros para criar heróis e defesas, o que não foi possível depois da invasão do Exército Vermelho.
Capítulo 29
Ao andar desolado pela cidade por perceber que Padre Pavel foi preso e ele sim era o foco da polícia, foi em direção ao apartamento de Betka. Ao chegar lá encontra o professor que era dono deste apartamento. Ele percebe que Betka fugiu. O professor, com raiva, conta que ela fugiu para o exterior com Gunther. Demonstra raiva contra Honza por ela ter se apaixonado, mas saiba que um garoto como ele não seria empecilho para o relacionamento dos dois. Honza queria descobrir onde ela estava, perguntou sobre sua casa no campo e o professor mal saiba disso.
Capítulo 30
Para encontrar informações de Betka ele foi até o hospital onde ela trabalhava todo dia. A madre enfermeira cita que ela realmente trabalhava naquele local. Ao ser perguntada porque ela continuava com fé e trabalhando na caridade, responde que "Não há nada no comunismo que possa trazer conforto a uma criança moribunda". Cita então que existia uma menininha chamada Olga que tinha uma doença incurável, de acordo com o partido. Assim as madres não poderiam mais gastar sua energia com um caso perdido. De tal forma que Betka arrumou um jeito de sair do país para cuidar dela.
Capítulo 31
Ao conversar novamente com policiais e perguntar sobre o padre Pavel, eles disseram que até onde eles sabiam, essa pessoa nunca existiu e que não podia haver padres naquele local. O professor Gunther após ser preso por se envolver com o Underground, teve o apoio da mídia internacional, principalmente dos intelectuais de esquerda de Europa, o que o permitiu ser livre.
Ao pensar sobre Betka, chega a conclusão de toda sua história. Na verdade ela organizou tudo para ir embora com sua filha, está que é fruto de um relacionamento com o próprio padre Pavel. Ele o tinha pedido descrição em suas confissões por isso. Ele descobriu que com 19 anos, Betka viu em padre Pavel aquilo que ela precisava, graça e redenção, e os dois se apaixonaram. O que viu nele era a beleza do sacrifício. Pavel foi preciso durante o nascimento de sua filha. Foi mantendo assim seu vínculo com o padre as escondidas, e nesse ponto usou Honza, pois sendo este um personagem altamente vistosos para as autoridades, as atenções seriam desviadas delas e do padre. Mas, por ver em Honza uma pessoa limitada e necessidade, acabou se apaixonando.
Capítulo 32
A mãe de Honza sai da prisão e o tempo passa. Porém seu amor por Betka continua, a ponto de considerar traição o relacionamento com qualquer outra garota. Ao perguntar para um importante membro do governo sobre o julgamento de um padre Pavel, descobre que este nunca aconteceu, e que foi deixada uma gravação do envolvimento de Honza com sua mãe na cópia de livros no Underground, a mesma conversa que este teve com o padre no bar antes de ser detido.
Com a queda do Muro de Berlim, a Tchecoslovaquia saiu das garras da União Soviética, mas com isso veio o "kitsch desdentado" da cultura pop americana em contradição aquele "kitsch com presas" que era o domínio comunista. Após isso teve um relapso de Pavel e suas ações. Ele teria virado um membro do governo, com um discurso muito parecido com o de Gunther, longe daquele misticismo que havia despertado em Honza o espírito de discipulado. Os dois chegaram a se olhar mas não se falaram.
Capítulo 33
A cultura de comunista ia entrando na Tchecoslovaquia, com isso as novas experiências ao mesmo tempo que estes estrangeiros que ali as buscavam garantiam que esta nunca mais seria verdadeiramente nova. Descobriu que um de seus colegas de Underground havia se tornado professor de artes. Suas aulas eram dedicas ao sofrimento. Só assim ele conseguia criar em seus alunos a noção breve noção do sofrimento que tinham, este que saiam em corpos que nunca o sentiam. Outro colega se tornou reitor de uma universidade, e com isso veio todos os jargões esquerdistas que garantem cargos importantes em qualquer universidade do mundo. Ao citar que queria ir para os Estados Unidos, Honza foi repreendido, citando que estava negligenciando seu país numa hora tão importante de reconstrução.
Depois de começar sua vida nos Estados Unidos, Honza descobre que Betka era professora numa universidade. Lá ela fazia estudos sobre a vida no Underground. Um dos livros que ela analisou era o seu, aquele que ele havia perdido no trem e causou o encontro romântico dos dois. Graças a isso ele recebeu recomendação para trabalhar numa universidade. Ele acreditava que esse livro seria suficiente para conseguir um bom cargo no país, porém não foi suficiente, pois ele não tinha uma cópia do mesmo, a último foi levada por Betka. Ao faltar a uma palestra que ela daria, a vaga que este preenchia ficou ameaçada. Ele cita que esse passado com Betka parece até uma miragem, e que não consegue explicar a dimensão metafísica (por definição) do que viveu, para ele era estranho explicar a esses jovens que pagam 120 mil dólares em suas faculdades, tão fãs da música pop e manifestações (o que a professora Betka tanto criticava recentemente) que em sua vida houve uma época que os livros eram tão importantes quanto a própria vida. Ao fim, ele recebe um envelope, e nele tem uma carta de Betka falando sobre sua paixão, de forma implícita, e sobre ele ser seu erro. Isto lhe rendeu um bom emprego. Ao se encontrarem e ela devolver o seu livro "Rumores" ele entende o significado da frase dita há 20 anos por Betka: "Aqui esta´você, de volta ao meu sonho".
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