Para entender Deus, podemos usar diversos artifícios, mesmo os ateístas podem dar uma pista pois, por mais que não acreditem em Deus, há algo em seu modo de viver que tenta escapar do "julgamento" que está associado a ideia de um deus. Para ateus como Dawkins, somos apenas maquinas de sobrevivência. Para eles, só a ciência dará as respostas para os "por quês" da existência. A ciência moderna impôs limites a conceitos amplamente associados a deus, como tempo e espaço. A Relatividade e a Mecânica Quântica, mostraram dimensões de possibilidade diferentes do cubo newtoniano que deus montava de forma quase humana. Não temos um tempo absoluto e, dependendo de certas condições físicas, mesmo a realidade não existiria. O que, a principio, supõe que nossa existência só é possível porque esse universo que estamos detêm todas as condições de não-aleatoriedade para isso.
Poderíamos dar mais passos a frente na cadeia causal de explicações, tentando entender a possibilidade de mais universos ou realidade, mas eventualmente chegaríamos nas impossibilidades observadas por Kant, onde o fato de existir um ser transcendente, fora do tempo, e esta criação estar ligada a essa condição, nos faria nunca compreender essas respostas.
Os porquês só vão crescendo a medida que se acumula conhecimento, Kant não nos deu uma resposta não-transcedental. Sendo nos seres contingentes, seria interessante tê-la. Podemos então ir até Aristóteles, e a sua teoria da razão, onde aqui os "porquês" não estão esperando uma tradução, mas sim algo que nos relacione diretamente ao objeto da dúvida, como um sorriso relaciona duas pessoas.
Buscando em Aristóteles a ideia de Deus, nos deparamos com o Primeiro Motor, que foi eventualmente melhor exposto nas ideias de Avicena na Suma Teológica. O Ser, para Avicena, está preso a três predicamentos: seres impossíveis, contingentes e necessários. Os seres humanos, por exemplo, são contingentes, pois não precisariam estar aqui, necessariamente. Um ser necessário é aquele “verdadeiro em si mesmo”, ele não tem nenhuma essencial além da própria existência., de tal forma que se existe um Deus, ele tem que ser único. Dentro desse contexto, Santo Tomás de Aquino propôs a existência. de Deus. Dizia ele que sendo o universo infinito no passado ou no futuro, não seria possível que ele tenha surgido do nada. Pois sendo o nada a ausência de tudo, incluindo ação, nada poderia surgir e lá. Assim, é necessário que existe um "Primeiro Motor", ou seja Deus.
Tendo em vista que esse Deus citado até agora é totalmente transcendente, porque ele se importaria com a gente, ou porque colocamos ele na nossa vida como se fosse um amigo, um pai, etc. Como surge essa crença religiosa se esse ser está em outra dimensão espaço-temporal que de nenhuma forma se encaixa na nossa dimensão limitada. Uma explicação em terceira pessoa, baseada nos estudos de Wittegenstein e Quine é possível, mas também tem suas limitações. Sendo um deus observado em terceira pessoa, ou seja, fora do escopo de observações pessoas, que por vezes são associadas a delírios, este deus poderia ser explicado de forma naturalista, valendo-se de forças e de funções que não fazem nenhuma referência a Deus. Ou seja, refere-se ao transcendente sem fazer referencia ao transcendente. O autor propõe que isso não é motivo suficiente para se descartar essa abordagem, como exemplo mostra que os números existem, por mais que nossas crenças matemáticas independam deles).
A versão mais sensata de Deus para o autor é aquele que se revela na comunidade. Na relação eu-você. Por causa disso vemos a importância da comunidade em todas as religiões monoteístas.
Capítulo 2 - A perspectiva de lugar algum
Onde Deus está e como podemos encontrá-lo? A resposta envolverá os três termos metafísicos essenciais “eu”, "você" e "por quê?". Para tentar encontrarmos Deus, primeiramente podemos perceber a dificuldade que é encontrar o "eu". Para alguns antropólogos, os seres humanos não são mais que gorilas melhorados, e tudo o mais na nossa existência. pode ser explicado em termos evolucionista. Uma filosofia a priori kantiana pode levar a ideia do "eu" a campos complicados, como a definição do que sou eu a partir da liberdade transcendental que conhecemos com certeza, mas que não conseguimos compreender.
Alguns biólogos acreditam que o comportamento humano foi moldado devido as condições de nossa evolução. Se tivéssemos evoluído, por exemplo, de abelhas, seria natural as mães tentarem matar suas filhas férteis. Darwin, ao ter feito essa afirmação, parece explicar o senso moral com base no comportamento social. Essa explicação é circular e mais oculta o mistério do que o resolve. Ridley usa a teoria dos jogos, e segundo sua argumentação, os mesmos elementos genéticos leva a formiga marchar nas chamas e o soldado se jogar na granada para salvar o pelotão. O que não passa pela sua argumentação é o fato de que há intencionalidade na ação do soldado. Ele se vê nos olhos dos outros quando faz sua ação. Enquanto a formiga não tem esse tipo de intencionalidade. Na verdade, animais não tem conceitos de sacrifício, ou mesmo de dor. Isso são elementos humanos que traduzimos na vivencia com os animais, para os mesmos. Há muitos elementos "não-evolutivos" que desenvolvemos, eles por si só fazem cair por terra boa parte da psicologia geneticista.
Encontrar o "eu" esta se mostrando tão difícil quanto encontrar Deus. Thomas Nagel supõe uma teoria absoluta da física onde se possa compreender todos os aspectos físicos do universo, localizando-os no tempo-espaço por completo. Mesmo nessa situação, não saberíamos indicar onde está o eu. Ou até mesmo qual desses objetos é o eu. Um primeiro passo para sabermos que esse "eu" pelo menos existe é que algumas condições são definidoras dele, e elas existem. Sentir dor é uma delas. Esse estado interno que me dá certeza que estou sentindo dor é o que vem a definir o eu. Nada externo tem a capacidade de tirar essa certeza. Kant acreditava num "eu" como objeto da própria consciência. O fato de que sou centro unificado de consciência e posso dar e receber razões para ações juízos e crenças me dão plena certeza que algum conhecimento de mim como sujeito.
A forma mais poderosa de entendermos o que é o "eu" seria a compreensão em segunda pessoa. Quando nos referíamos a um "você", estamos sempre em direção a um outro "eu", outro sujeito que também é dotado dos elementos citados anteriormente. Podermos fazer antropomorfismos, mas sabemos que eles não são "vocês" verdadeiros. Quando encontramos o "eu" em segunda pessoa, somos capazes de nos ver pelos olhos dos outros, e assim sentir o peso do julgamento, por exemplo. Assim, seres humanos podem escolher fazer uma coisa e não outra, e são tidos como seres racionais. Na literatura podemos ver algumas consequências pesadas dessa existência do "eu", como em Schopenhauer que diz que vergonha, remorso e culpa são nossas punições por termos nos tornado esse individuo único.
Que tipo de mundo contem uma coisa como eu - uma coisa com liberdade e autoconhecimento. Kant conclui que qualquer individuo capaz de dizer "eu" sabendo o que diz é livre e está situado num mundo de leis causais universalmente vinculativas. Sou um mas sou dois, aquele que pode ser visto como sujeito e aquele como objeto.
Alguns cientistas ignoram a existência do eu. Para eles o que realmente importa são as sinapses mentais que definem nossas ações. Para alguns, como aqueles que estudaram com olhos cientificistas as experiencias de Libet, nem livre arbítrio temos. Nesse experimento foi constatado que os neurônios que dão conta de dizer quando tomamos uma ação "acendem" depois que a ação foi tomada. Para o autor, o experimento de Libet somente leva a negação do livre-arbítrio se também presumirmos que a livre escolha é uma irrupção na corrente dos acontecimentos neurológicos, mas isso é procurar o livre-arbítrio no mundo dos objetos e não no ponto de vista do sujeito, que é seu lugar.
Se formos mais a fundo na neurofilosofia, teremos um que não tem nenhuma individualidade. É apenas um amontoado de partículas que podem ser estudados em terceira pessoa. Esses experimento de Libet tentam descobrir o lugar do sujeito no mundo dos objetos e não conseguem achá-lo, apenas acham sucesso de acontecimentos na corrente dos objetos. Um paralelo pode ser feito com o que já foi dito sobre Deus. Talvez ele só possa ser encontrado, assim como o “eu”, numa relação eu para você. O "por quê", da mesma forma que o do "eu" não deve ser o da causa, mas sim o da razão, razão que precisa ser dirigido do que para você.
Capítulo 3 - Onde estou?
Deus, quando teve seu nome perguntado por Moisés, se referiu a ele mesmo como “Eu sou aquele que é”. Ou seja, em termos filosóficos, Deus se identifica como uma pessoa. Se torna um ser responsável, em especial perante aqueles que aceitam seus termos. O Deus da Torá é aquele que anda em meio do seu povo, e tem no templo uma fenda entre as dimensões que separam ele dos seres contingentes. Este é diferente do Deus do islã, pois nessa religião ele não é um "eu" entre outros, ele é sim uma unidade transcendental sem partes ou parceiros.
Eu é uma palavra que ser refere a um objeto no aqui e agora. Ao saber o que é eu, me dá uma concepção de liberdade que outros animais não tem. De acordo com Kant, é a unidade transcendental na media em que não é algo a que o sujeito chega por meio de uma conclusão, mas algo pressuposto em todo o seu conhecimento, incluindo o conhecimento que ele tem de si mesmo.
Como pode Deus ser livre para agir num mundo em que tudo é governado por leis científicas. O primeiro passo é sair da condição limite dessa analise, que é Deus, e buscarmos a nossa própria ação. Para isso, deve-se primeiramente observar que pessoas não são apenas objetos. Quando uma pessoa faz uma ação, quem faz é aquele "eu", e não seu braço etc. Somos homo sapiens mas não reconhecemos como indivíduos, diferente dos animais. Essa autoconsciência que os animais não tem (pois diferente de consciência., essa dá conta de responder estímulos e um repertório de necessidades e desejos. nos faz diferente de meros objetos e nos coloca como seres temporais no passado e futuro. Essa autoconsciência tem consequências duras, como as observadas por Schopenhauer, a culpa da própria existência., que pode ser uma alegoria ao pecado primordial.
Contudo, eus não são pessoas que existem e agem nesse mundo. O começo dessa abordagem vem da autorrealização, os vários encontros eu-você que vão moldando os indivíduos. Vão criando "eus" onde anteriormente só existiam "ele". Dá mesma forma que vemos uma pintura de um rosto além dos pigmentos dispersos num pedaço de papel, as pessoas são algo além de seus comportamentos que observamos, não podem ser reduzidas apenas a isso. Assim, voltando a analogia da formiga e do soldado, é muito diferente a ação dos dois porque no caso do soldado, ele faz por amor aos outros, existe um significado que só poderia existir numa relação eu-você, a relação diferente da impessoal em terceira pessoa. Essa relação de "eu" penetra no mundo humano dessa forma. Um mundo que cria exigências que por exemplos animais ou máquinas nenhuma são capazes de reconhecer. O conceito de pessoa entra nesses moldes também, pois podem ser agrupadas de formas diferentes. Na teoria cientifica ela é agrupada como um objeto que nem gorilas, mamíferos etc. Mas olhar o homem só desse ponto de vista é o mesmo que observar uma música e dar conta apenas dos arranjos harmônicos de frequência, e não do significado que o autor quis passar. O mesmo pode ser dito de sentimentos como ciume, monogamia, etc.
Capítulo 4 - O rosto da pessoa
Moisés foi proibido de ver o rosto de Deus. Mas o que seria esse rosto. Para compreendê-lo, será feito como no capítulo anterior, e começar a análise pelo rosto humano. Diferente dos animais, o rosto humano entrega mais do que apenas aspectos físicos. Quando olhamos o rosto de alguém, estamos olhando o sujeito no mundo dos objetos. Animais quando olham um rosto, estão apenas olhando aspectos físicos, sem esses sentidos que nos definem como pessoas. Como em alguns animais, nosso rosto pode assumir aspectos associados a evolução, mas diferente dos animais, o rosto é um instrumento do dizer, situado entre o eu e o outro de maneiras que lhe são próprias. Mesmo quando olhamos para nossa autoimagem, para a imagem do nosso rosto, temos uma reação muito diferente do que olhar para qualquer outra parte do nosso corpo. O rosto não é todo o sujeito, mas é parte objetiva dele.
O rosto, assim como o próprio ser humano, pode ser visto de duas formas: como veículo da subjetividade e como parte da anatomia humana. Já exploramos os problemas de se reduzir propriedades humanas apenas a seus dotes científicos. Alguns elementos que revelam o sujeito no mundo dos objetos poderiam ser vistos apenas de modo cientifico, como o sorriso, o rubor, o beijo etc, mas seria reduzi-los apenas a desenvolvimentos mecânicos. O sorriso, por exemplo, pode ser simulado, mas não seria sincero, diferente de um beijo, que é sincero quando tem a intenção. Buscamos o beijo e o sorriso das pessoas justamente por estes elementos involuntários do ser. São nesses movimentos que percebemos o verdadeiro eu por trás do corpo. O olhar e o rubor tem o mesmo intuito. Quando olhamos profundamente para um amado, diferente do olhar profundo do oftalmologista, estamos vendo além do objeto físico olho, e sim procurando o sujeito que compõe esse objeto. O rubor é outra expressão involuntária muito associada a paixão justamente por indicar inexoravelmente que aquela pessoa que fica vermelha é afetada pelo meu sujeito. A importância das mascaras na representação humana vão ao encontro da ideia da importância dos rostos, mas elas nos revelam algo além, que talvez a individualidade do outro resida meramente em nossa maneira de vê-lo e tenha pouco ou nada ver com a sua maneira de ser, da mesma forma que num teatro grego interpretamos a personalidade do personagem apenas pelo sentimentos que denotamos da mascara que este usa.
Nossas emoções sexuais se baseiam em pensamentos individualizantes. O outro é desejado como sujeito corporificado e não como corpo. Este sujeito corporificado é o que vemos no rosto. Desejo e fome se diferenciam ai, pois diferente de um prato de comida que é independente de sua forma, um ser humano não pode ser substituído por ter propriedades parecidas com outro. É devido ao abuso do sujeito, e não do corpo, que o estupro é um crime muito pior que levar uma cuspida, afinal, faz o sujeito se revelar contra a sua vontade. E isso é uma realidade da nossa vivência, independente do que Freud e o Relatório Kinsey "descobriram" sobre a sexualidade. O sexo está sempre associado ao pecado original justamente por ter essa característica de revelar o sujeito no mundo dos objetos, da mesma forma que ocorrida no Jardim do Éden, na vergonha de Adão e Eva em relação a Deus. Objetos substitutos do sexo, como a pornografia e o donjuanismo apresentam alguns elementos com o amor eros, mas se distanciam deles nas suas relações com o sujeito. Na pornografia o sujeito é deixado de lado, só o corpo objeto interessa. No donjuanismo, em menor grau que a pornografia, o sujeito também é reduzido, pois na mente do Don Juan a intencionalidade ocorre não apenas com um individuo, mas com vários.
Amor eros e ágape se diferenciam, pois o ágape é aquele que pode ser dado a todas as pessoas, o eros necessidade ada intencionalidade interpessoal. Assim, se faz a analogia do amor eros como um êxtase que nos leva a Deus (observado, por exemplo, em várias pinturas religiosas) e o ágape seria o amor de Deus que chega a todos os seres humanos. Platão acreditava que o amor eros deveria ser deixado de lado. Que todo o intuito do amor eros era devido ao belo, então, que se tirasse o individuo e se procurasse o belo por si só. Platão estava errado por não dar importância a intencionalidade do amor eros. O importante é que ele mantenha seu foco pessoa. O amor ágape se liga a ideia de Deus cristão pois, apenas nessa religião é que Deus fez uma doação se tornando Jesus, da mesma forma que nos doamos aqueles que nos afetam no amor eros, o que não ocorre no amor eros.
Podemos perceber a diferença da importância do rosto na arte hoje em comparação a épocas passadas. Nas obras clássicas de Levinas, Botticeli etc podemos perceber no rosto das Vênus o desejo, o que faz as pinturas, mesmo tendo nudez, não serem consideradas pornográficas. Hoje na indústria da moda ou mesmo da pornografia, o rosto é deixado de lado, reduzindo a importância do sujeito e objetificando o corpo. Quando o rosto aparece, é só para se render aos atos do corpo, com olhares para lugar algum.
Capítulo 5 - O rosto da Terra
Sobre a alegoria do encontro de Deus com Moisés já foi explorado o fato de Deus ser uma pessoa e que existem alianças. Agora, será visto o fato que para abrir espaço para Ele no meio de nós, é necessário um templo. Percebermos isso em alguns trechos desde Gênesis onde Jacó tem uma relação com Deus, até Salmos, onde fala do sacrifício a Deus ser o espírito contrito. Tudo isso leva a narrativa de que existe um lar nesse mundo. Os elementos arquitetonismo e rituais o definem.
Alguns lugares são tidos como sagrados. Em especial algumas obras arquitetônicas se definem como sagrada por estarem associadas a morte, como ruínas. Deus normalmente diz para se cuidar desses locais sagrados. Podemos associar isso a necessidade de conservação dos ambientes e da natureza como um todo, para a possibilidade de existência das próximas gerações. A união da necessidade de preservação e necessidade do sagrado se refletem, mesmo naqueles que não tem fé, quando se percebem imbuídos de uma negação ao se verem poluindo um ambiente. Cidades sempre foram vistas como templos de consagração a Deus. Templos, em especial, são duplamente sagrados pois também são a casa, residencia de Deus no mundo dos objetos. A arquitetura de templos, como as observadas por lberti em colunas ou arcos, sempre presentes em templos cristãos, tentam refletir, assim como o rosto a ideia de translucidez, mostrando o "espirito" que há dentro.
Os lugares sagrados são sempre os primeiros a serem destruídos por invasores. Destruindo assim a ideia de pertencimento ao local dos povos que ali moravam. Vemos um movimento iconoclasta parecido com esse nas máculas pós-modernas, tentando transformar cidades e casas apenas em "maquinas de vivencia", tirando o rosto presente nesses objetos. Afinal, a ideia de ver a Terra como um sujeito é o que nos impõe certo respeito ao tratá-la. Se ela fosse apenas um monte de objetos, não nos importaríamos com poluição, por exemplo. E, assim como um sujeito, a Terra é insubstituível, essa consideração mostra quão errada é a visão cientificista de "seguros por desastres", pois por mais que se busque um custo, elementos insubstituíveis que se perdem nessas situações jamais podem voltar.
Alguns podem considerar essa analise pouco prática. Porém, ela, primeiramente surge de uma relação interpessoal do mundo. Não o vemos como uma monte de objetos e dados a serem explorados, da mesma forma que não vemos o rosto da Monalisa como vários pigmentos seguimentados. E é também com a experiencia das coisas sagrados que surge a capacidade mais geral de encontrar sentido e revigoradamente moral na s coisas desse mundo. Temos com esse mundo uma relação muito diferente do que um animal tem com seu habitat. Vemos mais vida numa paisagem medieval do que nas figuras efêmeras das grandes cidades. Pois no primeiro caso há maior sensação de pertencimento, de templo. Aqui a definição de beleza poderia ser dada como o valor intrínseco desses objetos, o valor que nos faz ver diferença nas duas paisagens citadas anteriormente. Deve-se tomar o cuidado de não desvalorizar a utilidade, pois parte dela trás beleza, como a utilidade de uma amizade.
Kant e Oscar Wilde concordavam que apenas pessoas superficiais não julgam pelas aparências. Na Crítica da Razão pura Kant definiu que nossa interação cotidiana com o mundo levamos o mundo a consciência e o deixamos flutuar ali. Assim, percebemos que onde a beleza, pode haver profanação. Da mesma forma que a pornografia se torna uma profanação do sujeito, pichações sujeira de fast food são profanações do rosto do mundo. Em especial esses dois elementos citados denotam a mesma profanação de bárbaros que invadem um local que não é seu, no caso do fast food a refeição compartilhada e as pichações a propriedade privada. Kant e Hume definiram separada a mesma verdade sobre a beleza: que a fruição estética envolve um juízo. Chamaram isso de gosto, palavra que hoje é totalmente ambígua. Isso tem por consequência a possibilidade de pessoas nos cobrarem por argumentos estéticos, como a forma das construções num determinado bairro de determinada arquitetura, ou mesmo a roupa que usamos numa festa de gala.
Van Gogh conseguiu esboçar esses mesmos elementos de beleza humana em pinturas sobre a natureza. Esse “almamento” do mundo vem desde o Antigo Testamento, lugar que tem a marca do trabalho humano, e por consequência lockeana, é seu devido a teoria da propriedade privada. Lugares públicos nas cidades também podem ser profanados, e não apenas com a poluição. Outdoors tem a capacidade de tirar toda a contemplação do rosto das obras arquitetônicas por apresentar indiscriminadamente vários rostos humanos, que se destacam em qualquer ambiente.
Várias religiões, principalmente as monoteístas., tem problemas com a representação do sagrado em formas. As leis de Deus advindas por Moisés tem a curiosa história da adoração ao bezerro de ouro por trás. Porém, seria uma iconoclastia injusta associar a adoração por meio de imaginar de santos a idolatria. A pessoa que faz sua oração ao lado de imagens e crucifixos não adora o objeto, e sim seu significado. Algumas religiões como o islã não admite esse tipo de elemento, por isso toda a sua tapeçaria é feita em blocos quadrados, para não permitir nenhuma representação do sagrado.
Prédios modernos e pós-modernos, diferentemente de arte medieval, não cometem um ataque apenas a fachada, mas toda a ideia de espaço publico. Além de serem tralhas que precisam de uma manutenção constante devido a suas formas bizarras, parecem mais um artifício lunar do que terrestre, uma espécie de espaçonave que, como todo veiculo, não parece pertencer a nenhum local. Todos esses exemplos moram que a degradação ambiente vem da mesma maneira que a degradação moral, por meio da desfiguração das coisas. O senso de beleza impõe um freio a nossas atitudes. E essa experiencia da beleza nos mostra que o ser é uma dádiva, e de que recebê-la e cuidá-la é nossa tarefa, assim, podemos ter o guia para ver o rosto de Deus.
Capítulo 6 - Rosto de Deus
A solidão humana pode estar mesmo em pessoas sempre acompanhadas. Ela surge devido a separação entre o ser autoconsciente e seu mundo e não é superada por nenhum processo natural, só é remediada pela graça. Hegel afirmava que o eu só se torna real mediante ao reconhecimento do outro. Hegel acredita que é uma busca constante do ser humano se tornar um com o outro, mas isso é impossível, fazer surgir esse eu que corre através de mim. Holderlin expressou um fenômeno similar nas jornadas do lar e da volta ao lar. Essa união com o todo é bem presente em toda cultura oriental e mesmo no cristianismo como no livro de Confissões de Santo Agostinho "nosso coração está inquieto enquanto não repousa em ti, Senhor". O que nos faz termos a experiência dessa união é o que surge em pinturas, obras de arte etc. E é vendo o mundo como o julgamento dos outros é que criarmos instituições e leis.
A filosofia moral moderna, reconhece essa busca por unidade e separação obrigatória acreditando que você só é uma pessoa na medida em que pode participar de uma rede de relacionamentos interpessoais, respeitando uns aos outros como fins em si mesmos. Muitas dessas atitudes necessárias para ser uma pessoa são obrigadas por leis, mas o que realmente nos define são as obrigações de piedade, que surgem da religião e nos colocam freios naturais e obrigatórios para o funcionamento da civilização. Ela nos conecta com o sagrado e com o sacramental. Esse mesmo sacrífico que serviu para Deus se unir a nós na futura de Jesus. Obviamente os cientificistas podem tentar explorar o sacrifício por vias genéticas, mas o que importa aqui é a sensação de doação ao outro que apenas um ser consciente pode ter. E, mesmo que os cientificistas tentem explicar várias dessas situações sacrificiais, algumas como o incesto, por exemplo, não conseguem ser explicadas por meios científicos. sem entrar em contradição.
Só o que é sagrado pode ser profanado, por isso, por mais que aja muito esforço dos modernistas, a morte e o sexo são elementos de profanação justamente por serem sagrados. Estes elementos sagrados nos levam a situações inexplicáveis em terceira pessoa, apenas no contato eu-você observamos. O que torna impossível identificar esses elementos de forma científica. Da mesma forma que não existe eu ou você na analise física de uma situação (estudando campos ou partículas) também não será encontrado Deus. Encontrar o que é o "ser" se torna impossível se não ser visto na perspectiva em segunda pessoa. Para Santo Agostinho, todo o ser tinha três atributos: unicidade, verdade e bondade. Então, esses elementos eram transcendentais. Assim, apenas com o amor ágape revelado por meio de Jesus, que se colocou no mundo como objeto e se fez entender como a bondade imanada de Deus, é que esse transcendental pode ser observado. Fazer o sacrifício, ou seja, a piedade, é que evoluímos, imitando-o.
Não devíamos ficar surpresos, por tanto, se Deus hoje é encontrado tão raramente. A cultura de consumo não tem sacríficos: o entretenimento fácil nos distrai de nossa solidão metafísica. Eros desvirtuado nos tira da ligação natural com a comunidade. Foram esses elementos que distanciaram as pessoas de Deus, e não argumentos cientificistas de ateus. As aberturas para o sagrado na natureza ou arquitetura foram tapadas pelo lixo. E no fim, as pessoas pós-modernas negarão que sua inquietação com essas coisas tenham um sentido religiosos.
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