top of page
Buscar

Saudades de Deus e Outros Textos - Luiz Felipe Pondé

  • Foto do escritor: Canal Resumo de Livros
    Canal Resumo de Livros
  • 26 de jan. de 2020
  • 18 min de leitura


Saudades de Deus e Outros Textos - Luiz Felipe Pondé - Resumo


Prefácio

Pondé cita que foi chamado para publicar na Folha de S. Paulo por seu editor para "quebrar o coro dos contentes" desses que acham que são o bem do mundo. Ele cita que a leitura de três livros seria suficiente para eles deixarem de lado toda sua visão de que são o bem do mundo.

Como filósofo, Pondé se coloca como moralista, mas não no sentindo popular da palavra, e sim porque tente entender a natureza humana. Essa tradição vem desde Agostinho, mas se fortificou na França com os jansenistas, que diziam que temos uma vocação natural para mentir. Ele cita que é a miséria moral que nos une, e ter conhecimento disso é importante para não nos entregarmos ao "marketing do comportamento". Um moralista então tem a missão de iluminar as pessoas para a sua própria miséria, como uma forma de graça reestabelecedora da virtude.


FILOSOFIA E RELIGIÃO

Pondé cita que hoje todos querem agradar, imitando assim as crianças. Porém, as crianças o fazem porque têm noção de sua fragilidade como criança. Não devemos roubar o medo delas, mas sim ser seus porto-seguros. Somos obrigados a agir sem certezas, percebemos verdades profundas como essa em noites que ficamos acordados para cuidar das crianças que tiveram pesadelos. Boa filosofia nasce da mesma matéria que a insônia.

Novas religiões normalmente são ridículas, quanto mais velhas, melhor.


Algum tempo atrás um filme foi criticado por “humanizar” os nazistas. Muitos "bonzinhos" ficaram raivosos com isso. A analise sociológica dessa hipocrisia é que mostrar os nazistas como humanos mostra a maldade que tem em cada um de nos. Então vermos que eles são como nos pode iluminar nosso parentesco com eles. Se o monstro estiver apenas no outro estaríamos a salvo.

Ao analisar um texto não é saudável que sempre procuremos a "psicologia" por trás da obra. Ler Hamlet com olhos de Freud nos faria deixar de lado toda a beleza do próprio texto de Shakespeare. Reduzir tudo a sexualidade freudiana nos faz deixar grandes histórias como a de santa Teresa d'Ávila apenas como um processo de individuação e neurose sexual. O drama se perde junta com a força dos personagens. Nesse ponto é que devemos deixar de ler a bíblia com olhos científicos. O "personagem" Deus de Israel não precisa perdoar ninguém, porque Ele não precisa de ninguém. Por isso suas atitudes não podem ser "lidas" pelos olhos seculares da paz hipócrita.


Pondé cita que aqueles que fazem de tudo para serem alguém melhor provavelmente nunca vão ser felizes pois não deixam o Eu de lado. Eles esquecem as palavras de Jesus, que dizia para as pessoas esquecerem do eu, se perderem. Essa mania do homem tentar se aperfeiçoar é o que vai destruí-lo.


Ética

Seria ético abandonar um cônjuge que se torna invalido depois de um acidente? Nunca é uma decisão fácil, mas é também hipocrisia negar que estamos abandonando alguém por ela ser inútil, usando como argumento um abstrato "direito a felicidade".

Pondé cita que somos pó e que fecha os olhos diante o vento e Dostoiévski que mostra isso bem, ao citar que só esmagando orgulho com humildade é que valerá a pena apostar no dia a dia. Isso se repete nos escritos de Rosenzweig, que diz que a metafísica nada mais é do que o pensamento mágico a serviço do medo e da morte. A vida então seria a percepção de si mesmo como milagre em meio ao pó que em nós estremece. Contra a fé na politica que surge nesse secularismo exacerbado temos Edmund Burke e Tocqueville, sempre apontado incompletudes da democracia, e que esta nos fez idiota, pois é a nova forma de tirania, a da maioria.

Kierkegaard é um importante filósofo que dizia que somos feitos de angustia, devido ao nada que nos constituti e a liberdade infinita que nos assusta. O auto conhecimento então nasceria do profundo entristecimento consigo mesmo. No amor teríamos a chave para o sentido. Como dizia ele: "experiencia é aquela mistura de desconfiança e amor. Apenas os espíritos muito confusos e com pouca experiencia acham que podem julgar outra pessoa graças ao saber."

Num antigo conto judeu o sábio dizia que Deus não está preocupado em você ser o "novo Moises" mas sim em ser você mesmo. E isso não é uma bobagem motivacional, mas sim a ideia de que é muito mais difícil ser você mesmo do que seguir padrões, nossa alma é nosso maior desafio.


Pondé dá uma lista de autores conservadores interessantes para compreender um pouco dessa filosofia. Um dos principais pensadores nesse século é Thomas Sowell, que mostra no seu livro "Os Intelectuais e a Sociedade" a ignorância que opera e flui destes indivíduos. Conservador não é o tipo de pessoa que quer que pobre se ferre, mas sim aqueles que sabem que o pobre só não vai se ferrar numa sociedade de mercado.


Pondé sempre faz belas analogias, uma destas foi observar a semelhança entre o inquisidor da idade média com o justiceiro social do Facebook, os dois se sentem com o chamado de assegurar a pureza e impedir a contaminação de ideias indesejáveis. Tanto o inquisidor quanto o usuário de Facebook se sente autorizado a perseguir e queimar quem não concorda com ele.

Os inquisidores modernos, que por vezes tentam fugir de qualquer vínculo com tradições antigas, como o cristianismo, caem nas mesmas falhas dessas ideias, com certos tipos de puritanismo e intolerância. Porem os de agora sentem que estão fazendo a natureza humana ao fazê-lo.

Por mais que Pondé seja ateu, ele tem grande apreço pelas religiões antigas. Ele cita que os modismos new-age são apenas uma fuga para algo ridículo e sem significado. Quando as pessoas buscam por isso, tentam dar algum sentido ao vazio que a secularização deixou nas suas vidas, buscando assim,d e certa forma uma tradição. Mas tradição não tem nada a ver com escolha. Ela é imposta. Tradição é pagar contas, ficar frustrado por convier com pessoas melhor que você, pular na frente da sua namorada na hora do assalto. Ficar chateado com a amiga que é mais bonita. É educar os jovens para que deixem de acreditar nas bobagens que inventa. Tradição é uma espécie de tsunami que se impõe com toda sua força. Evolução espirital não se obtêm com viagens caras a lugares orientais sagrados, mas sim com uma disciplina aterrorizante. Essa busca por aperfeiçoar o "Eu" não leva em conta que qualquer evolução espiritual se dá quando o "Eu" é deixado de lado.


Esse egocentrismo é definido pelo Pondé como "Masturbação Espiritual", uma espécie de busca narcísica onde não existe transcendência, só a imanência entendiante de um "eu mesmo" deslumbrado consigo mesmo. Certos "conhecimentos" propostos pelos pensadores atuais acabam causando esse tipo de fenômeno. O psicanalista D.W. Winnicott se pergunta se esse imenso acumulo de experiencias não tem a longo prazo consequências mais indesejáveis. do que a vida bruta sem retoques.


Quando se para pra pensar na contingência da vida, percebesse que estamos aqui devido a uma série de eventos bem aleatórios e até constrangedores, como a relação sexual de todos que vieram antes de nós. Podemos associar isso a graça divina. Isso é um pouco distante do pensamento atual pois, nesse mundo onde todos tem direito, a gratidão genuína e humildade se perderam. Santo Agostinho dizia que deveríamos dar graça pela linguagem que temos para falar. A espiritualidade séria começa ai, com a noção da contingencia de todos os elementos que nos cercam. Pensadores como Scheleimecher citam que é essa noção de graça que une todas as religiões sérias. Desse infinito que nos cerca, nos lembrando como somos efêmeros, apenas poeira que é capaz de ver o rosto de Deus.

Toda virtude é discreta. Isso é dito desde a Bíblia até os jansenistas franceses. Nossas virtudes devem ser sempre apontadas por outro pois a vaidade pode colocar toda ela a perder ou no mínimo a nos confundir.

O destino normalmente é negado por aqueles que acreditam numa liberdade que lhes é por direito (não percebendo assim a contradição que é ir contra a liberdade de alguém, como no caso do bem-estar social, que tanto essa gente politicamente correta defende). O homem é sempre menos que deus pois é mortal, ai está o destino, uma eterna perda, e ela ocorre não só na morte, a cada momento nos perdemos e nos traímos. As pessoas pensam que podem controlar o destino pois conseguem controlar boa parte das coisas a sua volta, pelo menos as que as sustentam vivas, com um Mastercard. Pondé suspeita que essa "liberdade" comprada é parte da esperança, a última das pragas da Caixa de Pandora e neste momento ele faz o vínculo entre o mundo antigo e o atual, afinal esta foi aberta devido aos homens dominarem o fogo, que é a representação do avanço tecnológico.

Pondé explica sobre o niilismo. Essa é uma filosofia que ganhou força com o pensador Nietzsche. É a ideia de que o nada nos permeia, e que somos fruto desse nada. Normalmente niilistas são ateus, mas podem ter uma forte ideia de ética, como os kantianos, ou não acreditar na verdade absoluta, como os relativistas. Alguns autores tentaram dar respostas ao vazio existencial que surge devido ao niilismo, um deles dizia que era apenas com a coragem e criatividade que haveria a salvação. Niilismo acaba sendo uma especie de condição, não uma escolha. Essa queda acaba tendo efeitos colaterais como a entrega a ações banais e teorias sociais estranhas, criando os justiceiros de Facebook.

Essas mesmas teorias por vezes acabam negando a importância do lucro na sociedade. É este que moldou a nossa vida, para deixarmos de lado a subexistência e conseguirmos pensar em ideias mais altas. Mas acreditar que o lucro é suficiente para lobotomizar e deixar o ser humano longe de seu lado animal é um erro. Uma das poucas coisas que crescem nessa mediocridade fruto do lucro é a democracia.

Esse mundo de técnica acaba criando situações que no passado seriam totalmente impossíveis, como o aborto. Dizer que essa séria questão é um "problema de saúde pública" é uma mera retórica de objetividade pré-moral. É tentar jogar fora o sentimento de culpa, esse que é necessário para a vida moral. A partir do momento que liberarmos o aborto, ou seja, que o feto não é um individuo com direitos, o que mais poderemos fazer com eles, cosméticos por exemplo? Essa é uma questão delicada porque mesmo quem é contra o aborto abriria uma exceção no caso de sua filha menor de idade sofrer um estupro.

Questões polêmicas são sempre presentes nos livros do Pondé, umas delas é a questão da pedofilia. Ele ilustra com um interessante filme onde um padre supostamente pedófilo, mas que todos os coroinhas amam, é perseguido por uma madre superiora que não ama ninguém. Ele realmente ama o garoto que é suspeito do ato? O amor pode ser uma face do mal? A questão é mais dura ainda pelo provável amor, e mais escrachado fica a falta de amor na figura da madre.

Em vários obras Pondé consegue capturar a profundidade que o autor destas quer passar. Uma delas é o filme "Anticristo" de Lars von Trier. Nele um psicólogo leva a mulher em luto para um Jardim chamado Éden, onde está tenta se recuperar psicologicamente da morte do filho, que aconteceu durante o ato sexual dos dois. Esse cientista ignora o mal verdadeiro, que não se estuda, apenas se respeita, e paga por isso durante o filme todo. Lá, naquele Éden, a natureza era o que sabemos que ela é: a maldade e a luta pela sobrevivência intrínseca a isso.

A discussão politica em sua obra permeia o estado de bem-estar social, e a praga que isso se tornou na Europa. Lá todos acreditam que tem direitos por serem cidadãos, não levando em conta que isso implica em deveres de pessoas que nada tem a ver com eles. Vitimas e opressores são temas recorrentes, de acordo com o autor toda família tem um, podemos percebê-las quando acusam outros membros de só pensar em dinheiro, mas estes mesmos nunca ajudam em qualquer gasto em casa. Também os vemos nas discussões de redes sociais, que Pondé repara criar uma especie de Nurembeg virtual, onde as pessoas são escalpeladas sem muita chance de se defender. Normalmente as vítimas são os conservadores católicos, associados de forma pejorativa a crimes sexuais causados por pouquíssimos de seus membros. Curiosamente, estes que criticam os religiosos são os mesmos seguidores de Sade e Foucault, conhecidos por usar o sexo, inclusive a pedofilia, como forma de transgressão legitima contra as normas de opressão social sobre o corpo. Isso tudo é fruto do que o autor chama de "geração mais sem graça". Para eles, mesmo o sexo sadista deve ser feito com consentimento e cuidados máximos de higiene. As vítimas normalmente costumam cobrar dos outros aquilo que elas nunca dão, como amor desinteressado. São tão sentimentais que choram diante da própria sensibilidade.


O fanatismo é um elemento essencial na narrativa dos grupos mais crítico por Pondé. Esse fanatismo vai desde a natureza, com todas as questões envolvendo o "pouco científico" aquecimento global. Aquecimentos já ocorreram por várias épocas da existência do Planeta Terra, tal qual a ideia de apocalipse durante a existência da humanidade. As pessoas hoje correm nuas na rua para lutar por um planeta melhor. Normalmente se corre nu por motivos escusos, nunca por algo realmente relevante para todos, como a mecânica newtoniana e o darwinismo, por exemplo. Discordar de qualquer um que diga algo contrário ao aquecimento global é o mesmo que heresia, a discussão científica nunca está em pauta, apenas os dogmas mais violentos que qualquer imposição católica da idade média. É natural que existam problemas decorrentes da poluição, mas os ecofascistas não fazem nada para combatê-lo.

A artificialização da vida vai um tanto contra a ideia de que a natureza é apenas bela, acredita pelos ecofascistas por exemplo. Mas são eles os primeiros que levantarão a bandeira de que, no futuro, quando houver tecnologia para se ter filhos completamente saudáveis e geneticamente modificados, estes sejam produzidos, pelo bem da "saúde pública". Essa tara pelo agora vai de encontro com a cultura judaica, tão cara ao autor. As quatro virtues principais para uma das classes mais ortodoxas são: êxtase na contemplação, trabalho, a intenção reta do coração e a humildade. Eles sentem prazer com o trabalho simplesmente porque trabalhar é colaborar com o próximo, e assim fazer parte do mundo. Esses são elementos que, de acordo com Freud, dão força as pessoas levantarem no dia seguinte.


Esse paralelo entre religiões fica claro quando Pondé discorre sobre o islamismo. Ele começa demonstrando que os "inteligentinhos" sempre que podem criticam o cristianismo, mas não fizeram nenhuma questão de abrir a boca quando, por exemplo, o jornal Charlie Hebdo foi atacado por extremistas. Terroristas não são "vítimas sociais". Eles riem e matam quem pensa esse tipo de secularismo ridículo. Existe prazer em matar, em ser bruto, e a discussão para por ai. Parte dessa "passada da pano". Marx, o guru dessa moçada, teria certa simpatia com essas ações terroristas, pois elas são fruto das "forças históricas revolucionários". Na hora de enfrentar a violência desses grupos terroristas, ou mesmo de situações mais cotidianas como a violência contra a mulher.

A violência contra a mulher, em específico, não será resolvido por discurso feministas. O que é realmente necessário é os homens tomarem parte dessa luta, nem que seja no ponto de vista físico. Esse tipo de homem que toma as responsabilidades está se tornando raro. Nelson Rodrigues teorizava sobre o "canalha sincero". Este individuo assumia que "estudava marxismo" ou se importava com a natureza somente par apegar mulher. O homem de hoje não faz nem isso, simplesmente mente, mas pelos mesmos motivos. Nelson dizia que sentiríamos saudades do canalha sincero. Essa sinceridade por vezes surgia quando o lado animal superava, de forma dolorida, o racional, como no caso do seu personagem Palhares, que pegou a cunhada porque não suportava a beleza desta. Vemos aqui um vínculo com Aristóteles, que dizia que a virtude só nasce num terreno hostil, as vezes a vida familiar é o pior destes.


Ser conservador ou ser de direita, durante muito tempo no nosso país, foi sinônimo de ser malvado. Quando alguma pessoa tinha mais disposições liberais, esta logo se colocava a dizer que "não era homofóbico, fascistas etc". O vínculo desse medo de ser taxado de algo negativo e as modas atuais de comportamento criam algumas aberrações, como por exemplo, aplicativos que limitam, por contrato, o que duas pessoas podem fazer na cama, para que assim não haja represálias da mulher na justiça. Isso, sem duvida, como dizia Zigmunt Bauman, é fruto da necessidade de se "estatizar" todos os afetos. O estado virou um jardineiro, que tenta criar para todos um jardim do bem.

Pondé faz uma crítica extremamente pontual ao islamismo, quando cita que os membros dessa religião tendem a levar as suas leis religiosas acima de qualquer determinação secular. Na França por exemplo eles criticaram a lei, um tanto demagógica, do ex presidente Sarcozi, que queria proibir a burca em lugares públicos. Isso se deve pois o estado é secular, e esse tipo de traje é uma afronta ao ideal de igualdade sob a lei que homens e mulheres devem.

Nos compararmos com esses comportamentos arcaicos dos muçulmanos as vezes nos torna cegos a nossas próprias falhas. Para demonstrar isso Pondé cita um filme onde o marido está passeando no parque com sua jovem mulher, e esta o leva para uma manifestação nazista. O filme se passa no começo do seculo XX. A moça diz ao marido "como pode um monte de gente querendo fazer o bem fazer surgir algo de mal". É neste momento que percebemos que o totalitarismo não está apenas nas caricaturas dos "skinheads" mas também nas pessoas que se emocionavam e choravam diante de tanta boa vontade. Se você se acha completamente do bem, cuidado. O melhor antidoto contra a tentação do totalitarismo não é a certa de um "outro bem", mas a dúvida acerta do que é o bem, aquilo que Aristóteles (sempre ele) chamava de prudencia, a maior de todas as virtudes politicas. Esse amor ao bem pode ser facilmente dito da boca pra fora, mas na prática, as pessoas prefeririam que seus pais tivessem atitudes corruptas, para que dessa forma conseguissem lhes dar uma situação de maior conforto. Dizer isso em voz alta pode ser difícil, mas guardamos as palavras dentro de nós para não soarmos mentirosos.


DESEJOS E AFETOS

O autor discorre, num conto fantasioso mas que fala muito sobre nós, a história de Andreia. Uma bela socióloga que também se formou em administração pois sabia que sua primeira profissão não era suficiente para lhe garantir um bom futuro. Ao Entrar numa nova empresa, conheceu seu novo chefe, um homem de meia idade rico que era conhecido por ser conquistador. Ela dizia para si mesmo que esse tipo de homem, aqueles que querem sustentá-la, não é o tipo de pessoa agradável que era quer ter ao lado. Por sinal essa mulher é casada. Ocorre que depois de uma boa venda, o chefe promove uma festa, onde os dois conversam bastante. Nos dias seguintes a moça estava muito interessada nele, mesmo tentando deixar de lado esse sentimento. Porém ele não demonstrava interesse. Essa leveza ao lidar com a situação a atrai mais ainda. Como se houvesse algum prazer na indiferença. Até que o caso entre os dois ocorreu, muito provavelmente notado por uma empregada feia, que devido a sua situação de feitura, não teria quaisquer chances de ter a mesma aventura com o chefe. Por mais que a jovem Andreia soubesse de todo o erro em sua ação, ela o fez um tanto por instinto, um tanto por um desejo incontrolável de se sentir objeto de um homem poderoso.

Andreia estava aos seus 25 anos e isso diz muito. É uma idade onde a mulher percebe que não é mais uma mocinha, não tem tanto tempo para conquistar um homem devido a sua beleza. Neste momento surge o medo mais primitivo de toda mulher: estar sozinha e vulnerável, a imagem disso na ocorrência de um parto deixa a cena ainda mais dramática e verdadeiro.

O mundo real tem belos exemplos de situações que testam a humanidade das pessoas, alguns são impossíveis de se aprender em livros. O autor ilustra uma situação muito comum na Segunda Guerra Mundial: um francês que esconde em seu porão uma família de judeus, contra a vontade de sua família. Os Filhos choram pelo medo que tem de serem presos, a sua mulher entre em desespero, e a sua sogra trama contra ele. Quando este homem que queria fazer o bem vai preso, todos ficam felizes. Não demora muito a guerra acabar, e aquelas mulheres que ficaram do lado dos ocupantes nazistas agora são tratadas como traidoras e meretrizes, a mesma família do bom homem faz o mesmo. O que o leitor faria se estivesse na mesma posição deste homem? Dificilmente somos capazes de ver as coisas de modo claro quando estão em jogo nossa autoestima e nossos interesses cotidianos, então cuidado ao pensar nessa pergunta. É difícil termos compaixão por aquilo que é considerado o "mal", como foi pregado e muito bem pregado pelo partido nazista.

Algumas obras mexem com esses elementos tão caros ao Pondé, como as de Nelson Rodrigues e Dostoiévski, dois autores considerados clássicos. "Tire a imortalidade de um homem e ele cai de 4", frase atribuída a Nelson Rodrigues que fala muito sobre a natureza humana. Pondé cita que a obra Senhora dos Afogados, de Nelson Rodrigues, é uma daquelas que deve ser vista de joelho. A obra desses dois autores deve ser absorvida assim pois é de joelhos que temos noção da condição mais profunda do ser humano: seu medo e a capacidade de amar, apesar de sua efemeridade. O Sonho de um Homem Ridículo, de Dostoiévski ensina uma importante lição: o mal está dentro de nós. Esse "ridículo" pretendia se matar, mas antes disso cai num sono profundo, onde sonha com um mundo perfeito, mas ao interagir com os seres perfeitos, estes começam a se matar, devido a infecção de maldade a qual ele é a fonte. Só após esse choque de realidade o personagem consegue deixar a intenção suicida de lado e resolver os pequenos problemas de sua vida.

Chegamos ao amor em si, que para o autor é um sentimento que toma conta do ser: quem não quer a pessoa para si não ama de verdade. Devido a esse inferno que é a paixão, citado até mesmo na Bíblia, o autor nos leva a refletir que este sentimento trás tristeza e desgraça na mesma proporção que a felicidade viciosa que buscamos nele. Boa parte do que consideramos amor é apenas protocolo social. O autor diz que estamos preparados para aceitar relacionamentos zoofilicos, mas não estamos prontos para assumir essa verdade. Esses sentimentos deturpados, na era das redes sociais, acabam criando certos monstros. Alguns deles são os "bebes grandes" citados por Pondé: pessoas que tem uma personalidade narcísica, cheios de amigos virtuais mas todas amizades superficiais, pessoas com senso de moral superior e tendencia exibicionista, o tipo de pessoa que tenta destruir a sua vida e segundos depois está postando fotos sorrindo no Instagram.

A sociedade de mercado cria situações bem especificas no âmbito das relações interpessoais. Uma delas é o famoso ressentimento nietzschiano, mascarado em "luta de classes" pelos marxistas. A realidade é só uma: as pessoas fracas são as que mais falham a medida que o mercado ganha força perante o estado, os fracassados buscam a força que não tem apoiados no estado que tira dos que produzem e dá para os que pouco fazem. Outros elementos dessa "sociedade de mercado" é o papel da mulher na sociedade. Mulheres que querem jogar fora toda a tradição e importância do ato materno, casais que preferem cachorros ao invés de filhos, pois esses são mais baratos e te amam incondicionalmente, são reflexos do narcisismo e ressentimentos tão presentes hoje em dia. Um dos frutos mais nojentos desse narcisismo é a autoajuda, uma contradição em termos para o filosofo, pois é o sofrimento a fonte inexoravel de amadurecimento. Sendo o projeto dessa felicidade pregada pela autoajuda chegar aos 60 anos com mente de 15, é intrínseco nela o retardo mental como projeto de vida. O amadurecimento está mais próximo do fracasso que do sucesso, paciência e coragem estão por trás disso. Um galho dessa falta de amadurecimento é o surgimento de alunos cada vez mais fracos psicologicamente, sem resiliência, acreditam que tudo é direito, então aqueles que os fazem passar por mal-estar, como professores rígidos, devem ser vítimas de processos.


LIVROS E AUTORES

Luiz Felipe Pondé se considera uma romântico. O romantismo para ele cria homens "sobreviventes". Esse tipo de pessoa é mais perigosos que aqueles que riem o tempo todo, eles preferem mudar de assunto, fechar a porta do quarto. Eles são perigosos pois em sua natureza, acreditam que não tem futuro.

"O animal agonizante", livro de Roth, afirma que o maior ganho para o homem na emancipação feminina foi se livrar do jogo de dependência destas, porém, a dependência da mulher é um dos elementos que mais prende os homens, e mais lhe dá tesão, e elas sabem bem disso.

Desejo e rotina são elementos quase que excludentes. Numa primeira obra Pondé comenta que alguém que se entrega ao desejo sofre tanto que deve ser vista com respeito. Numa segunda, essa da famosa autor Virginia Wolf, ele mostra como existem pessoas que sofrem tanto por não ter desejo, que parecem viver em corpos que não são seus. Esse sofrimento pode surgir devido a elementos sociais que somos "obrigados" a vivenciar, como o amor pelos pais e filhos, mesmo que ali não exista o afeto. Criamos rituais para lidar com isso, sem isso, viveríamos sem qualquer interesse pela vida.

A autossuficiência moderna, presente na obra de Tchekhov, fala um pouco mais sobre a impossibilidade de avaliar o verdadeiro sentido de nossos atos. Da autossuficiente para a dependência e controle de homem homem pela sua mulher, chegamos em Macbeth de Shakespeare. Macbeth era um personagem exemplar, que galgava posições pela sua capacidade, um verdadeiro líder se estivéssemos falando de Recursos Humanos dos dias atuais, mas não era esse elemento que Shakespeare induzia em sua obra. Esse homem acabou sendo levado a fins trágicos por querer ser tão grande quanto sua mulher decidira. "Quando você não souber mais onde frear em sua ambição, lembre-se de Macbeth" diz o autor. Os grandes clássicos, diz ele, não são feitos para serem lidos, e sim para o autoconhecimento, você passa e o clássico continua. Como dizia Ítalo Calvino: um clássico é uma obra que nunca terminou de dizer o que tinha para dizer porque trata de temas que sempre assolam o humano.

Outra dura lição imposta por uma obra cara ao autor é que os problemas da Africa não são apenas devido a ação maligna do homem branco europeu. O autor africano Naipaul cita que os elementos primitivos de violência que vemos até hoje na Africa são fruto de sua própria cultura macabra, que permeia bruxaria, e todo tipo de culto que foi erradicado pelo judaico-cristianismo em vários lugares do mundo. As pessoas são ma´s, sejam elas europeias ou africanas, mas a verdade é que alguns grupos africanos ainda vivem como se estivéssemos em tribos.

O retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde, é uma das maiores profecias sobre a modernidade e sobre sua aposta na redenção pelo desejo de vida eterna bela e saudável, e o fracasso obvio dessa empreitada. Dorian é extremamente jovem e vive da sensação, no fim fracassa, pois o único pecado que não tem perdão é o tédio. Oscar Wild nos leva a perceber que, ao lutarmos contra o amadurecimento, não nos tornamos Dorian Gray, mas sim seu retrato: um rosto que recolhe o grotesco de um mundo imaturo e maniaco por saúde.

Submissão, do francês Hocbeque, é uma obra que fala sobre a vitória da Irmandade Muçulmana numa França pós-2020. Temos um protagonista intelectual deprimido, e um ocidente que se esgotou como produtor de valores, a sociedade agoniza por causa disso. Na falta de valores, no individualismo consumista e o narcisismo chique, surge a vontade de ser submisso, e encontra seu gancho na figura do politico salvador islâmico. Esse governo, como todo muçulmano, não precisa primeiramente usar de violência para constranger seus adversários. A violência é sistêmica onde o islamismo toma conta, mas sua ação é apenas tornar a vida dos que são contra um inferno, dificultando principalmente de conseguirem um emprego caso não haja a submissão. Temos um bom paralelo com os autores Tostoi e Dostoiévski: para o primeiro a alma é iluminada pela esperança e pela vitalidade que Deus lhe empresta (sem isso, os franceses caíram frente a cultura islâmica) e para o segundo, a alma é iluminada pela dor e pela coragem que a mantém de pé. Seu elemento é a misericórdia como substancia e sua psicologia espiritual.

 
 
 

Comments


Faça parte da nossa lista de emails

  2018 - Os textos aqui expostos não representam a opinião do autor.

  • White Facebook Icon
  • White Twitter Icon
  • Branco Ícone Google+
bottom of page