Bruno Garschagen introduz o livro e noções da filosofia conservadora de Roger Scruton, seu autor. Ele cita que Scruton sofreu perseguição da patrulha politicamente correta por desenvolver um trabalho que ia contra essa ideologia. Ele tenta criar uma distinção entre filosofia e politica do conservadorismo, por mais que muitos pensem que é a mesma coisa. Para ele “O conservadorismo raramente pode apresentar com axiomas, fórmulas ou objetivos: sua essência é inarticulada e sua expressão, quando instigada, é cética”.
Eliot é uma das suas grandes influências, e segundo Scruton, assim como Burke, Eliot reconhecia a distinção entre nostalgia retrógrada e tradição genuína, está assim ajuda a lidar com o mundo moderno. O conservador valoriza o presente em detrimento do virtuosamente hipotético. Isso vale tanto contra socialistas quanto para “neoliberais”.
Ele critica de forma pesada o Partido Conservador, que apenas reagia as investidas do partido Trabalhista da Inglaterra, assim perdendo em todos os âmbitos políticos. Também não acreditava, como Thatcher, que o país iria para frente apenas com uma filosofia conservadora em politica (liberalismo), os costumes deveriam ser tratados também.
As posições de Scruton neste livro tentam recolocar em equilíbrio os elementos que integram o pensamento Conservador. Liberdades individuais e do mercado não estão acima nem exercem uma função mais nobre do que outros valores e princípios que estruturam o pensamento conservador. Isso não significa controle do estado sobre a economia.
Introdução
Conservadorismo é uma teoria politica que, dependendo do lugar a ser aplicada, tem significados diferentes, porém, é uníssono que dela não deriva utopias. Diferentemente do socialismo, que tenta dar respostas simples para problemas complexos e se mostrou inviável historicamente. Tendo em vista a morte do comunismo no mundo todo, hoje o inimigo é o reformador liberal, que usa do marxismo cultural para se promover politicamente.
Capítulo 1 - A Atitude Conservadora
O conservadorismo clássico surgiu com Burke no século XVIII ao reparar o estrago que a Revolução Francesa causaria. Para os conservadores, não existe um direito que permita alguém não ser governado, pois isso seria contra a lógica de existir um dever para cada direito.
Essa é uma teoria que foca na liberdade civil individual, de tal forma que era facilmente defendível quando existia um grande projeto global de controle do individuo, o comunismo. Após o fim da União Soviética, o marxismo cultural começou a tomar conta do mundo, o que teve por consequência a “amenização” do conservadorismo. Uma das consequências nefastas disso foi a diluição da lei, como no caso dos sindicatos que lutava por uma questão de classe sendo que uma lei de preconceitos já existia. Como consequência dessa luta abriu-se portas para o estado de bem-estar social.
A liberdade inglesa, diferentemente da americana, é baseada em anos de construção junto com seu povo. Esta, antes de ser a ação de um individuo, é baseada na autoridade do governo, e nas suas instituições. Os marxistas querem destruir esse poder, mas é justamente ele que sustenta e institui a liberdade. Porém, esse discurso hoje em dia é dificilmente defendível, então como o conservador deve lidar com a visão moderna das coisas?
Deve-se levar em conta que o conservadorismo, por definição, é a idade de pertencer a algo preexistente, esse é um interesse natural dos indivíduos. E diferentemente dos conservadores impacientes, que causaram regimes sanguinários como no Chile, o que se propõe é algo palatino, que o individuo e o governo se vejam como amigos, ou seja, como um fim em si mesmos, e assim consigam melhorar aos poucos. Claro, observar a politica dessa forma não é nada popular, pois percebe-se que quanto mais populista, mais atenção do povo um politico recebe.
Capítulo 2 - Autoridade e Obediência
Os três conceitos para entender o conservadorismo no estado são: autoridade, obediência e tradição. Conceitos como legitimidade são necessários em qualquer sociedade para o bom funcionamento da mesma, vivemos num mundo pintado por ela, e sem ela não existe uma sociedade saudável. Para o autor, a legitimidade surge do cumprimento de contratos sociais impronunciáveis, tais que deram naturalmente a legitimidade para a polícia e não para a máfia, por exemplo. É difícil lidar com essa resposta pelo motivo de que boa parte do que legitima o estado o faz devido à existência do mesmo. Por detalhes como esse que por vezes se busca sua legitimação fora do mesmo, como o New Deal americano.
Obediência se mostra importante para a manutenção de um estado conservador. Faça-se a analogia com a obediência transcendental em uma família, e nos laços e obrigações referentes dessa organização para as semelhantes em relação ao estado. Quando o individuo tenta colocar sua individualidade acima dessa ordem baseada em tradição e que passou pelo ônus da prova do tempo, é necessário um freio. Conceitos como patriotismo se mostram importantes, pois unificam uma série de contratos que promovem as obrigações e benesses de se viver numa determinada nação, por mais que sua forma doentia, o nacionalismo, tenha sido o motivo das maiores guerras. O nacionalismo deixa claro a necessidade da importância de se analisar o povo e o tempo ao defender determinadas ideias politicas.
O autor cita que o axioma mais complexo para entender o homo conservas é que a atividade politica dos cidadãos é determinada por sua própria concepção a respeito de sua natureza social. Ela não está as margens da razão, é sim algo que faz parte da sua história do seu entorno, o que leva em conta que nenhuma pessoa é neutra ao analisar uma ação politica. Esta não se faz por meio de escolhas ou algum contrato social, e sim devido a cultura e aos valores que tem.
Um governo conservador vê as obediências como fins em si mesmo, pois neste tipo de governo não há um objetivo final a ser buscado, o mesmo se diz sobre a figura do rei no patriotismo, as pessoas veem nele seus próprios fins e os símbolos deses em relação a nação.
O ceticismo se mostra necessário na aplicação conservadora. Acreditar que futuros utópicos dão certo é sinônimo de problema, e por mais que antigas fidelidades desapareçam, o conservador pode encontrar uma continuidade genuína e defendê-la.
Capítulo 3 - A constituição e o estado
Constituição é algo que flui junto com a cultura do estado. Da mesma forma que para uma comunidade zulu ir contra a liberdade faz parte da sua cultura e por consequência uma suposta continuação, o respeito pela liberdade faz parte da constituição e do que deve ser um estado ocidental, principalmente inglês. Por isso que diretrizes de Tony Blair não foram bem-aceitas e funcionais na Inglaterra, sendo que elas foram trazidas da constituição americana.
Observa-se que o direito consuetudinário (common law) é fruto de um país que respeita as liberdades individuais, e o contrário, leis criadas, respondem bem a ditaduras socialistas. Entende-se então o estado como “uma pessoa” que tem seus direitos e deveres e as consequências disso atingem outras pessoas. O autor não concorda em absoluto com essa ideia, preferindo a common law proposta desde Burke.
O estado, sendo um individuo, não pode fornecer direitos sem criar deveres para os mesmos, e tal forma que a criação dos mesmos se torna insustentável. A solução rápida e eficiente para esse problema é a lei natural, onde apenas reflexos da natureza humana são tomados como leis, e não a inflacionada constituição de alguns países, que ajuda alguns em detrimento de outros.
A democracia não é um sistema que engloba a ideologia conservadora. A discussão sobre isso não se encerra no fato de que é necessário que a vontade da maioria esteja de acordo com uma constituição culturalmente respeitável. Ela, assim como o contrato social, da preferência a opinião dos que estão agora, e essa pode ir contra aos nascituros e aos mortos. Uma resposta a esse mau sistema é a monarquia, pois nela naturalmente existe a preocupação com a tradição dos mortos e as gerações vindouras. Uma ideia mais completa vem da criação de uma aristocracia, onde os melhores pudessem governar, independente da opinião de uma maioria que por vezes é levada no papo por populistas. Essa pode ser uma ideia radical tendo em vista o tipo de pessoa que discursa nas academias onde antes só falavam grandes pensadores ingleses, além da demonização o elitismo feito nos últimos anos.
Para que o direito funcione, é preciso continuar se baseado na questão consuetudinária, e não se levar por propostas populistas, ter um estado forte é consequência disso. Respeitando uma legislação conservadora fruto do direito consuetudinário, se obtêm ferramentas para tentar superar os apelos populistas de classe. Lutar para manter governo e partido separado, deixando claro no partido conservador as suas linhas ideologias é o caminho para o estado funcional.
Para o autor, o estado serve para que as pessoas tenham a humildade d se verem como parte de algo. A civilização continuará depois de suas mortes e já existiam antes dela. De tal forma que surgiram preocupações expontaneas com a manutenção de seu país.
Diferente do que os liberais propõe, a constituição que melhor respeita os interesses dos Ingleses não é a feita em Bruxelas, mas sim as nuances que por vezes nem aparecem nos trechos da sua common law. Ela não é um manuel de regras, nem pode ser projetada dessa maneira. Ela permeia o corpo da sociedade, bem como a autoimagem de uma pessoa permeia sua natureza orgânica. Não está fundada em um direito “natural,” pois concede direitos e privilégios, bem como a demanda obediência em troca.
Capítulo 4 - Lei e liberdade
Diferente do que Sartre e os iluministas pensavam, é necessário que certas liberdades individuais sejam tolhidas para o bem do todo. Diferente do que os libertários dizem, para os conservadores a propriedade privada não é absoluta. O autor tenta defender essa ideia com exemplos. Ele cita que num período de fome o estado não deveria deixar que um vendedor de grãos jogue a sua propriedade no mar pois isso faria o estado não respeitar a sua obrigação da continuidade do seu povo.
A lei deve sim dar conta de questões delicadas que envolve liberdades que por vezes não parece afetar a vida pública, sendo essas ações feitas no particular, como casos sexuais por exemplo. Ele cita a questão da permissão de uma menor ao sexo mas a não permissão da lei, e isso se mostra importante pois é relevante que a lei dê conta de questões que a maioria das pessoas vê como importante, como a inocência. Ou seja, é necessário que exista uma voz moral que fique a frente dos absurdos mascarados de liberdade propostos pelos liberais.
A lei deve refletir a moral de um povo, sendo assim, é impossível tirar uma consequência moral (punição) sem tirar outras. Isso nos tornaria no máximo, computadores funcionais, mas não humanos. Observar que tipo de punição é melhor, baseada em preceitos morais, é relevante. Diferente do que os librais propõe, não se pode ver o crime como um processo biológico (ala Laranja Mecânica), e nem pensar na cadeia como um local de restituição social ao mal causado ao bandido, mas sim de punição, mas punição coerente.
Conceitos duros de lei como a lei natural, por vezes se confundem com direitos humanos, ações que devem ser respeitadas independente de qualquer ideologia. Porém, vale a pena citar que esses direitos só são validos quando incumbidos de deveres, que surgem na ação natural da vida com os próximos. Justiça social sofre da mesma analise, nela criou-se a ideia de que toda riqueza é de apenas um dono (a sociedade) e esse dono tem por dever a dividir. Mas não se leva em conta que não é sempre por motivos de injustiças que existem diferentes divisões de dons, não é de forma injusta que alguém nasce mais bonito ou mais inteligente que outra pessoa, em geral.
Concluindo, nem liberdade individual, nem evitar dando ao individuo corresponde ao que as pessoas esperam da lei, e essa deve ser a linha que um governo conservador deve seguir, e isso se torna impossível ser ajustes e mudanças dentro de um estado de direito.
Capítulo 5 - Propriedade
Como um conservador deve lidar com as questões financeiras de uma nação? Podemos começar a análise percebendo que a riqueza aumentou muito com o passar dos anos, mas isso não fez necessariamente a qualidade das produções intelectuais aumentar. Hoje, qualquer pais é mais rico que floresça, mas não é por isso que surgem Da Vinci o tempo todo. De tal forma que alguns estados tendem a influenciar no mercado financeiros, para que assim ele funcione melhor para sua região, o que leva alguns governos a utilizar de medidas Keynesianas que se mostraram altamente perigosas à população.
Tentar entender a politica apenas pelo ponto de visa econômico se mostrou um erro. Tanto para Marx, que acabou por ver as pessoas como meios para um fim, quanto para alguns “neoliberais” que promovem uma economia sem fundo moral. Tentar explicar a politica pela economia é o mesmo que tentar explicar expressões humanas pela neurologia: você deixa de ver um humano e vê um emaranhado de células. Teorias deterministas não conseguem o que pretendem pois são isentas de valores, e questões como trabalho estão intrinsecamente ligadas aos valores humanos.
O conceito de propriedade privada se mostra importante nas relações das pessoas. A propriedade privada pode ser entendida como uma relação do homem com a natureza, por exemplo. Além disso, percebemos que existe uma relação no trato que as pessoas dão a determinados objetos com questões morais e sentimentais, como em presentes que são dados de marido para mulher. Ou seja, existe uma dimensão moral na propriedade privada. A importância da propriedade privada se mostra mais acentuada quando a ligamos com a família. É nela que percebemos a importância moral, pois, numa família a propriedade é de todos, assim, havendo qualquer ação que reduza o direito dos proprietários por ela, o estado deve agir de determinada forma. Porém, esse assunto toma algumas farpas quando percebemos que invasões em propriedades públicas também podem a tornar privadas. Para um conservador, a propriedade privada não é absoluta, pois foi devido a ordem do estado que se tornou possível que ela fosse protegida e de direito de alguém. Assim, o estado tem como se apoderar dela caso isso seja “melhor para o todo”.
A tributação se mostra uma ação relevante na análise conservadora do governo. Ela é algo valido, pois implica na responsabilidade que as pessoas têm entre si em relação ao estado, independente de algumas analogias feitas por certos economistas de impostos com uma economia socialista. Para essa, o socialismo seria a versão democrática de economia, o que não corresponde a realidade por inúmeros fatores mas mais precisamente porque a mais-valia marxista não é uma exploração, tendo em vista o enriquecimento legal da sociedade. Porém, algumas taxas são incongruentes com a filosofia conservadora. Uma delas é o imposto de renda, uma tributação progressiva e contraproducente. A segunda é o imposto sobre fortunas, pois desvaloriza o trabalho daqueles que se tem uma baixa preferência temporal, diminuindo a ética do povo, que para proteger seu dinheiro as próximas gerações, terá que fazer esquemas ilícitos.
Os conservadores acreditam que o estado pode conseguir ser útil em alguns casos bem específicos de serviços, como no transporte publico, onde pode diminuir a carga de carros privados para a população. Mas toda vez que o estado tenta se apropriar de uma empresa, essa ação dele no mercado acaba por negligenciar toda a estrutura de ação e pensamento referente aquele setor na economia, e essa ação do estado é sempre prejudicial. Assim, o conservador tem que ter em mente que o Estado não protege as empresas de monopólio, mas sim os cria, com seus lobbys, deixando uma economia livre, soluções mais eficientes que as do estado (como entregas privadas em detrimento dos correios) se tornam mais frequentes e eficientes.
O capitalismo se mostrou a ferramenta mais útil para o crescimento de uma nação. Nem todos querem ser empreendedores, e não é por isso que deve se seguir a cartilha da esquerda e ver os que querem ser como vilões. O partido conservador perdeu muito da sua base e força quando trocou as medidas paulatinas de mudança baseadas na livre iniciativa por uma versão mais liberal da mesma. Para Marx, nada poderia estar mais errado que a visão de livre troca entre as pessoas, pois ele via isso como um feudalismo repaginado, onde o proletário sofria de uma espécie de escravidão ao patrão. Obviamente isso está errado, depois da revolução industrial as pessoas que não tinham poder social nenhum conseguiram até mesmo barganhar com grandes latifundiários justamente por sua importância nessa economia livre. Os conceitos do marxismo corresponde apenas a arranjos teóricos e idealizados, e ainda que isso possa torná-los uteis no estudo da história, nos dá pouco terreno para aceitar a economia politica com a qual esses conceitos estão comumente associados.
Por mais que alguns socialistas criticam a atual forma conservadora de fazer politica, deve-se levar em conta que, na Inglaterra, foi o conservadorismo que propôs uma série de medidas bem populistas como a legalização dos sindicatos por exemplo. Assim, percebe-se que essa tristeza e mal que algumas pessoas sentem as acompanhar, não é devido ao capitalismo ou a uma forma de ação politica que tende a ser mais paulatina na mudança, mas a questões mais profundas que serão abordadas a seguir.
Capítulo 6 - Trabalho Alienado
O liberalismo tem um grande problema filosófico: não ter motivos morais para defender a liberdade do individuo. Dessa forma percebemos as consequências éticas horríveis de um estado social-democrático por exemplo. Vivemos num mundo onde o material venceu sobre qualquer conceito metafísico (religião, filosofia, politica etc), o que, para alguns filósofos como Hegel, indicam que algo pode ter alienado as pessoas para esse comportamento. Para Marx, essa alienação veio do trabalho e da propriedade privada. Os conservadores admitem que existe alguma alienação que fez o comportamento das pessoas mudar recentemente, porém, não é toda ação humana que tem uma cura, mas os conservadores devem continuar procurando a solução para esse problema, pois só num estado de pessoas sãs e não alienadas que eles podem governar. É uma incoerência dizer que o trabalho é sempre uma alienação pois, vê-lo apenas como um meio é um erro. Em geral as pessoas vem valor no que fazem, pois colaboram com a comunidade e se engrandecem, diferentemente do trabalho escravo, onde a pessoa faz trabalhos repetitivos e não lucrativos.
Os socialistas acreditam que as pessoas, devido à sociedade de mercado, fetichização os objetos, e devido a isso acabam se tornando elas mesmas objetos, querendo se vender aos outros. Por consequência não vem o objetivo de seus trabalhos também como meios, mas apenas como os fins que são os objetos que vão comprar. Este tipo de baixo comprometimento que aliena e desmoraliza uma sociedade. Essa filosofia é estranha porque, tendo em vista que é em cima da propriedade privada que, de acordo com os marxistas, surge todo o mal, também é acima dela que comprovadamente surgiu a civilização. A troca também não pode ser tida em termos marxistas pois ela não é algo recente, ela está no âmago de um ser que precisou de trocas pra conseguir sobreviver a ambientes hostis como o ser humano.
Para os conservadores, o trabalho é sempre alienado se a pessoa procura um prazer animal na obtenção de objetos. Ao ter um ócio de qualidade e ver valor no seu trabalho, coisas que por vezes andam juntas, esse tipo de fenômeno moderno de fetichização dos objetos acaba não ocorrendo. Levar em conta que a alienação surge de uma sociedade próspera é entender que o marxismo nada tem a agregar e a resolver esse problema.
Capítulo 7 - A Instituição Autônoma
É necessário que os conservadores lutem contra um mundo sem ideologia, pois é ela que nos humaniza. Para conseguirmos vincular a ideologia ao mundo real e torná-la tacteável, devemos estar enraizados numa cultura que nos vê como fins e não meios. Isso é obtido nos detalhes da vivência com o próximo. O esporte é um desses detalhes, pois ele tem suas regras e objetos próprios independentes de politica e estado. As pessoas se vem nos atletas e criam uma relação de comunidade em volta do time.
A família talvez seja o ponto crucial dessa análise, pois ela é o último recurso de emponderamento em relação ao estado. Percebe-se que nada de bom que uma família pode fornecer é obtida por qualquer outro órgão, privado ou público. É nela que a baixa preferência temporal se desenvolve, pois esperasse que as pessoas tendam a guardar recursos para seus filhos. É notório que pais tranquilos o são pois seus filhos seguem seus ensinamentos, o que mostra que no âmago de qualquer pessoa sensata, independente de sua ideologia, existe um conservador.
A educação tem todo um regimento interno que a permite estar além do estado. Porém, para o autor, é impossível que exista educação sem que o estado esteja lá para proteger a autonomia do professor. Percebe-se porém que existem determinados assuntos, conteúdos de segunda ordem, que o estado não deveria apoiar a propagação. Por exemplo, estudos sociológicos da matemática não dizem nada sobre a mesma, porém são feitos e muitos servidores públicos recebem até aposentadoria devido a esse conteúdo que nada agregará. Ao se perceber que um assunto pode existir nas beiras de outro sem contribuir em nada, percebemos a real alienação da educação proposta por marxistas. A educação então se mostra necessária pra unir as pessoas dentro de uma cultura producente, porém não deve se esperar do estado que ele promova isso. Coisas como igualdade de oportunidades nada dizem a um conversador pela lógica, afinal, colocar alguém com pouca inteligência forçadamente em um local que apenas pessoas inteligentes conseguem usufruir é perda de dinheiro publico.
O autor conclui dizendo que quando o estado tenta se infiltrar nessas instituições primarias (família, esporte educação) essas perdem seu sentido. em comunidades próximas essas instituições surgem naturalmente e fazem bem a sociedade, criando mesmo hordas de pessoas apaixonadas pelos seus empregos, por verem ele como uma diversão entre amigos. Quando o estado tenta legitimar e usar seu poder para “controlar” esse tipo de instituição, o resultado dessa centralização é sempre catastrófico.
Capítulo 8 - Estabilishment
Como o autor falou no começo do livro, conservadorismos são diferentes para diferentes lugares do mundo. Assim sendo, um país descentralizado funcional nos EUA funciona bem e diferente do que funcionaria na Inglaterra. Uma aristocracia funcional seria difícil nesse local, porém funcionar melhor que o estado de bem-estar social que corrompe todos os impostos dos contribuintes. Assim, um conservador deveria propor que essas instituições próprios tenham apenas um legislador em comum, mas que então ele seja aceito por todas as instituições, no fim, esse legislador será o estado.
Os militares são um exemplo de um tipo de organização onde existe um objetivo externo, mas dentro da instituição se buscam valores que se colabora com o desenvolvimento do individuo e ideia de grupo. Os soldados têm objetivos próprios independentes do objetivo do exército. Cerimonias militares por exemplo, são grandes eventos que valorizam aqueles que as assistem e aqueles que as executam, de tal forma que presidentes que tentam dar uma de "descolados" e limitam essas ações militares, estão na verdade tirano do foco do povo para um evento importante para eles e colocando o foco totalmente no individuo que ocupa o cargo de presidente no momento. Diminui assim a ratificação, que é o empenho dessas várias instituições centralizadas no estado de promover seus interesses particulares.
A religião se mostra importante numa comunidade para unir todos através de um laço transcendente. Também é ela que "ameniza" a justiça, pois espera-se uma justiça superior no outro mundo. Se é da natureza humana que desenvolvemos essa metafísica, então ela não deve ser impedida pelo estado. O vínculo entre religião e estado é claro na Europa, que se desenvolveu em torno da igreja católica e hoje alguns órgãos tentam se livra dessa influência pois percebem como a religião prejudica seu intento de se engrenhar na vida dos indivíduos. A autoridade que o estabilishment do estado exige pode surgir diretamente de sua habilidade de gerar mitos consoladores, desde que esses mitos preparem as pessoas para aceitar da ordem civil. Isto é bem claro na religião quando percebemos que vivemos num mundo de desigualdades naturais, beleza inteligência etc. Tentar fugir disso é entrar num Admirável Mundo Novo onde tudo perde valor. É também na religião que temos claramente o conceito que Burke nos trouxe da importância de identificarmos os mortos como indivíduos de uma sociedade. A religião dá um involucro de valor a morte, quando perdemos isso, estamos deixando para trás a necessidade de valorar mortos, o que tem como consequência uma sociedade imediatista e sem futuro. Conceitos intrínsecos ao cristianismo como a distanciação entre homem e mulher, tão importantes para o bem estar do individuo, da família e do bom funcionamento social. se perdem quando a religião é menosprezada.
Sindicatos também tem seus motivos internos, são uma organização de trabalhadores que reivindicam melhores salários. Por vezes esses não seguem a retificação e assim, o governo não deve impedi-los de funcionar, mais sim criar formas de que as pessoas se organizem em melhores organizações. Como Margaret Thatcher fez contra os sindicalistas socialistas. Governos mais centralizadores como Tony Blair fazem o contrário, tiram a autonomia dos indivíduos legalizando greves que surgem apenas de organizações extra-sindicais, o que promove a radicalização das mesmas. Também é perigoso que o estado se meta muito nas questões de sindicatos porque dar poder a esse tipo de pessoa pode ser prejudicial para a classe. Primeiramente, um sindicato não pode tentar igualizar trabalhadores e patrões, perde-se a ideia de classe, o que faz o sindicato perder o sentido. É também com o apoio do governo que esses sindicatos acabam se tornando massa de manobra, trocando a luta por melhores condições de trabalho por alguns cargos públicos, como frequentemente ocorre.
Não compreender que de certa forma existe a questão de classe é um problema para um conservador. Afinal, durante várias guerras, por exemplo, esse conceito é deturpado para a ação daqueles que querem se aproveitar de pessoas ressentidas, fazendo os acreditar que não precisam de determinadas pessoas, os mais ricos e poderosos em geral, pois "somos todos iguais". Naturalmente esse conceito se adapta ao mundo contemporâneo. Perdeu-se o valor de qualquer classe trabalhadora, e hoje todos se sentem homogeneamente na mesma situação social. Isso é reforçado pela mídia, que veladamente criou três classes sociais: os cretinos, que assistem compulsivamente a televisão, os yuppies, que são aqueles que apresentam os programas e as estrelas, que são os que participam desses programas. Curiosamente as duas últimas classes tem comportamentos populares e paulatinamente degradantes, e é justamente isso que prende o cidadão comum sem pretensões, fazendo-o pensar que poderia ser um daqueles "famosos" na televisão. E tendo em vista que o que está na mídia é bom e moral, não vem motivos para melhorar seu comportamento.
O estado de bem estar social se torna pauta da discussão pois é nele que essa instituições desagregadas do estado demonstravam sua ação !!br0ken!! A ajuda de caridosos sempre foi feita por organizações de trabalhadores e pela igreja. Ao se diminuir o poder dessas instituições, naturalmente o estado tomou conta dessa ação, o que ajudou em sua popularidade. Hoje os defensores do estado baseiam boa parte de sua retórica no "auxilio aos pobres". Para o autor, os conservadores ingleses tem intrinsecamente em si essa necessidade de deixar o estado cuidar um pouco dos miseráveis, mas não ao ponto disso se tornar uma politica de governo. A discussão para eles deve estar baseada em trocar o welfare (bem estar) pelo workfare (trabalho).
Capítulo 9 - O mundo público
O estado-nação é a "legitima" soma de valores, cultura, língua, região geográfica etc que identifica um povo. Por vezes esse Estado nação promove boas e más coisas. Uma das más são as guerras sanguinolentas do século XX que são absurdos comparados com aqueles desenvolvidas por milicias privadas. Um estado nação saudável é aquele que promove segurança e justiça e também as ferramentas para que seus cidadãos possam se desenvolver e produzir. Para isso ele deve arcar com a responsabilidade da regulamentação, mas não da produção. Mas seu excesso acaba por diminuir o senso de identidade nacional, pois suas leis tem que vir de dentro, e não e uma mente externa que se acha superior a inteligencia coletiva. Essa externalidade é bem refletida em governos de esquerda que tentam ser internacionalistas. Isso os torna ilegítimos pois vão contra a cultura que desenvolveu o estado nação.
A privacidade foi descrita nesse livro como menos importante que a dimensão social, porém ela é necessária para a vida do individuo. Eoa porém é, para o autor, é a ordem publica vista de dentro, ou seja, precisa da ação do estado para se desenvolver. O autor conclui que por vezes, é recomendado ao conservador o silêncio. Pois, ideias como "lei natural" são dificilmente interpretáveis pelo "eleitor ordinário" assim, ao discutir essas ideias, emergimos do mar da politica e passamos a uma estranha praia deserta de pura opinião, um lugar de duvida. O caminho mais sábio é voltar atrás e tornar a mergulhar.
Apêndice Filosófico: Liberalismo versus Conservadorismo
Para o autor, o liberalismo sempre entrará em conflito pois suas bases vão ao encontro da teoria marxista, por mais que pareça que são contraditórias. O autor separa o liberalismo em suas versões alicerçados no "desejo" e na "autonomia". Para o autor, esse liberalismo de desejo pode ser tão ruim quanto a escravidão, pois nele surge a possibilidade das pessoas buscarem literalmente a escravidão caso algo seja imputados nelas a fazer isso,. Esse é o cenário idêntico ao livro "Admirável Mundo Novo". De tal forma que observamos o individuo humano não como Hobbes o fez, como seres que apenas buscam seu prazer imediato, mas sim como Kant, que os vê como seres que buscam a razão prática, moral etc. Assim a Versão autônoma do liberalismo parece ser a mais sensata. Mas para que isso faça sentido é necessário assumir o agente humano como uma criatura motivada pela escolha racional. Para tanto o autor usa as ideias da visão da ação humana em primeira e terceira pessoa. Como exemplo ele mostra que o ato de dançar a um deus em uma tribo primitiva pode ser vista de uma forma funcional pelo antropólogo, como um ato de época de guerra e medo, mas para o agente da dança é visto como uma necessidade imposta por deus. Compreender a forma que o a antropólogo vê a dança nada ajuda a compreender os motivos do dançarino ao fazê-la, por exemplo. Dessa forma, o autor diz que os liberais acabam promovendo sua ideologia apenas numa perspectiva em primeira pessoa, onde suas liberdades individuais tem uma relevância maior do que numa perspectiva em terceira pessoa, onde os deveres leva um papel principal. Na perspectiva em terceira pessoa (utilitarista) a forma como o individuo vê o mundo não é o principal, e sim o mundo como ele realmente é. Essa visão lhe permite uma perspectiva a longo prazo, que passa longe do que um individuo preocupado com a visão em primeira pessoa pode querer. Os liberais, usufruindo do poder da visão em primeira pessoa e de como ela tomou todo o poder na visão social do que é certo ou errado, então perguntam aos conservadores "por que não devo fazer isso?" imputando assim nos conservadores o ônus da prova para um comportamento que, por vezes, foi útil para o desenvolvimento da sociedade. O autor irá defender então a ideologia conservadora numa visão mais atenuada em primeira pessoa.
Para Kant existem três imperativos categóricos: não fazer ao outro o que não quer que seja feito a você, devemos tratar o outro sempre como um fim e devemos nos orientador de tal maneira que compreendamos na nossas ações o "Reino dos Fins", onde os seres racionais são livres e iguais. Estes conceitos entram em contradição quando se espera buscar um reino de igualdade. Supor isso é acreditar que o ser humano buscará um comportamento transcendental onde sua natureza será deixada de lado, e as vantagens que por ventura existem nelas e encontrar esse reino da razão. Ora, esse reino só pode ser objetivado pelo individuo estando ele dentro da natureza, ou seja, dentro dessas desigualdades. Este "eu transcendental" já que está a margem da natureza,não tem como agir no aqui e agora. Assim a única forma dessa ideia kantiana que foi aplicada ao liberalismo ser funcional é ignorar o Reino dos Fins. Senão, o liberal que pergunta "porque devo fazer isso?" eventualmente se perguntará "porque devo fazer qualquer coisa?" afinal de contas, sua racionalidade está num lugar intangível.
A sociedade é cheia de vínculos, e a única coisa que sustentou todas elas nos levando a uma era de possibilidade de transcendentalismo foi a piedade. Está só pode ser sustentada numa visão conservadora de mundo pois leva em conta a nossa natureza em detrimento da razão.
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