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Notas sobre a Esperança e o Desespero - Luiz Felipe Pondé

  • Foto do escritor: Canal Resumo de Livros
    Canal Resumo de Livros
  • 25 de jan. de 2022
  • 8 min de leitura


Nota 1 - A intuição teológica e as três costelas essenciais

Quando Pondé escreveu o livro "Os 10 Mandamentos (+ um)" no começo da década de 2010, ele propôs como novo mandamento "Terás esperança no mundo", já que não existe um motivo racional para isso. Por sempre voltar ao tema da esperança, uma vez que parece que o mal sempre vence, o autor escreve essas notas. Como ele é um ateu não praticante, sabe que para ele seu fim é apenas a destruição da matéria, isso deveria desespera-lo, mas ainda não causa esse efeito.


Nota 2 - Esta vertigem da lucidez: dois tipos de esperança

Tudo virtude é tímida. Lidar com a desesperança é uma virtude, para os gregos, a desesperança vinha na ideia de morte, sendo assim a esperança em si mesmo é um erro. Já os judeus vinham a esperança na ideia de um Deus provedor. Os católicos acreditavam que a esperança é uma virtude teologal, que vem devido a grava divina, que se dá então por meio dos atos dos fiéis, como a caridade. Toda virtude, além de tímida é prática. A busca de uma esperança puramente humana é dada, então, pela filosofia.


Nota 3 - A calma trágica em Antígona

Antígona é a filha de um incesto de Édipo e Jocasta, do mito grego. Ao final ela se mata para livrar seus pais do erro encarnado que ela significa. O desespero de Antígona é prova de que a esperança humana é uma ilusão, pois somos escravos de fatos que nos antecedem. A esperança nessa história está na tranquilidade com que a garota lida com a situação, ou seja, a esperança não viria na alegria, mas sim na beleza.


Nota 4 - A resposta bíblica à Antígona: a esperança como alegria prática

Neste ponto de vista, viver sob o olhar de Deus seria o milagre, pois a existência só ocorre devido a sua vontade. Deus não nos deve nada. A própria realidade é o milagre, e não eventos como a abertura do mar vermelho. Boa teologia sempre começa agradecendo a existência do Ser. Jesus é uma figura emblemática nesse ponto pois está no limite ontológico entre Deus e homem, morre como um e ressuscita como outro. Ou seja, só se ganha vida quando se atravessa a morte, assim notasse a necessidade de coragem nas ações, evento recorrente em toda a bíblia. Como dizia Dostoievski "a beleza salvará o mundo", no caso, a beleza de Cristo nos atos cotidianos.


Nota 5 - A esperança como virtude prática

Apesar de estética ser um dos caminhos para a via religiosa, a secularização desse conceito o transformou em algo niilista, tendendo a tornar quem recorre a esse conceito numa pessoa indiferente ao mundo. De acordo com Kierkgard é uma chama que se extingue numa vida curta.


Nota 6 - A fuga estoica do mundo

Estoicismo é a filosofia de não se apegar a coisas terrenas. A proposta estoica deve ser vista nessa tradição: o intelecto nos diz que tudo é efêmero, afora o logos que tudo cria e descria, logo, a atitude inteligente é não negar essa efemeridade e tirar dela o que haveria de sabedoria. O estoicismo nos mostra como sermos felizes fugindo de uma cultura que tem como objetivo nos transformar em retardados. O desespero no estoicismo se torna uma resistência a estupidez alegre.


Nota 7 - Desejo de contingência no epicurismo

O epicurismo antigo é uma espécie e atomismo, onde os átomos se juntavam sem motivo algum e assim surgia o mundo, as pessoas etc. A esperança nessa filosofia surge por não termos nenhuma missão ou elemento transcendente, pois esses elementos sempre trazem junto a danação divina, e por consequência, o desespero surge de quem não consegue lidar com esse niilismo.


Nota 8 - Desesperar a razão como esperança de ceticismo

Ceticismo não é niilismo, mas sim perder a esperança na razão, levando em conta que a tradição tem naturalmente uma sabedoria que foge a analises "geométricas". Na política e moral, isso se reflete no conservadorismo. Esse traço não é muito popular numa cultura que se baseia na pressa e na eficácia. Num mundo sem referência ao passado o ceticismo pode desaguar no niilismo. De uma forma materialista, o conservadorismo ainda pode ser entendido como uma esperança na ação humana (ao longo de muito tempo) para resolver problemas.


Nota 9 - A esperança niilista

A falta de sentido para o superhomem nietzschiano é o que deve causar esperança. A coragem é valorizada, como fonte de sentido e esperança, afinal, até mesmo nessa cultura secular os covardes são vistos em menor conta e como sempre a covardia é irmã gêmea da esperança. Sartre ao dizer que a existência precede a essência, acaba por tirar qualquer dimensão transcendental ao fato de estarmos vivos, assim por vezes sua filosofia cai no niilismo, sem contar o fato de que, para Sartre, o humanismo era o marxismo, o que o fez apostar numa política bem pouco preocupada com a vida humana.


Nota 10 - O desespero na política

Esse está associado ao ceticismo em relação a democracia. Pois essa ditadura da maioria acaba por não representar os anseios de ninguém, mesmo quando o político escolhido é eleito. De limitador do poder, a democracia se tornar instrumento de poderosos.


Nota 11 - O repouso em si mesmo como esperança moral

Repousar em si mesmo não é efetivo tanto por condições materiais (como dizia Freud) como ontológicas (pois buscara felicidade é entristecer-se, como dizia Viktor Frankl) como teológicas (Deus é o sentido da vida do homem, por tanto, sua felicidade).


Nota 12 - Só os pecadores verão a Deus

Para Georges Bernanos a alma era ontologicamente angustia, e só não deixa de existir depois da Queda pela piedade de Deus. O desespero absoluto nos lança no vazio, lugar privilegiado para sentirmos graça e misericórdia.


Nota 13 - O desespero do desejo

A vida do desejo é quase insuportável pois o desejo acaba justamente quando este é satisfeito, como ter esperança em algo tão efêmero? Sendo assim, Tostoi ilustra bem como o casamento se torna um elemento civilizatório, pois doma o desejo tanto do homem, que agora pode se tornar produtivo apesar de não ter sexo com prazer descompassado, como a mulher, que como pagamento dessa domesticação, acaba tirando as riquezas do homem e também seu tempo livre, pois é nesse que o homem deve se moldar a seus desejos, senão sua paranoia a faria buscar outro homem.


Nota 14 - Envelhecimento como mentira e doença

A esperança aqui é acreditar no marketing do não-envelhecimento. Hoje não pensamos mais na morte (cultura importante para uma vida transcendental e madura) para os contemporâneos, envelhecer é quase considerado uma doença. O desespero surge tanto no velho quando no jovem, o primeiro não exerce narrativa nenhuma na vida atual (pois envelhecer é um erro) e o segundo, apesar de dominar o uso de iPhones (ênfase no "I", cultura centrada no "Eu") não tem perspectiva nenhuma de um futuro sábio.


Nota 15 - A consciência e os afetos como desafios

O desespero surge da repressão do afeto da morte, que está sempre presente em nossa vida, mas naturalmente a ignoramos.


Nota 16 - O futuro como um continente assustador

A técnica não é sinônimo de avanço, vemos isso claramente quando avançamos em medicina, mas a política está cada vez mais ridícula. Inovação nos modos de viver é a infantilização da vida adulta. Passar da infância para a morte sem amadurecimento é sinônimo de desespero.


Nota 17 - Desespero do amadurecimento

Ter consciência de que a vida não é uma história com final feliz e lidar com isso é amadurecer. A esperança é a resposta para o final dessa história. Com a mania identitárias (gayzismo, feminismo etc) e os vitimismos associados, as pessoas tem mais material para continuarem infantis, alimentado assim o ressentimento e a falta de generosidade. A estrutura psicológica de quem exige direitos como paradigma social é a de um mimado, tal como diz Theodore Dalrymple. Em especial sentimos essa mudança na generosidade que está cada vez menor pois, apesar de existirem ONGs, elas não são a generosidade em si, essa surge não teoria, mas na prática e como diz o cristianismo: só ama quem é livre.


Nota 18 - O desespero do bem

O bem para Platão é a potência da abundância que se desdobra em generosidade "ontológica". Sendo assim, o bem que temos hoje, esse bem que surge apenas para o marketing (como mostrar caridade nas redes sociais) não é o bem de verdade. Se você é bom por ser feministas, não comer carne, andar de bike etc isso só está servindo a você mesmo num lugar tranquilo. O bem verdadeiro só cresce em ambiente em que ele gera desequilíbrio na própria natureza humana. Toda forma de virtude cresce no combate. Sendo assim o bem, análogo ao que dizia Platão, só habita aqueles que dentro de si sabe que existe o mal. Quem conhece o mal pode reconhecer o bem quando o encontra, "só os pecadores verão a Deus".


Nota 19 - O desespero como redenção: um pequeno diálogo entre gigantes

As mentiras que nós carregamos nos leva ao vazio, como dizia Dostoievski. Na tradição cristã é comum as pessoas do passado irem a desertos, pois assim encaramos o pó que nos habita e o desespero que o deserto causa é apropriado para o demônio tentar nos escravizar pelo medo. Vencer esse desafio mostra quanto orgulho (Pecado Original de Santo Agostinho) é a face mentirosa desse vazio, e assim descobrimos que a misericórdia é então a única necessidade para viver. Nelson Rodrigues falava de se perder no medo, vence-lo e a partir de então deixar de ser covarde, levar a vida com coragem. Alberto Camus em O Mito de Sisifo, citava que cansar de jogar a pedra para cima significa deixar de se preocupar com as condições de existência e entender então que a vida é simplesmente nascer e morrer, com coisas acontecendo entre esses dois eventos. Finalmente, Dostoievski no conto "Sonho de um homem ridículo" mostra um rapaz que estava preparando-se para se matar quando era atrapalhado por uma garotinha, ele então expulsa ela de perto, vai para sua casa e dorme. No sonho, começa a viver num lugar onde todos eram perfeitos e puros, porém, sua existência começa a fazer as pessoas se aproximarem dele e quererem fazer bem para ele, de forma perturbadora, a vontade de fazer todo o bem possível para esse rapaz faz as pessoas se matarem para ver quem mais o agradava. Assim, ao acordar, percebe que o "demônio" daquele lugar era ele, percebendo o vínculo desse sonho com o ressentimento que causou a vontade de se matar, volta até a garotinha para tentar ajuda-la.


Nota 20 - O duplo método da esperança

Ao concluir, Pondé cita que não há esperança na solidão, sendo assim, quem lhe traz esperança sempre são os outros.


Apêndice - A peste em meio à esperança e ao desespero

O autor cita que no futuro, a pandemia será esquecida pela história, apesar de toda a vontade da mídia em deixar esse assunto alerta em nossas mentes a todo segundo, manipulando dados e explorando as fraquezas humanas para isso. Se as pessoas não fossem tão esquecidas, a grande mídia sairia manchada depois da pandemia. A polarização acaba influenciado até mesmo nesse tipo de evento, onde, se você não é a favor de lockdown ou vacinas, por qualquer princípio que seja, já lhe definem como adepto de alguma política e colocam em você outras lunaticidades, como terra plana.

Como tudo é definido pela quantidade de clicks, quem mais especular ganha. Informação de qualidade hoje é sinônimo de fake news. Porém, apesar de toda essa loucura o mundo não parou, e isso se deve as pessoas normais, que continuam no seu trabalho "de formiguinha". Essa gente invisível, que busca sua força de continuar na esperança, que são os realmente valiosos, afinal o valor é sempre humilde e discreto. A esperança e a bondade são da família da humildade, não da vaidade e da publicidade.

 
 
 

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