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Quem tem medo do Lobo Mau: O impacto do politicamente correto na formação das crianças - L.F. Pondé

  • Foto do escritor: Canal Resumo de Livros
    Canal Resumo de Livros
  • 9 de nov. de 2019
  • 8 min de leitura


Quem tem medo do Lobo Mau: O impacto do politicamente correto na formação das crianças - Luiz Felipe Pondé e Ilan Brendan


O livro se trata da explanação de consequências do politicamente correto na educação das crianças. Para isso os dois filósofos, que também são pais e educadores, introduziram um contexto histórico sobre o conceito de criança e de politicamente correto para, assim, abordar o problema no que se refere a educação.


Os autores abordam primeiramente que, o fenômeno do politicamente coreto sobre as crianças chegou a níveis orwellianos, ou seja, já influencia as palavras e o modo de como se dirigir as crianças. Pondé exemplifica o efeito negativo dessa moda no amadurecimento das crianças. Ele cita que dá aulas há mais de 20 anos, e nunca viu uma geração tão sensível quanto essa, seus métodos de avaliação sofreram fortes influências devido à fragilidade de seus novos estudantes. Essa é uma consequência já observada no livro do começo do século XX Admirável Mundo Novo, onde os jovens eram projetos para ter uma vida fácil, preservados de todos os sofrimentos. Alguns professores promovem isso, diminuindo a possibilidade de um aluno que quer amadurecer trabalhando e pagando suas contas de conseguir ir bem em seus cursos mal lecionados que acabam necessitando dedicação total aos estudos.

O conceito de criança é apresentado sendo relacionado com pensadores como Russeau, ou seja, surge como categoria de ser apenas no século XVI. Crianças no século XIV por vezes nem recebiam nomes pois os pais não tinham certeza se elas sobreviveriam. No século XVII a palavra criança era utilizada para soldados subalternos e também aqueles que ficavam nas primeiras filas para morrer antes nas guerras. Para Pondé o conceito de criança é tão frágil quanto o de direitos humanos ou os modismos de ideologia de gênero: eles não sobreviveriam a primeira catástrofe do capitalismo, pois é nessa riqueza que se sustenta essas ideias, ou seja, elas não são naturais.

Levando em consideração todas as condições materiais das crianças até o século XX, é de se esperar que elas não fossem felizes em todos os seus momentos. Porém hoje é quase um crime que uma criança não esteja feliz, Saramago advertia: “Essa mania de que as crianças têm que estar sempre contentes, e que todos nós devíamos preocupar-nos com a alegria das crianças. Não tem importância nenhuma que a criança esteja triste. O ser humana cresce mais a sombre que ao sol. Por isso, se vir que uma criança está melancólica, triste, deixa-a estar. Estar é crescer”.

Essas situações criticas por vezes são altamente educadoras. Pondé cita que em sua infância estudou num colégio onde só haviam garotos. Alguns desses praticavam bullying pesado com garotos menores. Porém quando as garotas puderam entrar no colégio, aqueles que sofriam bullying conseguiam se expressar melhor com as garotas, conseguindo assim desnivelar a situação e florescer como pessoas, apesar de toda a violência de seus colegas. A cultura capitalizada do bullying, como outras formas de controle de vínculos (outro é a ação feminista quanto ao sexo) acaba engessando as reações, tornando assim os adultos incapazes de lidar com seus próprios problemas. O politicamente correto vai contra o tudo que é disforme e irregular, ou seja, vai grosso modo contra a vida e não percebe a importância do acaso para o avanço do ser humano.

Russeau foi um dos primeiros pensadores a criar a ideia de que o ser humano é bom mas o meio o torna mal. Isso é efetivamente poderoso nas crianças. Sendo assim Ilan cita que a ideia de deixar uma criança na Amazônia pode ser fata, por mais que Russeau diga que essa é a condição mai saudável para elas. Mostrasse assim que o irritante conceito de que as crianças hoje são mais evoluídas é uma falácia. Não é porque pais e professores fazem as crianças se preocuparem de forma quase involuntária com a África ou com a natureza, ou mesmo que elas nasçam sabendo mexer em celular, que elas são mais espertas que qualquer outro individuo. Pelo contrário, essa preocupação excessiva colocada sobre as crianças acaba as deixando mais deprimidos, inseguros e medicados do que nunca. Pondé cita que quando era adolescente se uma garota desse atenção a ele a ponto de terem uma relação ele ficaria contente, porém alguns adolescentes hoje em dia se sentem inseguros com a situação, a ponto de ir na psicologa. Ela e os pais querem criar um mundo "acochado" ao adolescente, criando assim uma serie de sintomas quando qualquer coisa fora do controle deste individuo começa a dar errado.


Controle da Linguagem (e do poder)

O politicamente correto é um fruto da nova esquerda, em que um dos seus expoentes, Marcuse, falava que o homem branco não tem voz, apenas por ser branco e homem. O politicamente correto parte do pressuposto que podemos desconstruir a linguagem, destruindo assim processos de opressão implícitos nela. No começo os processos desa ideologia podem parecer brincadeiras, de tão bobo que pode significar para alguém mudar o tema de uma cantiga de infância, mas isso afeta a nossa realidade, a ponto de mães ligarem para a escola para proibirem histórias como Cinderela, devido aos beijos sem permissão que o príncipe dá na princesa. Esses provérbios são "patrimônios da humanidade" fazem parte de forma constante da cultura, porém sofrem tentativas de destruição. Alguns autores como Montaigne já expressavam seu medo desse tipo de individuo que quer destruir a linguagem, ele os chamava de "Ditadores do espírito". Nietzsche complementava dizendo que "aquele que combate monstros deve prevenir-se para não se tornar o próprio monstro".


Os óculos da infância

Esse pensamento único proposto pelos antifascistas e a patrulha do politicamente correto é a própria novilíngua do livro 1984 de George Orwell. Nesse livro o governo queria transformar todos os termos em um só, para que assim fosse fácil controlar o passado, e por consequência o futuro. Sem linguagem é mais fácil controlar revoluções e pensamentos dissonantes que podem atrapalhar a ação estatal. Pondé crítica o capitalismo como fonte desse comportamento, talvez sem levar em conta que os comportamentos comprado num livre mercado não tem a ver com a essência do capitalismo, que é simplesmente trocas voluntárias.

Por vezes os que lutam contra determinados termos e histórias para crianças esquecem que a mente de uma criança é diferente da de um adulto. As crianças gostam de ouvir histórias de terror, saem chorando por causa delas mas voltam para terminar de ouvir. Deixar as crianças passarem por essas situações de medo serve como um treino para situações realmente sérias que acontecerão no futuro. Ilan chama essa destruição de textos clássicos de "eugenia literária", devido a uma visão rousseauniana de mundo, eles acreditam que as crianças se tornarão aquilo que estão lendo, assim elas perdem todo o sumo simbólico da narrativa e toda a interpretação de mundo consciente e inconsciente necessária para o amadurecimento.

Edmund Burke em seu trecho mais categórico sobre a imaginação moral, dizia que quando os revolucionários franceses invadissem o quarto da rainha, perceberiam que a rainha é só uma mulher, e uma mulher é só um animal. Mostrando assim que são os preconceitos e tradições que moldam a forma como observamos o outro, e não necessariamente uma lógica kantiana. Mostrasse, por consequência a importância de cantigas e histórias antigas, que são respostas concretas a problemas cotidianos e que nunca destruíram crianças. Himmelfarb dizia que os processos dos quais o politicamente correto faz parte destroem tecidos constitutivos do comportamento que nós nem sabemos como se formam.

Fabulas foram criadas por contadores de histórias na idade media, serviam aos adultos foram levadas para a imaginação infantil. As crianças desde então mostram muito interesse por histórias que as assustam, buscando-as independente do medo que gera. Esse medo é importante pois servirá par a acriança achar forças para lidar com situações amedrontadoras na vida adulta. Além disso ajuda a se aproximar das outras pessoas, para enfrentá-los.

Toda essa cultura do politicamente correto chegou ao ponto de moldar as relações sociais simples como a atenção para dialogo e argumentação. De acordo com o livro The coddling of the American mind eles mostram como essa “proteção” está mimando e criando um politicamente correto mimado do gênero: "Aqui para falar tem que ser mulher lésbica e negra sem pernas". Ou seja, você tem mais voz a partir do momento de quão mais "minoria" você é. Parte dessa fetichização das crianças se deve ao fato de adultos não quererem ter mais filho. Pais não sabem como criar, por mais que façam tudo certo pode dar errado, assim estão preferindo ter animais, que morrem cedo e te amam incondicionalmente. Percebemos o quão fraco é uma pessoa que se entrega aos animais em detrimento do ser humano quando, numa festa, tem uma pessoa que não sabe interagir com os convidados e fica o tempo todo com um animal.

Alguns autores importantes do passado estão sendo negligenciado devido a sua vida. Geralmente essa é uma acusação sem fundamento, pois parte das suas ideias são fruto dos seu tempo, enxergar questões como escravidão com os olhos de pessoas de 300 anos atrás é mais inteligente do que com os de agora, que essa é uma condição tão obviamente errada. Quando observamos a obra de um desses homens que hoje não passam pelo crivo do politicamente correto, não estamos em contato com a sua vida, de tal forma que é a perda de uma experiência importante. Até porque, pessoas que são o tempo todo boas, o que querem parecer que são, normalmente não tem nada a acrescentar. As crianças tem muito a nos dizer sobre isso, pois toda vez que elas se deliciam com histórias, aquele que escreveu não importa. Mesmo características físicas dos personagens não importam. Quando Ilan perguntou a crianças o que elas achavam da tia Nastacia, nenhuma delas fez alusão a sua cor.

Histórias com teor relativamente pesado como as de Shakespeare ou Lobato hoje em dia não são mais apresentadas as crianças, com medo de traumatizá-las. Ocorre que, de acordo com Ilan, elas são espécies de vacinas contra os estressores da vida, quando surge esse tipo de situação (morte, angustia etc) esses importantes contos dão sustentação para nos ajudar a passar por essas situações.

Algumas histórias ou brinquedos são quase que biologicamente atrativas para crianças. Mesmo uma criança com câncer, como disse o autor, preferiu ouvir historias de morte do que felizes. Uma das filhas de Pondé, por exemplo, mostrou uma vontade própria em brincar com bonecas, brincadeira essa que já foi observada por arqueólogos em sepulturas na Sibéria que datam de 4500 anos, ou seja, não é uma brincadeira puramente induzida por situações sociais. A brincadeira é onde a criança se expressa, o próprio Freud já percebia isso, e hoje quando bons terapeutas de crianças vão fazer seu trabalho, eles as coloca para brincar. Essas brincadeiras lúdicas acabam servindo como um escape de instintos mais violentos das crianças. Ocorre que garotos que brincam com armas ou jogos violentos não se tornam assassinos, por sinal há dados que mostram o contrário. E obviamente, os assassinatos não começaram depois dos jogos violentos. A perseguição ao mundo simbólico acaba nos fazendo parar de perceber o obvio, as pessoas normalmente não são induzidas pelo o que jogam ou brincam. As pessoas não se tornam encanadores por causa do Super Mario, por exemplo. O problema é quando os jovens acabam se entregando e ficando horas na frente de telas de celular e video game, o problema acaba surgindo devido a falta de socialização e de obrigações.

Para finalizar, Ilan conta a história da Super-Hiper-Jezevel, que era uma menina perfeita, fazia tudo que mandavam, não corria, não gritava etc. Ela com o tempo vai ficando vampiresca, até que certo dia as crianças perto dela estão correndo pois um crocodilo fugiu do zoológico. Ela não corre porque é errado correr, até que é comida. Alguém diz para ele: “seu malvado, você comeu a melhor menina do mundo”. Ele responde: já comi coisa melhor". Embora não seja função da literatura reformar a sociedade, ela possibilita um mergulho dentro da nossa própria humanidade.

 
 
 

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  2018 - Os textos aqui expostos não representam a opinião do autor.

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