Uma Filosofia Política: Argumentos para o Conservadorismo - Roger Scruton
Canal Resumo de Livros
2 de nov. de 2018
21 min de leitura
Uma Filosofia Política: Argumentos para o Conservadorismo - Roger Scruton - Resumo
Introdução: O autor faz uma analogia da politica interna de um país com a termodinâmica. A segunda lei da termodinâmica diz que a entropia de um sistema sempre tende a aumentar. Ou seja, o grau de aleatoriedade aumentará. De tal forma que o autor argumenta que o estado-nação serve como um dispositivo que mande a entropia de um local imutado quando usado da forma certa. Diferentemente do que foi proposto nos últimos anos na Inglaterra, onde um lado jogou fora toda a sua tradição e o outro demonizou o estado.
Capítulo 1 - Conservando as Nações
Uma nação é definida pelas suas limitações geografias, mas no âmbito humano, que é o mais importante e definido, é devido a sua história, seu idioma, religião e leis. Instituições transnacionais como a ONU e a UE tem como objetivo implícito a destruição dessas barreiras importantes. Reduzindo a relação entre pessoas do mesmo país como aquelas que existem entre torcedores do mesmo time.
Devemos distinguir o patriotismo de nacionalismo. Este último é a utilização do povo como ferramenta de guerra. Usam-se esses elementos históricos importantes para a ação politica sem respeitar o individuo.
Cidadania: é a relação que surge entre o estado e o individuo quando é plenamente responsável perante o outro. São os direitos e deveres. No estado democrático de direito tanto o individuo tem poder sobre o estado como o estado tem sobre o individuo. Isso é cidadania. Percebemos que existe a migração de pessoas de estados que não seguem essa linha de ação. Saem da situação de súditos para se tornar cidadãos.
Para os marxistas essas relações só existem devido ao materialismo da nação. Que estas leis são controladas pelos burgueses. Novamente errados, percebemos que leis como essa funcionam justamente por causa de uma sociedade de mercado livre. Numa sociedade tribal, sem contrato social (grupo que se reúne para empreender sobre o futuro), as relações mercadológicas não funcionam pois dependem de conhecimento do grupo com o qual você está se relacionando, impedindo transações maiores e benéficas a mais pessoas.
Pertencimento e Nacionalidade: Alguns países até hoje fazem sua politica de acordo com relações tribais e religiosas. Os intelectuais desses países são os primeiros que saem, seguido de pessoas que percebem sua situação de súditos. Buscam países onde as relações democráticas baseadas em leis são mais fortes. A lei nesses países foi baseada em religião por algum tempo, sem dúvida, porém a lei se tornou soberana
Nações e Nacionalismo: Em geral países planejados não dão certo, um exemplo são as tentativas de democracias em países que foram ditaduras por muito tempo. Essa “mão invisível” que gera nações fortes depende de um quadro institucional e é secretamente guiado por ele. Em cima de um conjunto de leis, outros elementos importantes podem surgir para unir um povo, como no caso da Inglaterra foi a Igreja Anglicana. As pessoas então deixam de ser vários “eu’'s” e se tornam “nós”. Dentro disso surgem os críticos citando que comportamentos não transnacionais como esses acabaram por gerar as guerras mundiais. Novamente um erro, foi justamente esse comportamento que salvou as nações dos agressores. Lealdade nacional é diferente de nacionalismo
As nações que compõem a Grã-Bretanha: Para o autor “Ser britânico significa participar dessa identidade nacional. É uma identidade que tolera a diferença e permite que outras lealdades vivam dentro ou em torno dela. E esse é apenas um exemplo de uma grande virtude da ideia de nacionalidade que faz com que ela se adapte aos tempos problemáticos em que vivemos.”
As virtudes da nacionalidade: diferentemente de uma nação, onde seu povo pode cobrar os seus “vigilantes”, isso não ocorre com organizações transnacionais como a ONU e a UE. Não existe uma lealdade deles para com um determinado grupo de cidadãos e nem o contrário. Nenhum caso de escândalo foi seriamente penalizado até hoje em relação a essas organizações.
Universalismo Panglossiano: Kant escreveu em “A Paz Perpétua” que uma estrutura transnacional resolveria o problema das guerras. Isso não só está errado como reescrito historicamente por instituições como a ONU. Quando Kant disse isso, estava propondo uma organização que lidasse com as guerras externamente a muitos estados independentes. O mesmo Kant cita que “progressivamente as leis perdem impacto a medida que o governo amplia seu alcance, e ao fim e ao cabo um despotismo cruel, após destruir os germes da bondade, se transformará na anarquia”. Percebemos esse despotismo surgindo como a consequência de uma lei separada da experiência de pertencimento. No Brasil isso é evidente ao notarmos que os cidadãos não se identificam com várias leis que defendem "minorias’'.
Oikofobia: a palavra é criação do autor e significa o contrário da xenofobia, ou seja, um ódio pelas tradições e legados locais. Em geral isso ocorre na mente de adolescentes e de intelectuais que ainda “não cresceram”. Esta ocorreu em vários lugares, como nos EUA pós 11/07. O oikófobo se considera um defensor do universalismo iluminado contra o chauvinismo local. Acaba com a legitimidade de um governo aos poucos. Vemos a consequência de estados que se entregaram a isso como a Holanda e a França.
Ameaças à Nação: Ocorre com frequência que as pessoas que defendem a primeira pessoa do plural da nacionalidade sejam rotulados de fascistas, racistas, xenófobos etc. Em contradição a isso, percebemos que o país mais patriótico que existe, os EUA, é também onde as liberdades individuais mais são respeitados. Em países que deixam o germe da oikofobia reinar, os imigrantes que não se preocupam em contribuir com o país que estão chegando, mas sim tomar parte do estado de bem-estar social e exigir direitos sem nenhum dever tomam conta.
Diferente de uma organização transnacional, um parlamento nacional tem de prestar constas as pessoas que o elegeram e deve servir aos interesses delas. Precisa respeitar reivindicações concorrentes que são anteriores a ele. Toda essa estrutura moral e filosófica que existe por trás de um parlamento de uma nação forte não está nos gabinetes da ONU e UE. Por isso, suas decisões pouco “humanizadas” se mostram muito perigosas (detalhadamente demostrado no capítulo seu efeito no ramo alimentício).
Superando as ameaças: o autor não acredita piamente que essas investidas transnacionais terão pleno sucesso. Vários países procuram a UE justamente para fortalecer sua nação.
Capítulo 2 - Preservando a Natureza
O movimento ambientalista recentemente convoca apenas pessoas de esquerda. Historicamente foram os conservadores que apostavam nessa pauta e isso vem desde a época da Revolução Industrial, pois os ingleses levavam muito em conta o ambiente em que viviam. Os conservadores e o meio ambiente tem uma afinidade simbiótica, vide o nome do movimento politico em pauta. Este é baseado em boa parte nos textos de Burke, que definia sociedade sendo a organização dos “que foram, dos que estão, e dos que virão” levando em conta não só as pessoas que estão vivas no presente momento, mas os que morreram e os nascituros. Essa filosofia vai totalmente contra um grande economista de esquerda chamado Keynes, que hoje é a pedra angular por trás de todas as desastrosas ações de controle da economia e impressão do dinheiro que disse no fim das contas estaremos todos mortos".
A esquerda ao atacar o problema, tende a pôr a culpa nas grandes empresas. Sendo que na maioria das vezes são os lobbies de estados grandes que dão o aval para catástrofes ambientais. Na Revolução Francesa, em especial, foi onde os empreendimentos passados de pais para filho perderam o apoio popular, que agora só prestava contas a igualdade lutava nessa revolução. Heranças iam contra a ideia de igualdade. Mas não se preocupar com a obra dos mortos e com os que estão por vir, ampliam tanto o leque de ação das pessoas que elas acabam se perdendo no tempo, não dando a real importância para os problemas do futuro, como os ambientais por exemplo.
Os conceitos por trás da ideia de herança de Burke não são bem-aceitos pela sociedade atual, então deve-se focar no amor pela pátria ao tentar resolver problemas ambientais. As iniciativas envolvendo garrafas PET na Alemanha, polietileno nos EUA entre outras mostram que o amor pela sua comunidade e pelo seu país tem maior impacto na ação coletiva pelo meio ambiente.
O modus operandi de ONGs não agradam os conservadores pois: os ativistas são tão irresponsáveis e não representativos quanto aqueles com quem lutam contra e em segundo lugar, eles recrutam seguidores utilizando o ódio como recurso. Sua ação, da mesma forma que organizações transnacionais, não se preocupa com as consequências. Como no caso da Shell, que sua ação causou mais danos que benesses para o meio ambiente, e tirando um pedido de desculpas, não fizeram nada para resolver a má fama que a empresa ficou.
Capítulo 3 - Alimentando-nos de Nossos Amigos
O consumo de carne sempre esteve associado a cultos religiosos. Hoje os esquerdistas tomaram a pauta para si, e pessoas como Peter Singer são muito utilitaristas e intransigentes, dizendo que é indefensável qualquer uso dos animais para coisas humanas.
Para o autor, a vida moral está definida em três pilares: valor, virtude e dever. Fazendo uma análise desses três pontos no ato de consumir carne ele percebe que para os utilitaristas, o peso está todo no valor. Os que pensam na virtude se preocupam mais com o caráter jurídico. O autor presa por uma análise do tema tendo em vista a piedade.
Os animais não se identificam como "eu", "você" ou "ele". Eles não tem noção de passado ou futuro. Não tem experiências humanas como as estéticas religiosas e morais. Eles não tem consciência nem capacidade de se constranger, dessa forma fica muito mais fácil se relacionar com um cachorro do que com um ser humano. Ai está o primeiro erro dos defensores utilitaristas: achar que todos os animais respondem a estímulos humanos como os domésticos. Estes também criaram o conceito de especismo que é a ação não moral com animais. Mas tendo em vista que animais não tem consciência e por consequência, eles também não tem moral.
Ao se defender os supostos direitos dos animais por eles não terem total consciência de si, usa-se a imagem de pessoas que também não o tem. Mas, diferentemente dos animais, temos uma distinção metafísica a imagem humana que nos causa ligações a longo prazo que, em nenhuma sociedade, se mostrou ético atentar contra. Um exemplo é o canibalismo, nenhuma sociedade manteve esse aspecto.
Comer para os humanos sempre teve um aspecto de ritual: sentasse a mesa com amigos para conservar, praticar bons costumes, além de se nutrir. Foi tema de muitas religiões sobre o que não se devia comer e rituais. Comer da forma certa é um dos elementos que nos humaniza, diferente dos animais temos requintes propriamente humanos. Ao perder esse elemento humano utilizando por exemplo fast-foods, o tipo de carne que mais impiedosamente é tirada dos animais, nos animalizamos também: comemos a carne de vários animais ao mesmo tempo sem a consciência disso, não usamos talheres, comemos rápido e sem a companhia de pessoas queridas a mesa.
Então, surge a pergunta: comer carne é errado? O ônus dessa prova está no carnívoro, que deve provar que existe uma forma moral de comer a carne dos animais levando em conta nossas obrigações para com eles. Aqui o autor cita que os animais por serem seres amorais, não tem direitos, são os nossos deveres que devem levar em conta ações piedosas perante os animais.
Para o autor, tendo em vista que esses animais não tem futuro, passado ou história, para eles viver 30 meses ou 90 meses, não faria diferença como faz para um humano, que tem noção que a vida o pertence, tem projetos entre outras coisas que nos tende a manter vivos, que nos faz lamentar mais a morte de um jovem do que de um idoso. Criamos um animal para abatê-lo, mas se nesse período o tratamos com respeito e ao comê-lo, ter a consciência de todo o processo e implicação moral do mesmo, não existe problema.
As relações entre animais e humanos sempre foram duras e complexas e isso data desde antes da bíblia. Desde então também somos os guardiões. Assim, a carne sempre teve aspecto central na vida humana e na relações doméstica e interpessoal. Sempre foi usada em momentos de celebração. Se todo esse aspecto histórico e o prazer da carne for reduzido ao prazer de comer um chocolate, alguns aspectos sem dúvida devem ser revistos.
Portanto, devemos defender nossos hábitos carnívoros tendo em vista que nos alimentamos de uma vida, não uma vida miserável. Quem come carne é justamente quem deveria defender esses aspectos profundos da alimentação e não se entregar ao sentimento de culpa do vegetarianismo. Voltar a velhos hábitos e sacrifícios que fast-food não pode englobar.
Capítulo 4 - Morrendo Tranquilamente
Imaginando dois casos de suicídio assistido: um rapaz pede ao amigo que termine com seu sofrimento e uma mulher termina com o sofrimento do marido sem a aprovação dele mostra claramente que esse tema tem vertentes bem espinhosas a serem tratadas.
A lei é o ponto a ser analisado aqui. É nela que está escrito que suicídio assistido é crime e é ela que deve mudar caso isso se mostre moralmente certo. Lei, para Mill tem a função da garantia da liberdade do indivíduo, incluindo a liberdade de discordar da maioria. Para o autor, pode existir na vida de uma pessoa onde continuar a viver é um peso e ela acha melhor não seguir adiante. Para compreender a ação da lei sobre a eutanásia devemos ter em mente o custo-benefício e as consequências a longo prazo.
Para o custo benefício, devemos entender a morte em três vertentes: religiosa, científica e filosófica. Na religiosa, parar a vida é papel de deus, ir contra isso é ir contra o sagrado. Na ciência, o corpo para de funcionar e não tem mais nada a acrescer a vida. Na filosofia, a morte é o que engloba a vida e dá sentido a nossas ações como vivos. Podemos vincular algumas dessa forma de se enxergar a morte, como a científica e a religiosa, na hora de minimizar a dor. A filosofia tem uma missão maior que é a descobrir um sentido para a morte. Um filosofo pode distinguir como a morte é vista em sociedades diferentes. A segunda, é que a visão cientifica da morte não nos torna impotentes diante dela. E a terceira é que há uma distinção entre a visão da morte em primeira e em terceira pessoa, este em especifico dando muito valor em como as outras pessoas irão lidar com a sua morte, totalmente enviesada na lei que gere o suicido assistido.
O autor conclui que ter o poder de resumir a vida de alguém pode ser perigoso pois pode criar um dispositivo e “limite de vida” onde os parentes que não mais se preocupam com seus idosos, irão matá-los com o aval da lei, como ocorre com fetos. Scruton consegue fazer um comparativo entre aborto e suicídio assistido, pois com o aborto a lei foi se afrouxando e aumentando o tempo de ação deste dispositivo legal. O mesmo ocorreria com os idosos que não mais podem responder por suas próprias ações.
Capítulo 5 - O Sentido do Matrimônio
Existem dois pontos de vistas para se entender um comportamento ou uma civilização: o de dentro e o de fora. Ao estudar uma civilização antiga por exemplo, um antropólogo pode fazer uma análise mais prática de questões que para os que nela viviam, tinham aspectos mais complexos. E vice e versa. Essa é uma discussão importante sobre o casamento pois ele também tem esses dois pontos de vista. Para várias sociedades, a união de dois seres humanos de sexos distintos serve para várias finalidades. Uma delas é a criação de filhos. Nota-se então que alterar a forma como o casamento é visto pode alterar o futuro. Os ritos que os envolvem sempre se associaram a religiões e a noção do eterno, mudar isso pode não ser apenas uma secularização natural, mas ter fortes consequências.
União Civil: O casamento ocidental como o conhecemos já existia no império romano, ainda sem o aval da igreja. Depois esta veio a dar um caráter sacro. Eventualmente o casamento começou a perder essa característica, com Henrique VIII, que queria uma separação mas a igreja não permitia. Ele mesmo tomou conta do papado e ainda assim não conseguiu sua separação, apenas uma anulação, que hoje chamamos de divórcio. Hoje o casamento é um processo legal que está cada vez mais se moldando a uma sociedade que não presa pela cultivação de algo “até que a morte separe”.
Contratos e votos: agora, os contratos pré-nupciais tiraram qualquer afeto metafísico pelo eterno que o casamento poderia ter. Esses contratos tão a algo que era para sempre um caráter temporário seguro, sem as responsabilidades legais que deveriam implicar. Consequência disso é a poligamia, que praticamente aboliu o laço conjugal. Em alguns lugares, como na Inglaterra, é quase politicamente incorreto se referir a alguém como esposo ou esposa.
O voto do amor: Os antropólogos citam que essa união de amor foi uma característica que nos ajudou a evoluir como sociedade. Essa é a perspectiva de fora do casamento. Dentro temos muitas questões mais complexas como as sexuais, ciúmes etc. Muito da literatura da humanidade se baseia nessas questões. Em geral, as sociedades viam o amor entre um homem e uma mulher como algo sagrado e eterno, e este desejos sexual que os permeia estava ligado a intencionalidade de sentimentos entre as duas pessoas. O verdadeiro desejo exige reciprocidade, mutualidade e uma rendição de ambas as partes. Afetos próximos a esse como as perversões (necrofilia, ponografia etc) acabam se tornando prática de uma sociedade que não respeita a intencionalidade do desejo e a instituição do casamento.
Sexo pós-moderno: Para o Estado, que por vezes tenta imprimir sua ideologia sexual nas crianças, este é, numa leitura freudiana, vinculado ao desejo e apenas a isso. Mostra o sexo como uma fonte de prazer gratuito e tem como desculpa para tudo isso salvaguardar as crianças de atitudes pouco saudáveis. Toda a dimensão moral do sexo foi perdido. Hoje a pornografia é a maior demonstração artística sexual, diferente dos beijos de demorada permissão antigamente.
Estado e família: com a ação do estado sobre a família, existe uma desculpa sócia para ser mãe solteira. Mas as estatísticas mostram claramente que filhos que não são criados por uma família completa tendem a ter mais problemas internos e perante a sociedade.
A função da ideologia: Buscando uma interpretação antropológica para o casamento tradicional, um antropólogo marxista poderia dizer que este apenas tem uma função social e burguesa. Talvez por isso a família tradicional sofre tanto ataque de marxistas. Não mostra dimensão interna e de intencionalidade do casal. Para o autor o estado não tem como suprir a ação da família sobre a sociedade. Também a ideologia por trás do casamento vista pelos esquerdistas é incompleta e depende de um contraste entre o meramente funcional e o científico. Exemplificando, nossas crenças a respeito do vínculo entre o amor erótico e a mudança existencial que ele nos inflige são objetivas, baseiam-se numa verdadeira apreensão do que está em jogo em nossas aventuras sexuais e são aquilo que precisamos para nossa plenitude.
Casamento Gay: A instituição do casamento foi criada em cima da diferença misteriosa que existe entre homens e mulheres, e todos os rituais que afirmam para sociedade que uma pessoa casou, a tem como um ritual de passagem para um tipo de vida diferente do que a pessoa já teve. Estes aspectos heterodoxos do casamento tradicional não se encontram no gay.
Capítulo 6 - Apagando a Luz
Pensadores de esquerda tomaram as universidades da França. Uma conquista que demorou anos, mas algumas pessoas não caíram nesses encantos progressistas. O autor cita que o que lhe ajudou se manter fixo em sua filosofia foi o profundo conhecimento no estruturalismo de Wittgenstein.
A cultura literária recente na França foi construída em torno de um dos projetos da modernidade: a revolta contra a burguesia. Levando em conta que as narrativas socialistas falharam, agora esses intelectuais de esquerda pensam na forma de metanarrativas. Essencialmente uma cultura de repúdio ao que já foi legitimado.
Neste curriculum a verborragia corre solta, com textos difíceis de entender mas que no seu âmago trazem a ideia de utopia, buscando oposição ao vigente e funcional. O pós-moderno não apresenta argumentos a favor de sua posição política mas a tomam como pressuposto e ao mesmo tempo escondem muito bem esse pressuposto numa carapaça de nonsense. Ou seja, não se preocupam com o ônus da prova ao pregá-lo.
Percebemos que essas ideias mais sem sentido são as mais usados pelas pessoas da academia. Quanto menos irrefutável melhor. Se não precisar de um arcabouço histórico e social, fica mais fácil de defendê-la, pela sua simplicidade. Nietzsche defendia que não ha verdade, apenas interpretações. Essa ideia mesmo que circular é usada para defender discursos fracos. Em premissas estéricas como gênero e sexualidade, temos alguns dos maiores absurdos, como Lue Irigaray que pronunciou que E=mc² é uma equação machista.
Alguns como Richard Rorty, prezam pelo pragmatismo, citando que duas opiniões concorrentes são sempre uma relação de poder (um pouco de Foucault). Ou seja, se alguém acredita que a mulher trans cis hétero deve ser emponderada, isso é tão verdade quanto acreditar que 2+2=4.
Esse perspectivismo atrai os estudantes pois ele corresponde a desorientação profunda deles, já que entram na universidade com todas as suas certezas desordenadas, vendo por todos os ângulos os valores ensinados pelos pais sendo atacados. O relativismo se torna mi confortável, cada crença flui livremente sem fundamentos.
Cultura não são apenas um conjunto de crenças a ser aceitas: elas tem que ter método e comprovação. Mas é mais fácil para o professor falar “a linguagem dos jovens” do que introduzi-los num mundo preestabelecidos. Assim surge o iluminismo, que quer tirar o valor de toda essa riqueza histórica. O iluminismo também defende o pragmatismo no que se refere ao que é útil, o cientificismo é baseado nisso. Mas ser útil não significa ser certo: era útil ser racista na Alemanha de Hitler, por exemplo.
Em vez da objetividade, temos apenas a intersubjetividade, o consenso. Verdades são negociáveis. Mas claro, apenas quando agrada as minorias feministas, gays atividades etc. Esse relativismo que vem desde Foucault virou uma nova teologia.
Capítulo 7 - Religião e Iluminismo
Iluminismo, nas palavras de Kant, é a “libertação do homem de sua minoria autoimposta, é a maioria apropriar-se finalmente do direito da Razão”. Essa ideologia tem como fundamento tirar as trevas da vida das pessoas. Os iluministas não veem sentido em religião, tirando o “Deus dos filósofos” uma espécie de "energia" que move a realidade. Com o tempo obras defendendo um ponto de vista totalmente contrário: que a única coisa que existe é a superstição, vem ganhando força como contra corrente ao iluminismo
O Iluminismo visto pela Religião: Religião consiste na crença em um Deus que está acima de tudo, nas doutrinas que a ornamental e nas prátias que resultam dela. Essa visão é meio falha porque a fé nunca será a conclusão de argumento intelectual.
A Genealogia da fé: Nietzsche, num momento antropólogo se pergunta de onde surge a crença e se ela não é o resultado de uma especulação intelectual. Sabe-se que a crença religiosa surge na comunidade. Para entender seu completo afeto na vida humana é necessário entender o movo como a vida com a religião diferente da vida sem ela. Isso vai contra o argumento utilitarista dado por alguns iluministas dizendo que suas crenças (único elemento relevante) já foram refutados pela ciência
Religião como Fato Social: Para o autor piedade e oração são enraizadas nos costumes humanos antes da religião. De tal forma que reduzi-la apenas as crenças pode ser um erro, seus rituais podem ter um aspecto mais fundamental. A história dos deuses são sim complexas alegorias ao comportamento profundamente humano.
Wagner - Religião como mito: Para ele um mito não era um conto de fadas decorativo, mas a elaboração de um segredo, um modo de esconder e revelas mistérios que só podem ser compreendido em termos religiosos, por meio da ideia de santidade, sacralidade, redenção. Para ele as ideias religiosas são pertinentes a todos ,mas as pessoas só as entende, pelo véu da religião e elas ganham vida nos exemplos de amor e renuncia. Ou seja, a arte tem um aspecto mais secular de aprender essa dimensão religiosa.
Nietzsche - Religião como culto: para ele no culto as pessoas tomam características de deus, essas características criam uma comunidade
Darwin - Religião como auxílio para sobrevivência: de um ponto de vista sociobiológico, o meme da religião pode ter ajudado aos seres humanos se agruparem e se defendem. Mas buscar nesse contexto antropológico a resposta da importância total da religião é um erro crasso. Levemos em conta o exemplo da matemática. Ela, como a religião, também teve seus argumentos sociobiológicos, ou seja, tivemos uma vantagem evolucionária de desenvolvê-la. Mas entender esse mecanismo não nos ajuda a compreender absolutamente nada no pensamento matemático. O mesmo ocorre na religião. A verdade profunda e oculta da religião não está nessa forma de pesquisa e sim na estrutura emocional, intelectual, simbólica etc. A verdade da religião surge em seus crentes “por meio” das crenças e não "em" suas crenças.
Girard - Religião como violência sublimada: ideia associada ao sacrifício de humanos, que na cultura judaico-cristão acabou se tornando sacrifício de animais. Indo até Freud com parricídio.
Fazendo um balanço: percebe-se uma atitude problemática em quem foge totalmente dos religiosos, como o Ubermenschen de Nietzsche propõe ele próprio buscando estar “além do bem e do mal” encontrou uma insuportável solidão e morreu louco.
Uma explicação sintética: Religião é uma reafirmação ritual do pertencimento a uma comunidade e uma postura em relação ao transcendente. Isso leva em conta a nossa experiência em sociedade desde as tribos. Mostra como a morte tem significados monstruosos para nos diferentes dos outros animais. Explica a violência mimética da tribo e como essa tinha sempre uma religião comum. Está associado a como nos relacionamentos com lugares, períodos e rituais, sendo esses janelas para outros reinos. Tentar explicar algo fundamental como isso numa doutrina teológica está fadada ao fracasso.
Secularização - A primeira onda: Nesta época, as pessoas perdiam as convicções metafísicas mas mantinham seu mundo social de outros modos, criando leis seculares e instituições. Em nomes como John Stuart Mill percebemos que a forma humana ainda é divina, e busca se enobrecer. No renascimento gótico de Ruskin busca visões do sacrifício e do trabalho consagrado.
Secularização - A segunda onda: Com os modernistas a história mudou. Eles quiserem “parar de brincar de metafísicos”. A permissividade aumentou e se perderam os últimos invólucros sociais do sagrado, tão intrínseco da psique humana. É claro que isso teve consequências nefastas
A transformação do Lebenswelt: Nos tratamos tanto como animais hoje, devido a essas questões antropológicas, que a forma humana deixou de ser sagrada. Ele foi banido das pinturas. Buscamos na forma humana o sopro do sagrado que ainda a secularização não destruiu, mas lidamos da forma secular com ele, o violando. Isso explica o aumento da sexualização infantil. Surge a deusificação de objetos estranhos como Elvis Presley. O repudio a essa dessacralização de grupos extremistas e suas consequências como o 11/7. A solução para isso passa num respeito real pelas religiões e ouvir realmente as reclamações de quem cita, por exemplo, a impossibilidade de proferir sua fé em publico.
Capítulo 8 - Tentação Totalitária
Para Hegel, um totalitário é aquele que não respeita ou não reconhece a distinção entre sociedade civil e Estado. Este estado de consciência politica surgiu em todos os lugares do planeta, mas tem um espaço especial na Revolução Francesa.
Os mais famosos e violentos processos totalitários do século XX estão associados com o marxismo. Para Marx, ideologia é um conjunto de ideias, doutrinas e mitos que existem devido aos interesses que promovem, e não as verdades que contêm. Ele sabia que ideologias não eram ciências, mas quis fazer da sua uma ciência (nota-se o não entendimento de segmentos da ciências que afirmam que certos processos, semelhantes em número de processos sociais, não são absolutos, como o caos e a quântica) esse aspecto científico foi precedido pelos iluministas jacobinos.
É inútil tentar persuadir, por caminhos racionais, uma pessoa que acredita em algo sem precisar dessa racionalidade. Isso se mostra obvio nos marxistas, pois seu pensamento busca o poder, e não a verdade. O autor se pergunta como o Marxismo conseguiu tanto poder no decorrer da história e sua resposta esta no ressentimento humano. Para Nietzsche o "ressentimento" era um estado de espírito virulento e implacável que precede o insulto do qual alguém se queixa. Para Scruton, os sistemas políticos totalitários e as ideologias totalitárias tem uma única fonte: o ressentimento, mas diferente de Nietzsche que o entendia, grosso modo, como "a moral do escravo", para o autor ele é uma emoção que aparece em todas as sociedades, por ser um resultado natural da competição em busca do lucro.
Os exemplos são vários: na Alemanha de Hitler o ressentimento era contra os judeus. Na União Soviética era contra os kulaks, uma classe criada pelo estado para que fosse mais fácil “definir” o inimigo, o rebaixá-lo humanamente e o matá-lo.
É natural nutrir ressentimentos, este é um sentimento que ajuda a desenvolver solidariedade e recompensa. Lutar contra ele é tentar ser aceito no meio de estranhos e saber que os estranhos precisam da mesma atitude vindo de você. Senão esses sentimentos vão se tornar cada vez mais naturais até que o processo totalitário vai se tornar usual. O totalitarismo não é a forma natural de uma visão patológica, mas a forma patológica da visão natural.
Capítulo 9 - Novilíngua e Eurolíngua
O conceito de novilíngua surgiu no livro 1984 de George Orwell, este tratava de um futuro distópico onde o marxismo venceu. Neste país fictício existiam palavras que podiam ou não podiam ser ditos por contexto politico. No mundo real a trajetória politica do comunista pode ser entendida com base no poder dos rótulos. Distinguindo aqueles que partilhavam da sua mesma visão de mundo, você teria então seus amigos e inimigos. O mesmo processo ocorreu na Alemanha com os Gleichschaltung.
Temos um represente real da novilíngua ocorrendo hoje mesmo na União Europeia: a eurolingua, ele tem como objetivo proteger um sistema de privilégios, de pessoas que não produziram nada, mas criaram uma organização sem um fim especificado, e que nessa busca sem fim vai tomando o poder de países que realmente produzem.
Termos como subsidiariedade, proporcionalidade e solidariedade não tem um fim em si só e serve como argumento par quando uma politica da UE não estiver funcionando, poder se tratar a situação com eufemismo.
Reescrever o mundo com uma língua politicamente correta é possível, mas, em geral, historicamente isso se mostrou um erro.
Capítulo 10 - Natureza do mal
Para Kant, "bem e mal sempre pressupõem uma referência a vontade". Uma pessoa má se deixa levar pelo interesse próprio, mas a pessoa maligna por sua vez tem profundo interesse pelos outros, podendo mesmo ter planos abnegados para eles. A maldade existe, e como outras propriedades humanas (liberdade por exemplo) é metafísico mas está em nosso mundo. O autor argumento que se a definição de maldade for apenas teológica, então a teologia está certa pois a maldade é algo real.
O autor dá exemplos da literatura de pessoas malignas, como Otelo. Mas estes são poucos. Está ai um dos motivos que quando nos deparamos com pessoas malignas, temos uma reação de estranheza maior que o usual.
Os campos de extermínio são um exemplo de ações malignas. Eles destroem a alma humana antes de destruir o corpo. Essa malignidade está dispersada entre aqueles que comandam a maldade. Percebe-se isso em 1984, onde o Grande Irmão não mostra agindo, apenas pela “mão invisível” de quem comanda o partido. No nazismo o mesmo ocorria. Por mais que algumas pessoas não se sentissem parte da maldade (talvez por já observarem os judeus como sub-humanos) algumas pessoas dentro do partido nazista realmente tinha um projeto de ação maligna.
Ações malignas são sempre planejadas. Temos essa impressão claramente quando as observamos, seja nos campos de extermínio, seja na ação do Estado de colocar amigos contra amigos, pais contra filhos, na hora de acusá-los para a inteligência de suas respectivas ditaduras.
O autor conclui o capítulo citando que a maior parte das ações malignas que observamos hoje no mundo secular vem do desejo sexual. Diferentemente da ação dos partidos socialistas, que visavam a destruição de deus, no desejo sexual surge uma não compreensão do mesmo, e do seu reflexo de pureza nas pessoas. Ao sofrer um assédio a mulher se sente vítima na "alma" e não necessariamente no corpo. O sedutor maligno age afim de obter de modo lisonjeiro a doação de si mesmo, apenas para profanar e degradar essa doação.
Capítulo 11 - Eliot e o Conservadorismo
T.S. Eliot foi o maior poeta da língua inglesa do século XX, o crítico mais revolucionário desde Samuel Johnson. Nascido em 1888, a filosofia hegeliana da sociedade exerceu influência em sua obra, que demonstrava seus pensamentos políticos mesmo em romances.
Ele demonstrou em todos os seus livros a necessidade de uma sensibilidade ao mundo. E que justamente essa sensibilidade nos livraria da emotividade prejudicial ao entendimento do que nos cerceia. Ele abraçava o modernismo sem se entregar, de forma crítica. Para ele o conservadorismo de Burke era um modernismo, mas respeitando as instituições e conhecimentos baseados na tradição (termo desenvolvido por ele) surgia então um desejo de viver plenamente no presente, compreendendo todas as suas imperfeições e aceitando-as como única realidade que nos é oferecida.
Entender as pessoas para quem escrevia era entender as tradições. A verborragia feita por Sartre não falava ao homem comum e não o fazia melhorar. Fazendo um paralelo com Nietzsche, que via a religião apenas como algo negativo, Eliot via a crise da modernidade como a falta de cristianismo. Mas não seu elementos religiosos, e sim porque remove a capacidade de perceber outras verdades mais importantes sobre a condição humana que não podem ser encaradas sem o beneficio da fé. Diferente de Nietzsche, para o qual não existiam verdades, para Eliot as verdades que importavam são sentimentos sobre o peso da vida humana e da realidade do sentimento humano, elementos que a ciência não tem nenhum poder sobre. Cultura e religião para ele são indissolúveis, destruindo uma, destruímos a outra, e isso se mostra muito claro na arte pós-moderna, por exemplo, que é baseada justamente em destruição.
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