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O Dilema do Porco-espinho - Leandro Karnal

  • Foto do escritor: Canal Resumo de Livros
    Canal Resumo de Livros
  • 27 de nov. de 2018
  • 7 min de leitura


O Dilema do Porco-espinho - Leandro Karnal - Resumo



Prefácio: Karnal convida aos leitores a unir sua solidão com a dele para aproveitar melhor esse livro. Cita que a solidão é comum a todas as pessoas, mas a necessidade de estar com alguém também o é. Essa dor de estar ao lado de alguém, que nas palavras de Sartre “o inferno são os outros” se chama o dilema do porco-espinho.



Capítulo 1 e 2

Karnal começa sua análise sobre a solidão falando do velho testamento. Citando que o Adão, diferente de todos os outros animais, era o único sem um parceiro. Assim, o ser humano foi a primeira criação de Deus que não estava "completa". Com o tempo, ele criou Eva, e dessa forma sua criação estava completa. Adão então foi a única pessoa que não sofreu por solidão, afinal, foi o próprio criador que percebeu a necessidade de companhia, pois uma pessoa sozinha não era interessante. Em nenhuma religião do oriente médio a solidão era bem-vista. No judaísmo, por exemplo, era obrigação casar. Darwin, um expoente do ateísmo, chegou a mesma conclusão bíblica de que casamento teria mais pontos negativos que positivos, independente da sua predisposição a solidão.

Busquemos então o limiar da segurança entre o calor e a dor dos espinhos. Esta que forneceria a verdadeira felicidade, tema tão “infantilizado” para os antigos (vide a quantidade baixíssima de sorrisos em fotos e os textos pessimistas) em comparação a obrigação de ser feliz da sociedade atual. Talvez este limiar esteja na internet. Bauman no seu conceito de modernidade liquida assume que a amizade tem um diferente modos operandi num mundo de internet. Neste mundo as pessoas não precisam aguentar chatos e ao primeiro desconforto existe o botão de delete. Essa relação efêmera com as pessoas produz amizades rápidas. Num conhecido dialogo entre Bauman e um adolescente, este jovem diz que em um dia criou 500 amigos, diferente de Bauman que durante toda a sua vida fez menos de 5. seria esse o mundo feliz, o Admirável Mundo Novo, nome copiado por Huxley da peça "A Tempestade"?

Estudos e experimentos são feitos desde o inicio da internet, para entender a sua relação com a interação entre os humanos, e também a sua ação sobre a mente humana. Um desses mostra que, diferentemente do que se pensava no começo da internet, as pessoas a usam não para descobrirem novas situações, novas pessoas e novas ideias, mas sim para confirmarem as suas. Isso explica o porque as propagandas pela internet dão tão certo, num mecanismo simples os sites tomam a informação do que você gosta e lhe oferecem apenas esse tipo de produto. Nas relações interpessoais acontece algo parecido: nos relacionamos pela internet mais com as pessoas que moram perto de nos. Isola-se em casa mas se rompe o isolamento social, uma dicotomia. Surge uma sociedade on-off, que busca a socialização segura por trás da tela de um celular, "o sucesso do aparelho está no jogo de permitir palco e camarim ao mesmo tempo".

Isso cria alguns vícios, tanto os neurológicos associados a estímulos que o celular causa, como os sociais, nos tornando fechados numa bolha de interesses, criando ódio por aqueles que não pertencem a essa bolha. Para Cristiano Nabuco da USP, as redes sociais, sua dependência de likes, depressão e seu voyerismo criou autistas digitais.

Nem sempre a pessoa consegue se afogar nas redes sociais para suprir sua solidão, por vezes ela quer participar mas se sente ainda mais fadada a não participar devido a sua baixa "avaliação" medida em likes, seguidores etc. Atitudes assim acabam levando as redes sociais a criar comunidades apenas de pessoas que concordam. O imperativo democrático não reina, criando assim uma "solidão interativa" com pessoas parecidas comigo.

A internet nunca vai dar a experiencia de "deserto" mesmo quando a pessoa está em solidão acessando-a. Sua própria concepção está fadada a lidar com muitas informações, anúncios piadas. Karnal, para finalizar, se pergunta se o real crescimento de um ser humano acontece na forma virtual ou real.


Capítulo 3 - Solidão, solitude e livros

Neste capítulo o autor mostra uma série de livros importantes onde a solidão é tratada. Num mundo com tantas obras escritas, surgiu-se uma forma de estar sozinho e não se estar.

Em Macbeth, Shakespeare coloca o principe falando com seus próprios demônios. Dom Quixote personifica a solidão idealista de um fidalgo arruinado. A arte também vai a solidão mais isolada como no romance Robinson Crusoé, onde é necessária certa diplomacia a se lidar com os habitadas descobertos a posteriori na ilha do naufrágio. Algumas outras obras classifica como Mobi Dick e O conde de Monte crista são analisadas a luz da solidão de seus personagens principais.


Capítulo 4 - O deus da solidão

Alguns personagens religiosos famosos são estudados a luz da solidão e da necessidade ontológica da existência do "deserto" em analises teológicas. Nessas linhas, a "tentação de Santo Antão" é uma das obras mais conhecidas, onde um homem lutava contra os pecados na sua própria solidão e foi recompensado ao final.

Na própria bíblia temos a imagem de Moises, um homem que caminhando sozinho no deserto conseguiu decifrar as leis de Deus. Outros como Jeremias e Oseias tinham a mesma ideia. O próprio Jesus foi ao deserto para compreender melhor a obra de deus. Foi tentado pelo diabo,, que utilizava de ferramentas consequenciais de se estar sozinho para tentar Cristo. A imagem da solidão é bem explorada nos evangelhos. Mesmo cristo não queria estar sozinho nos seus últimos momentos, por isso preparou uma ceia com seus discípulos.

Hoje, é praticamente impossível ter essa experiencia religiosa do deserto, principalmente pela internet. Nela, estamos cercados de algoritmos que, diferente do Diabo, consegue nos fornecer exatamente aquilo que não temos como dizer não, pois a informação que chegou a o algoritmo sobre o que queremos foi dada por nos mesmos. Também existem remédios que não nos permitem sentirmos triste ou solitários, como os antidepressivos.


Capítulo 5 - A imagem do solitário: arte e cinema em busca do isolamento imagético

Na arte temos várias representações da solidão, mesmo em pinturas. Em Magitte, que pintava um cachimbo com a legenda "isso não é um cachimbo" podemos perceber que a arte serve para fazer profundas demonstrações sem estar especificamente falando de algo. As velas em Bachelard não conseguem somar suas luzes a ouras.

Alguns personagens famosos da arte como o diretor Kubrick não faziam questão de aparecer em publico, e durante toda sua carreira usou a solidão para preparar suas obras.

Pintores como Van Gogh que não conseguia lidar com seu colega de quarto e representava isso em suas obras como "A Cadeira", e Michelangelo que dizia "procure a solidão, se tua vida é regrada, tua saúde não sofrerá nada por tua retirada". Mostram assim a importância da mesma em sua vida como artista.

Em obras atuais percebe-se que a soma da modernidade liquida com solidão pode criar alguns absurdos. O filme de 2013 "Ela", por exemplo, explora a paixão de um rapaz sozinho em uma cidade superpopulosa, pelo seu computador.


Capítulo 6 - As solitárias

O autor começa tratando da solidão a dois. Em geral afeta casais em que não se sente mais felizes juntos. Essas pessoas convivem mas não se conversam. Mesmo estando juntas, estão solitárias, um reflexo de um relacionamento que começou com bases fracas, talvez uma forte paixão inicial onde não se observou as falhas da personalidade de cada um. Isso é comum quando ocorre a síndrome do ninho vazio, que é quando seus filhos vão embora de casa.

Outra solitária natural que colocamos as pessoas se chama velhice. É muito comum ocorrer de idosos não se sentirem mais parte do grupo de pessoas, ficando sozinhos em festas que porventura são chamados. Hoje na Inglaterra, mais da metade das pessoas acima de 60 anos são completamente sozinhas e 80% tem danos físicos devido a isso. A raça humana não se construiu, evolutivamente, lidando bem com idosos. É comum observar crânios de idosos mortos, que foram isolados da tribo. O mesmo ocorre hoje, quando por exemplo, nos preocupamos mais em mantê-los vivos pagando alguém para que faça os cuidados do que nos mesmos estarmos ao lado deles em momentos difíceis. Talvez isso seja reflexo da nossa ojerice a morte, fruto do mundo liquido, onde não conseguimos lidar com o que é feio e moribundo.

Obviamente, solitárias de prisão servem como um bom exemplo para entender como é da natureza humana achar que ficar sozinho e isolado é uma punição. Michel Foucault percebeu que sanatórios e prisões surgiram ao mesmo tempo na humanidade. Antes, era normal colocar bandidos para fazer trabalho escravo ou simplesmente matá-los. Algumas pessoas até pensavam que colocar as pessoas em prisões os fariam naturalmente melhorar seu comportamento. Não foi o observado. Independente do conceito de punição ou reclusão, as prisões se mostraram ineficientes em mudar o comportamento de quem por lá passa.

Para completar o autor fala do ostracismo, comportamento observado em cidades gregas onde aqueles que não se adaptavam ao comportamento geral eram naturalmente isolado pelos vizinhos.


Conclusão

Percebemos no decorrer do livro, vários exemplos de obras onde a solidão foi a chave para a sua qualidade. Hoje ocorre um fenômeno parecido, por exemplo com os hikikomori, que são jovens japoneses que se isolam de todos e trabalham em empregos associados a computação. Sua socialização está baseada em redes sociais.

Os seres humanos são animais sociais, precisamos dos outros para sobreviver. É só imaginar como produziríamos o mais simples sanduíche para entender o quão complicado seria viver por conta própria. Alguns personagens importantes como Jesus e Maomé se isolaram e isso criou toda uma bagagem cultural da humanidade.

A solidão é usada para fugir do mundo cheio de incômodos. Se livrar do vício de estar sempre acompanhado é complicado, mas podemos começar a fazê-lo conhecendo boas musicas e livros, por exemplo. São esses pequenos detalhes que mostram uma personalidade mais complicada e segura de si. O autor pede para se desconfiar sempre mais de quem nunca se isola e sentir compaixão daqueles que necessitam da aprovação de posts em redes sociais para se sentirem completos. Para concluir, surge a pergunta: Se você não se suporta, quem conseguirá fazê-lo?

 
 
 

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