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Ortodoxia - G.K. Chesterton

  • Foto do escritor: Canal Resumo de Livros
    Canal Resumo de Livros
  • 9 de out. de 2022
  • 11 min de leitura

Atualizado: 20 de dez. de 2022

0 - Prefácio

O livro se trata da busca de Chesterton compreensão da realidade e chegando novamente ao cristianismo, como um navegador que sai da costa de uma ilha e dando a volta acha que chegou num novo lugar, na verdade voltou para onde estava. Esse livro, como vários outros do autor, são embates filosóficos que se davam por meio de publicações no final do século XIX. O autor dizia que para responder a um cético arrogante era mais interessante induzi-lo a ter cada vez mais dúvidas até o ponto que comece a duvidar de si mesmo. O livro é escrito como a solução de um enigma, onde por meio do credo cristão ele o resolve.


1 - Introdução em defesa de tudo o mais

O problema central do livro é a compreensão de como podemos nos sentir ao mesmo tempo assombrados e maravilhados com o mundo. Precisamos dessa sensação de acolhimento, mas ao mesmo tempo de aventura para nos sentirmos deslumbrados com o mundo.


2 - O maníaco

Ao conversar com um amigo que via futuro num rapaz por "acreditar em si mesmo" Chesterton cita que o sanatório é o lugar onde estão todas as pessoas que acreditam demais em si mesmas. Essa crença é uma fraqueza. Por meio dessa crença em si, as pessoas acabam deixando de acreditar no pecado, criando teorias para dizer que ele não existe. Chesterton vê a importância dos romances pois apesar de não tratarem piamente da realidade, dão uma releitura para ela, diferentemente dos romances da sua época, que tratavam das ideias de malucos em um mundo normal.

O que gera a insanidade não é a imaginação para se criar um romance, mas sim a razão. Não vemos poetas enlouquecendo, mas vemos jogadores de xadrez. Existe o "chapeleiro maluco" pois ele deve "medir" a cabeça humana.

Apesar de um proeminente estudioso dos lunáticos tenha dito que as causas destes não existe, Chesterton cita que se o fosse verdade, o próprio determinismo seria quebrado. Muito pelo contrário, a qualidade mais proeminente dos loucos é que seus pensamentos são completamente lógicos em si mesmo. O pensamento destes é como um pequeno círculo, que apesar de ser pequeno, é tão infinito quanto um grande, mas menos abrangente. "Uma bala é tão redonda quanto o mundo, mas não é mundo". O homem não consegue sair do seu mal mental apenas pelo pensamento, pois foi justamente esse o prejudicado. Ele só pode ser salvo pela vontade ou fé. Muitos loucos pensam que eles são Deus, se Deus pudesse se definir como uma pessoa, Deus não seria grande coisa, da mesma forma que se o cosmos puder se encerrar na cabeça de alguém, esse cosmos não é grande coisa. A divindade seria menos divina que muitos outros homens.

Da mesma forma que o louco, o materialista tem certeza de que a história tem sido simples cadeias de causalidades totalmente calculáveis. A realidade está na contradição. Isso fica evidente no cristianismo desde seu símbolo último, a cruz. Diferente de um círculo infinito, ele tem colisão em seu centro. Por ser um paradoxo ele pode crescer sem mudar.


3 - O suicídio do pensamento

Muitos ignorantes dizem que a igreja católica fez perseguições contra o conhecimento, mas foi justamente o contrário, ela sabia que se certos conhecimentos fossem negados, todo o resto seria. Isso tiraria a liberdade de pensar. Chesterton ilustra essa ideia explicando que uma mulher, ao querer ser elegante, em diferentes épocas tomaria diferentes ações, como ser magra ou ser malhada, mas nunca seria elegante se desejasse não ser elegante. Se o padrão muda não há como haver melhora. Cada ato de vontade é um ato de autolimitação. Esses limites são intrínsecos da possibilidade de ação. Se libertarmos um camelo de sua corcova ele deixa de ser camelo. Na mesma ideia de contradição, pessoas fracas reclamam que Jesus foi egoísta, e as mais fracas ainda reclamam que ele foi altruísta.

Sobre a democracia, Chesterton diz que pode ser dada em duas resoluções: que as coisas comuns a todos os homens são mais importantes que as coisas peculiares a qualquer homem e que as coisas mais extraordinárias devem ser deixadas aos homens mais simples, como criação dos filhos, e as leis do estado (Chesterton era um defensor da democracia).


4 - Sobre histórias de elfos

Existem alguns pensamentos que são e não tem como não ser, por exemplo o fato de uma arvore mais uma arvore dar duas arvores. Mas existem fatos que são e não precisariam ser, como as arvores serem verdes. Sendo assim, existe verdades em contos de fadas que são totalmente arbitrárias tal qual verdades no nosso mundo. Por exemplo, se Cinderela perguntasse porque ela deveria voltar do baile a meia noite, essa pergunta seria tão sem sentido quanto perguntar porque ratos viraram cocheiros (adiantando, o mesmo pode ser dito de regras do mundo real, como as arvores serem verdes, ou mesmo regras observadas naturalmente, como não desejar a mulher do próximo ou mesmo só poder ter relações depois de casado e aberto a vida, afinal, isso é um dom, mas todo dom tem sua limitação. O cientista conjectura que a arvore é verdade porque sempre foi e nunca poderia ter não sido, mas isso é tão redundante, que poderia ser muito bem rebatido com o fato do universo pedir bis toda vez que um ovo de passarinho se abre, pedindo que com o outro ocorra o mesmo. Muitas dessas regras parecem ser mágicas por tanto Chesterton acaba concluindo que parece que o mundo é regido por um mágico. Se a questão cientifica é dizer que existe regras tão grandes que regem até o sistema solar, perguntasse então, já que a questão é quantitativa, porque não devemos então louvar e entregar nossa vida espiritual as baleias em ver do universo, por exemplo. A refutação de muitos cientistas é que não somos a imagem e semelhança de Deus justamente porque o universo é muito vasto, se for o caso as baleias seriam mais divinas e importantes que nós. Na realidade, vemos o verdadeiro sentimento sobre algo quando tratamos as coisas no diminutivo, por exemplo, quando chamamos quem a gente ama de amorzinho ou algo, ou mesmo a nosso lar de terrinha etc.

Para que a explicação da mágica faça sentido, ela por si só deve ter um sentido, e para que isso seja verdade deve ter alguém que o dê. No mundo há algo como uma obra de arte, algo que não pode ser visto apenas com olhos científicos (em terceira pessoa). Quando vemos um quadro da Monalisa é impossível deixar de notar algo que apenas com olhar humano pode ser visto (feições, sorrisos etc.) e não simplesmente vários pigmentos misturados. Naturalmente, essa criação deve ter seus defeitos. E a forma de agradecer a isso que nos foi dado como que por mágica é a limitação, se temos a liberdade de beber algo como o vinho, devemos beber com uma "regra arbitrária", ou seja, a de não nos embriagarmos.

Finalmente, parece que todo o bem é uma espécie de sobra de um cataclisma primordial e deve ser guardado, como se fossemos náufragos num mundo hostil onde devemos cuidar das ferramentas que nos foram dadas.


5 - A bandeira do mundo

Resumidamente, esse capítulo trata de explicar porque que quem ama quer melhorar, como uma mãe que por amar o filho quer que ele faça coisas que o mudariam completamente. Ao analisar o pessimista e o otimista, ele disse que o primeiro acha que tudo é ruim menos ele, e o segundo acha que tudo é bom menos o pessimista. Sendo assim, por exemplo quem ama um país e tem tristezas quanto a determinado ponto, vai o amar ainda mais por causa destas. Um homem que ama a França por suas atividades militares perdoara o exército perdedor de 1870, e quem ama a França por ela ser França fará de tudo para o exército melhorar.

Nessa linha, o suicídio não é só o pior dos pecados como é o pecado em si. Pois o homem que mata apenas um homem está tirando o mundo deste, mas quem se mata destrói, ou seja, nega, o mundo todo. Por outro lado, diferente do pessimista suicida citado, o otimista pode adorar seu mundo interno. Em último instancia, a pessoa adorar o deus interior é a mesma coisa que adorar a si mesmo, mais vale adorar um animal do que isso. Disso vem a fraqueza dos estoicos, que acaba jogando no pessimismo. A mera busca da saúde sempre acaba caindo em algo doentio. A natureza não deve ser objeto de adoração, mas deve ser desfrutada. São Francisco de Assis não via a natureza como mãe, mas como uma irmã mais nova. Se adorarmos a natureza, vamos acabar imitando todas as suas crueldades, tal qual os pagãos. Sendo assim, devemos amar o mundo sem sermos mundanos. O otimismo cristão baseasse em não assumirmos o mundo como ele é e querermos melhorá-lo.


6 - Paradoxos do cristianismo

O mote do capitulo é mostrar que quando achamos que há algo de estranho no cristianismo, notamos que é porque existe algo de estranho na verdade. Chesterton achava ruim no cristianismo o fato de que muitas pessoas ficaram milênios sem ter contato com a verdade.

O homem moderno acha a igreja simples demais justamente onde a vida é complexa, e a acha complexa demais justamente onde a vida normal é esquálida.


7 - A eterna revolução

O que significa melhorar as coisas? A maior parte do conversar modernas é redundante, tal qual a teoria da evolução, que diz que para algo evoluir é porque ajuda a se adaptar, e as coisas que se adaptam é porque evoluíram. Muitos filósofos, como Nietsche, se escondiam de questões definitivas justamente por serem difíceis de argumentar (por isso este escrever "Além do Bem e do Mal" e não "Melhor/pior do que o bem e o mal".

Sendo assim, nossa época é de "conservação" justamente por ser de total descrença. Mesmo muitos desconstruídos se perdem no fato de estarem sempre mudando o foco da sua desconstrução. De tal forma que mesmo para um revolucionário é necessário um ideal permanente. Porém, Chesterton percebia, como um sino no meio do caos do transito que o seu ideal era diferente, como que fixado nas fundações do mundo. Apesar de algumas revoluções serem naturais, elas a são como, por exemplo, a maquiagem para a meretriz, é natural, mas ao mesmo tempo não o é.

O ideal deve ser harmonioso, a igreja diz que o ideal de fato é, pois foi pintado por alguém. Também é necessário que, para que façamos sentido nesse mundo, precisamos de vigilância, até mesmo numa utopia, para não cairmos fora dela como caímos do Éden. Só a igreja pode lidar com isso pois apenas ela desde o começo mostra que o verdadeiro perigo não está fora do homem, mas dentro.O ideal de um conservador é diferente de um revolucionário pois ele já está definido antes da fundação do mundo. Por isso, como dizia São Francisco, a natureza é uma irmã mais nova, não uma mãe. Além de fixo, ele deve ser harmonioso. A Igreja mostra então que se baseia num ideal que veio antes da ideia de tempo e é tão harmonioso pois de fato é a pintura feita por alguém. Finalmente, o autor propõe que para ser funcional esse mundo precisa de vigilância justamente para não o fazermos cair sob uma utopia. Esse controle não deve ser feito por meio de subornos materiais, pois aqueles que mandam, os ricos, já foram subornados toda sua vida justamente pelo dinheiro. Sendo assim, quem deveria governar é justamente aqueles que não o querem fazer. Disso notamos a falha do pessimista, que acha que tudo é ruim exceto ele, e a do otimista, que acha que tudo é bom, exceto o pessimista.


8 - O romance da ortodoxia

Palavras curtas causam muito mais confusão que as palavras longas e complexas, pois escondem mais o seu significado e por isso podem causar mais confusão. Os liberais por vezes considerados livres pensadores na verdade são grandes opressores justamente por imporem suas ideias de liberdade. A aliança com a opressão nunca pode ultrapassar o limite da ortodoxia. Não há nada mais liberal que os milagres, pois eles significam a liberdade da alma e o controle dela sobre a tirania das circunstancias.

Um exemplo de ensinamento liberal é: "as religiões ensinam todas as mesmas coisas, mas de diferentes formas". Por exemplo, há uma religião oriental que rasga vestes em sinal de respeito, e fazem analogia disso com as vestes rasgadas de Jesus. O problema é que as do Mestre foram rasgadas como zombaria e vendidas como trapo. Outro ensinamento pífio de religiões gnósticas é que somos todos uma só mente. Se assim fosse entraria em contradição quando Deus nos disse a amar ao próximo. Devemos amar o próximo justamente por ele não ser "eu".

Jesus disse que ele veio trazer a espada, justamente pelo o que isso significa: quem prega a verdade vai gerar ódio. Panteísmo é contradição performática, pois diz que tudo tem o mesmo valor, mas agir perante o mundo é justamente escolher uma coisa em detrimento de outra. Deus está dentro do homem, mas não para o homem ser o indivíduo egoísta de uma série de seitas por aí, mas justamente porque Deus transcende, e o homem deve transcender também.

Normalmente gostamos mais de histórias do que de contas (logica) pois há nelas a essência do livre-arbítrio: não podemos completar a conta da forma que queremos, mas uma história sim. Um indivíduo pode ficar inerte se quiser se curar daquilo que não controla, uma doença, mas não pode ficar inerte se quiser se curar do pecado. Se alguém promete curar um pecador da mesma forma que alguém pode curar um asmático, o autor pede para que este apresente alguém que queira ser asmático, pois há uma grande quantidade de pessoas que procura ser pecadora. Isso já está intrínseco na semântica das palavras: paciente tem sentido passivo, e pecador tem sentido ativo. Se quiser se salvar de uma gripe a pessoa pode ser passiva, enquanto de uma falcatrua ela não pode o ser.

Algumas pessoas buscam provar que não há vida depois da morte, mas as mesmas não costumam procurar provar que não tem uma existência pessoal agora.


9 - A autoridade e o aventureiro

Surge a pergunta secular: porque não levar apenas as verdades convenientes e deixar a doutrina de lado.

Não se deve julgar o secular por querer ignorar a parte incompreensível da doutrina, justamente porque essa se baseia nisso. Um dos argumentos seculares é a nossa semelhança com os animais. Apesar das semelhanças biológicas, temos uma barreira intransponível. Da mesma forma que um crente acredita na realidade do divino por uma série de pequenos fatos, é o mesmo que se dá quanto ao agnóstico não crer. Na prática, existe uma contradição nos que não creem, pois aquilo que tentam utilizar como para sua descrença, é justamente o argumento da crença de vários que creem. Milagres existem, mas o darwinismo não está provado. O milagre só ocorre para quem está aberto a ele, se isso não é um contra-argumento aos ateus, eles estão sendo anticientíficos, pois atrás de cada experimento há a vontade de provar o mesmo, que não poderia ser observado sem essa vontade (ação). É natural que no passado o Deus dos hebreus fosse um deus entre muitos, da mesma forma que no passado achávamos que a Lua e o Sol eram iguais também.

O cristianismo é mais que todos os argumentos contra justamente porque a Igreja é uma mestra viva e ainda nos ensina. Pequenas coisas invisíveis aos olhos dos adultos, como um jardim, são incríveis a uma criança, e permanecem cheia de cor em suas memórias, o mesmo pode ser dito sobre a igreja católica. Não é porque não entendemos um de seus segredos que ele não tem valor. Muita gente não dá valor a existência do celibato, mas também muita gente não tem ouvido para música clássica, o que não a faz ser cheia de valor.

São apenas com doutrinas como o pecado original que temos material para confiar num mendigo e suspeitar de um rei. O mundo antigo e o mundo moderno têm muito em comum, justamente no fato de que ambos se sentem infelizes acerca da existência, enquanto no mundo mais católico, o médio, as pessoas sentiam-se felizes pelo menos a respeito disso. O silencio do universo a nós, tão argumentada pelos cientistas, na verdade é o mesmo silencio compassível do quarto de um doente. Apesar de tudo isso, ainda existia muito mais que Deus poderia ter nos mostrado quando veio, e não o fez talvez por timidez, afinal, poderiam nos espantar perante sua alegria.

 
 
 

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