Uma Breve História do Homem - Hans-Hermann Hoppe - Resumo
Introdução - O autor explica que esse livro se tratará de fazer um revisionismo histórico sobre o ser humano à luz do libertarianismo. Diferentemente dos sociólogos de esquerda, Hoppe não acredita no relativismo empírico, ou seja, ele acredita que existe uma ética a priori, e que devido a isso a sociedade pode evoluir.
1 - Sobre a origem da propriedade privada e da família
O homem comportamentalmente igual a nós surgiu a cerca de 50 mil anos. Para isso ele teve que matar seus outros companheiros humanos, como os neandertais, e também vencer várias intempéries devido à geografia. Chegamos a ser apenas 5 mil indivíduos na costa da África nesta época. Naquela época, por mais que pessoas como Rousseau digam o contrário, a vida era baseada na luta física pela sobrevivência. 30% das mortes eram causadas por guerras. Estes dados às vezes se confundem com benesses que o caçador-coletor tinha em sua vida regada à proteínas e exercícios físicos, mas o panorama é mais amplo que o "bom selvagem" dos escritores de esquerda. Como não havia acúmulo de materiais para troca, os homo sapiens consumiam tudo que a natureza lhes dava, sem repor. Em geral era necessário 1,6 km para que duas pessoas pudessem viver da natureza. A população crescia e guerras começavam, ou seja, vivemos num processo malthusiano por muito tempo. Outra forma de fugir dos problemas de crescimento populacional, além da guerra, era a migração. Tendo em vista que não existia ajuda entre os indivíduos, esta era a opção mais pacífica. Muitos grupos saíram da África para povoar o resto do planeta. Temos informação genética de que isso ocorreu, em especial para a Europa, a 43 mil anos. Essa mudança de local induziu modificações no genoma dos indivíduos que escolheram, o que lhes ajudou no avanço cognitivo. Podemos fazer uma associação dessa evolução cognitiva com o início da comunicação complexa, pois percebe-se que quanto maior o agrupamento genético, menos linguagens diferentes esses grupos têm. Um exemplo importante é o da Indonésia, que mesmo hoje contempla 1200 das 6000 línguas existentes na Terra, este é um lugar bem arcaico e algumas dessas línguas não são faladas por mais de 500 pessoas, que é o número mínimo para que não exista confluência sanguínea entre os indivíduos. Sem condição para a guerra, alguns grupos tentaram se unir, e essa divisão do trabalho rendeu bons frutos. Ao se unirem podiam fazer trabalhos que individualmente, ou com grupos menores, não eram possíveis. Além disso, diferentes indivíduos têm diferentes habilidades. Conseguindo recrutar toda forma de indivíduos, o trabalho era maximizado (mulheres sempre colheram melhor que homens, então maximizava a caça e a coleta naturalmente). Somente esses pontos não foi suficiente para o homo sapiens subir de patamar evolutivo e chegar à revolução agrícola. O estopim foi a chamada “Lei dos Rendimentos”. Ela diz que existe uma combinação ideal entra produção, trabalho e terra. Se houver aumento de algum desses três pontos, os outros dois devem se corrigir para buscar uma proporção ótima. Aí está a armadilha malthusiana que sempre acabava por tolher as civilizações que cresciam em população, mas mantinham a mesma quantidade de terra e não evoluíam nas ferramentas de trabalho. Por sinal, neste caso não é qualquer tecnologia de trabalho que faria um grande avanço social: melhores formas de caçar talvez melhorassem a vida a curto prazo, mas com o parasitismo constante, os grandes grupos de animais morreriam a longo prazo. Seria catastrófico. A solução então foi o grande avanço cognitivo que permitiu o ser humano deixar de ser parasitário e ter uma vida produtiva. A chamada Revolução Neolítica, que foi a mudança de caça e coleta para a produção de alimentos causou várias mudanças na estrutura social do homo sapiens. Aqui, acredita-se que esse avanço está associado com a ideia de propriedade privada. Os caçadores-coletores tinham seu conceito bem efêmero de propriedade privada e nele não incluía a terra de onde tiravam seus sustentos, pois, de acordo com Mises, enquanto você não controla a forma de como um determinado meio te serve o fim, você não é dono dele. Da mesma forma como hoje não somos donos da força gravitacional, por mais que ela nos sirva para determinados meios associados às nossas propriedades privadas, na época os caçadores-coletores não eram donos da terra, das plantas que lhes davam frutos e dos animais que lhe forneciam proteína. Em relação às plantas, o homo sapiens cultivou, em seus determinados biomas, aquelas que lhe eram possíveis crescer, provavelmente num processo de tentativa e erro. A domesticação de animais foi semelhante. Tendo em vista que cachorros já eram domesticados antes da Revolução Neolítica (cerca de 15 mil anos antes), um processo semelhante foi feito com cavalos. Esta domesticação era importante, pois além de carne, obtinham-se formas mais rápidas de locomoção e tração para a agricultura. Após todo esse processo, percebeu-se a necessidade de organização entre os indivíduos de grupos próximos, pois por mais que agora houvesse a tecnologia e a terra, a superpopulação ainda causava problemas relacionadas à Lei dos Rendimentos. O "amor livre" pregado por Engels e hoje defendido como futuro da nossa civilização, não foi capaz de resolver os problemas malthusianos da época. A solução para isso foi a "privatização" das crianças. Agora não era mais a comunidade que cuidava de todas as crianças como se fossem de todos (ou de ninguém) mas sim pequenos grupos chamados famílias faziam esse serviço com mais atenção. Estes grupos mais estruturados conseguiram vencer as eventuais invasões de caçadores-coletores que ainda resistiam a essa mudança cognitiva. Assim, a população mundial que a 50 mil anos era de 50 mil pessoas, no fim da Era Agrícola já era mais de 720 milhões.
2 - Da Armadilha Malthusiana à revolução Industrial: Reflexos sobre a Evolução Social
O autor usa Robson Crusoé e sua luta pela sobrevivência para fazer algumas alusões à necessidade de inteligência para conseguir moldar a natureza a seu favor. Ele controlar o custo-benefício de um determinado empreendimento (por exemplo construir uma rede) é importante para que ele consiga se manter vivo. Tendo em vista necessidades a curto prazo (como entretenimento e fome), construir uma rede poderia demandar mais do que ele conseguia lidar a curto prazo para um investimento a longo prazo (conseguir capturar mais peixes). Também conseguir lidar da forma mais produtiva possível com Sexta-feira, um habitante nativo e menos inteligente que ele. Tendo em vista essas ideias e o conjunto do trabalho dos dois, a produção de riquezas na ilha pode ser maior do que os dois não pensarem e não se unirem. Aqui voltamos a necessidade de se entender a Lei dos Rendimentos e a Lei Populacional Malthusiana já discutidas. Tendo em vista que só conseguíamos sair da armadilha malthusiana em 1800 e justamente nesse período a renda per capita (conceito que está totalmente associado a Lei dos Rendimentos) teve um crescimento exponencial, supunha-se que algo aconteceu para essas mudanças drásticas na humanidade. Alguns estudiosos relevantes como Mises e Rothbard argumentam que isso ocorreu, pois a partir de 1800 a propriedade privada teve mais defesa que nos períodos anteriores. Esta não é uma boa explicação, pois desde 1200 na Inglaterra a propriedade privada era regida com leis parecidas. É bom frisar que hoje em dia, tanto na Inglaterra quanto em outros países importantes da Revolução Industrial, a propriedade privada tem menos defesas que em 1800 e mesmo assim a economia continua mantendo padrões de crescimento. O autor então propõe uma explicação baseada principalmente no avanço cognitivo dos seres humanos. Durante milhares de anos os humanos se adaptaram à situações que necessitavam de grandes melhoras cognitivas para serem superadas. Ao sair da África tropical, onde o clima, vegetação e animais eram sempre os mesmos, para regiões onde o clima era extremamente diferente, porém com uma geografia mais propensa à agricultura, os seres humanos tiveram tempo e meios suficientes para promover sua mudança cognitiva com o decorrer de milhares de anos. É importante frisar que no Equador, local onde a maioria dos primeiros homines sapiens vivia, a terra não tinha sais minerais suficientes para criar uma biomassa relevante à agricultura. Quem saiu destas regiões e foi mais ao norte, teve que passar por intempéries, porém chegaram em regiões perfeitas para a agricultura. O tempo e as necessidades de promoção de cognição deram conta de fazer esses seres humanos terem inteligência suficiente de obter a Revolução Neolítica pois, quem mais conseguisse se adaptar (ou seja, dispôs-se de mais inteligência) conseguiria se reproduzir mais, e assim a Seleção Natural deu conta de promover os mais inteligentes à sobrevivência. Por mais que o politicamente correto diga o contrário, temos evidências de que quanto mais ao norte do Equador, mais inteligente são as pessoas, isso sendo fruto de milhares de anos de evolução cognitiva devido à seleção natural. Este processo foi continuado, e juntamente com a necessidade (observada devido a muita evolução cognitiva) de controle da natalidade, conseguiu-se superar a armadilha malthusiana na chamada Revolução Industrial. Quanto mais ao norte, mais inteligentes, porém isso não explica a priori porque a Revolução Agrícola surgiu nos trópicos. O autor explica essa suposta incoerência dizendo que, por mais que as pessoas mais ao norte dos trópicos fossem mais inteligentes, essas regiões com climas péssimos para agricultura, não teriam como promover as facilidades que as pessoas dos trópicos tiveram para observar o funcionamento da natureza mediante à agricultura. Porém, esta não era mais uma obrigação depois de criada a agricultura: sendo copiar mais fácil que criar, estes povos então imitaram seus vizinhos mais ao sul. Como sua inteligência era maior que seus vizinhos, então, em 1800 depois de muito acúmulo de cognição, surgiu a Revolução Industrial. Porém, chegamos a um impasse. Diferentemente da época anterior à Revolução Industrial, onde o Estado não tinha o poder de fazer mal à humanidade mais que uma doença ou uma guerra, hoje ele tem poder, a partir de suas políticas populistas e controle do mercado, de fazer mal à economia a curto prazo, com ação direta na economia, e a longo prazo, com políticas que visam atender princípios democráticos mas que fazem mal para a evolução cognitiva da humanidade, como ações de afirmação ou condições de estado de bem estar social, onde os menos instruídos se reproduzem mais e os mais instruídos menos, indo totalmente contra o princípio que criou a economia como entendemos hoje.
3 - Da Aristocracia à Monarquia e à Democracia
De acordo com o autor, a democracia é um sistema político fruto de muitas escolhas erradas no decorrer da história. Ele argumenta que os homens, devido à escassez do que querem, não conseguem viver em completa harmonia, então, aconteceu de um grupo tomar para si o poder sobre as escolhas destes outros grupos de interesses, dizendo quais estavam certas ou erradas e ainda cobrando deles para ter poder a fazer essas mediações. Nem sempre foi assim, na baixa Idade Média quem comandava era a aristocracia, um grupo de pessoas brilhantes por inteligência, bravura, criatividade, etc, que detinha o poder e o aval para legislar. Depois vieram os reis que foram se aprofundando no viés populista até que chegamos ao Estado da democracia que temos hoje. Podemos analisar o efeito negativo do Estado ao compreender de quem é um bem privado. Este não é, necessariamente, de quem o tem no momento, podendo ter sido alugado ou tomado a roubo. Porém, o Estado tem o poder de arguir sobre esse conceito tão bem desenvolvido e dizer que na verdade o dono é quem o próprio Estado quiser. Se fosse uma aristocracia a tomar essas decisões, ela não teria toda a estrutura de poder do Estado, o que a faria ser mais efetiva, com a liberdade do povo de forçar a entrada de novos juízes caso os primeiros não tomassem decisões sábias. Vemos esse tipo de comportamento ainda existir em grupos menores de pessoas. Mesmo posteriormente à aristocracia, os reis normalmente usavam da "boa e velha lei" para resolver os problemas, sem inventar ou a partir dessas novas leis criadas, organizar uma estrutura de poder para o Estado. Com o tempo e sabedoria de um bom rei, essas estruturas funcionais de legislar poderiam ter evoluído bem no decorrer da história, mas não foi o que aconteceu. A democracia veio e com ela algumas falhas estruturais. Agora, levando em conta que no processo democrático os que tomam o poder ficam pouco tempo, estes gastam o dinheiro diferente do que gastariam os aristocratas por exemplo, pois esses últimos, levando em conta que manteriam a riqueza e o governo para seus descentes, tomariam mais cuidados antes de fazer qualquer movimento econômico e político. Neste processo, o Rei-Estado obteve poder para enriquecer muito mais que qualquer monarca teve em sua época. Alguns podem arguir que com a democracia veio a igualdade, isto foge das evidências, pois justamente com a democratização do processo político, criou-se mais castas de poder, pessoas que recebem benesses do Estado diferente do cidadão comum (foro privilegiado e vantagens financeiras são um exemplo). Em geral os aristocratas eram pessoas que chegaram em suas posições por méritos próprios, diferente dos políticos no Estado democrático, que são mais votados justamente por mentir prometendo coisas impossíveis ou por fazer conluios com empresas que não respeitam leis de responsabilidade fiscal, fazendo doações e caixa 2 para campanhas eleitorais. A estrutura política de toda a nação muda na democracia, enquanto na monarquia apenas poucos viviam do trabalho ao governo, na democracia esse número de dependentes aumenta de forma absurda ao passar dos anos. Devemos levar em conta também que no processo "um homem, um voto" aqueles pouco instruídos que recebem benesses de projetos de redistribuição de renda (programas que normalmente dão menos dinheiro ao beneficiário do que aquilo que o próprio pagou com impostos) tem o mesmo peso político de pessoas instruídas que carregam economicamente a nação. Então, para sustentar todo esse processo, temos os plutocratas, pessoas extremamente ricas que praticam rent-seeking, controlando o governo com sua influência financeira, para que o mesmo promova regras que os ajude no mercado, fugindo da concorrência legal com seus iguais. Usando o populismo e discursos de ódio, esse mesmo Estado consegue controlar seus "servos" a lutar suas guerras, normalmente com o intuito de aumentar o alcance de seu poder e cobrar mais impostos de indivíduos que, a priori, fugiram desse roubo em forma de taxa. Com a construção de um Estado-império, controla-se a produção de dinheiro, então as outras nações ficaram a mercê desta que tem em seu dinheiro o valor subjetivo de quanto realmente o dinheiro dos outros países vale, assim, controlando as taxas de juros e inflação, acaba por fazer os outros países estarem a mercê de suas próprias políticas, comandando, a grosso modo, todo o mundo. Enquanto o governo imbui sobre questões que não lhe dizem respeito, como as palavras que devemos usar para tratar de gays ou quais cantores devemos promover com leis de incentivo, este deixa de se preocupar com o que realmente importa e deveria ser sua única arguição, a segurança. Cada vez nos tornamos mais dependentes do Estado, e assim ele fica mais poderoso. Há sinais de que este império está ruindo, e vários movimentos descentralizadores estão tomando conta das grandes nações, da mesma forma que ocorreu com a URSS. O autor propõe então que a solução para estes encalços seria o surgimento de Estados territorialmente menores (como exemplos temos Mônaco, Hong Kong entre outros). Em lugares tão pequenos, com tanto controle de sua população, não haveria como surgir plutocratas ou políticos corruptos. Em unidades políticas pequenas como essas é mais fácil de que as pessoas realmente competentes (e não as mais populares) sejam as escolhidas para governar.
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