Prefácio: O livro tratará de pequenas histórias sobre Dalrymple e seu vício em livros.
01 - Filhos suburbanos
Dalrymple conta a história de um sebo onde conheceu um antigo defensor de Hoxa, o ditador da Albânia. Por mais que esse homem fosse defensor do regime comunista, Dalrymple se identificou com ele no que se refere a amor pelos livros. Para esse vendedor, os livros tinham um valor intrínseco (tal qual o valor de produtos numa economia planificada). Ele vendeu seus volumes pro preços que não fazem mais sentido a 70 anos, e em conversa com Dalrymple, comentaram como a cultura está em decadência.
02 - Sinceridade engenhosa
Vários livros que Dalrymple comprou em sebo vinham com elementos extras, como insetos mumificados ou cartas. Uma dessas cartas era de Thomas de Quincy, um poeta inglês. Curiosamente um homem cheio de jargão acadêmico escreveu a um colega com desculpas muito esfarrapadas, pedindo que o amigo pagasse uma dívida. Dalrymple nota como sua escrita vai ficando mais fraca no decorrer das passagens mais absurdas.
03 - Inimigo dos homens
O autor faz um paralelo histórico, citando que nos lugares onde se queimaram livros, queimaram também pessoas. Hoje, num país secular como a Inglaterra está acontecendo o mesmo. Bibliotecas públicas cheias de livros que não interessam mais grande das pessoas tem seus volumes queimados. Ao perguntar a um bibliotecário o porque não vendiam os livros, este o respondeu que era por causa da burocracia.
04 - O brilho dos anjos
Brevemente conta a história de uma visita a um sebo onde um jovem muito educado com vontade de aprender pergunta ao dono do local quanto custaria um volume que Dalrymple afirmou categoricamente ser muito raro e estava a venda por apenas 20 libras. O dono, já velho, disse que agora custava 18. Talvez uma alusão a um prêmio pela sinceridade de Dalrymple, virtude que o dono do sebo viu-se perder na Inglaterra com o passar dos anos.
05 - Senhora Buggins
Dalrymple compra livros que envolvem assassinatos feitos por médicos utilizando veneno. Uma dessas edições conta toda a briga intelectual envolvendo médicos que se acusavam sobre a morte de um sujeito devido a envenenamento. Curiosamente os conhecimentos contidos nessas descrições serviram para Dalrymple em um dos julgamentos que ele foi convidado como perito que envolviam veneno.
06 - Como ser daltônico
O autor conta a história de um médico numa parte rica da Inglaterra. Este foi acusado de assassinar algumas pacientes (com o aval delas). Elas já eram mais velhas e, depois de seduzi-las, elas se deixavam levar pela ideia de morrer e deixar suas dores de lado. Neste meio tempo ele conseguia que elas colocassem seu nome no testamento. Dalrymple comenta a pesquisa de alguns psicólogos se perguntando o que tem nos homens maus que atraem as mulheres. O autor rebate, dizendo que o problema está nessas mulheres, “daltônicas” para algo na personalidade desses homens que a maioria das pessoas, na verdade, rejeita. Ele cita que os assassinatos hoje na Inglaterra se tornaram comuns, sem aqueles tons de drama que por vezes humanizavam tanto as vítimas quanto os próprios assassinos.
07 - Mas é seguro
Um conto curto que comenta o julgamento e sentença de um médico que envenenou alguns pacientes. Este, curiosamente, na hora de subir na sua cadeira elétrica perguntou ao executor se era “seguro”. Dalrymple se mostra admirado por uma personalidade que leva a fazer piadas sarcásticas assim num momento tão mórbido. Ele cita que por mais estranho que seja, alguns assassinos podem ser boas pessoas (salvo seus crimes) como um desses médicos que mesmo depois de tantos anos trabalhando e recebido tantas heranças, morreu pobre, muito possivelmente porque doou o dinheiro das heranças no decorrer de sua vida, tirando dos ricos e dando para os pobres.
08 - Pessoas e coisas boas
Um conto divido em duas partes. Na primeira o autor conta a história de Young, um envenenador compulsivo. Sempre que teve a chance este rapaz foi capaz de envenenar pessoas apenas pelo prazer de usar seus pesados conhecimentos na área. Chegou a fazer isso com parentes, incluindo sua irmã, que escreveu um belo livro (mesmo não tendo formação acadêmica para isso). Dalrymple percebe a bondade nela, mesmo depois de atitudes tão extremas de seu irmão. A segunda parte da conta mostra de onde ele comprou esses livros, na coleção de um ex-médico que tinha mais de 7 mil livros envolvendo assassinatos. Curiosamente uma pessoa com esses gostos era amada por todos e teve um ótimo casamento.
09 - Mãos Livres
O autor se depara com uma cópia de um livro que, a princípio, parecia ter sido corrigida pelo melhor amigo de Samuel Johnson, grande ensaísta inglês. Ele percebeu isso devido à humildade das correções e em conversa com colegas historiadores. Ao ir mais a fundo atrás da informação, descobriu que não era. Isso se mostrou importante para o autor pois, mesmo ele tendo uma vida agitada, cheia de embates com governos comunistas, algo pequeno como isso fazia seu coração bater mais fortes e suas mãos tremerem.
10 - Tanques cheios de água
Ao comprar um livro com uma dedicatória simples, Dalrymple observa o declínio da cultura inglesa. Hoje, para demonstrar o amor por alguém, não se é mais feito como antigamente, com curtas palavras como na dedicatória de 1945. Uma dedicatória tão antiga denota um ambiente cheio de vida em comparação ao asilo que a pessoa que escreveu deve estar hoje, cheio de loucura e cheiro de urina. Ele admira muito a senhora que conseguiu demonstrar tanto amor em poucas palavras, justamente porque os seres humanos admiram de verdade aquilo que não podem ser (senão seria apenas autoadmiração).
11 - Luz ofuscante
Ao analisar a obra de um autor menor (Dalrymple se coloca entre os menores) percebe um pouco de arrogância. A mesma que ele tende a esconder, e que por vezes flui. Como na vez que ele foi preso e ao explicar o porque não poderia ser, disse que tinha que “pegar um avião”. Nesta vez os colegas que foram presos com eles estavam sendo torturados, e com medo. Falou para eles se comportarem "como inglês." e ficar em silêncio. Por mais que hoje o povo inglês. seja um dos mais espalhafatosos.
12 - Uma van branca
Conta a história de quando viajou para a América Central com livros de vários países. Ao chegar a Honduras, foi preso por carregar livros de El Salvador. Este episódio o fez lembrar de um livro de infância que contava a história de quando ocorreu uma guerra entre os dois países por causa de um penalty. Em sua mente isso realmente ocorreu devido a essa loucura humana, mas para alguns economistas, eram por motivos financeiras. Ao fim desse conto ele chega a mesma conclusão dos guardas que o prenderam por causa de livros: leitores podem ser perigosos.
13 - O estado atual
Ao comprar livros filhos que contavam histórias de enterros que não deram certo, e como evitar usando a tecnologia de sinos ou enterros programados, ele se lembra da primeira vez que analisou uma pessoa morta a horas. Supondo que não ouviria nada, acabou por ouvir uma quantidade enorme de sons, e mesmo em dúvida assinalou que o corpo estava morto, mesmo com medo da ridicularização dos colegas.
14 - Dimensionar a revolução
Cita que por vezes teve que engolir o orgulho para conseguir um livro que queria. Ao comentar sobre seu interesse no Haiti (o segundo país com história mais triste, depois do Paraguai), conta a história de quando foi a um sebo e, ao pedir um livro sobre o tema, o dono do sebo, que em geral odiava seus clientes, não quis vender o livo por achar o Dalrymple não daria um bom fim a ele.
15 - Almas com desconto
O autor comenta que em países onde a literatura sofre sanções do estado, se produzem mais livros. A Inglaterra é um país mais livre que a França, porém, de acordo com o autor, os livros que na ilha se vendem são péssimos em comparação com a França. Em geral, livros sobre biografia de pessoas que sofreram violência infantil e esse tipo de coisa emotiva. Com essa comparação ele mostra que não é necessariamente que verdade que o mercado livre não é o mais importante na formação da alma humana.
16 - Prostitutas em praça pública
Dalrymple mostra sua admiração pelo Bispo de Bristol, um intelectual cristão que não é levado a sério. Em especial sua bela passagem sobre o apedrejamento de uma prostituta. Onde ele cita que muitos dos que as tratavam mal, mesmo ela estando errada, eram mais culpados que ela: “pecados públicos trazem mais vergonha; os privados causam mais culpa”.
17 - A luta contra o absurdo
O autor se percebe cruel ao ficar horas pensando numa escolha: dar ao seu amigo uma primeira ou uma segunda versão de um livro que contava a história de um massacre na Europa oriental. Conclui sua insensibilidade dizendo que não se elimina uma preocupação simplesmente salientando a sua natureza absurda.
18 - Paixões encantadoras
Dalrymple comprou um livro onde o antigo dono riscou de forma violenta o nome do antigo dono. Ele comenta que espera que pessoas que fazem isso não sejam bons sujeitos. E comprova no tema do livro: racismo.
19 - Ditadores cômicos
Uma crítica a editadores de primeiro mundo que sacralizam ditadores ridículos, como um africano que não deixava ninguém ser mais alto que ele em fotos.
20 - Pensamento positivo
Ao ver a discussão entre dois médicos tentando entender o funcionamento de uma doença associada a falta de vitamina B12, mostra como o conhecimento hoje, por mais que tenhamos a internet, ainda percorre o mundo quase na mesma velocidade de centenas de anos atrás. Também é curioso como não conseguimos refutar conhecimentos simples como a não-fluidez do sangue, tudo isso baseado na filosofia pragmática de Popper. A dificuldade de extrair a verdade do erro absolto mostra que existia boa vontade mesmo em textos demonizados hoje em dia.
21 - Não convencionais e estrangeiros
O autor cita que tem na sua coleção muitos livros de suicídio, mas que isso não o faz uma pessoa estranha, pois estes livros apareceram "naturalmente" para ele. Nestes livros, para Dalrymple, existem ideias que mentes normais não conseguem entender direito. Como no caso em que um grupo de amigos que tinha ciúmes de um colega judeu o assassinaram, mas ficaram com tanto remorso que acabaram cometendo suicídio. Também mostra disparidade do tratamento ao suicídio na França em comparação com a Inglaterra.
22 - Palavras grosseiras
Para o autor, um pouco de censura ajuda ao surgimento de boas obras de literatura pois, quando há muita liberdade a única coisa que afeta é o choque. Sendo os escritores um pouco desligados da realidade, um pouco de força os ajuda a ficar na linha e escrevem. Muitas obras em situações assim são em caráter discreto, com textos mais introspectivos que demandam criatividade de quem escreve e de quem lê. Esse fenômeno mostra, mais uma vez, o desvio cultural ocorrente na Inglaterra, onde textos pornográficos têm valor e trechos com palavras como “respeitável” são abominados pelo status quo. Para fazer uma mea-culpa, o autor mostra um texto onde um advogado seduz um acusado numa relação homossexual e o estrangula, fazendo assim um comparativo com as mulheres que são apaixonadas por homens violentos.
23 - Roubar tempo
Dalrymple cita que alguns bibliófilos não esperam nem o luto de um morto para ir na casa do mesmo e comprar a coleção deste. O autor cita que quando compra um livro muito antigo (o seu mais velho tem 300 anos) ele se sente o verdadeiro dono do mesmo. Porém sabe que quando morrer, sua mulher irá vendê-los como se não tivessem nenhum significado. Essa consciência, para Dalrymple, mostra toda a elasticidade da moral de um viciado em livros.
24 - Uma overdose de crescimento
Dalrymple se percebe meio infantil ao notar que suas atitudes em relação aos livros, como o extremo cuidado ou valor a edições raras e autografadas não faz muito sentido para as pessoas que não tem o mesmo vício. Para contradizer os críticos, Dalrymple cita que essas dedicatórias em livros as vezes são bem filosóficas ou esclarecedoras sobre a mente humana. Numa delas, num livro que falava sobre o declínio da civilização mediante a sua industrialização, a dedicatória foi feita por um dos pais da indústria siderurgia inglesa. Em outro, mostrava toda a dimensão do ódio racista de um ditador africano.
25 -Arsênico e framboesas
Dalrymple cita que um dos prazeres de ir a uma livraria é que, diferente de olhar catálogos extensos na internet, você não sabe o que irá encontrar. Isso demanda um querer descompromissado porém ativo de quem vai a um lugar desses. Os jovens de hoje, muito mais diretos, dificilmente tem essas atitudes, de acordo com os livreiros. Isso faz o autor lembrar de quando era pequeno e sentia mais o sabor das frutas da estação, diferentemente de hoje em dia que mesmo gostando, não sente a mesma vontade e prazer quando as come. Porém, essa nostalgia pode ser fatal, pois ao escrever um livro sobre arsênico, o autor demorou tanto em pesquisas em livrarias sobre o tema, por mais que já tivesse todo o material baixado pela internet, que perdeu a chance de publicar o livro, pois seu concorrente o fez mais rápido e com mais qualidade.
26 - Céu e inferno
Dalrymple se pergunta porque o mal é tão mais marcante, porque consegue pensar tão melhor num inferno do que na forma do céu, seria esse o motivo de ser mais fácil fazer um vilão do que um herói memorável? Seria esse o motivo de ficar tão vidrado quando sabe da violência de pessoas normais, como do dono do sebo que frequentava?
27 - Caça aos escalpos
Comentando sobre os bibliômanos, Dalrymple cita como é um comportamento estranho. Por vezes preferem estar sozinho do que com amigos, compram livros por estarem riscados e com erros.
28 - Falsas economias
Ao conversar com um jovem que não acreditava no valor intrínseco das coisas, Dalrymple percebe que ele não vê a diferença entre uma primeira edição de um livro importante (como o que a família do garoto tinha de Darwin) e uma edição capa mole nova. O autor então faz um experimento mental, de uma biblioteca pegando fogo e a pessoa podendo salvar apenas uma dessas duas edições. Obviamente, para o sarcástico autor, uma pessoa “de bem” escolheria o livro mais velho. Esse desejo de recordação é civilizado e civilizador, ensina a importância do passado e, não se importar com o valor intrínseco das coisas e do passado é um meio poderoso de privar a vida de qualquer possibilidade de transcendência.
29 - Pedantes engomados
Dalrymple cita que pedantismo (a busca por erros das outras pessoas, em especial em livros) é um vício que não é mais fácil, nem menos necessário do que outros, de ser controlado. Sua atitude em relação a esse vício o ajudou em sua bibliofilia, dando valor aos erros dos outros.
30 - Pensamento mágico
O autor crítica as pessoas que sublinham o texto de um livro quase que inteiro. Uma atitude assim não ajuda em nada a compreender ou encontrar melhor as informações de um livro. Nas palavras de Hazlitt: “se quisermos conhecer a força do gênio humano, devemos ler Shakespeare. Se quisermos ver a insignificância da aprendizagem humana, devemos estudar aqueles que o comentaram.” Em geral, aprendizagem e sabedoria não andam juntas. Uma é determinação e inteligência, a oura depende de caráter.
31 - Autocomplacência
Em um dos seus livros sublinhados, Dalrymple percebe a autocomplacência de um médico que se chama de doutor. Ele discute isso como vaidade. Este mesmo senhor autocomplacente apoiava a ideia de homens que cometem crimes o fazem porque são doentes. Concluindo, ele cita que este é uma figura típica da nossa época, o intelectual cujas consequências de sua generosidade de sentimento tiveram que ser assumidas por alguém.
32 - Autoaperfeiçoamento
Citando biografias, ele mostra que reconhecer a superioridade moral de alguém é sempre bom para a alma.
33 - Decorar o ambiente
Conclui o livro falando da importância da organização dos volumes numa coleção. Que para ele é sempre uma dúvida cruel em qual lugar colocar e em qual coleção se classifica algumas de suas obras. Tenta buscar em Platão uma organização transcendental e não consegue. Busca então, de forma até excêntrica, na coleção dos outros essa organização. E, novamente com sarcasmo, cita que essa organização pode contar muito sobre o dono do livro.
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